Brasil é o terceiro maior gerador de energia elétrica renovável no mundo

Considerando a participação percentual de renováveis na matriz elétrica, o Brasil ocupou a sexta posição em 2023, segundo dados da Agência Internacional de Energia

Erik Rego – Exame – 8 de abril de 2024 

Com 42,8% de participação do PIB global (dados do Banco Mundial para o ano de 2022), China e EUA foram os maiores geradores de energia elétrica renovável do mundo entre janeiro e novembro de 2023, com participação conjunta de 50,4% do total.

Somando geração hidrelétrica, eólica, solar, biomassa e geotérmica, a China produziu no período 2,7 milhões de gigawatts-hora (GWh), o equivalente a 37,9% do total global, enquanto os EUA geraram 883 mil GWh (12,6% do total), de acordo com dados publicados pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

Apesar dos dados favoráveis, mais de 60% da geração de eletricidade chinesa ainda é proveniente do carvão. E, nos EUA, gás natural e carvão também respondem por aproximadamente 60% de geração de eletricidade do país.

Como se divide a matriz elétrica no Brasil?

Com menos de 2% de participação no PIB global, mas com 8% da produção de geração renovável mundial (568,4 GWh), o Brasil é o terceiro colocado no ranking. E, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as hidrelétricas responderam por 67,4% da geração total de energia elétrica do país de janeiro a novembro de 2023, com as eólicas contribuindo com 14,5% e as solares, com 6,7%.

Vale destacar que, ainda na primeira década deste século, a fonte hidrelétrica representou, em média, pouco mais de 90% da geração de eletricidade brasileira. Isso mostra que o Brasil promoveu a diversificação de seu parque gerador sem perder sua característica de renovabilidade.

O país com maior uso de energia renovável do mundo
Já no ranking global de participação proporcional de energia elétrica renovável dos países acompanhados pela IEA, a campeã é a Islândia, com praticamente 100% de renovabilidade, seguida de perto pela Costa Rica (quase 100%), Noruega (99%), Luxemburgo (94%), Dinamarca (91%) e o Brasil (90%).

Fecham o grupo de países com mais de 80% de participação de fontes renováveis em suas respectivas matrizes elétricas a Nova Zelândia (88%) e a Áustria (85%).

Esses países conseguem esse feito principalmente por causa da geração hidrelétrica, com exceção da Dinamarca, cuja principal fonte de eletricidade é a eólica. Aliás, a Noruega promoveu grande mudança de sua matriz, já que no começo deste século 83% da geração era a partir de carvão, gás natural e óleo. Há ainda duas curiosidades na lista: Islândia e Nova Zelândia apresentam 30% e 20%, respectivamente, de sua geração de eletricidade a partir de geotérmicas.

https://exame.com/esg/brasil-e-o-terceiro-maior-gerador-de-energia-eletrica-renovavel-no-mundo/

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Professores gerados por IA estão dando aulas em uma universidade de Hong Kong

Uma vez que o conteúdo do curso é carregado no programa, este gera automaticamente os professores, cuja aparência, voz e gestos podem ser personalizados

Agência o Globo – Publicado em 12 de maio de 2024 

Com um capacete de realidade virtual, alguns estudantes de uma universidade de Hong Kong viajam para um pavilhão nas nuvens para participar de uma aula de teoria dos jogos explicada por um Albert Einstein criado com inteligência artificial (IA).

A experiência faz parte de um curso piloto da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST) para testar o uso de “professores” gerados por essa tecnologia em ascensão no mundo. O professor Pan Hui, responsável por este projeto, considera que essa ferramenta pode ser de grande ajuda para as instituições de ensino diante da falta de pessoal em muitos países ao redor do mundo.

“Os professores gerados por IA podem trazer diversidade (…) e até mesmo uma narrativa imersiva”, explica Hui à AFP.

A disseminação de ferramentas como o ChatGPT gerou esperanças de melhorias na produtividade e no ensino, mas também temores sobre as possibilidades de engano, plágio ou substituição de professores.

Neste curso “Redes Sociais para Criativos”, esses professores digitais abordam com cerca de trinta alunos questões relacionadas às tecnologias imersivas e ao impacto das plataformas digitais.

Uma vez que o conteúdo do curso é carregado no programa, este gera automaticamente os professores, cuja aparência, voz e gestos podem ser personalizados. Os avatares podem aparecer em uma tela ou através de capacetes de realidade virtual. O curso é híbrido porque Hui também intervém nas aulas. No entanto, a IA, ele afirma, permitiu-lhe se livrar de suas tarefas mais “pesadas”.

Professores de desenhos animados

A estudante de doutorado Lerry Yang acredita que essa mistura de universos reais e virtuais e a personalização dos professores digitais melhoram sua aprendizagem.

Se um professor digital “me deixa mais receptiva mentalmente ou parece mais acessível e amigável, isso apaga a sensação de distância entre o professor e eu”, afirma à AFP esta jovem que dedica seu doutorado ao metaverso.

Abordar o avanço da IA é um desafio comum para os professores. Alguns decidem limitar seu uso ou tentam identificar de forma confiável o plágio.

Embora inicialmente hesitantes, a maioria das universidades de Hong Kong autorizou seus estudantes a usá-la no ano passado, com condições variadas.

Em seu curso piloto, Hui experimenta com avatares de diferentes gêneros e origens étnicas ou com a aparência de figuras famosas do mundo acadêmico, como o economista John Nash ou o próprio Einstein.

“Até agora, o tipo de professores [gerados por IA] mais populares são mulheres jovens e bonitas”, diz.

Os personagens de desenhos animados japoneses, com os quais também experimentaram, não são unanimidade, explica a estudante de doutorado Christie Pang, que colabora com Hui.

“Alguns alunos sentiam que não podiam confiar no que o avatar digital dizia”, afirma.

Melhor o real

Para Pan Hui, a confiabilidade dos professores gerados por IA pode superar a dos seres humanos reais no futuro. No entanto, ele considera preferível que ambos os tipos de professores convivam.

“Como professores universitários, nós vamos cuidar melhor dos nossos alunos no que diz respeito, por exemplo, à sua inteligência emocional, sua criatividade e seu pensamento crítico”, explica.

Por enquanto, essa tecnologia está longe de representar uma séria ameaça para o pessoal acadêmico.

Os avatares não podem interagir com os alunos e, como todos os conteúdos criados pela IA, podem fornecer respostas falsas ou estranhas, o que alguns chamam de “alucinações”.

Cecilia Chan, professora da Universidade de Hong Kong (KHU), pesquisou no ano passado mais de 400 estudantes: a maioria deles preferia tutores reais.

Os alunos “ainda preferem falar com uma pessoa real porque um professor de verdade pode compartilhar sua experiência, dar feedback e demonstrar empatia”, afirma Chan, cujos trabalhos se concentram no uso da IA na educação.

“Você preferiria ouvir um ‘bravo’ de um computador?”, pergunta a pesquisadora.

No entanto, os estudantes já estão recorrendo a ferramentas baseadas em IA em seu aprendizado, como “todo mundo faz”, diz Chan.

Na Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, um dos alunos de Hui, Yang, confirma isso: “Não se pode ir contra o desenvolvimento dessa tecnologia”.

https://exame.com/inteligencia-artificial/professores-gerados-por-ia-estao-dando-aulas-em-uma-universidade-de-hong-kong/

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Geopolítica assume um papel central nas cadeias de abastecimento

Conflitos militares e guerras comerciais forçam busca por locais diferentes dos usuais para fabricação de componentes e compra de matéria-prima, além de rotas mais seguras para o transporte dos produtos

Por Paul Berger Valor/Dow Jones – 05/05/2024

De todas as decisões que o Markus Group está tomando sobre seu novo elevador mecânico para ajudar os americanos a acessar seus sótãos, a mais complicada hoje é onde fabricar o produto.

“Dez anos atrás eu imediatamente teria dito China”, afirma Mark Boone, proprietário dessa fabricante de Raleigh, Carolina do Norte, que opera sob contrato.

A China tem tudo que Boone precisa para o seu elevador Stoaway: aço para a estrutura, máquinas computadorizadas de baixo custo para fabricar as peças, e semicondutores e sistemas de comunicação de rádio para a operação remota dos elevadores.

Mas as relações comerciais dos EUA com a China estão se deteriorando, aumentando a possibilidade de Washington vir a elevar as tarifas sobre os produtos chineses, ou uma guerra eclodir em razão das reivindicações de Pequim sobre Taiwan. Boone está procurando fábricas na Polônia e Romênia, onde é mais difícil encontrar fornecedores e os custos com a mão de obra e matérias-primas são maiores, mas onde os riscos geopolíticos podem ser menores.

“As decisões que tomamos serão tão geopolíticas quanto econômicas”, afirma Boone.

O dilema de Boone está afetando milhares de empresas à medida que os crescentes obstáculos geopolíticos complicam as cadeias de abastecimento — que vão de sobretaxas ocidentais e restrições às importações de matérias-primas de produtos da China e outros países aos ataques houthis a navios comerciais que praticamente fecharam o Canal de Suez.

“Hoje, os gestores de cadeias de abastecimento estão pensando mais no risco geopolítico do que em qualquer outro risco”, diz Brian Bourke, diretor comercial da Seko Logistics, transportadora de carga de Schaumburg, Illinois.

Até recentemente, as principais preocupação das empresas com as cadeias de abastecimento era como encontrar uma fonte confiável para produtos ao custo mais baixo, diz Oscar de Bok, presidente-executivo da DHL Supply Chain, uma provedora de logística. Isso levou muitas empresas para a China, com sua mão de obra barata e ecossistema incomparável de fábricas, fornecedores de peças e matérias-primas.

De Bok diz que hoje muitas empresas estão priorizando uma cadeia de abastecimento capaz de suportar choques geopolíticos. Esse novo ônus as está levando para outros países e continentes, onde estão estabelecendo cadeias de abastecimento alternativas que reduzem sua dependência de um único país ou região.

Algumas das mudanças em curso foram estimuladas pela pandemia de covid-19, quando o fechamento de fábricas na China, o aumento dos preços do transporte marítimo e os atrasos no transporte provocaram a escassez de peças e prateleiras vazias. Grant Anderson, vice-presidente de gestão de cadeia de abastecimento da Jabil, diz que “a pandemia assustou muitas empresas, que perceberam o quanto dependiam da China”.

As mudanças estão sendo aceleradas pelos choques geopolíticos mais recentes, à medida que aumentam as tensões internacionais e países como China, Rússia e Irã enfrentam o Ocidente.

Companhias que achavam que não tinham qualquer papel no Oriente Médio agora enfrentam prazos de entrega mais longos e custos mais altos de transporte marítimo devido aos ataques dos houthis a navios comerciais em resposta à guerra de Israel contra o Hamas em Gaza.

