Brasil pode ganhar R$ 2,8 trilhões com ‘economia verde’, diz estudo

Segundo relatório, até 2030 País poderia incorporar uma Argentina a suas riquezas, além de criar mais 2 milhões de postos de trabalho

Giovana Girardi, O Estado de S.Paulo

13 de agosto de 2020

O movimento de recuperação da economia, após o abalo provocado pela pandemia de covid-19, pode gerar 2 milhões de empregos e adicionar R$ 2,8 trilhões ao PIB brasileiro, além de ajudar o País a se tornar mais resiliente às mudanças climáticas, caso os investimentos forem direcionados para uma economia mais verde. Isso representaria um crescimento de 38% em relação ao PIB de 2019, que foi de R$ 7,3 trilhões – é como incorporar uma Argentina aos recursos do Brasil.

É a realidade que revela o estudo Uma Nova Economia para uma Nova Era, desenvolvido pelo WRI Brasil, com a UFRJ, ex-ministros de finanças do Brasil e executivos do Banco Mundial. O trabalho faz parte da iniciativa global New Climate Economy, que busca apontar caminhos que aliem o desenvolvimento econômico com o combate ao aquecimento global. 

A expectativa é que as mudanças climáticas causem impactos ainda mais severos do que o novo coronavírus. Por isso, vários países estão estudando formas de adotar medidas que tragam ganhos econômicos e climáticos. A construção de uma economia mais eficiente e resiliente teria essa capacidade.

O trabalho focou estratégias que poderiam ser adotadas em três setores estratégicos da economia brasileira: infraestrutura, indústria e agronegócio. Em infraestrutura, a ideia é desenvolver “projetos de qualidade” – como define o estudo – e que não prejudiquem o meio ambiente. Elas podem se valer, por exemplo, dos próprios recursos da natureza e de soluções renováveis, como a energia solar.

“Uma infraestrutura de qualidade reduz os custos e impactos da degradação ambiental e permite maior resiliência a eventos extremos cada vez mais intensos e frequentes”, aponta o relatório.

“Em qualquer crise, investir em infraestrutura é em geral o plano A para a recuperação de emprego. Mas o Brasil está há 30 anos tentando fazer isso. O País vai precisar atrair investimento privado, internacional, mas como vai fazer isso sem um ‘selo’ de desenvolvimento sustentável, sem garantir que uma determinada obra não vai ter conflito socioambiental”, disse ao Estadão Carolina Genin, diretora de Clima do WRI Brasil e coordenadora do estudo. 

Na indústria, a proposta é inovar a partir de tecnologias sustentáveis que reduzam o consumo de combustíveis fósseis, os principais responsáveis, globalmente, pelo aquecimento do planeta.

Na agricultura, a direção é o aumento da eficiência a partir de um uso mais eficiente do solo, reduzindo, por exemplo, a pressão sobre a Amazônia. Uma nova e importante frente de investimento é a recuperação de 12 milhões de hectares de pastagens degradadas. O cálculo é que o setor poderia ganhar R$ 19 bilhões em produtividade agrícola até 2030. 

Todas as ações propostas juntas poderiam promover, de acordo com a pesquisa, uma redução de 42% nas emissões de gases de efeito estufa do Brasil até 2025, em relação a 2005.

Sem ruptura

O trabalho também levou em conta que já existe no País uma série de políticas que, uma vez implementadas, podem abrir o caminho para a economia verde. “Mostramos claramente que, se o Brasil optar pela transição para uma economia de baixo carbono (ou seja, que emite menos gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global), para uma recuperação verde, esse não será um processo disruptivo”, afirma Carolina. “Não vai prejudicar os principais setores da economia. Ao contrário, vai torná-los mais produtivos e eficientes do que hoje”, complementou. 

“Existe uma janela de oportunidade que se fecha em alguns meses. Os planos de recuperação vão obrigar os países a botar muito dinheiro nisso. Se a gente ‘casar’ com a tecnologia errada, isso vai ficar pelos próximos 30 anos. É preciso pensar nos melhores planos para não usar esses recursos de modo equivocado”, afirma. 

Ela cita, como exemplo, investimentos em transporte. “Se vamos pensar em ter mais ônibus, que sejam elétricos. É uma questão ambiental, mas é também uma discussão para tornar a economia mais competitiva”, diz.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-pode-ganhar-r-2-8-trilhoes-com-economia-verde-diz-estudo,70003397572

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Coronavírus: ‘Estamos diante de ameaça de extinção e as pessoas nem mesmo sabem disso’, afirma sociólogo Jeremy Rifkin

Juan M. Zafra

The Conversation* 14 maio 2020

O sociólogo americano Jeremy Rifkin, que se define como ativista em favor de uma transformação radical do sistema baseado no petróleo e outros combustíveis fósseis, passou décadas exigindo uma mudança da sociedade industrial para mais modelos sustentáveis.

Rifkin é consultor de governos e empresas em todo o mundo.

Ele escreveu mais de 20 livros dedicados a propor fórmulas que garantam nossa sobrevivência no planeta, em equilíbrio com o meio ambiente e também com nossa própria espécie.

The Conversation – Em sua opinião, qual o impacto da pandemia da covid-19 no caminho para a terceira revolução industrial?

Jeremy Rifkin – Não podemos dizer que isso nos pegou de surpresa. Tudo o que está acontecendo conosco decorre das mudanças climáticas, sobre as quais os pesquisadores e eu estamos alertando há muito tempo.

Tivemos outras pandemias nos últimos anos e foram emitidos avisos de que algo muito sério poderia acontecer. A atividade humana gerou essas pandemias porque alteramos o ciclo da água e o ecossistema que fazem o equilíbrio no planeta.

Desastres naturais — pandemias, incêndios, furacões, inundações — continuarão porque a temperatura na Terra continua subindo e porque arruinamos o solo.

Há dois fatores que não podemos deixar de considerar: as mudanças climáticas causam movimentos da população humana e de outras espécies. A segunda é que as vidas animal e a humana estão se aproximando todos os dias como consequência da emergência climática e, portanto, seus vírus viajam juntos.

The Conversation – Esta é uma boa oportunidade para aprender lições e agir, não acha?

Rifkin – Nada voltará ao normal novamente. Este é um sinal de alerta em todo o planeta. O que temos que fazer agora é construir as infraestruturas que nos permitam viver de uma maneira diferente.

Devemos assumir que estamos em uma nova era. Caso contrário, haverá mais pandemias e desastres naturais. Estamos diante de uma ameaça de extinção.

The Conversation – Você trabalha, estará trabalhando nesses dias, com governos e instituições ao redor do mundo. Não parece haver consenso sobre o futuro imediato.

Rifkin – A primeira coisa que devemos fazer é ter um relacionamento diferente com o planeta. Cada comunidade deve assumir a responsabilidade de como estabelecer esse relacionamento em sua esfera mais próxima.

E sim, temos que começar a revolução em direção ao Green New Deal global [proposta que estimula os Estados Unidos a alcançarem o nível zero de emissões líquidas dos gases do efeito estufa, além de outras metas], um modelo digital de emissão zero; temos que desenvolver novas atividades, criar novos empregos, para reduzir o risco de novos desastres.

A globalização acabou, devemos pensar em termos de glocalização. Esta é a crise de nossa civilização, mas não podemos continuar pensando na globalização como hoje, pois são necessárias soluções glocais para desenvolver infraestruturas de energia, comunicação, transporte e logística…

The Conversation – Você acha que durante esta crise, ou mesmo quando a tensão diminuir, governos e empresas tomarão medidas nessa direção?

Rifkin – Não. A Coreia do Sul está combatendo a pandemia com tecnologia. Outros países estão fazendo o mesmo. Mas não estamos mudando nosso modo de vida.

Precisamos de uma nova visão, uma visão diferente do futuro, e os líderes nos principais países não têm essa visão. São as novas gerações que podem realmente agir.

The Conversation – Você propõe uma mudança radical na maneira de ser e ser no mundo. Por onde começamos?

Rifkin – Temos que começar com a maneira como organizamos nossa economia, nossa sociedade, nossos governos; por mudar a maneira de estar neste planeta.

A nossa é a civilização dos combustíveis fósseis. Nos últimos 200 anos, foi baseada na exploração da Terra.

O solo permaneceu intacto até começarmos a cavar as fundações da terra para transformá-la em gás, petróleo e carvão. E nós pensamos que a Terra permaneceria lá sempre, intacta.

Criamos uma civilização inteira baseada no uso de fósseis. Usamos tantos recursos que agora estamos recorrendo ao capital fundiário, em vez de obter benefícios dele.

Estamos usando uma terra e meia quando só temos uma. Perdemos 60% da superfície do solo do planeta. Isso desapareceu e levará milhares de anos para recuperá-lo.

The Conversation – O que você diria para aqueles que acreditam que é melhor viver o momento, o aqui e agora, e esperam que no futuro outros venham para consertá-lo?

Rifkin – Estamos realmente diante das mudanças climáticas, mas também há tempo de mudá-las.

As mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global e pelas emissões de CO₂ alteram o ciclo da água na Terra.

Nós somos o planeta da água, nosso ecossistema emergiu e evoluiu ao longo de milhões de anos graças à água. O ciclo dela nos permite viver e se desenvolver.

E aqui está o problema: para cada grau de temperatura que aumenta como consequência das emissões de gases de efeito estufa, a atmosfera absorve 7% a mais de precipitação do solo e esse aquecimento os força a cair mais rápido, mais concentrado e causando mais desastres naturais relacionados à água.

Por exemplo, grandes nevascas no inverno, inundações na primavera em todo o mundo, secas e incêndios durante o verão e furacões e tufões no outono varrendo nossas costas.

As consequências vão piorando com o tempo.

Estamos diante da sexta extinção e as pessoas nem sabem disso. Os cientistas dizem que metade dos habitats e animais da Terra desaparecerão em oito décadas.

Essa é a posição em que estamos. Estamos de frente com uma potencial extinção da natureza para a qual não estamos preparados.

The Conversation – Qual é a gravidade dessa emergência global? Quanto tempo resta?

Rifkin – Não sei. Faço parte desse movimento de mudança desde a década de 1970 e acho que o tempo de que precisávamos passou.

Nunca voltaremos onde estávamos, à boa temperatura, a um clima adequado…

A mudança climática estará conosco por milhares e milhares de anos; a questão é: podemos, como espécie, ser resilientes e nos adaptar a ambientes totalmente diferentes e que nossos companheiros na Terra também possam ter a oportunidade de se adaptar?

Se você me perguntar quanto tempo levará para mudarmos para uma economia limpa, nossos cientistas na cúpula europeia sobre mudança climática em 2018 disseram que ainda temos 12 anos. Já é menos que nos resta para transformar completamente a civilização e começar essa mudança.

A Segunda Revolução Industrial, que causou mudanças climáticas, está morrendo. E isso se deve ao baixo custo da energia solar, que é mais lucrativa que o carvão, o petróleo, o gás e a energia nuclear.

Estamos caminhando para uma Terceira Revolução Industrial.

The Conversation – É possível uma mudança de tendência global sem os Estados Unidos do nosso lado?

Rifkin – A União Europeia e a China se uniram para trabalhar juntas e os Estados Unidos estão avançando porque os Estados estão desenvolvendo a infraestrutura necessária para alcançá-los.

Não se esqueça que somos uma república federal. O governo federal apenas cria as leis, os regulamentos, os padrões, os incentivos; na Europa, acontece o mesmo: seus Estados-membros criaram as infraestruturas.

O que acontece nos Estados Unidos é que prestamos muita atenção no Trump, mas dos 50 Estados, 29 desenvolveram planos para o desenvolvimento de energia renovável e estão integrando a energia solar.

No ano passado, na Conferência Europeia de Emergência Climática, as cidades americanas declararam uma emergência climática e agora estão lançando seu Green New Deal.

Muitas mudanças estão acontecendo nos Estados Unidos. Se tivéssemos uma Casa Branca diferente seria ótimo, mas, ainda assim, esta Terceira Revolução Industrial está surgindo na UE e na China e já começou na Califórnia, no Estado de Nova York e em parte do Texas.

The Conversation – Quais são os componentes básicos dessas mudanças que são tão relevantes em diferentes regiões do mundo?

Rifkin – A nova Revolução Industrial traz consigo novos meios de comunicação, energia, transporte e logística.

A revolução comunicativa é a internet, assim como foram a imprensa e o telégrafo na Primeira Revolução Industrial no século 19 no Reino Unido ou o telefone, rádio e televisão na segunda revolução no século 20 nos Estados Unidos.

Hoje, temos mais de 4 bilhões de pessoas conectadas e em breve teremos todos os seres humanos conectados à internet; todo mundo está conectado agora.

Em um período como o que estamos vivendo, as tecnologias nos permitem integrar um grande número de pessoas em uma nova estrutura de relações econômicas.

A internet do conhecimento é combinada com a internet da energia e a internet da mobilidade.

Essas três internets criam a infraestrutura da Terceira Revolução Industrial. Essas três Internet convergirão e se desenvolverão em uma infraestrutura de internet das coisas que reconfigurará a maneira como todas as atividades são gerenciadas no século 21.

The Conversation – Qual o papel dos novos agentes econômicos na formação desse novo modelo econômico e social?

Rifkin – Estamos criando uma nova era chamada glocalização.

A tecnologia de emissão zero desta terceira revolução será tão barata que nos permitirá criar nossas próprias cooperativas e nossos próprios negócios, tanto física quanto virtualmente.

Grandes empresas desaparecerão. Algumas delas continuarão, mas terão que trabalhar com pequenas e médias empresas com as quais estarão conectadas em todo o mundo. Essas grandes empresas serão provedores de rede e trabalharão juntas em vez de competir entre si.

Na primeira e na segunda revolução, as infraestruturas foram feitas para serem centralizadas, privadas. No entanto, a terceira revolução possui infraestruturas inteligentes para unir o mundo de maneira distribuída e glocal, com redes abertas.

The Conversation – Como a superpopulação afeta a sustentabilidade do planeta no modelo industrial?

Rifkin – Somos 7 bilhões de pessoas e chegaremos a 9 bilhões em breve. Essa progressão, no entanto, vai acabar.

As razões para isso têm a ver com o papel das mulheres e sua relação com a energia.

Na antiguidade, as mulheres eram escravas, eram as fornecedoras de energia, tinham que manter a água e o fogo.

A chegada de eletricidade está intimamente relacionada aos movimentos sufragistas nos Estados Unidos; libertou as jovens, que puderam ir para a escola e puderam continuar seus estudos até a universidade.

Quando as mulheres se tornaram mais autônomas, livres, mais independentes, houve menos nascimentos.

The Conversation – Você não parece otimista, e ainda assim seus livros são um guia para um futuro sustentável. Temos ou não temos um futuro melhor à vista?

Rifkin – Todas as minhas esperanças estão depositadas na geração millenial. A geração dos millenials saiu das salas de aula para expressar sua inquietude.

Milhões e milhões deles exigem a declaração de uma emergência climática e pedem um Green New Deal.

O interessante é que isso não é como nenhum outro protesto na história, e houve muitos, mas este é diferente: move a esperança, é a primeira revolta planetária do ser humano em toda a história em que duas gerações foram vistas como espécies em perigo.

Essa geração se propõe a eliminar todos os limites e fronteiras, preconceitos, tudo o que nos separa. Ela começa a se ver como uma espécie em extinção e tenta preservar as demais criaturas do planeta.

Esta é provavelmente a transformação mais importante da consciência humana na história.

Juan M. Zafra é professor associado do Departamento de Jornalismo e Comunicação 

* A versão original desta entrevista foi publicada na edição 113 da Revista Telos, pela Fundação Telefônica, e pode ser lida aqui. (https://telos.fundaciontelefonica.com/portada-telos-113-jeremy-rifkin-todas-mis-esperanzas-estan-depositadas-en-la-generacion-milenial/)

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52657148?SThisFB

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O formigueiro digital devora todos os negócios

por Evandro Milet

O mundo digital está rapidamente engolindo todos os negócios, todas as profissões e todos os processos em uma velocidade avassaladora. Milhares de startups, como formigas, vão destruindo as bases das empresas tradicionais como fintechs, retailtechs, agritechs, insuretechs, edtechs, healthtechs, construtechs, enfim qualquercoisatech mudando a lógica dos negócios, resolvendo dores dos clientes que se vingam do descaso histórico dos prestadores de serviços. Com seu modo de gestão acelerado, entre MVPs e pivotagens, dão várias cambalhotas nos mercados no mesmo tempo em que empresas tradicionais fazem seus lentos movimentos de SWOT e balanced scorecards.