Os navios porta-contêineres estão percorrendo rotas mais longas e mais caras, contornando a África, para evitar a região, o que está levando mais empresas a transportar bens por via aérea, mais cara, para reduzir os atrasos que vêm afetando a produção na Europa. As companhias marítimas parecem ter reformulado suas operações para um conflito prolongado que remove o Mar Vermelho e o Canal de Suez de seus mapas de rotas.

“É impossível prever por quanto tempo a atual situação continuará, mas agora estamos bem posicionados para suportar essa perturbação por um período mais longo”, disse na quinta-feira Vincent Clerc, presidente-executivo da A.P. Moller-Maersk, quando a companhia anunciou resultados.

As empresas se veem no meio de guerras comerciais crescentes, com a União Europeia (UE), os EUA e outros países elevando suas barreiras a produtos chineses em resposta à inundação de produtos subsidiados por Pequim, de carros elétricos, painéis solares a equipamentos de construção e aço.

Os EUA também levantaram preocupações com a segurança nacional relacionada à sua dependência da China em tecnologias como a de semicondutores, que são essenciais para computadores, veículos elétricos, robôs e outros produtos. Washington proibiu as exportações de alguns chips para a China e está estimulando a fabricação interna de semicondutores e tecnologias verdes com subvenções e incentivos à construção de novas fábricas que limitem o uso de matérias-primas da China e de outros países vistos como hostis.

A Apple, que construiu uma cadeia global de fornecimento de eletrônicos baseada na produção de baixos custos na China, agora está tentando fabricar parte de seus iPhones na Índia, levando junto grandes fornecedores como alternativa contra possíveis rupturas no comércio fora da China.

Enquanto isso, a China também está impondo tarifas e restrições às importações à medida que as disputas comerciais aumentam.

Evan Smith, presidente-executivo da empresa de tecnologia para cadeias de abastecimento Altana AI, diz que as novas regras, regulamentações e tarifas estão complicando os esforços de conformidade comercial, especialmente para as empresas maiores que estão no topo de uma cadeia de abastecimento que pode incluir centenas de milhares de fornecedores.

As empresas estão sendo obrigadas a ir mais fundo em suas redes de fornecedores para identificar matérias-primas e componentes que possam estar sujeitos a sobretaxas ou que possam violar um número crescente de regras e regulamentações que visam países como a Rússia e a China.

A Volkswagen foi surpreendida este ano quando milhares de Audis, Porsches, Bentleys e Lamborghinis foram retidos nos portos marítimos dos EUA. Os carros continham um componente magnético proveniente de um sub-fornecedor que se encontra em uma “lista suja” for estar localizado na região de Xinjiang, na China, onde as autoridades são suspeitas de usar trabalho forçado uigur.

“Nós realmente tentamos, mas isso mostra quão desafiador é saber tudo o que acontece em cadeias de abastecimento complexas”, disse um porta-voz da VW.

As relações comerciais entre os EUA e a China poderão piorar ainda mais nos próximos anos. O presidente Biden disse em abril que pretende mais do que triplicar as tarifas às importações de aço e alumínio da China. Os legisladores dos EUA estão pressionando pela limitação dos negócios da indústria farmacêutica com empresas chinesas de biotecnologia como a WuXi AppTec, fabricante terceirizada com supostas ligações com os militares chineses.

Especialistas em logística afirmam que alguns executivos também se perguntam o que poderá acontecer se Donald Trump vencer as eleições presidenciais de novembro e cumprir a promessa de impor tarifas de dois dígitos a todas as importações, bem como uma tarifa de mais de 60% às importações da China.

As multinacionais não conseguem se desvencilhar facilmente dos riscos geopolíticos, observa Simon Geale, vice-presidente-executivo de compras da consultoria Proxima, especializada em cadeias de abastecimento. Ele observa que a Rússia é um dos maiores fornecedores mundiais de alumínio, níquel e cobre, por exemplo, e que a China fornece cerca de 75% dos minerais de terras raras usados nos semicondutores dos EUA.

“Há essas interdependências enormes entre esses países, que basicamente estão em guerra uns com os outros”, afirma ele.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/05/05/geopoltica-assume-um-papel-central-nas-cadeias-de-abastecimento.ghtml

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The Economist: rica e poderosa, a geração Z está assumindo o controle

Eles convivem com uma taxa de desemprego menor e remuneração é maior; além disso, não temem sair de um emprego em busca de algo melhor

Por Estadão/The Economist – 21/04/2024 

A Geração Z está tomando conta de tudo. Na parte rica do mundo, ela representa pelo menos 250 milhões de pessoas nascidas entre 1997 e 2012. Cerca de metade está atualmente empregada. No ambiente de trabalho americano médio, o número de pessoas da Geração Z (às vezes chamados de “Zoomers”) trabalhando em período integral está quase ultrapassando o número de baby boomers (os nascidos entre 1945 e 1964, cuja carreira está chegando ao fim) empregados em período integral. Os Estados Unidos têm atualmente mais de 6 mil Zoomers como diretores executivos e mil Zoomers na política. Conforme esta geração se torna mais influente, as empresas, os governos e os investidores precisam entendê-la.

Os estudiosos produzem muito material a respeito deste recorte da população. “Pesquisas” recentes da fabricante de salgadinhos Frito-Lay revelam que os Zoomers tem uma forte preferência por “salgadinhos que sujam os dedos”, como farelo de queijo. Mas gerações diferentes também demonstram diferenças mais profundas, em parte moldadas pelo contexto econômico em meio ao qual cresceram. Os alemães que chegaram à idade adulta nos anos 1920, de elevada inflação, aprenderam a detestar altas nos preços. Os americanos que viveram durante a Depressão tendiam a evitar investimentos na bolsa de valores.

Muitos argumentam que a Geração Z é definida pela sua ansiedade. O excesso de preocupação afeta também o psicólogo social Jonathan Haidt, da Universidade de Nova York, cujo novo livro, “The Anxious Generation” (A Geração Ansiosa), está causando impacto. Sob certos aspectos, os Zoomers são incomuns. Os jovens de hoje são menos propensos a formar relacionamentos do que os anteriores.

São mais propensos a ter depressão ou a dizer que não se identificam com o sexo de nascimento. São menos propensos a beber, fazer sexo, envolver-se em relacionamento, ou fazer qualquer coisa entusiasmante. Os americanos com idade entre os 15 e os 24 anos passam apenas 38 minutos por dia socializando, tempo que chegava a quase uma hora na década de 2000, de acordo com dados oficiais. Haidt considera isso um efeito dos smartphones, e das redes sociais que eles possibilitam.

O livro dele provocou uma intensa reação. No dia 10 de abril, a governadora do Arkansas, Sarah Huckabee Sanders, ecoou os argumentos de Haidt ao apresentar planos para a regulação do uso de smartphones e redes sociais por crianças. O governo britânico considera aprovar medidas semelhantes. Mas nem todos concordam com a tese de Haidt. E o cabo de guerra envolvendo a ansiedade da Geração Z eclipsou outra distinção deste recorte populacional. Em termos financeiros, a Geração Z está se saindo extremamente bem. Isso, por sua vez, está alterando sua relação com o trabalho.

Pensemos no grupo que precedeu a Geração Z: os Millennials, nascidos entre 1981 e 1996. Muitos entraram para a força de trabalho em um momento em que o mundo sofria com os efeitos da crise financeira de 2007-09, durante a qual os jovens sofreram desproporcionalmente. Em 2012-14 mais da metade dos jovens espanhóis que procuravam emprego não conseguiam trabalho. A taxa de desemprego entre os jovens na Grécia era ainda mais alta. A popular canção “Work Bitch”, de Britney Spears, lançada em 2013, trazia uma mensagem sem massagem para os jovens millennials: quem quiser algo de bom vai ter que ralar.

Os Zoomers que terminaram os estudos enfrentam circunstâncias muito diferentes. O desemprego entre os jovens na parte mais rica do mundo, atualmente na casa dos 13%, é o mais baixo desde 1991. A taxa de desemprego entre os jovens na Grécia é menos da metade da observada no seu auge. Nos hotéis de Kalamata, um destino turístico, há queixas por causa da falta de mão de obra disponível, algo impensável poucos anos atrás. As canções populares refletem o espírito dos tempos. Em 2022, a protagonista de uma música de Beyoncé se gabava, “Acabei de largar o emprego”. Olivia Rodrigo, cantora de 21 anos, popular entre os Zoomers americanos, se queixa de um ex cuja “carreira está decolando”.

Muitos optaram por estudar assuntos que os ajudam a encontrar emprego. No Reino Unido e nos EUA, os Zoomers estão evitando a área de humanas, buscando em vez disso assuntos de utilidade mais óbvia como economia e engenharia. Os testes vocacionais também se tornam cada vez mais populares. Com isso, os jovens podem se beneficiar de um mercado de trabalho de oferta de mão de obra restrita. Como a protagonista de Beyoncé, eles podem largar o emprego e encontrar outro se quiserem mais dinheiro.

Nos EUA, o aumento na remuneração por hora entre empregados de 16 a 24 anos chegou recentemente a 13% ao ano, em comparação com 6% para os trabalhadores com idade entre 25 e 54 anos. É o mais alto “prêmio pela juventude” observado desde o início da série histórica de dados confiáveis. No Reino Unido, onde a remuneração dos jovens é medida de outra forma, a remuneração média por hora para pessoas entre 18 e 21 anos aumentou incríveis 15% no ano passado, ultrapassando os aumentos no pagamento de outras faixas etárias por uma margem incomum. Na Nova Zelândia, a remuneração média por hora para pessoas entre 20 e 24 anos aumentou 10%, em comparação com uma média de 6%.

O ganho salarial sólido aumenta a renda familiar. Um novo estudo de Kevin Corinth, do American Enterprise Institute, e de Jeff Larrimore, do Federal Reserve, analisa a renda dos lares americanos de acordo com a geração, descontado o pagamento de impostos, as transferências do governo e a inflação. Os Millennials tiveram uma situação um pouco melhor do que a Geração X, formada pelos nascidos entre 1965 e 1980, quando tinham a mesma idade. Mas os Zoomers estão em situação muito mais confortável do que os Millennials quando estavam nessa idade. Um típico Zoomer de 25 anos tem uma renda anual do lar superior a US$ 40 mil, mais de 50% acima do que os baby boomers tiveram na mesma idade.

O poderio econômico da Geração Z era fácil de observar em uma apresentação recente de Olivia Rodrigo em Nova York. O público, formado principalmente por moças adolescentes e jovens de 20 e poucos anos, tinha pagado centenas de dólares por cada ingresso. As filas nas bancas de produtos licenciados, oferecendo camisetas por US$ 50, se estendiam por toda a arena de shows.