Grandes empresas tentam acompanhar o ritmo alucinante montando seus laboratórios internos de inovação, ambientes maker, aceleradoras, participando de hubs, promovendo hackatons e startups weekends ou comprando startups promissoras próximas ao seu negócio como corporate ventures. O processo de mudança exige dessas grandes empresas novas formas de gestão com menos níveis hierárquicos, menos burocracia interna, enxugamento de processos e digitalização de tudo. Muda a forma de vender com e-commerce e marketplaces, muda o marketing para digital, muda a produção com internet das coisas, muda a relação com clientes com big data e analytics e muda o perfil dos talentos que querem autonomia e propósito. Exige de fato uma transformação digital de todo o negócio.

Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo na operação, ganha importância o papel estratégico dos Conselhos de Administração(CA) na gestão de riscos, o maior deles: o desaparecimento; na gestão dos talentos que já não se prendem às empresas e na estratégia de transformação digital com seus novos indicadores que pedem experimentação e agilidade, que não faziam parte dos KPIs tradicionais.

Alguns CA têm perfis exclusivamente técnicos e operacionais e outros têm perfis majoritariamente financeiros. Não resolvem mais. O CA deve mesclar experiências distintas, alguns com visão financeira e outros com ênfase em tecnologia e mercado e com a alma digital.

Drucker dizia com razão que a cultura come a estratégia no café da manhã. Implica na necessidade de implantar uma cultura de inovação na empresa, com um propósito, ética e liberdade que atraiam os talentos transformadores que querem muito mais que salários ou ambientes descolados. Essa base cultural é fundamental para fazer movimentos estratégicos rápidos e vencedores e enfrentar a horda fustigante das techs que atacam por todos os lados, devorando negócios e mercados, como já fizeram com os táxis, hotéis, música, filmes, livrarias e agências de turismo. Quando será a sua vez?

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Avaliada em US$ 1,88 trilhão, Apple supera o PIB do Brasil

O mercado financeiro espera que, nesse ritmo, a empresa de Cupertino possa ser a primeira a romper a marca dos US$ 2 trilhões em valor de mercado

Por Agência Estado

6 ago 2020 

A Apple, maior empresa de capital aberto do mundo, agora é também mais valiosa do que o Brasil. Desde terça-feira, a gigante ultrapassou a marca de US$ 1,88 trilhão em valor de mercado. Em comparação, o Produto Interno Bruto do País foi de US$ 1,84 trilhão em 2019, o nono no ranking internacional, segundo o Banco Mundial.

Especialistas ouvidos pelo Estadão entendem que o resultado ilustra como a pandemia impulsionou empresas de tecnologia. “Existe toda uma cadeia de tecnologia que cresceu neste ano, como empresas de nuvem, de e-commerce e de interface de usuário”, diz Francine Balbina, analista de fundos internacionais da Spiti, do grupo XP Investimentos.

A empresa de Cupertino, portanto, é apenas a ponta da lança. “A Apple é sempre um ótimo termômetro de como está o setor de tecnologia”, diz Francine.

O último balanço, que reflete o desempenho durante a pior fase da pandemia do novo coronavírus, surpreendeu investidores e fez as ações se valorizarem 14% desde então – o papel fechou ontem a US$ 440.

Recorde à vista

O mercado financeiro espera que, nesse ritmo, a empresa de Cupertino possa ser a primeira a romper a marca dos US$ 2 trilhões em valor de mercado.

“O valor de US$ 2 trilhões vai ser atingido nas próximas semanas, já que o último trimestre fiscal da Apple entrou para a história e foi um fator de virada para os investidores”, disseram ao Estadão os analistas Daniel Ives e Strecker Backe, da consultoria financeira Wedbush.

Em relatório, Ives e Backe notam que as vendas de um eventual iPhone 12 com tecnologia 5G devem impulsionar ainda mais ações da empresa, que podem chegar a US$ 475 cada, segundo eles.

Adriano Cantreva, sócio da gestora Portofino Investimentos, acredita que esse bom momento do setor de tecnologia nas bolsas mundiais não tem data para acabar, mesmo com um possível arrefecimento da pandemia.

“As empresa de tecnologia têm muito em que crescer. Se continuarem trabalhando como têm trabalhado, o céu é o limite”, diz.

Apple se aproxima de US$ 2 trilhões e ação atinge marco no S&P 500

Com valorização de 49% neste ano, a ação da Apple supera todas as empresas dos EUA com valor de mercado acima de US$ 300 bilhões, exceto a Amazon.com

Por Bloomberg Brasil

6 ago 2020

O mundo ficou boquiaberto há dois anos, quando o valor de mercado da Apple superou US$ 1 trilhão pela primeira vez. Mas o feito foi menos digno de nota quando visto de outra perspectiva: tamanho relativo.

Isso porque, mesmo com um preço de 13 dígitos, o lugar da Apple entre seus pares em agosto de 2018 não era sem precedentes – havia crescido, mas o mercado como um todo também. Como resultado, seu peso no S&P 500 ainda era comparável aos titãs do passado em seu auge, como Exxon Mobil e IBM.

Quase US$ 900 bilhões em valor de mercado depois, isso começa a mudar: o peso da Apple no mercado acionário entrou em território desconhecido. O preço da ação mais do que dobrou desde agosto do ano passado. Com isso, o peso no S&P 500 ultrapassou o da IBM em 1985 e se tornou o maior em 40 anos.

“Estamos neste mercado em que os vencedores vão ganhar – e vão ganhar muito”, disse Kim Forrest, diretor de investimentos da Bokeh Capital Partners.

Com 6,5%, a participação da fabricante do iPhone no S&P 500 superou o recorde de 6,4% que a IBM tinha há 35 anos, segundo dados compilados pela S&P Dow Jones Indices e pela Bloomberg. O valor de mercado total da Apple é de US$ 1,875 trilhão, cerca de 7% distante de US$ 2 trilhões.

O avanço reflete a força de uma empresa que poucos conseguem se igualar em um ano de pandemia. Com valorização de 49% neste ano, a ação da Apple supera todas as empresas dos EUA com valor de mercado acima de US$ 300 bilhões, exceto a Amazon.com. O rali das ações se acelerou após a receita trimestral da empresa ter esmagado as previsões de Wall Street.

Alguns analistas já projetam valor de mercado de US $ 2 trilhões para a Apple. Tom Forte, da D.A. Davidson & Co., prevê que a ação subirá para US$ 480 no próximo ano, um preço-alvo que representa ganho de 9,4% em relação aos níveis atuais e implica valor de mercado de US$ 2,05 trilhões.

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Como o Rio sofreu com epidemia de gripe espanhola em 1918, mas sobreviveu para pular um carnaval inesquecível

Por William Helal Filho 01/04/2020 O Globo

“Morrer na cama era um privilégio abusivo e aristocrático, que ninguém tinha. O sujeito morria nos lugares mais impróprios, insuspeitados – na varanda, na janela, no botequim. Normalmente, o agonizante pode imaginar a reação dos parentes, amigos e desafetos. Na ‘espanhola’ não havia reação nenhuma. Muitos caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E ficavam, lá, estendidos, como se fossem não mortos, mas bêbados. Ninguém os chorava, ninguém. Nenhum vira-latas vinha lambê-los. Era como se o cadáver não tivesse pai, nem mãe, nem vizinho, e nem, ao menos, o inimigo”.

O parágrafo acima é trecho de uma crônica de Nelson Rodrigues, publicada no GLOBO em 26 de fevereiro de 1971, na qual o dramaturgo, então colunista deste jornal, escreve sobre a terrível epidemia de gripe espanhola, que, em 1918, matou mais de 14 mil moradores do Rio e até 40 milhões de pessoas no mundo. Naquele mesmo texto, o escritor, que tinha 6 anos na época do surto, resgata também o carnaval de 1919. Segundo ele, após superar a pandemia, a cidade caiu na farra e se tornou “irreconhecível” nos quatro dias de folia. “É preciso observar que o carnaval da espanhola foi de um erotismo absurdo”, descreve o autor, morto em 1980, aos 68 anos.

Mais de cem anos depois da calamidade relembrada por Nelson, outra vez a cidade enfrenta uma epidemia de grandes proporções. Em meio ao recolhimento imposto pelo difícil combate ao coronavírus, talvez sirva de algum conforto ao carioca pensar que passamos por aquela situação e sobrevivemos com fôlego para pular o carnaval seguinte. Mesmo depois de tanta tristeza.

Repletos de cenas assustadoras, os vários relatos do colunista sobre a gripe espanhola são comumente usados por historiadores para ilustrar um capítulo pouco estudado da nossa história. Em seu artigo “O carnaval, a peste e a espanhola”, o pesquisador Ricardo Augusto dos Anjos, da Casa de Oswaldo Cruz, baseia-se em documentos, entrevistas e trechos de crônicas do dramaturgo e de outros memorialistas, como Pedro Nava, para contar que o Rio, na época a capital do Brasil, ficou imerso num inferno. Mas renasceu.