Olivia não encontrará dificuldade para vender seus produtos licenciados em outras partes do mundo conforme sua turnê atravessa o Atlântico. Isso ocorre em parte porque os Zoomers que entraram no mercado de trabalho estão ganhando bastante em todo o mundo desenvolvido. Em 2007 a renda média dos franceses com idade entre 16 e 24 anos correspondia a 87% da média geral. Agora, corresponde a 92%. Em alguns lugares, como Croácia e Eslovênia, os Zoomers ganham agora o mesmo que a média salarial.

Alguns Zoomers protestam, dizendo que a renda mais alta é uma miragem, pois não leva em conta a explosão no custo do ensino superior e da moradia. Afinal, o preço global dos imóveis está perto do recorde, e os formandos estão mais endividados do que antes. Mas, na realidade, os Zoomers estão enfrentando bem esses desafios porque ganham bastante. Em 2022 ,os americanos com menos de 25 anos gastaram 43% de sua renda já tributada em moradia e ensino, incluindo o pagamento de juros sobre as mensalidades universitárias, pouco abaixo da média para a população com menos de 25 anos de 1989 a 2019. Impulsionados por rendas mais altas, a proporção dos Zoomers americanos que têm casa própria é superior à dos Millennials quando tinham a mesma idade (embora seja mais baixa do que nas gerações anteriores).

O que significa essa riqueza? Pode parecer que os Millennials cresceram pensando que ter um emprego era um privilégio, e agiram de acordo. Eles cedem aos superiores e procuram agradar. Os Zoomers, em comparação, cresceram acreditando que ter um emprego é quase um direito seu, o que significa que sua atitude em relação ao trabalho é diferente. No ano passado os Zoomers se gabavam da chamada “desistência discreta”, investindo no trabalho apenas o esforço suficiente para evitar a demissão.

Outros falam na “segunda-feira minimalista”. O arquétipo da “girlboss” ou “poderosa”, que busca capturar o controle corporativo das mãos de homens controladores, interessa às Millennials. As mulheres da Geração Z são mais propensas a debater a ideia de serem “lesmas”, levando as coisas com calma e dando prioridade ao autocuidado.

Os dados concordam com os memes. Em 2022, os americanos com idade entre 15 e 24 passaram 25% menos tempo “no trabalho e em atividades ligadas a ele” do que em 2007. Um novo estudo publicado pelo FMI analisa o número de horas que as pessoas dizem considerar desejável para uma jornada de trabalho.

Não faz muito tempo, os jovens queriam trabalhar muito mais do que os mais velhos. De acordo com uma análise de Jean Twenge, da Universidade San Diego State, a parcela de americanos no último ano do ensino médio (17 ou 18 anos) para quem o trabalho é visto como “parte central da vida” teve uma queda acentuada.

Outra consequência é que os Zoomers são menos propensos ao empreendedorismo. Estimamos que apenas 1,1% das pessoas na casa dos 20 e poucos anos na União Europeia administre um negócio que empregue outra pessoa, e nos anos mais recentes essa proporção encolheu. No fim da década de 2000 mais de 1% dos bilionários do mundo eram Millenials, de acordo com a revista Forbes.

Na época, os estudiosos ficaram obcecados com fundadores muito jovens de empresas de tecnologia, como Mark Zuckerberg (Facebook), Patrick Collison (Stripe) e Evan Spiegel (Snapchat). Hoje, em comparação, menos de 0,5% da lista da Forbes são Zoomers. Quem sabe o nome de um famoso fundador de uma startup que seja da Geração Z?

Os Zoomers também estão produzindo menos inovações. De acordo com Russell Funk, da Universidade de Minnesota, os jovens de hoje são menos propensos a solicitar o registro de patentes do que no passado. Ou pensemos na parada de sucessos Billboard Hot 100, que mede as canções mais populares nos EUA.

Em 2008, 42% dos sucessos eram interpretados por Millennials; 15 anos mais tarde, apenas 29% eram interpretados por Zoomers. Taylor Swift, a cantora e compositora mais famosa do mundo, batizou seu álbum mais famoso de “1989″, pensando no ano em que nasceu. O mundo segue aguardando que alguém produza um álbum intitulado “2004″.

Por quanto tempo a vantagem econômica da Geração Z vai durar? Uma recessão afetaria os jovens mais do que o restante, como sempre ocorre com as recessões. A inteligência artificial pode desestabilizar a economia global, mesmo se os jovens acabarem ficando melhor colocados para enfrentar essas perturbações.

Mas, por enquanto, os Zoomers têm muito o que celebrar. Entre as canções apresentadas no Madison Square Garden, Olivia Rodrigo se senta ao piano e aconselha os fãs a agradecerem pelo que têm. “Crescer é bom pra cacete”, diz ela. “Temos todo o tempo do mundo para fazer o que queremos.” O tempo e o dinheiro. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

https://www.estadao.com.br/economia/the-economist-rica-e-poderosa-a-geracao-z-esta-assumindo-o-controle/

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Escutar com atenção para comunicar melhor

Escuta atenta entrou na lista das habilidades mais demandadas de um relatório sobre o futuro do emprego do Fórum Econômico Mundial que se tornou referência sobre as tendências do mercado global

Por Isabel Clemente – Valor – 21/03/2024 

Carioca, é formada em Jornalismo pela PUC-Rio e mestre em Escrita Criativa pela Royal Holloway, University of London

Não existe hipótese de Mia Couto participar de evento no Brasil e não estar cercado por uma pequena multidão. E lá estava ele com prêmios-fama-reconhecimento-e-simpatia participando de um debate tímido, com uma entrevistadora e vinte pessoas – se tantas – na pequena sala. Quando acabou, aguardei um grupinho ou outro se dissipar e me aproximei.

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Não lembro como o abordei. Devo ter dito o quanto eu admirava seus livros e sua escrita poética tentando não soar exagerada e não usando a palavra poética. Lembro muito bem, no entanto, como Mia Couto inverteu o foco da conversa. De repente, era o escritor que entrevistava a desconhecida. Com olhos atentos e pausas mais longas do que sua fala, queria saber o que levara a brasileira até o Norte de Portugal, onde estávamos. Ele se interessou pelo meu percurso, minha história, meus livros. Pensei em dizer que eu não tinha importância, mas não consegui diante daquele perturbador poder de observação.

Escuta atenta entrou na lista das habilidades mais demandadas da Pesquisa sobre o Futuro dos Empregos 2023, do Fórum Econômico Mundial, um relatório que se tornou referência sobre as tendências do mercado global. Mais de 800 empresas foram ouvidas. Juntas, elas empregam mais de 11,3 milhões de pessoas em todas as regiões do planeta. Lá estava a escuta, ao lado de empatia, no grupo das habilidades que importam.

Nem sempre é assim. Da lista das competências citadas em vagas do LinkedIn, sondagens de mercado e anúncios de emprego, costuma constar comunicação, uma ideia guarda-chuva que embute conhecimentos distintos, como oratória, escrita e escuta. Infelizmente, o combo não está garantido numa pessoa. Nem sempre quem discursa lindamente consegue se traduzir por escrito, e vice-versa. Gente sedutora no palco às vezes não percebe que o holofote precisa girar numa reunião e esquece de dar a vez. Bons ouvintes, então, são produtos raros. Atropelos, falta de autopercepção e ansiedade para concluir raciocínios são alguns dos ingredientes da indelicadeza social e da falta de traquejo profissional.

Escutar não é simples. Pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, ficaram anos acompanhando milhares de estudantes e profissionais para verificar a capacidade de entendimento e retenção do que haviam escutado em exposições orais de curta duração. O grupo testado lembrava só de metade do que ouvira, por mais atenção que acreditasse ter dado a quem falava. Outras pesquisas, da Florida State University e de Michigan, concluíram que, dois meses depois de uma palestra, as pessoas lembravam, no máximo, de 25% do conteúdo. As pesquisas – que você pode conhecer um pouco mais aqui – confirmaram a hipótese inicial: estudantes precisam ser ensinados a escutar porque o sistema educacional focou demais na leitura e pouco na capacidade de ouvir.

Quanto a nós, que não estamos nas fileiras acadêmicas, resta aprender e praticar também. Não faltam cursos, livros e ótimas palestras sobre essa arte. Escutar, como bem diz William Ury, neste TED, “é a parte que falta na comunicação, absolutamente necessária mas geralmente negligenciada.” Ury, prestigiado especialista em negociações, cofundador do programa de Harvard no mesmo tema, lista três motivos para desenvolvermos nossa escuta.

  1. Para aumentar a chance de também sermos ouvidos.
  2. Para demonstrar confiança e confiabilidade.
  3. Para entender o outro lado.

Escutar é a pausa necessária para lermos as outras pessoas. Não só. “Escutar é a concessão mais barata que você pode fazer durante uma negociação”, diz William Ury.

Acontece que comunicação também é uma negociação. Quem fala ou escreve vende alguma coisa, nem que sejam ideias. Negocia algo, nem que seja a atenção da audiência. Propõe novas formas de entender certos assuntos. Quem escreve oferece um texto em troca de atenção. É ou não é uma negociação? Das mais complicadas, por sinal.

Estamos brigando por esse tempo escasso que rouba nossos leitores depois de um minuto de leitura ou menos, alerta o Google Analytics. Estamos negociando espaços em mentes fechadas. Para comunicar bem, escrevendo ou falando, passamos necessariamente pela etapa de ter escutado com atenção. Estão aí os escritores, não qualquer um, mas gente admirável, revelando interesse pelo que a outra pessoa tem a dizer. Como fazem isso?

Em seu livro “Escrever”, uma síntese – pequena até – de mais de 50 anos dedicados ao ofício, a escritora francesa Marguerite Duras nos deixa uma pista para aprendermos a escutar mais. “Escrever é também não falar. É se calar. É berrar sem fazer ruído. Um escritor com frequência é sossegado, e alguém que escuta muito. Não fala demais.”

O livro da Duras e o episódio com Mia Couto me remeteram a outro encontro inesperado e marcante quase três décadas antes. Eu passeava pelo Centro Cultural do Banco do Brasil no Centro do Rio, vazio num dia de semana, quando avistei uma figura familiar. Dei de cara com Gabriel García Márquez. Atrás dele, um pequeno grupo de repórteres guardava certa distância. Nada de multidão.

Mais uma vez, esqueci o que eu disse diante da lenda, do criador de Macondo, do pai de Cándida Eréndira y su abuela desalmada, do autor da mais linda história de amor que eu tinha lido três vezes: nos tempos da vaca louca na Inglaterra, da cólera no Nordeste e da dengue no Brasil inteiro.

De novo, o escritor quis saber de mim. “Periodista de economia, mas quero ser escritora”, respondi. “Escritora? Y qué escribes”? “Cuentos”, disse, quase arrependida da minha ousadia. Maneira de dizer, pensei em consertar. Na falta de assunto, confessei que tinha um conto bem ali comigo. Num gesto silencioso que durou muito mais do que nossa breve conversa, e que eu jamais esqueceria, ele pegou os papéis da minha mão, leu algo, sorriu e pediu uma caneta.