“Os cariocas morriam em casa, na rua, no trabalho, em qualquer lugar, e iam sendo recolhidos pelos funcionários da prefeitura. Estes jogavam os corpos nas carroças do serviço de limpeza pública. Os cadáveres eram empilhados. Conta-se que quando descobriam alguém dado como morto e ainda vivo, acabavam de matá-lo com as pás”, descreve Augusto dos Anjos, antes de continuar: “Não havendo pessoal suficiente para recolher e enterrar os mortos, foram utilizados os presidiários. Mesmo assim, o cenário de corpos amontoados pelos cemitérios ou abandonados pelas ruas desertas era desolador”.

– A situação foi mais grave nos subúrbios, onde as condições de moradia e de saúde eram piores. A população em bairros como o Méier ficou desassistida – comenta o pesquisador. – Da mesma forma, favelas como a Rocinha e Cidade de Deus, com altas taxas de tuberculose, podem sofrer muito com o coronavírus. Numa situação como essa, tanto no passado quanto hoje, é preciso olhar com bastante cuidado para esses lugares.

Estima-se que os primeiros casos de gripe espanhola surgiram num campo de treinamento de soldados no estado americano do Kansas, em março de 1918. Em poucos meses, a doença alcançou a Europa, que na época era o palco da Primeira Guerra Mundial (julho de 1914 a novembro de 1918). Os governos envolvidos no conflito censuravam notícias sobre a epidemia, para não abalar os ânimos das tropas. Como a Espanha estava neutra, seus jornais divulgavam livremente as informações sobre os “milhões de mortos” pela doença, o que criou a falsa impressão de que o vírus apareceu no país ibérico.

Com a guerra em sua reta final, os combatentes emersos das trincheiras voltavam para casa com a saúde em frangalhos e levando consigo essa violenta estirpe do vírus Influenza A do subtipo H1N1. Mais de 500 milhões de pessoas, 25% da população global na época, contraíram a enfermidade.

A doença chegou ao Brasil em setembro de 1918, a bordo do navio inglês Demerara, que desembarcou passageiros em Recife, Salvador e Rio. Em pouco mais de dois meses, 35 mil pessoas sucumbiram. O Rio viveu a pior situação. Foram mais de 14 mil mortos entre os 600 mil infectados, numa cidade de então 900 mil habitantes. Após um período de negação, quando o diretor geral de Saúde Pública, Carlos Seidl, minimizou a gravidade da gripe, as autoridades recomendaram ao povo a adoção de medidas parecidas com essas que vemos hoje: evitar aglomerações e cuidados com a higiene pessoal. Escolas, teatros e parques foram fechados.

– Em 1918, a biomedicina ainda estava se desenvolvendo, e as instituições de saúde eram precárias. Não havia os postos de atendimento, não havia o Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, o diretor geral de Saúde Pública declarou que aquela era uma influenza comum. Só que as pessoas adoeceram em curva exponencial – relata a médica e pesquisadora Dilene Nascimento. – Eram tantas mortes que não havia mais velórios, assim como está acontecendo hoje na Itália. Até para não haver aglomeração de pessoas. Para a família que perdeu uma pessoa querida, não cumprir o rito fúnebre é algo extremamente dramático.

Sem remédio para amenizar os sintomas, as pessoas apelavam para religião e o que mais houvesse às mãos. Os preços do limão e do frango dispararam, porque acreditava-se que esses produtos combatiam os sintomas. Usava-se muito também o quinino, alcalóide de funções antitérmicas que pode causar efeitos colaterais como distúrbios visuais e náuseas.

A situação ficou completamente fora de controle. No início de novembro, morriam cerca de 500 pessoas por dia. Aé o então presidente eleito do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves, padeceu por conta do vírus, confinado em seu apartamento na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo, aos 72 anos. Aliás, tornou-se comum a população ironizar dizendo: “Quem não morreu na espanhola?”.

“De repente, passou a peste”, escreveu Nelson. “E então ninguém pensou mais nos mortos, enterrados nas valas, uns por cima dos outros”. De acordo com os documentos históricos, a epidemia perdeu força em dezembro. Com o tempo, uma euforia tomou conta da cidade. E aí, veio o carnaval de 1919. “Nunca se desejou tanto como nos quatro dias. Isto aqui se tornou a mais afrodisíaca das cidades”. Nos meses e anos seguintes, ficou muito conhecida a expressão “filhos da gripe”, para falar de bebês nascidos nove meses após aqueles quatro dias.

Os cariocas se entregaram a uma euforia inesquecível. De acordo com Ricardo dos Anjos, “os jornais documentam a alegria incomum que tomou conta da cidade. Os memorialistas qualificam o Carnaval de 1919 como um dos mais animados que o Rio teve: bailes, batalhas de confete e incontáveis blocos espalhados pelos bairros. Ao que parece, houve uma dramatização carnavalesca da situação que os vitimara. Tudo era motivo de alegria e riso”.

Nelson Rodrigues não economizou palavras para resgatar aquele período: “Desde as primeiras horas de sábado, houve uma obscenidade súbita, nunca vista, e que contaminou toda a cidade. Eram os mortos da Espanhola e tão humilhados e tão ofendidos que cavalgavam os telhados, os muros, as famílias… Nada mais arcaico do que o pudor da véspera. Mocinhas, rapazes, senhoras, velhos cantavam uma modinha tremenda. Eis alguns versos: ‘Na minha casa não racha lenha. Na minha racha, na minha racha/ Na minha casa não há falta de água/ Na minha abunda’.

– Incontáveis blocos brincaram com os acontecimentos da gripe, sociedades carnavalescas também. Um carro alegórico desfilou com uma xícara imensa para simbolizar o “chá da meia-noite”, em referência a um boato que circulou durante a epidemia dizendo que, na Santa Casa da Misericórdia, as enfermeiras distribuíam um chá envenenado entre os doentes, para liberar leitos – afirma Ricardo Augusto dos Anjos. – As pessoas estavam celebrando a sobrevivência.

https://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-acervo/post/entenda-como-o-rio-sofreu-com-gripe-espanhola-em-1918-mas-sobreviveu-para-pular-um-carnaval-inesquecivel.html

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Os fuzis da desigualdade atrapalham o crescimento do país

por Evandro Milet(uma versão menor foi publicada hoje em A Gazeta)

Quando um adolescente portando um fuzil é morto pela polícia, muitos exigem que se troque a expressão “adolescente” por “bandido” – e realmente é um bandido. Afirmam que o policial deve ser condecorado, que a maioridade penal deve ser reduzida e a cadeia não precisa ter espaço adequado pois, quem não quiser isso, basta não cometer crime. 

Outros reagem questionando o que fizemos como nação para que adolescentes escolham essa opção de vida.

Um grande debate acontece atualmente no mundo sobre desigualdade e o seu impacto na economia e na sociedade. Há uma corrente que defende eliminar a pobreza, mas a desigualdade de renda seria natural pela diferenças entre as pessoas. Não é bem assim. É realmente uma questão moral eliminar a pobreza. Mas deixar existir uma desigualdade imensa é ruim para o país. Provoca crises sociais e políticas que desestabilizam a própria democracia. 

Existem várias desigualdades. Há a desigualdade de oportunidades: as escolas para os pobres deveriam ser iguais às escolas para os ricos, e gratuitas portanto, pelo menos até o ensino médio. Isso já acontece em muitos países capitalistas, inclusive nos EUA(embora haja opções com escolas particulares). E há as desigualdades raciais e de gênero, em que a educação desempenha papel fundamental para a solução a longo prazo, embora exijam ações afirmativas de curto prazo.

Há desigualdade na oferta de serviços públicos como saúde e segurança, que deveriam ser gratuitos. E há outros serviços fundamentais que deveriam ser oferecidos, não gratuitos, mas em condições de preço e facilidade de acesso a todos como eletricidade, saneamento, transporte público e, mais recentemente, conexão à internet e, claro, a própria moradia.

Para isso o país deve ter sua economia bem administrada, sem inflação, sem corrupção, juros baixos, impostos razoáveis, facilidade de crédito, pouca burocracia, abertura comercial, justiça que funcione e todas as outras coisas que compõem um ambiente de negócios que aumente a produtividade e incentive os empresários para gerar riqueza. Com isso, haverá empregos ou trabalho e os serviços e os produtos serão oferecidos a preços razoáveis. 