Desenhou e assinou: “Isabel, Trés flores para el cuento que escribiste hoy. Gabo.”

https://valor.globo.com/opiniao/isabel-clemente/coluna/escutar-com-atencao-para-comunicar-melhor.ghtml

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Esta gigantesca impressora 3D pode reinventar o processo de manufatura

Universidade nos EUA desenvolveu uma enorme máquina de manufatura aditiva que pode construir casas e muito mais

Crédito: Universidade do Maine


Nate Berg – Fast Company Brasil – 09-05-2024 

Em um enorme galpão na Universidade do Maine, nos EUA, agora está uma gigantesca máquina de manufatura aditiva chamada Factory of the Future 1.0 (Fábrica do Futuro 1.0). E, se seus desenvolvedores estiverem certos, ela poderia mudar a maneira como construímos diversas coisas.

Em essência, trata-se de uma impressora 3D, com um bocal conectado a uma rede de fios suspensos e presos a um longo chassi de aço próximo ao teto. Esta máquina é uma versão superdimensionada dos robôs de manufatura aditiva que produzem pequenas peças de plástico em laboratórios de prototipagem e estruturas do tamanho de uma casa.

De acordo com a universidade, a Factory of the Future 1.0 é a maior impressora de termoplástico do mundo. Com capacidade para produzir objetos de até 30 metros de comprimento, 10 metros de largura e 5,5 metros de altura, ela pode imprimir até 227 quilos de material por hora – o suficiente para construir uma casa de 56 metros quadrados em menos de quatro dias.

Mas, além de imprimir objetos, esta máquina pode realizar manufatura subtrativa, como fresagem, bem como tarefas mais complexas utilizando um braço robótico.

Um sistema integrado permite que ela incorpore fibras nos objetos impressos, proporcionando maior resistência estrutural e permitindo a construção de estruturas ainda maiores, como prédios impressos em 3D.

“Chamá-la de impressora é um equívoco”, afirma Habib Dagher, diretor executivo do Centro de Estruturas Avançadas e Compósitos (ASCC, na sigla em inglês) da universidade. “É uma célula híbrida de manufatura digital que nos permite reunir vários processos de fabricação para produzir diferentes coisas.”

Um dos principais focos é a habitação. A nova impressora é uma evolução da tecnologia de impressão 3D desenvolvida anteriormente na Universidade do Maine. Os pesquisadores de lá têm explorado métodos e materiais de impressão 3D há anos, com foco em habitação.

Estudos anteriores demonstraram que impressoras em grande escala podem utilizar biomateriais renováveis e até resíduos para a manufatura aditiva. Em 2022, o ASCC apresentou o BioHome3D, uma casa impressa em 3D feita de serragem e bio resina.

Em vez de concreto, os materiais usados neste protótipo são 100% de origem biológica e recicláveis, o que reduz a pegada de carbono total.

IMPRIMINDO SISTEMAS

Com a Factory of the Future 1.0, Dagher e sua equipe conseguem imprimir objetos quatro vezes maiores do que antes. E como ela pode executar diversas tarefas, a nova máquina é capaz de não apenas construir as paredes ou a estrutura de uma casa, mas também integrar a fiação, o encanamento e até instalar a cozinha. “Não estamos imprimindo estruturas, estamos tentando imprimir sistemas”, observa Dagher.

Espera-se que ela seja utilizada em projetos de habitação acessível, bem como na construção de barcos e aeronaves. “O que estamos desenvolvendo com esses processos de fabricação integrados em um único volume de construção nos permite produzir não apenas casas, mas todo o tipo de coisa.”

Garantir a qualidade do que é produzido é essencial para este tipo de fabricação. Dagher diz que sua equipe está integrando sensores e inteligência artificial no sistema para garantir a precisão durante a impressão ou instalação de cabos, por exemplo, mas também fazer correções caso as lacunas fiquem muito grandes ou as peças fiquem desalinhadas.

O próximo passo será expandir o projeto BioHome3D, construindo nove casas acessíveis em parceria com uma organização sem fins lucrativos local chamada Penquis. Dagher espera iniciar o processo de impressão no ano que vem.

Enquanto isso, sua equipe está refinando a máquina e tentando aumentar a velocidade de produção. O objetivo é que ela seja capaz de imprimir o equivalente a uma casa de 56 metros quadrados a cada 48 horas, ou cerca de 453 quilos de material por hora.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura

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Veja como grandes hospitais do Brasil usam inteligência artificial – e os efeitos para os pacientes

Gestão de leitos e centros cirúrgicos, análise de exames de imagem em tempo real para apoio ao diagnóstico e até monitoramento a distância de pacientes estão entre as principais aplicações da IA em unidades hospitalares

Por Fernanda Bassette – Estadão – 20/04/2024 

Não tem como escapar. O uso da inteligência artificial (IA) nos hospitais brasileiros está se tornando cada vez mais imprescindível, não apenas para otimizar a gestão hospitalar, a eficiência operacional e aprimorar a assistência à saúde, mas também para melhorar a qualidade do atendimento ao paciente. O avanço tecnológico vem sendo implementado nas unidades hospitalares brasileiras há cerca de oito anos, com um salto nos últimos dois.

Levantamento feito no ano passado pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), em parceria com a Associação Brasileira de Startups de Saúde, procurou identificar quem usava essa ferramenta e quais os resultados alcançados. Dos 122 hospitais associados à Anaph na época, 45 responderam à pesquisa. Desses, 62,5% informaram que utilizam ou utilizaram a inteligência artificial de alguma forma e metade afirmou ter tido resultados práticos, enquanto 23% disseram que ainda não observou benefícios.

Uma das principais aplicações de IA informadas pelos hospitais da pesquisa é em chatbots de atendimento. Mas a ferramenta vai muito além disso e seu uso engloba áreas estratégicas de gestão de leitos e centros cirúrgicos; análise de risco de não comparecimento de indivíduos com exames agendados; análise de exames de imagem em tempo real para apoio ao diagnóstico e até mesmo no monitoramento à distância de parâmetros clínicos de pacientes com hipertensão arterial.

O Estadão ouviu nove grandes hospitais brasileiros para saber de que maneira estão usando a inteligência artificial e quais os resultados obtidos até agora. Confira os principais exemplos.

Hospital Sírio-Libanês

A instituição utiliza inteligência artificial desde 2018, tanto para otimizar a eficiência operacional, quanto para melhorar a qualidade do atendimento ao paciente.

Segundo Ailton Brandão, médico cardiologista e pesquisador do laboratório de ciências de dados aplicada (DataLab), uma das bases para o sucesso do uso da ferramenta é a estruturação de uma estratégia de dados robusta – já que a qualidade dos modelos desenvolvidos de IA dependem fundamentalmente da qualidade das informações que são inseridas. “E sempre com políticas rigorosas de privacidade e segurança. Quando falamos em saúde, precisamos de ainda mais cautela”, diz.

No Sírio-Libanês, uso de inteligência artificial acelerou a realização dos exames de imagem, como ressonância magnética. Assim, o paciente fica menos tempo na máquina, recebe menos radiação e o equipamento é liberado de forma mais rápida. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Um dos modelos de IA em funcionamento há mais tempo no hospital é a “Agenda Inteligente”, criada com o objetivo de reduzir o “no-show” de pacientes em exames de imagem agendados – especialmente os de ressonância magnética. De acordo com Antonildes Assunção, médico cardiologista e cientista de dados do hospital, a ferramenta correlaciona uma série de informações do paciente que agenda o procedimento, como endereço e a distância da residência dele até a unidade hospitalar, qual o convênio médico ou se o exame será feito particular, qual a profissão, entre outros indicadores. Tudo isso ajuda a calcular o risco de o paciente faltar ao exame.

Quando o risco se mostra aumentado, entra em ação a parte humana para evitar a ausência: uma das estratégias é ligar para a pessoa e não depender somente da confirmação por e-mail ou mensagens no celular.

“Com essa ferramenta conseguimos reduzir em 20% o ‘no-show’ numa área de alto custo do hospital, que são os exames de imagem. Além de produzirmos informação com mais qualidade, conseguimos definir estratégias mais eficientes para ocupação desse horário por outras pessoas. Isso reduz custos para o hospital e melhora a experiência do paciente”, avalia Assunção.

Outra ferramenta de IA em uso no Sírio-Libanês é a que acelera a realização dos exames de imagem (ressonância magnética), reduzindo o tempo do paciente dentro da máquina. Segundo Assunção, o algoritmo consegue compor a imagem mais rapidamente e com a mesma qualidade – o que gerou uma eficiência de 20% na realização dos exames. “Conseguimos reduzir o tempo do paciente dentro da máquina e liberamos o equipamento mais rápido. É um exame cuja eficiência aumentou muito”, explica.

Além disso, um segundo algoritmo analisa as imagens capturadas antes do médico olhar, avaliando possíveis riscos de hemorragia cerebral, por exemplo. “Além de automatizar o processo, antes essa análise dependia exclusivamente do olhar humano”, ressalta Brandão. “Não tenho dúvidas de que a presença da IA nos hospitais é uma tendência. Essa é uma área que reduz custos operacionais, oferece suporte diagnóstico aos médicos e melhora a experiência do paciente”, diz.

Hospital Alemão Oswaldo Cruz

A unidade vem incorporando iniciativas de desenvolvimento e aplicação de inteligência artificial desde 2021, por meio de conexões com diversas startups.

Um dos projetos de IA envolve a criação de um sistema de score de saúde utilizando ‘Processamento de Linguagem Natural’ (PLN) para analisar informações não estruturadas nos prontuários dos pacientes submetidos a check-ups. Isso possibilita uma avaliação abrangente da saúde dos indivíduos e uma visão populacional para as empresas clientes do serviço.

A ideia de estabelecer um score (e consequentemente a classificação de maior risco) é dar uma visão global da saúde do paciente e evitar um cuidado fragmentado.

Nesse projeto, um dos principais indicadores é o número de potenciais pacientes beneficiados com a aplicação da IA. Por exemplo: em uma única empresa cliente do serviço de check-up foram triados 291 pacientes utilizando a inteligência artificial. Destes, mais de 28% foram identificados como de maior criticidade, incluindo casos de pacientes crônicos e com histórico de eventos de alta complexidade. Essa análise individualizada permite uma intervenção mais rápida e precisa de quem demanda maior atenção, resultando em benefícios diretos e indiretos tanto para o paciente quanto para a empresa.

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Hospital Israelita Albert Einstein

Trata-se de um dos pioneiros no uso dessa tecnologia: desde 2016 possui uma área dedicada exclusivamente para Dados e Analytics. Nesse período, 92 soluções de IA já foram testadas e desenvolvidas pelo hospital, fora os realizados em parcerias.

Segundo Edson Amaro Junior, neurorradiologista e responsável pela área de Big Data do Einstein, um exemplo do impacto da IA no dia a dia do hospital foi no controle da agenda do centro cirúrgico: o algoritmo indica qual o melhor horário, sala, equipe e o tempo de cirurgia para determinado paciente, o que garante economia ao processo em comparação com outros hospitais. “Com essa ferramenta conseguimos reorganizar a agenda do centro cirúrgico e realizar quatro cirurgias a mais por dia. Otimizamos o processo e não precisamos mais pensar em expandir o centro cirúrgico”, relata.

O hospital também usa a ferramenta LUNIT para agilizar a análise das radiografias de tórax feitas em pacientes do pronto-socorro. O algoritmo é capaz de investigar problemas como pneumonia, pneumotórax, nódulos e massas pulmonares, além de derrame pleural (líquido acumulado ao redor dos pulmões). “Ele é muito útil para descartar doenças respiratórias, como pneumonia. E a IA ajuda a mostrar alterações muito sutis, difíceis de serem vistas”, diz, acrescentando que a ferramenta também prioriza o exame que tem alguma alteração. Assim, agiliza a avaliação do médico. “Essa ferramenta contribuiu para o processamento de mais de 20 mil imagens de raio-X de tórax em 2023, apoiando médicos, inclusive os não especialistas, na análise de imagens, resultando em maior segurança, qualidade e agilidade no atendimento do paciente no pronto socorro”, disse.

E não é somente na rede privada que o Einstein usa IA. O hospital realiza projetos nas três esferas de saúde pública do SUS: Ministério da Saúde e as secretarias de Saúde municipais e estadual; possui integração com universidades do país por meio de projetos financiados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação; além de parcerias com universidades do exterior (Stanford, Maastricht e Harvard).

Um dos projetos do uso de IA em parceria com a rede pública foi realizado no norte de Minas Gerais e no sul da Bahia, antes da pandemia, para controle de hipertensão arterial na população. Os agentes de saúde foram treinados para coletar informações da comunidade de forma que a ferramenta conseguisse predizer qual a probabilidade daquela pessoa desenvolver alguma complicação em decorrência da hipertensão, como AVC, infarto, insuficiência cardíaca e dificuldade de perfusão periférica (risco de amputamento do membro).

“Com isso, fizemos uma intervenção positiva, chamando esse paciente para uma consulta mais precoce, com cuidado de não atrasar consultas já agendadas por outros pacientes. O ganho de escala, pensando no custo geral da saúde, é evitar uma internação dentro do SUS e manter a saúde dessa pessoa da comunidade. Isso é prevenção”, defende.

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BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo

A instituição se tornou totalmente digital há cerca de oito anos – e a inteligência artificial é uma ferramenta que complementa esse processo. Ela tem sido usada no auxílio da interpretação de dados, na automação de rotinas e também para facilitar a interação de dados clínicos com o próprio paciente.

Segundo Lilian Quintal Hoffmann, diretora executiva de Tecnologia na BP, uma das ferramentas usadas atualmente (LUNIT) analisa com alta precisão exames de ressonâncias magnéticas do cérebro. O algoritmo foi treinado com mais de 200 mil imagens de resultados clínicos de biópsias de alta qualidade e compara minuciosamente a projeção da imagem com o banco de dados. Ele alcança 97% de precisão e marca o ponto exato onde um possível tumor é identificado, aumentando a agilidade e a precisão dos tratamentos de cânceres malignos.

Outro destaque é o projeto Smart Scheduling, que emprega IA para reduzir as faltas de pacientes em exames diagnósticos, principalmente tomografia computadorizada, ressonância magnética e PET scan. “A iniciativa já reduziu a taxa de faltas de 17% para 10% e otimizou os agendamentos. Com isso, o hospital conseguiu aumentar a ocupação dos equipamentos de 74% para 81%, auxiliando no atendimento de pacientes de uma lista de espera nos horários vagos”, conta Lilian.

Hcor

Desde 2021 o hospital tem aplicado na rotina dos profissionais e cuidado com o paciente ferramentas de inteligência artificial.

“É evidente a necessidade do uso da tecnologia para lidar com o aumento dos gastos em saúde e a escassez de profissionais, além de proporcionar uma saúde mais eficiente, produtiva e com melhores resultados”, avalia Alex Vieira, superintendente de Inteligência Digital e TI do Hcor.

Segundo Vieira, o hospital utiliza IA na medicina diagnóstica para análise de imagens e, principalmente, para auxiliar os médicos em achados críticos. Outro uso se refere à avaliação inicial das imagens de ressonância magnética, raio-X e tomografia computadorizada, com o objetivo de agilizar a realização de exames com possíveis alterações.

“Com as evidências obtidas através da IA, o médico é sinalizado e pode priorizar o atendimento, emitir o laudo rapidamente, dando celeridade no cuidado do paciente”, explica. O uso da ferramenta reduziu em 20% o tempo de análise das imagens médicas em comparação às avaliações realizadas antes do uso dessa tecnologia. “Esse procedimento ajuda o médico a ter mais qualidade no trabalho”, afirma.

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Incor

O Instituto do Coração, vinculado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, usa ferramentas de inteligência artificial desde 2019, quando começou o desenvolvimento de modelos para análise de imagens (como raio-X e tomografia) para apoio ao diagnóstico.

O Incor é um hospital público referenciado para atendimento de pacientes com problemas cardiovasculares encaminhados pela rede – isso significa que os seus pacientes são potencialmente cardiopatas. Um dos primeiros exames realizados quando eles chegam no pronto-atendimento é o ECG (eletrocardiograma), que vai apontar basicamente três situações: indicadores normais, alguma arritmia importante ou outro achado não classificado, que depende de análise. Esse exame seria avaliado pelo médico somente no momento em que o paciente passasse pelo atendimento no consultório.

A ferramenta de IA desenvolvida e usada atualmente pelo Incor agilizou a laudagem do ECG por meio do processamento em tempo real das imagens, priorizando os casos que tenham algum achado importante e precisem da atenção do cardiologista. Ou seja: logo que um ECG é concluído, a tecnologia processa os dados instantaneamente e os resultados são exibidos em um painel digital que auxilia a equipe clínica a priorizar o atendimento conforme a urgência de cada caso.

“Para desenvolver essa ferramenta usamos uma base de dados com resultados de mais de 100 mil laudos de ECGs realizados no Incor. A partir daí, treinamos o algoritmo para aprender a analisar a imagem e apontar possíveis diagnósticos naquele exame. Começamos a usá-la em 2019 e mais de 75 mil exames já foram avaliados por meio dessa plataforma”, aponta Marco Antônio Gutierrez, diretor de TI do Incor, que ressalta, no entanto, que essas ferramentas são projetadas para apoiar a tomada de decisão clínica, não substituindo o julgamento médico. “A decisão final sempre cabe à equipe clínica. A tecnologia é um suporte valioso, mas que não substitui o papel do profissional de saúde.”

Uma outra ferramenta desenvolvida pelo Incor e que está em fase de testes é o “sensor vestível”. Trata-se de sensor biocompatível que é “colado” no corpo do paciente para monitorar em tempo real e de forma ininterrupta indicadores clínicos essenciais. A ferramenta calcula a pressão arterial máxima e mínima, a frequência cardíaca, a temperatura e a saturação de oxigênio – os dados são enviados para o Incor. A partir desses achados, o médico pode identificar possíveis descompensações e mudar a conduta do tratamento, por exemplo.

Segundo Gutierrez, essa é uma ferramenta essencial para o acompanhamento do paciente crítico do serviço público, porque não custa caro (estima-se custo de 20 dólares por unidade) e parece ser muito mais eficaz do que o exame convencional – ou seja, o MAPA, que monitora a pressão arterial do paciente por 24 horas, mas depende do manejo adequado do aparelho, que fica preso ao braço, e pode captar medidas imprecisas.

“A tecnologia já está muito bem definida, sabemos que funciona. O que vamos fazer agora é iniciar um estudo clínico para comparar a precisão dos resultados do MAPA com o sensor vestível”, comenta. Gutierrez frisa, no entanto, que o aparelho não seria para todos os pacientes, mas sim para aqueles identificados como de maior risco.

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Hospital Moinhos de Vento

O hospital colocou a transformação digital no centro do seu mapa estratégico em 2022 e iniciou projetos para digitalizar a instituição e implementar a IA com o objetivo de melhorar processos assistenciais e administrativos. “A inteligência artificial não é uma continuidade da internet, é um novo salto. Ela veio para auxiliar na tomada de decisões e sua aplicação na saúde requer muitos cuidados. Uma tomada de decisão errada pode ter um impacto muito grande na vida de uma pessoa”, analisa Mohamed Parrini, CEO do hospital.

Uma das ferramentas em uso pelo hospital é para análise de imagens cerebrais de tomografias realizadas em pacientes que dão entrada na emergência com suspeita de AVC (acidente vascular cerebral). Antes do uso de IA, a equipe precisava esperar o laudo do exame ficar pronto para tomar uma decisão.

“Nos pacientes com AVC, cada minuto conta. Temos uma janela de tempo muito pequena para a tomada de decisões e evitar sequelas. Nesses casos, a IA analisa as imagens de forma muito mais precisa e mapeia as áreas do cérebro onde existe alguma lesão, indicando o possível diagnóstico. Ela faz isso com uma agilidade que o olho humano não conseguiria de forma tão rápida, principalmente se for um local muito pequeno”, explica Parrini.

Outra ferramenta de IA que ainda está em teste no atendimento de emergência do hospital é o uso do reconhecimento de voz durante a anamnese entre médico e paciente. Chamada de IA generativa, a tecnologia registra a conversa e instantaneamente a transcreve o conteúdo – o médico não precisa digitar nada, tudo é feito de forma automática pela ferramenta.

Com base no que foi relatado pelo paciente e nas perguntas feitas pelo médico, o sistema avalia o caso e sugere novas perguntas e condutas médicas, entre elas realização de exames, tratamento e diagnósticos. “A transcrição de voz é algo relativamente comum. A diferença aqui é que todo o diálogo é transcrito em linguagem técnica, inclusive com a informação do CID, que é a classificação internacional de doenças, essencial para o diagnóstico desse paciente e para o acompanhamento do caso”, diz Parrini. “A ferramenta é um suporte para a tomada de decisão do médico, que terá mais tempo de se dedicar ao paciente.”

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Hospital Nove de Julho

A instituição tem testado e implementado inteligência artificial desde 2022 – algumas são desenvolvidas internamente e outras por meio de parcerias com startups. Um dos destaques é o uso de algoritmos para suporte ao laudo no eletrocardiograma, em uso desde abril de 2023, reduzindo o tempo entre diagnóstico e tratamento.