As desigualdades de renda que persistirem dizem respeito às diferenças de talento, empenho, personalidade e espírito empreendedor. Mas essa desigualdade também não deveria ser extremada, porque afeta a capacidade de influir nas próprias políticas públicas e realimenta as desigualdades. Grupos desproporcionalmente muito fortes sequestram os recursos em benefício próprio de várias maneiras: ao eleger os políticos que preservam as desigualdades, ao influir nos orçamentos, ao priorizar serviços para os seus locais de moradia, ao conseguir subsídios e incentivos, ao perpetuar vantagens fiscais ou conseguir diferenciação na justiça.

Eliminando a pobreza e tratando adequadamente as desigualdades, não teríamos mais adolescentes com fuzis. 

É utopia? Precisamos de uma.

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Do sem G ao 5G: nova internet móvel é chance para o Brasil tirar o atraso

A nova era da conectividade finalmente chegou ao país com a Claro, mas é preciso um plano nacional

Por Juliana Estigarríbia, Lucas Agrela e João Victor Palácio Fonseca – Revista Exame

Publicado em: 30/07/2020 

Em uma fazenda no interior de Mato Grosso, máquinas agrícolas com sistema de condução autônoma operam em lavouras de soja e milho. A programação das rotas e o posicionamento preciso são feitos por meio de uma rede de internet celular 4G da operadora Claro. É uma opção em regiões onde a banda larga fixa, muito comum nos grandes centros, não chega.

Essa tem sido a rea­lidade de muitos brasileiros: 29% dos domicílios no país não têm nenhum tipo de acesso à internet, de acordo com dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação. Em ­áreas rurais, essa parcela sobe para 49%.

Uma das explicações para essa carência está nas dimensões continentais do Brasil, o que dificulta a implantação de redes de fibra óptica, considerada a tecnologia mais eficiente de banda larga fixa. Há muitos anos, as alternativas adotadas em diversas localidades têm sido o rádio e os chips de 3G e 4G.

Mas está a caminho uma revolução para levar conectividade às grandes massas e colocar o Brasil em pé de igualdade com os países desenvolvidos: é a quinta geração de internet, ou 5G.

Quem está saindo na frente na briga por esse mercado é a Claro, subsidiária da mexicana América Móvil, que começou a implantar em julho as primeiras redes de quinta geração do país em alguns bairros de São Paulo e do Rio de Janeiro — antes mesmo da realização do leilão de frequências 5G pelo governo, que deve ficar para 2021. O plano da Claro é tirar da espanhola Vivo o lugar de maior operadora de telefonia móvel do Brasil.

“Estamos na corrida para buscar a liderança do mercado nacional. O forte ganho de participação que obtivemos nos últimos anos demonstra a força de nossa trajetória”, afirma Paulo Cesar Teixeira, presidente da unidade de consumo e pequenas e médias empresas da Claro.

O 5G promete uma velocidade teó­rica de internet de até 10 Gigabits por segundo (Gbps), dez vezes maior do que a do 4G, e com menor latência (veloci­dade de resposta) na transmissão dos dados, o que permitirá o desenvolvimento de tecnologias promissoras, como a internet das coisas (IoT), a telemedicina, os veículos autônomos, a inteligência artificial e a indústria 4.0.

Em processo similar, a expansão da quarta geração de internet viabilizou uma vasta gama de serviços sem os quais, hoje, é difícil imaginar a vida: transporte individual por aplicativo (como Uber e 99), troca de mensagens instantâneas (WhatsApp), streaming (Netflix e Spotify) e entregas de todos os tipos (iFood e Rappi).

O 5G também terá um papel social importante: deverá servir como a última ponta da rede de internet rápida a alcançar re­giões que estão fora dos grandes centros. A fibra leva o sinal até as antenas, que, por sua vez, distribuem a conexão via aérea por um custo mais baixo. O banco de investimento americano Goldman Sachs declarou em um recente relatório a clientes que a implementação do 5G será mais barata do que a de fibra óptica: o custo cairia de 700 dólares para 606 dólares por residência.

Em larga escala, a nova tecnologia levaria a uma economia monumental de recursos, o que poderia reduzir o fosso digital que existe no mundo, evidenciado pela pandemia de ­covid-19. A falta de conectividade pune principalmente a população mais vulnerável, que tem pouco acesso imediato a informações sobre saúde, oportunidades de trabalho remoto, telemedicina e escola, no caso de centenas de milhões de crianças e adolescentes que precisam manter os estudos à distância.

De acordo com uma estimativa da Organização das Nações Unidas, 46% da população mundial ainda não está conectada. São quase 4 bilhões de pessoas sem acesso à internet. No Brasil, 134 milhões de pes­soas utilizam a internet, mas somente 15 em cada 100 domicílios têm acesso à banda larga fixa, de acordo com dados do Banco Mundial.

O leilão do 5G promete diminuir o atraso do Brasil, porém a operadora que conseguir se antecipar terá um grande trunfo. Ao se lançar primeiro no 5G, a Claro repete a estratégia da Vivo, a primeira a implantar o 3G no Brasil em meados de 2004.

“O 5G reforça a imagem da Claro de uma empresa inovadora, com tecnologia de ponta. É importante para ganhar mercado. A Vivo fez isso com o 3G e a TIM tentou a mesma estratégia com o 4G”, afirma Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações.

A Claro já dava uma mostra de suas intenções em meados de 2017, quando inaugurou no mercado brasileiro o 4.5G, internet com a promessa de velocidade dez vezes maior do que a do 4G tradicional, porém utilizando a mesma faixa de frequência. Chamadas ilimitadas em território nacional e dentro do grupo em viagens ao exterior, sem custos, também passaram a fazer parte de seu pacote pós-pago.

Segundo a Claro, a ofensiva rendeu à empresa muitos frutos: dos cerca de 580.000 clientes que o segmento ganhou até maio de 2020, 500.000 assinaram com a Claro. Agora a operadora pretende ganhar ainda mais destaque ao ser a primeira a oferecer o 5G no país.

Embora não seja com a tecnologia 5G definitiva, que exige a abertura de novas frequências para se disseminar, porque as atuais estão quase lotadas, a companhia promete uma conexão até 12 vezes mais rápida do que a do 4G convencional com o compartilhamento de frequências que já estão disponíveis atualmente.

No entanto, a rede funcionará somente em aparelhos que suportam o 5G, como os celulares da linha Edge, da Motorola, lançados no Brasil em julho. A expectativa é que até o final de 2020 outros aparelhos cheguem ao mercado brasileiro e ampliem o alcance — apesar da previsão de preços altos dos modelos, acima de 5.000 reais.

“O novo processador Snapdragon viabilizará a chegada de celulares 5G de gama intermediária no final deste ano”, afirma Fiore Mangone, diretor de desenvolvimento de negócios da Qualcomm, líder do mercado de processadores e modem para celulares.

Em São Paulo, a nova cobertura de 5G será oferecida inicialmente em regiões de maior concentração de pessoas, como a Avenida Paulista e os Jardins, sendo ampliada gradativamente. O mesmo vai acontecer no Rio de Janeiro, iniciando pelos bairros de Ipanema, Leblon e Lagoa.

Depois do lançamento do serviço de “quase 5G” da Claro, as concorrentes Vivo e TIM também anunciaram planos para oferecer serviços similares, mostrando como a disputa pela liderança do segmento não tem sido fácil. A Claro concluiu no ano passado a aquisição da Nextel, ganhando um pouco mais de espectro de internet e também uma oportuni­dade de abrir vantagem sobre a TIM, atual terceira maior.

Mas a briga está embolada por causa da recuperação judicial da Oi, que conta com 36 milhões de clientes na telefonia móvel. O plano de reestruturação que foi apresentado aos credores da empresa inclui a venda de quatro ativos. O mais valioso é o de telefonia móvel, avaliado em aproximadamente 15 bilhões de reais.

Na tentativa de abocanhar um pedaço, Claro, Vivo e TIM fizeram entre si um acordo e apresentaram no dia 18 de julho uma proposta conjunta para adquirir o negócio. O que as empresas não esperavam era o lance de uma operadora até então desconhecida no Brasil, a Highline, controlada pelo fundo americano Digital Colony. Em 22 de julho, a companhia ganhou da Oi o direito de negociar exclusivamente o ativo depois de fazer uma oferta cujo valor não foi divulgado (veja quadro abaixo).

Fontes próximas às empresas não descartam um novo lance conjunto por parte de Vivo, Claro e TIM, mas até o fechamento desta edição da EXAME não havia notícia de uma nova proposta. Outra possibilidade é que a Highline esteja se cacifando para virar uma grande operadora no país disputando o leilão de 5G, o que atrapalharia os planos das outras três.

O caminho da prosperidade digital não é fácil. Estados e municípios precisam chegar a um consenso em relação à instalação e ao uso das novas antenas voltadas para o 5G, porque a regulação brasileira do segmento ainda é muito divergente entre os entes da federação.

O Brasil também pode ficar no meio de uma disputa geopolítica: a empresa chinesa Huawei, de produtos e infraestrutura de telecomunicações, é acusada pelo governo americano de espionagem, e sua participação no processo de implementação do 5G nos Estados Unidos e em parceiros comerciais, incluindo o Brasil, poderá ser vetada.

Marcelo ­Motta, diretor de cibersegurança e soluções da Huawei, refuta as suspeitas que recaem sobre a companhia. “Somos a empresa mais transparente em cibersegurança do mundo, temos centros que permitem a clientes e governos testarem nossas tecnologias. Nos 22 anos que estamos presentes no Brasil, as operadoras nunca apresentaram pro­blemas”, afirma o executivo.

O pano de fundo dessa disputa é um avanço tecnológico e econômico inédito na história das nações e uma oportuni­dade de ouro de o Brasil finalmente deixar de ser apenas um produtor de commodities para entrar no século 21.

https://exame.com/revista-exame/do-sem-g-ao-5g-nova-internet-movel-e-chance-para-o-brasil-tirar-o-atraso/

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Linhas de ação para um salto de produtividade no Brasil

Por  Paulo Milet*

Vários anos de experiência nas áreas de Gestão e Qualidade, superpostos com 25 anos em EaD, me levaram a essas reflexões que listo abaixo. Acredito que, apesar da catástrofe da pandemia, podemos (o Brasil) sair dela melhores do que entramos, principalmente pelo salto disruptivo que tivemos em termos de uso compulsório de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Para o país, o maior indicador da produtividade é o PIB per capita ou renda per capita no popular e, para aumentar essa renda, precisamos gerar mais produção (ou diminuir a população, o que está fora de cogitação). Listei 4 possíveis abordagens que podem nos fazer dar um salto nesse indicador nos próximos anos, principalmente partindo de algumas premissas:

a) precisamos fazer mais com menos;

b) precisamos usar intensivamente as TICs;

c) Precisamos atualizar/ modernizar a forma como contabilizamos nossas riquezas e potencial;

d) É possível avançarmos em ritmo muito superior aos previstos nos cálculos convencionais;

e) As mudanças ocorridas nos últimos meses vão permanecer e no máximo sofrer alguns ajustes, mas retornar ao ponto que estávamos no início de março, nunca mais;

f) Todo processo existente, desenvolvido pelo ser humano, foi algum dia a solução para um problema. Precisamos repensar a origem desse problema para obter soluções originais;

g) Tivemos um ganho enorme com a quebra de uma série de preconceitos com o uso de tecnologias que viriam paulatinamente e foram aceleradas (IA, RV, RA, nano tecnologias, drones, impressoras 3d, IoT , blockchain…)

Com base nessas premissas, vamos às seguintes linhas de ação:

1- CONECTIVIDADE

Por conectividade, entenda-se a capacidade de se conectar à internet com velocidade e desempenho razoáveis. Essa deverá ser nossa maior prioridade porque ela é transversal e habilitadora a todas as outras ações. Só conseguimos dar um salto nesses últimos meses em termos de home office, EaD, Telemedicina e outros, porque tínhamos uma estrutura razoável nessa área, inexistente 10 anos atrás. Mas, mesmo assim, faltou muito. Na área de educação muitos alunos ficaram de fora e, no trabalho remoto, apenas para um percentual da população foi possível aproveitar a oportunidade.

Não é difícil promover um mutirão nessa área, com prioridade e recursos, públicos e privados, fazendo com que tanto as operadoras, quanto as empresas de wifi e as fornecedoras de equipamentos (tablets, micros e smartphones) se alinhem com o objetivo concreto de propiciar conectividade para 100% da população em menos de 1 ano!

Alguns exemplos podem ser inspiradores: O Peru distribuiu 1.000.000 de tablets para alunos (com uma população de cerca de 32.000.000 de habitantes); O Google implantou um sistema de Transmissão de Internet 4G por balões na África (Quênia) a 20km de altura e disse que isso é apenas o início.

Certamente alinhando governo nos 3 níveis, academia, empresas e terceiro setor isso certamente será alcançado.

2- EDUCAÇÃO

A Educação não é algo que tenha a ver apenas com salas de aulas e professores e com o acontecido nos 25 primeiros anos de nossas vidas. Devemos entender a educação como o conjunto formado por ensino e aprendizagem e a prioridade deve ser sempre o “aprendente”. Com as mudanças aceleradas no mundo de hoje (e que já vinham acontecendo de modo acelerado mesmo antes da pandemia), não podemos nos conformar em ter apenas uma fase na vida para aprender.

O Objetivo deve ser o life long learning, com o aprendizado ocorrendo ao longo de toda a vida. Isso tem que ser um objetivo da nação; profissões nas quais nos formamos há 10, 20 ou 30 anos mudaram completamente ou mesmo desapareceram. Profissões que serão abraçadas pelas crianças de hoje, ainda nem foram criadas.

A ONU estabeleceu entre os seus Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, para 2030, o ODS 4 que diz literalmente “Assegurar educação inclusiva, equitativa e de Qualidade e promover oportunidades de aprendizagem para todos ao longo da vida”.

Isso será impossível sem EaD! Já vimos e todos os estudiosos estão chegando a essa conclusão, que o aprendizado pode ser igual ou melhor com EaD do que com aulas presenciais, principalmente para os adultos. Para as crianças temos que motivá-las com games e soluções do tipo “tik tok”.

O papel dos professores deve mudar e deixar de ser o de transmissor de conhecimento para curador de conteúdo, com a obrigação de selecionar e organizar, além de incentivar, orientar, motivar e provocar os alunos. Muito do life long learning será pautado na andragogia (educação dos adultos) e na heutagogia (auto aprendizado).

Nossos índices de escolaridade são péssimos (dados do IBGE apontam que apenas 48% de todos os brasileiros com idade acima de 14 anos no primeiro trimestre de 2019 concluíram ao menos o ensino médio) e sempre que alguém envolvido com o problema propõe uma solução, ela passa por “apenas” consertar o processo e obter os resultados após vários anos. Frases do tipo ” Se resolvermos nossos problemas no ciclo de educação, nossos índices se igualarão aos índices da Espanha e Portugal em 30 anos! Ora! isso é muito pouco e desanimador.

O modelo educacional adotado é muito antigo. Salas com 30 alunos e um professor. Ciclos de vários anos. Separação das turmas por idade. Ritmo na base da média das turmas. Tudo isso não pode ser mantido dessa forma. A tecnologia já permite o aprendizado no seu próprio ritmo (personalização do aprendizado) e ocorrendo em qualquer lugar (anyplace) e a qualquer momento (anyplace).

É perfeitamente possível lançar um programa de recuperação de evasão (dropout recovery) para que os alunos que evadiram do ensino fundamental e médio (nos últimos 10 ou 20 anos), possam completar seu ciclo. Mas nunca retornarão às salas de aulas presenciais. Modelos de certificação de conhecimento já existem (exemplo Encceja) e podem e devem ser acelerados.

É perfeitamente possível criar um programa de RVA (Reconhecimento, Validação e Acreditação) como os do UIL (UNESCO Institute of Life long learning) onde o “aprendente” estuda em qualquer lugar e horário e, quando estiver pronto, faz uma prova para validação e certificação do conhecimento, como hoje já é feito com certificações do tipo ISO, PMI, Toefl, Microsoft, Cisco, IBM, Google e muitas outras, até mesmo OAB).

É perfeitamente possível revolucionar nossos índices de escolaridade e de formação profissional, com o uso intensivo de EaD, de modo que, em menos de 10 anos, nossos índices de escolaridade cresçam para padrões europeus e a nossa formação profissional seja feita com foco nas profissões do futuro e não nas do passado.

Sabemos, e está provado, que obviamente a renda cresce conforme a escolaridade e o preparo crescem.

3- TRABALHO

Na área do trabalho, muita coisa pode e vai mudar (já mudou). O sucesso do home office, mesmo executado de forma improvisada e compulsória, e com falta de estrutura técnica e participação das crianças nos trabalhos dos pais, é irreversível. Os ganhos foram claramente percebidos. Ganhos de produtividade por não obrigarem as pessoas a enfrentar algumas horas diárias no trânsito ou em viagens a negócio foram absorvidos e muitas empresas já planejam o não retorno.