Segundo Victor Gadelha, Head Médico de Inovação, Pesquisa e Educação da Dasa, neste projeto os eletrocardiogramas realizados ficam armazenados em nuvem e são filtrados por algoritmos de IA. Os que apresentam alterações no traçado são priorizados para o médico fazer o laudo, diminuindo o tempo de início de tratamento. “Com a tecnologia, o médico consegue ser muito mais eficiente, emitindo o laudo em até cinco minutos em casos de urgência”, relata, ao destacar que o modelo é usado em mais 11 hospitais da Dasa.

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Outra tecnologia que vale destaque é o uso de algoritmos de processamento de linguagem natural (NPL), que fazem uma varredura no banco de dados de exames realizados no hospital em busca de achados clínicos relevantes, como um potencial câncer de mama. A partir daí, o objetivo é tentar acelerar a jornada de cuidado desse paciente em busca do melhor desfecho possível.

“Para ter uma ideia, quando um paciente que passou pela Dasa com um achado identificado por meio de NLP é alertado pelo seu médico, ele consegue dar o próximo passo no tratamento, em média, depois de sete dias. Quando ele não é alertado, o tempo médio é de 17 dias. Isso faz toda diferença para o melhor desfecho clínico do tratamento”, destaca.

Rede D’Or

Em 2020, a rede de hospitais iniciou as primeiras experiências em inteligência artificial, mas foi em 2022 que a IA começou a ser implantada de fato, especialmente na área de radiologia nas principais unidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. O setor é o que está mais avançado, especialmente para o auxílio no diagnóstico de doenças pulmonares.

Assim como outros hospitais, a Rede D’Or usa a ferramenta LUNIT para a interpretação dos exames de raio-X de tórax: o algoritmo faz a primeira leitura da radiografia e o radiologista realiza a segunda leitura, melhorando a assertividade da análise dos dados.

“Além disso, todos os hospitais possuem uma ferramenta de reconhecimento de voz para elaborar o laudo. O profissional de saúde dita o laudo, não precisa digitar, e a ferramenta transcreve o que ele está falando. Isso é uma inteligência artificial de processamento de linguagem natural para transformar a linguagem falada na escrita”, explica Rosana Rodrigues, pesquisadora do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

Além disso, uma ferramenta de IA está sendo treinada para detecção, caracterização e quantificação de doenças pulmonares, como a fibrose pulmonar e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Por enquanto, cerca de 100 mil imagens de enfisema pulmonar, de mais de 300 exames tomográficos, estão sendo trabalhadas para que a máquina possa identificar futuramente os padrões em suas análises, sendo capaz de indicar ausência ou presença de enfisema pulmonar, seus subtipos, sua extensão e estratificar os pacientes por gravidade.

https://www.estadao.com.br/saude/veja-como-grandes-hospitais-do-brasil-usam-inteligencia-artificial-e-os-efeitos-para-os-pacientes/

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Parlamento Europeu aprova exigência de grandes empresas terem controle socioambiental de sua cadeia de fornecedores

Para especialistas, a Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa (CSDDD) pode também respingar em companhias brasileiras. Estados membros ainda precisam aprovar legislação

Por Naiara Bertão , Prática ESG – Valor – 25/04/2024 

Depois de alguns meses de espera, nesta quarta-feira (24), o Parlamento Europeu aprovou por 374 votos a favor e 235 contra, com 19 abstenções, uma nova legislação que exige das companhias de grande porte um acompanhamento de perto das práticas sociais e ambientais de sua cadeia de fornecedores. Chamada de Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa (Corporate Sustainability Due Diligence Directive ou CSDDD), ela considera a responsabilidade das companhias que atuam na região tanto pela auditoria tanto de parceiros que contribuem para a produção, como provedores de matérias-primas e insumos e o processamento em si dos produtos (chamado de “upstream”), quando as etapas seguintes à produção, tais como armazenamento e distribuição do produto ou serviço ao consumidor final, responsáveis pelo marketing, vendas e atendimento ao cliente (downstream).

A proposta é que a regulamentação passe a valer em 2028. Além de exigir a observância e due diligence (devida diligência) de, por exemplo, práticas ambientais sustentáveis, como desmatamento e perda de biodiversidade, o respeito a todos os direitos humanos – trabalho escravo, infantil etc. – também entra na supervisão. Por ora, a regra passa a valer para companhias com mais de 1.000 funcionários e mais de 450 milhões de euros (480,8 milhões de dólares) de receita, considerando o ano fiscal anterior.

Patricia Punder, advogada e CEO da Punder Advogados pontua que a lei ainda precisa da aprovação final dos ministros dos estados membros da UE, o que deve acontecer em maio. “Significa dizer que, entrando em vigor a nova legislação, existirá impacto direto nas empresas exportadoras brasileiras para a comunidade europeia. Essas empresas terão que, nã não somente fazer avaliação de suas cadeias de fornecedores mediante critérios ESG, mas terão que comprovar que fizeram a due diligence e que sua cadeia está adequada aos critérios exigidos”, diz.

A regra aprovada na quarta é mais amena do que a anteriormente proposta, uma vez que houve muitas manifestações contrárias e críticas de companhias q acreditam que haverá um excesso de burocracia e perda de competitividade. Anteriormente, abrangia companhias da UE com mais de 500 trabalhadores e faturamento a partir de 150 milhões de euros.

Gabriel Abdalla é coordenador da área de Legal Due Diligence do BVA – Barreto Veiga Advogados, comenta que as empresas-alvo da Diretiva devem ser proativas na identificação e mitigação de impactos adversos em seus negócios e cadeias de suprimentos. “Elas são obrigadas a adotar e implementar um plano de transição detalhado, informando as metas, prazos, valores a serem investidos, entre outros, para alinhar seus negócios com as metas climáticas do Acordo de Paris, como limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5°C até o final do século 21”, diz.

As empresas também terão de preparar planos que estabeleçam a forma como farão a transição para uma economia de baixo carbono.

Em caso de descumprimento, haverá penalidades, que incluem, por exemplo, multas de até 5% do faturamento global. Outra novidade é a responsabilização por danos causados pelo descumprimento de suas diretrizes. As companhias deverão, por exemplo, compensar integralmente possíveis vítimas. Também ficará a cargo das grandes companhias remediar o impacto adverso real causado, seja ambiental ou social.

Impacto no Brasil

As empresas que não pertencem à UE, mas tem um volume de negócios de mais de 450 milhões de euros gerados no mercado europeu também se enquadram na diretriz. Por isso, Abdalla, do BVA, lembra que, mesmo que uma corporação brasileira não se enquadre diretamente no escopo da Diretiva, ela pode ser impactada se fizer parte da cadeia de valor de uma empresa sujeita à legislação.

“As companhias brasileiras devem avaliar suas operações e cadeias de suprimentos para mapear possíveis impactos adversos e garantir conformidade com as disposições da Diretiva. Isso pode exigir uma revisão das políticas existentes, a implementação de práticas de diligência sustentável e a criação de mecanismos eficazes de reclamação e remediação”, destaca o advogado. Para ele, ser proativa no mapeamento e identificação de possíveis riscos ambientais e de direitos humanos ao longo de suas operações e cadeias de suprimentos “são passos cruciais”.

Clara Serva, sócia da área de Empresas e Direitos Humanos de TozziniFreire, lembra que UE é o segundo principal parceiro comercial do Brasil, sendo responsável por 15% do comércio total. O Brasil é, por sua vez, o segundo maior exportador de produtos agrícolas para lá. “O impacto se dará em cascata: as grandes empresas precisarão adotar mecanismos de monitoramento e prevenção a impactos negativos em direitos humanos e meio ambiente. Exigirão, por força legal, de seus fornecedores a mesma adequação”, pontua.

Por isso, continua, as empresas brasileiras e as europeias que atuam no Brasil precisarão incorporar à sua governança e ao seu cotidiano empresarial mecanismos de devida diligência e, a partir disso, prevenir, mitigar e reparar impactos socioambientais.

Patricia Punder, comenta que é bem possível que o agronegócio seja uma das indústrias mais impactadas pelos critérios ESG na cadeia de fornecimento, devido a sua interdependência com recursos naturais, comunidades locais e regulamentações governamentais.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em março de 2024, as exportações do agronegócio chegaram a US$ 14,21 bilhões, sendo soja (44,3% de participação), carnes (12,8%), açúcar e álcool (11,3%), produtos florestais (9,4%) e café (5,7%) os principais produtos. Segundo o MAPA, a UE é, por exemplo, a maior demandante do farelo de soja brasileiro – foram compradas 841,03 mil toneladas, o equivalente a US$ 364,11 milhões – no mês passado.

“Em termos ambientais, o agronegócio está sob pressão para adotar práticas sustentáveis que minimizem o impacto ambiental, como reduzir o uso de agrotóxicos, conservar recursos hídricos e proteger ecossistemas frágeis. Socialmente, é essencial garantir condições de trabalho justas e seguras para os trabalhadores rurais e respeitar os direitos das comunidades locais”, destaca a advogada do Punder.

Serva, do TozziniFreire, comenta ainda que serão muitos desafios, que vão desde a identificação se a atividade contribui para a redução ou aumento da desigualdade socioeconômica, até o próprio monitoramento da cadeia de fornecimento para que não haja trabalho infantil, análogo ao de escravizado ou outras condições degradantes.

“Em um país com insegurança jurídica sobre o reconhecimento de terras indígenas, como saber se sua operação pode impactar um território que no futuro poderá ser reconhecido como indígena ou de outras comunidades tradicionais? E havendo potencial impacto a povos indígenas e comunidades tradicionais, como conduzir a consulta livre, prévia e informada?”, questiona Serva.

O legislativo brasileiro discute há mais de um ano uma Política Nacional de Direitos Humanos e Empresas nacional. O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania criou, mais recentemente, um grupo de trabalho interministerial para desenvolvê-la.

“A Política se apresenta como um horizonte relevante para a agenda no Brasil, assegurando que o país acompanhará a tendência global de atenção a como as empresas impactam direitos humanos e, mais do que isso, assegurando que teremos políticas públicas e práticas empresariais atentas às nossas peculiaridades”, reitera a advogada do TozziniFreire

Benefícios

Na avaliação de Punder, incorporar parâmetros ESG na cadeia de fornecedores é uma atitude cada vez mais cobrada das partes interessadas, como consumidores e investidores. Transparência e responsabilidade , portanto, serão importantes. E ela acredita que, ao adotar essas medidas na seleção de fornecedores, as empresas fortalecem sua reputação, evitam riscos financeiros e podem melhorar significativamente a eficiência operacional e a inovação.