Um ganho muito interessante é a possibilidade de incorporação à nossa força de produção de população com mais idade e que não tinha disposição ou condições físicas para o deslocamento diário para centros das cidades. Pessoas com responsabilidade com crianças pequenas em casa, podem trabalhar em horários ajustados.

Com isso, além da qualidade da mão de obra registrada pelo aumento da escolaridade no item anterior, temos agora um aumento no volume de horas disponíveis para o trabalho.

Precisamos mudar o conceito da PIA (População em Idade Ativa), que só vai até os 65 anos).

Ficou claro? Com essas mudanças, a PEA (População Economicamente Ativa) aumenta, porque os nem-nem (nem estudam e nem trabalham) passam a estudar ou trabalhar, os de mais idade podem continuar produzindo após os 65, as mães com obrigações com filhos pequenos ficam disponíveis para o trabalho e as pessoas produzindo para o país aumentam em muitos milhões. Isso significa um aumento da produção e consequentemente da renda per capita.

Mas não é só isso. A possibilidade de trabalhar em qualquer lugar e em qualquer horário, abre as possibilidades do trabalho em bairros, cidades, estados ou países antes não cogitados. As decisões de morar em algum lugar próximo do local de trabalho ou do estudo deixam de existir. O mercado de trabalho se expande.

E os empregos? Será que teremos mais desemprego com as novas tecnologias? Não creio, não necessariamente em um país ainda em construção como o nosso. Se tivermos a preocupação de direcionarmos os empregos para os setores de infra que precisamos, como habitação, saneamento, logística, mobilidade. Precisamos ajustar nossa legislação para permitir essas mudanças. Controle de ponto, horário e carga horária perdem o sentido. A gestão passa a ser por “entregas” = resultado.

Em recente documento do governo português, lemos: “As economias do chamado Primeiro Mundo – ou Países Desenvolvidos – encontrarão no trabalho remoto o seu principal motor de produtividade e crescimento. Neste momento, de acordo com dados da Gartner, 81% dos funcionários das grandes corporações estão a trabalhar a partir de casa. A crise sanitária veio mostrar que é possível, especialmente no setor dos serviços”;

E nós? Vamos ficar atrás?

4- GOVERNO

Por governo estou considerando aqui os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e os três níveis (Federal, Estaduais e Municipais).

Vimos nos últimos meses alguns saltos muito importantes e que não podem ser perdidos. O Congresso Nacional tomando decisões com reuniões á distância. O que pode e deve ser incentivado, de modo que tenhamos semanas de 5 dias e não apenas 3 (terça, quarta e quinta) como era o convencional.

Tribunais e juízes, inclusive no STF, também tomando decisões e depoimentos com base em reuniões remotas. E o executivo, processando 50 milhões de registros e identificando toda uma população que não aparecia nas estatísticas e programas governamentais.

Os indicadores de performance do país tem que ser atualizados e agilizados. Cálculo de inflação e desemprego com 2 meses de defasagem? Porque? Todas essas informações já estão em algum banco de dados e o acesso deveria ser muito mais rápido.

Toda organização sabe que a produtividade e qualidade aumentam se as informações chegam de modo preciso e ágil.

O Banco Central deve liderar um processo para praticamente extinguir o uso de papel moeda na sociedade (como fez a China) garantindo uma precisão de informações instantâneas sobre pagamentos e recebimentos. Com isso a negociação de ajustes e reformas tributárias fica muito mais clara (e somem as malas abarrotadas).

Os cálculos de inflação usam informações definidas a partir de Pesquisa de hábitos de consumo realizada 2 anos atrás. Será que o consumo de streaming está considerado ou ainda se considera a compra física de filmes e discos? o uso de celulares já tem o seu peso em detrimento do uso de telefonia fixa? o e-commerce está contemplado?

Vamos pensar que as pessoas podem trabalhar em qualquer cidade ou estado e os serviços e produtos serão cada vez mais digitais. Tributos estaduais e municipais fazem sentido?

Medidas automáticas e desburocratizantes devem ser adotadas para que o país possa acelerar. Criação de empresas, pagamento de tributos, relacionamento com governos podem ser muito otimizados. Os bancos de dados já tem a maior parte das informações.

Cruzamentos com o sistema financeiro podem ajudar a tomada de decisões ágeis.

A eleições podem ser ajustadas. Com um modelo blockchain e conectividade, votações mais frequentes podem ser incentivadas, sempre com confirmações de segundo e terceiros turnos e alinhando interesses da população com ações do executivo e legislativo.

Certamente, com os avanços nesses 4 itens acima o país dará um salto de qualidade e produtividade.

Não quer dizer que os tópicos que ficaram de fora desse texto não sejam importantes:

Entre muitos outros, nos próximos artigos vou abordar o COMÉRCIO ELETRÔNICO que se impõe e conecta produtores e consumidores em marketplaces interligados, na SAÚDE precisamos reforçar o SUS (um dos melhores do mundo) e avançar com a Telemedicina. O AGRONEGÓCIO tem a capacidade de alimentar o mundo e temos um sistema razoavelmente moderno, com tecnologias de geração de sementes, defensivos e biotecnologia, com destaque para os trabalhos da Embrapa.

Até mesmo o início de um programa de RENDA BÁSICA foi viabilizado. Vamos avançar!

*Paulo Milet. Formado em Matemática pela UnB e pós graduado em adm pública pela FGV RJ – Consultor e empresário nas áreas de Tecnologia, Gestão e EaD.

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O trabalho remoto não está funcionando? Talvez sua empresa esteja fazendo errado

Entre 5 itens elencados para home office funcionar bem estão definição do tempo de trabalho e redução de número de reuniões; na Microsoft, rotina aponta que reuniões longas ou consecutivas funcionam ainda menos online

Claire Cain Miller / The New York Times

05 de agosto de 2020 |

À medida que a pandemia do novo coronavírus se prolonga, algumas empresas estão perdendo o gosto do trabalho remoto. Talvez seja porque elas não estão fazendo isso certo. As companhias que continuaram seguindo as mesmas convenções habituais do escritório físico perceberam que não funcionam bem, dizem executivos e pesquisadores.

As empresas que mudaram a maneira de trabalhar tiveram mais sucesso – e, em alguns casos, descobriram novas rotinas que desejam continuar quando retornarem aos escritórios. Essas empresas têm algumas coisas em comum.

Elas têm menos reuniões longas, com muitas pessoas ou consecutivas. Elas determinam períodos de tempo sem reuniões para realizar trabalhos focados; oferecem horários de expediente flexíveis e encontram maneiras de fazer com que os colegas socializem mesmo quando não estão se vendo pessoalmente.

“Existe um instinto natural, mesmo nesses tempos, não de descobrir como operar neste novo mundo, mas de como replicar o mundo antigo nas novas condições”, disse Leslie Perlow, professora de liderança da Harvard Business School. “Quanto mais isso acontece, meu otimismo aumenta porque acho que as pessoas estão sendo forçadas a descobrir maneiras inovadoras.”

Na Microsoft, as equipes rapidamente perceberam que longas reuniões de uma hora ou mais com pautas vagas funcionavam ainda menos online do que pessoalmente. As reuniões consecutivas também eram problemáticas – nos escritórios, as pessoas contam com intervalos entre uma reunião e outra para ir ao banheiro, comer algo ou checar seus telefones.

Uma equipe de 400 pessoas trabalhando em um software comercial na Microsoft registrou uma redução de 11% nas reuniões com mais de uma hora e um aumento de 22% nas reuniões de 30 minutos. As reuniões com duas pessoas aumentaram 18%, de acordo com Emma Williams, vice-presidente corporativa da Microsoft para transformações modernas no local de trabalho.

Alguns colegas também iniciaram videoconferências sociais, como conectar-se enquanto almoçam para conversar. As sextas-feiras foram designadas como dias sem reunião, para as pessoas se concentrarem em um projeto ou recarregarem as baterias.

Reuniões com mais de uma hora ou consecutivas se mostram ainda menos eficazes no ambiente online do que presencialmente. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Outro desafio que a Microsoft descobriu: quando não há escritório para ir embora, as linhas entre trabalho e vida são um borrão. A equipe viu um aumento de 52% nos bate-papos online entre 18h e 22h.

Para algumas pessoas, o horário de expediente é útil, pois podem tirar pausas durante o dia para atividades como exercícios ou cuidar dos filhos. Mas os gerentes também queriam incentivar os limites da vida profissional. Uma solução foi usar uma ferramenta que permite às pessoas escreverem mensagens para colegas que não serão enviadas até o próximo dia útil. Outra foi mais reuniões individuais entre gerentes e funcionários – pessoas que terminaram seus trabalhos com maior rapidez, provavelmente porque eram mais claras a respeito de suas prioridades, disse Emma.

Aqui estão cinco coisas que executivos e pesquisadores disseram que deveriam mudar para que o trabalho remoto funcione bem.

1. Indique tempo para trabalhar e não trabalhar

Não faz sentido esperar que os trabalhadores estejam disponíveis o tempo todo, porque eles estão sempre em seu “escritório”. Em vez disso, as empresas devem reservar tempo para o trabalho colaborativo e independente, disseram os pesquisadores, e se concentrar mais no trabalho realizado do que no tempo gasto conectado. As pessoas poderiam criar rituais para marcar o início e o fim da jornada de trabalho e as empresas poderiam deixar claro que não esperam que as mensagens sejam respondidas imediatamente.

2. Julgue o desempenho, não como uma tarefa foi realizada

As pessoas descobriram que são avaliadas em parte pelo número de horas que passam no escritório. Para se adaptar, os gerentes devem ser muito claros quanto às expectativas para o trabalho atribuído e seu prazo, disseram os pesquisadores – então deixe o “como” para os trabalhadores e não se preocupe em seguir o horário tradicional das 9 às 17h.

3. Reduza o número de reuniões

Decida de quais reuniões você realmente precisa e substitua algumas por conversas em alguma plataforma. Mantenha as reuniões curtas e com poucas pessoas, com intervalos entre elas, e torne-as opcionais com anotações detalhadas para quem não pode participar.

4. Conecte os colegas

As pessoas sentem falta das amizades de escritório e elas geralmente levam a um melhor desempenho. Além de videoconferências para pôr a conversa em dia, os colegas de trabalho enviaram cartas ou pacotes pelo correio ou se encontraram para caminhadas com distanciamento social. Alguns sugerem ligar para colegas de trabalho apenas para saber como estão.

5. Faça com que todos se sintam parte de um todo

O trabalho remoto pode fazer com que alguém se sinta excluído – sem contato diário, as pessoas podem falar apenas com aqueles que conhecem melhor e pode ser mais difícil se expressar em uma reunião por vídeo ou por áudio. A formação de relacionamentos pessoais no escritório demonstrou ser útil para expandir oportunidades para mulheres e pessoas negras. Também pode ser especialmente útil para novos funcionários de uma empresa ou de uma equipe.

As empresas podem aumentar a frequência das reuniões entre mentores e pupilos, disseram pesquisadores e executivos, e as pessoas devem se tornar mais atentas sobre colaborar com pessoas que não conhecem bem.

De certa forma, as companhias descobriram que o trabalho remoto pode ser mais inclusivo. Uma sessão de brainstorming numa plataforma de conversa é mais confortável para muitas pessoas do que uma reunião presencial. Eventos ou reuniões de grupos de funcionários podem ser menos intimidantes para alguns trabalhadores quando eles são realizados online. E o networking por meio de bate-papos por vídeo ou telefone pode ser acessível a mais pessoas do que retiros de golfe ou bebidas após o expediente.

É provável que o trabalho remoto generalizado dure muito tempo e muitas pessoas nunca voltem ao escritório em tempo integral. Essas dicas podem melhorar o trabalhar de casa agora e no futuro.

/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

https://economia.estadao.com.br/blogs/radar-do-emprego/o-trabalho-remoto-nao-esta-funcionando-talvez-sua-empresa-esteja-fazendo-errado/

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Black Mirror? Com sistema de pontos, China premia ou pune cidadãos

Chineses são monitorados e classificados como bons ou maus cidadãos de acordo com suas atitudes, como doar sangue ou comer no metrô

Revista Exame

Publicado em: 02/09/2019 

Pontos extras por doar sangue, mas uma pontuação baixa por passear com o cachorro sem coleira: a China testa um polêmico sistema que recompensa, ou penaliza, o comportamento dos cidadãos, e que pretende generalizar no ano que vem.

Em um país conhecido por sua estrita vigilância policial, o dispositivo que ainda está em preparação faz temer a existência de uma sociedade com maior controle por parte do 

Partido Comunista no poder.

Várias províncias, ou municípios, do país já estabeleceram estes sistemas de qualificação, mas muitos cidadãos estão confusos. Falta coordenação, e as recompensas e as penalizações diferem de um lugar para outro, assim como os critérios de avaliação.

Em Pequim, perde-se pontos por comer no metrô e, em Xangai, por passear com o cachorro sem coleira.

Na capital, os cidadãos que receberem uma pontuação muito alta podem ter vantagens para obter um emprego como funcionário público, ou uma vaga para os filhos no jardim de infância.

Já em Qinghuangdao, 300 quilômetros ao leste, a recompensa seria um “certificado de cidadão modelo”, ou um exame médico anual gratuito.

Sistema nacional em 2020

O governo central pretende criar em 2020 o sistema de “crédito social” em todo país. Mas “não haverá um sistema de pontos único para todos os cidadãos, é um mito”, afirma Jeremy Daum, especialista em Direito chinês na Universidade de Yale, Estados Unidos.

Pequim poderia recorrer a uma série de instrumentos, como um sistema de integração em uma lista negra, de denúncia pública, ou inclusive de qualificação coletiva.

“O governo não tem certeza sobre este assunto e tenta definir o que um sistema deste tipo poderia conseguir e quais seriam seus limites”, opina Shazeda Ahmed, estudante de Doutorado da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos.

No ano passado, os tribunais chineses emitiram 17,46 milhões de proibições de voar e 5,47 milhões de pegar o trem de alta velocidade, segundo o Centro de Informação Nacional do Crédito Social.

Por enquanto, as regras não estão claras. Também não é fácil para um cidadão saber sua nota. Às vezes, ficam sabendo por acaso.

“Um dos principais problemas com os atuais experimentos de crédito social na China é que a maioria das pessoas não sabe que está em uma lista negra”, diz Zhu Lijia, professora da Academia de Administração Pública da China.

“Também não se sabe sob quais critérios se pode estar em uma lista negra. Não está nem um pouco claro”, acrescentou.

Projetos pilotos, como o da cidade de Suzhou, perto de Xangai, são acompanhados de um aplicativo de telefonia móvel, com o qual se pode verificar a pontuação.

Na província oriental de Shandong, os locais viram surgir “classificações de confiança” na porta de suas casas no ano passado, até serem retiradas após um protesto dos habitantes.

“Controle totalitário”

As autoridades tentam convencer as pessoas de que seus direitos individuais não serão vulnerados.

“O sistema não servirá para punir as pessoas”, garantiu em junho Lian Weiliang, vice-presidente do Comissariado de Planejamento.

Os defensores dos direitos civis acreditam, porém, que o sistema de crédito social pode dar ao governo – que já exerce muito controle sobre a sociedade – mais meios para sufocar qualquer possibilidade de dissidência.

Em 2016, o país contava com cerca de 176 milhões de câmeras de vigilância nos espaços públicos, contra 50 milhões nos Estados Unidos, por exemplo, segundo o centro de estudos IHS Markit.

Até 2022, a cifra deve atingir o nível astronômico de 2,76 bilhões, ou seja, quase duas câmeras para cada um dos 1,4 bilhão de habitantes do país. Instrumentos que, junto com as técnicas de reconhecimento facial nas quais a China está na vanguarda, são preocupantes.

Sem mencionar o risco de violação da vida privada, tanto os particulares como as empresas ignoram quais dados são acumulados em sua conta e por quanto tempo são conservados.

Embora o sistema atual careça de coerência, seus críticos temem que tenha o potencial de se tornar um dispositivo de controle que vigie até os aspectos mínimos da vida cotidiana.

Para o escritor Ye Du, o crédito social é “um novo gênero de controle totalitário da sociedade”, que dá aos governantes “um poder de vigilância sem igual sobre cada minuto da vida de cada um”.

https://exame.com/mundo/black-mirror-com-sistemas-de-pontos-china-premia-ou-pune-cidadaos/

Poder 360

Em 2018, segundo relatório divulgado pelo Centro de Informação do Crédito Público Nacional da China, 23 milhões de pessoas foram impedidas de viajar devido à pontuação baixa.

Leia no infográfico como seria o funcionamento do sistema de crédito social chinês:

https://www.poder360.com.br/internacional/entenda-o-sistema-de-credito-social-planejado-pela-china/

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