“Fornecedores comprometidos com práticas sustentáveis tendem a ser mais confiáveis e resilientes, reduzindo o risco de interrupções na cadeia de suprimentos. Como também, colaborar com fornecedores que compartilham os mesmos valores pode levar a parcerias mais produtivas e inovadoras, resultando em produtos e serviços de maior qualidade e valor agregado”, diz.

Por fim, diz, avaliar e selecionar fornecedores com base em critérios ESG, é essencial para empresas alcançarem metas de sustentabilidade corporativa.

https://valor.globo.com/empresas/esg/noticia/2024/04/25/parlamento-europeu-aprova-exigencia-de-grandes-empresas-terem-controle-socioambiental-de-sua-cadeia-de-fornecedores.ghtml

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Hora da verdade: empresas contam as conquistas e os desafios da implementação da IA

Empresas começam a ter a real dimensão do potencial da IA em seus negócios

Daniel Salles – Exame – 29 de abril de 2024 

Passado o frisson inicial da Inteligência Artificial (IA), ela continua na ordem do dia das grandes empresas. A diferença, agora, é que muitas delas podem falar sobre o assunto com propriedade — e resultados concretos. De acordo com um relatório da ­McKinsey, 55% das companhias utilizavam a IA (incluindo a IA generativa) em pelo menos uma unidade ou função de negócio em 2023 — no ano anterior eram 50% e, em 2017, 20%.

Que a adoção dessas inovações está se traduzindo em ganhos de eficiência e, consequentemente, em faturamentos maiores, não há dúvida. Um dos mais completos estudos a respeito desse tema, o Artificial Intelligence Index Report 2024, elaborado pela Universidade Stanford, constatou que, no ano passado, a inteligência artificial foi mencionada nos Estados Unidos em 394 teleconferências de apresentação de resultados financeiros. Em 2022, ela havia sido citada em 266 reuniões do tipo (o universo esmiuçado corresponde a quase 80% das empresas listadas no ranking Fortune 500).

“Chegamos a um ponto em que a IA preditiva, aquela que a Netflix utiliza, por exemplo, para indicar séries ou filmes levando em conta os padrões de uso de cada usuário, já foi incorporada por praticamente todas as empresas”, acredita Daniel Hoe, vice-presidente de field marketing da Salesforce na América Latina. “Agora, muitas estão tentando encontrar formas de incorporar a inteligência artificial generativa, que traz uma série de outras vantagens, mas impõe novos desafios.”

PicPay: a automação responsável pelo atendimento já resolve mais de 50% das demandas (Rogério Cassimiro/Divulgação)

Einstein 1

A IA, todo mundo sabe, está vinculada a grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês). É o caso do badalado ChatGPT e da plataforma de IA integrada ao CRM criada pela Salesforce, o ­Einstein 1. “O potencial da IA generativa para alavancar os negócios é tremendo”, Hoe acrescenta. “Só haverá risco se ela retiver os dados disponibilizados pelas companhias.” Daí a vantagem do ­Salesforce Data Cloud, que impede exatamente isso.

Ao rememorar a adoção da IA generativa pelo PicPay, Anderson Chamon, um dos fundadores, diz o seguinte: “Nunca tivemos medo de encarar novas tecnologias, mas quando a companhia era menor era mais fácil”.

A empresa está com 35 milhões de usuários ativos e registrou E$ 37 milhões  de lucro líquido em 2023, o primeiro ano em que não ficou no vermelho. Quando a OpenAI apresentou ao mundo a primeira versão do ChatGPT, em novembro de 2022, a plataforma de pagamentos ficou em polvorosa. “Logo nos primeiros minutos, todo mundo na empresa dizia: ‘precisamos adotar essa tecnologia quanto antes’”, recorda Chamon.

Oito meses depois, o PicPay deu adeus ao antigo chatbot de atendimento que se valia de uma árvore de decisões, algo tão moderno hoje em dia quanto o fax. No lugar, a companhia colocou uma automação dotada da mesma tecnologia do ChatGPT.

Em março deste ano, a ferramenta foi atualizada para dar conta de 100% dos casos — optou-se por uma liberação gradual, para garantir a efetividade dos atendimentos. Mais de 50% das demandas, atualmente, são resolvidas sem que nenhum funcionário de carne e osso entre em cena.

“Até o atendimento humano foi aprimorado pela IA, pois as solicitações agora chegam aos atendentes bem mais refinadas”, informa o cofundador. “De maneira geral, ela turbina a resolutividade do setor de atendimento de maneira contínua, a cada nova solicitação que se vê obrigada a resolver; afinal, a automação é aprimorada.”

Em breve, a do PicPay poderá ser acionada por comando de voz, o que deverá ampliar seu alcance. “Uma coisa é o cliente pedir, digitando, para a IA calcular quanto ele gastou no último mês, o que já é possível”, diz Chamon. “Outra coisa é fazer isso só com a voz.”

No PicPay, a IA também revolucionou o dia a dia dos desenvolvedores de códigos, que registraram um salto de produtividade. Na visão do cofundador, no entanto, ela ainda mal começou a dizer a que veio. “Acredito que chegaremos a um ponto no qual as automações farão até sugestões de aplicações financeiras, ampliando o acesso das camadas mais baixas ao mundo dos investimentos”, diz o executivo. “E imagino um futuro no qual as IAs vão conversar entre si. É o que possibilitará, por exemplo, que a automação do meu banco cancele a assinatura de um streaming que não estou usando e que está prejudicando minhas finanças.”

Empréstimos mais justos

Fundado por Carlos Benitez, o BMP atua no segmento de banking as a service (BaaS). Em resumo, a companhia permite que empresas de diferentes segmentos, como lojas de roupas e supermercados, ofereçam serviços financeiros aos próprios clientes.

A história do BMP com a inteligência artificial começou há cerca de um ano para agilizar as reuniões internas. “Sou avesso a modinhas”, afirma Benitez, ao resumir o pé atrás com o qual encarou o advento da IA generativa.

Hoje ela é considerada uma ferramenta crucial para o BMP, principalmente quando o assunto é análise de crédito. “No passado, a liberação estava vinculada ao histórico bancário dos clientes e ao perfil deles”, recorda o CEO da companhia.

“Privilegiava-se quem não morava em áreas de risco, por exemplo, e recorria-se ao score de crédito, que um ­bureau como o Serasa calcula de forma muito genérica.” O problema dessa abordagem? “Como não tínhamos como enxergar a real capacidade de pagamento dos clientes, muitos deles acabavam recebendo negativas”, explica o executivo.

Para encurtar: a análise de crédito passou para as mãos da IA. Ao analisar 1,5 milhão de estabelecimentos comerciais de pequeno e médio porte, por exemplo, ela constatou que a maioria tem dificuldades para pagar parcelas de empréstimos cobrados mensalmente.

Daí a solução encontrada: debitar um pequeno percentual todo dia. “Nenhum banco gosta de inadimplência”, registra Benitez. “Às vezes, é melhor emprestar menos dinheiro para evitar que os bens dos clientes sejam tomados no futuro.”

Se antes a instituição se debruçava humanamente a cada seis meses sobre sua base de dados para criar regras de concessão mais efetivas, hoje a IA faz tudo isso por conta própria — e diariamente. No caso de micro e pequenas empresas, o índice de liberação de crédito subiu de 42% para 53%.

“Nosso custo com análise de crédito despencou, o que tornou o BMP mais competitivo”, comemora o CEO. Ele continua com o pé atrás com a IA generativa, mas só em relação à segurança dos dados sensíveis. “Ela é muito propícia para ataques hackers”, acredita. “Daí o tanto que investimos em cibersegurança.”

Um salto em produtividade

Vários estudos sobre o impacto da IA no trabalho publicados no ano passado sugerem que ela permite que os funcionários concluam­ tarefas mais rapidamente e melhorem a qualidade da produção. Uma pesquisa da Harvard Business School constatou que consultores com acesso ao GPT-4 aumentaram a produtividade em 12,2% — a velocidade de execução subiu 25,1%, e a qualidade, 40%.

Já um estudo do National Bureau of Economic Research concluiu que agentes de call center que utilizaram IA atenderam 14,2% mais chamadas por hora do que aqueles que não fizeram uso dela. Algumas pesquisas também demonstraram o potencial da IA para diminuir a lacuna de habilidades entre trabalhadores de baixa e alta qualificação. E outras alertaram para o risco de que o uso da IA sem supervisão adequada pode levar a uma diminuição no desempenho.

Colaborador desmotivado?

Uma das primeiras ferramentas de IA implantadas pela Globant, especializada em reinventar negócios por meio de soluções tecnológicas inovadoras, leva o nome de ­StarMeUp. Utilizada há cerca de dez anos, ajuda a disseminar a cultura corporativa entre os funcionários e a contornar o desengajamento por meio da gamificação.

“Quando a automação percebe que determinado colaborador está desmotivado ou inclinado a mudar de empresa, ela aciona o gestor dele para que este proponha um café ou tome outro tipo de providência”, explica Carlos Morais, diretor-executivo da Globant no Brasil.

Outra ferramenta do gênero se encarrega de apontar os funcionários mais capacitados — e com perfil mais recomendado — para assumir eventuais novas vagas. “Ela faz um balanço entre o histórico de entregas e skills variados”, resume Morais. Um dos departamentos­ da Globant que mais se beneficiaram da inteligência artificial foi o dos programadores.“Muitos deles se comportam, hoje em dia, mais como pensadores do que como codificadores”, diz o diretor-executivo. “Isso porque eles não precisam mais gastar tempo com a chamada programação prévia.” Resultado: a Globant passou a desenvolver projetos em velocidade seis vezes maior.

IA contra a depressão infantil

A automação também virou o diferencial de muitos dos projetos elaborados para os clientes. “De cada quatro que entregamos, três têm algum componente de IA”, registra o mandachuva da operação brasileira. Para a ­Janssen, ela desenvolveu um aplicativo que consegue detectar a depressão infantil com uma taxa de precisão de 97% — um dos segredos, também nesse caso, é a gamificação, que ajuda a reter o público-alvo.

Para os parques da Disney, a Globant criou uma solução para impulsionar as vendas dos retratos dos visitantes tirados por fotógrafos profissionais e câmeras fixas, posicionadas em pontos estratégicos. O público, muitas vezes, é clicado sem perceber. Graças ao reconhecimento facial e à inteligência artificial, as imagens são oferecidas aos visitantes por meio do aplicativo oficial dos parques.

Mais produtividade

Referência de indústria química e têxtil, a Rhodia, uma empresa do grupo Solvay, é outra que soube direcionar a inteligência artificial para o desenvolvimento de produtos. Agora, novas soluções de solubilização só começam a ser testadas em laboratório depois que a companhia, por meio de machine learning, define quais são as três opções com maior potencial de êxito.

“Com isso, diminuí­mos o tempo em laboratório e a quantidade de reagentes utilizados no processo de desenvolvimento, o que é benéfico também para o meio ambiente”, diz Daniela Manique, CEO do grupo na América Latina. A meta da empresa, por sinal, é diminuir o uso de matéria-prima em 10% até 2025.

Onde a IA tem feito enorme diferença é no processo de manutenção preventiva da fábrica. Antigamente, isso significava 45 dias seguidos de interrupções das atividades por completo a cada cinco anos. A demora se devia à hercúlea tarefa de inspecionar reatores que equivalem a prédios de dez andares. “Precisávamos abri-los só para descobrir que estava tudo em ordem”, recorda Manique.

E cada interrupção dessas, que depois passou a ser feita de três em três anos, se traduzia em um prejuízo entre 2 milhões e 3 milhões de euros. Atualmente, a manutenção preditiva está a cargo de uma IA que se vale de sensores instalados na fábrica de cima a baixo — as interrupções ficaram no passado. Resultado: de dois anos para cá, os custos com manutenção diminuíram 20%.

Fundada em 1863, a Solvay decidiu, no ano passado, se dividir em duas. A que herdou o nome do grupo está encarregada da maioria dos produtos tradicionais, como solventes e sílica. A outra metade, que ganhou o nome de Syensqo, vai atuar nos segmentos de hidrogênio verde, compostos termoplásticos e baterias para veículos elétricos.

Com a divisão, o braço verde-amarelo da Solvay passou a representar 21% do faturamento da companhia — a divisão americana, para efeito de comparação, responde por 18%. “Acredito que a inteligência artificial vai ajudar a tornar nossa produção cada vez mais eficiente e segura”, conclui Manique.


Números globais comprovam: a IA veio para ficar

25,2 bilhões de dólares foram gastos pela iniciativa privada com IA generativa em 2023. Trata-se de um volume quase nove vezes maior que o de 2022

95,9 bilhões de dólares foram investidos em IA pela iniciativa privada em 2023, o que representa uma queda de 7,2% em relação a 2022

99 novas startups de IA generativa surgiram no ano passado. Foram 56 em 2022 e 31 em 2019

191 milhões de dólares foram gastos pelo Google com o desenvolvimento do Gemini Ultra. O GPT-4, da OpenAI, demandou 78 milhões de dólares

https://exame.com/revista-exame/a-hora-da-verdade

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O cemitério de fábricas de automóveis a combustão na China

Fabricantes como BYD, Tesla e Li Auto estão cortando os preços para vender seus carros elétricos; para veículos movidos a gasolina, o excedente de fábricas é ainda pior

Por Keith Bradsher – Estadão/(The New York Times) – 25/04/2024 

Nos arredores de Chongqing, a maior cidade do oeste da China, há um enorme símbolo do excesso de fábricas de automóveis no país. É um complexo de edifícios cinzentos, com quase um quilômetro quadrado de tamanho. Os milhares de funcionários que costumavam trabalhar lá se mudaram. Suas docas de carga carmesim estão fechadas.

A instalação, uma antiga fábrica de montagem e de motores, era uma joint venture de uma empresa chinesa e da Hyundai, a gigante sul-coreana. O complexo foi inaugurado em 2017 com robôs e outros equipamentos para fabricar carros movidos a gasolina. A Hyundai vendeu o campus no final do ano passado por uma fração dos US$ 1,1 bilhão necessários para construí-lo e equipá-lo. A grama não cortada no local já está na altura dos joelhos.

“Tudo era altamente automatizado, mas agora está desolado”, disse Zhou Zhehui, 24 anos, que trabalha para uma montadora chinesa rival, a Chang’an, e cujo apartamento tem vista para o antigo complexo da Hyundai.

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A China tem mais de 100 fábricas com capacidade para construir cerca de 40 milhões de carros com motor de combustão interna por ano. Isso é aproximadamente o dobro do número de carros que as pessoas na China querem comprar, e as vendas desses carros estão caindo rapidamente à medida que os veículos elétricos se tornam mais populares.

No mês passado, pela primeira vez, as vendas de carros elétricos a bateria e híbridos plug-in a gasolina e elétricos superaram as de carros a gasolina nas 35 maiores cidades da China.

Dezenas de fábricas de veículos movidos a gasolina mal estão funcionando ou já foram desativadas.

O setor automobilístico do país está próximo do início de uma transição de veículos elétricos que deve durar anos e, por fim, reivindicar muitas dessas fábricas. A forma como a China administrará essa longa mudança influenciará seu crescimento econômico futuro, já que o setor automotivo é tão grande e pode transformar sua força de trabalho.

Os riscos também são grandes para o resto do mundo.

A China, o maior mercado de automóveis do mundo, tornou-se o maior exportador no ano passado, ultrapassando o Japão e a Alemanha. As vendas de automóveis da China no exterior estão explodindo.

Três quartos dos carros exportados pela China são modelos movidos a gasolina que o mercado interno não precisa mais, disse Bill Russo, consultor de carros elétricos em Xangai. Essas exportações ameaçam achatar os produtores em outros lugares.

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Ao mesmo tempo, as empresas de veículos elétricos da China ainda estão investindo pesadamente em novas fábricas. Espera-se que a BYD e outras montadoras apresentem mais modelos elétricos na abertura do salão do automóvel de Pequim, na quinta-feira.

As vendas de carros elétricos na China ainda estão crescendo. Mas o ritmo de crescimento caiu pela metade desde o verão passado, já que os gastos dos consumidores na China diminuíram devido a uma crise no mercado imobiliário.

“Há uma tendência de desaceleração, especialmente para veículos elétricos puros”, disse Cui Dongshu, secretário geral da Associação de Carros de Passageiros da China.

A China também tem excesso de capacidade na fabricação de veículos elétricos, embora menos do que nos carros movidos a gasolina. O corte de preços dos veículos elétricos é comum. A Li Auto, uma fabricante chinesa em rápido crescimento, reduziu seus preços na segunda-feira. A Tesla fez o mesmo um dia antes e, na terça-feira, informou uma grande queda nos lucros durante os três primeiros meses deste ano. A BYD, líder do setor na China, fez cortes de preços em fevereiro. A Volkswagen e a General Motors também reduziram os preços dos veículos elétricos na China este ano.

Os fabricantes de automóveis com fábricas próximas à costa da China estão exportando carros movidos a gasolina. Mas muitas das fábricas ameaçadas estão em cidades no interior do país, como Chongqing, onde os altos custos de transporte para o litoral tornam a exportação muito cara.

Quase todos os carros elétricos da China são montados em fábricas recém-construídas, que se qualificam para receber subsídios de governos municipais e bancos estatais. É mais barato para os fabricantes de automóveis construir novas fábricas do que converter as existentes. O resultado tem sido um enorme excesso de capacidade.

“A indústria automobilística chinesa está passando por uma revolução”, disse John Zeng, diretor de previsões para a Ásia da GlobalData Automotive. “A antiga capacidade de combustão interna está morrendo.”

As vendas de carros movidos a gasolina despencaram para 17,7 milhões no ano passado, de 28,3 milhões em 2017, ano em que a Hyundai abriu seu complexo em Chongqing. Essa queda é equivalente a todo o mercado de automóveis da União Europeia no ano passado, ou a toda a produção anual de carros e caminhões leves dos Estados Unidos.

As vendas da Hyundai na China caíram 69% desde 2017. A empresa colocou a fábrica à venda no verão passado, mas nenhuma outra montadora a quis. A Hyundai acabou vendendo o terreno, os prédios e grande parte do equipamento para uma empresa de desenvolvimento municipal em Chongqing por apenas US$ 224 milhões.

A empresa municipal disse este ano, enquanto buscava um seguro para o local, que não tinha um novo inquilino.

Outras montadoras multinacionais reduziram a produção na China. A Ford Motor tem três fábricas em Chongqing que estão funcionando com uma pequena fração de sua capacidade nos últimos cinco anos.

A Hyundai é uma das poucas montadoras, principalmente estrangeiras, que interromperam totalmente a produção em alguns locais, embora a empresa ainda tenha três fábricas na China.

“Não parece haver um esforço conjunto para fechar o excesso de capacidade, mas mais uma mudança de propriedade estrangeira para propriedade chinesa”, disse Michael Dunne, ex-presidente da General Motors Indonésia.

A referência de longa data é que as fábricas de automóveis devem operar com 80% da capacidade, ou mais, para serem eficientes e ganharem dinheiro. Porém, com a abertura de novas fábricas de carros elétricos e o fechamento de poucas fábricas mais antigas, a utilização da capacidade em todo o setor caiu para 65% nos primeiros três meses deste ano, em comparação com 75% no ano passado e 80% ou mais antes da pandemia de covid-19, de acordo com o National Bureau of Statistics da China.

Sem um grande surto de exportações no ano passado, o setor teria operado ainda mais abaixo da capacidade total.

Os fabricantes chineses, muitos deles de propriedade parcial ou total dos governos municipais, têm se mostrado relutantes em reduzir a produção e cortar empregos. A Chang’an, uma montadora estatal, tem uma fábrica a apenas 20 minutos de caminhada pelas ruas ladeadas de buganvílias cor-de-rosa do antigo complexo da Hyundai. Os muitos hectares de estacionamento da fábrica estavam completamente cheios de carros não vendidos no domingo.

As cidades que são particularmente dependentes da produção de carros movidos a gasolina, como Chongqing, enfrentam um dilema de empregos. A montagem de veículos elétricos exige um número consideravelmente menor de trabalhadores do que a fabricação de carros movidos a gasolina, pois os E.V. têm muito menos componentes.

Os trabalhadores com sólida formação técnica, especialmente em robótica, podem encontrar emprego com facilidade e rapidez se forem demitidos, disseram os trabalhadores do setor automotivo em Chongqing em entrevistas. Mas os trabalhadores semiqualificados – inclusive os mais velhos e que não fizeram cursos de treinamento para desenvolver suas habilidades – agora estão tendo mais dificuldade para conseguir trabalho.

Zhou disse que, quando se candidatou ao emprego em Chang’an, “a competição era acirrada”.

Ainda assim, é extremamente difícil encontrar ex-trabalhadores da Hyundai desempregados em Chongqing atualmente, mesmo na vizinhança da antiga fábrica.

A maioria dos trabalhadores de fábricas na China são migrantes que cresceram em áreas rurais e têm poucos vínculos com as comunidades onde os carros movidos a gasolina foram construídos. Portanto, eles podem se mudar facilmente para outras cidades ou setores quando perdem o emprego.

No entanto, um tom sombrio paira sobre o setor automobilístico em Chongqing, à medida que a demanda diminui e os trabalhadores menos qualificados têm menos oportunidades de receber o pagamento de horas extras. A sinalização da Hyundai ainda é visível em muitos lugares de sua antiga fábrica, mas uma grande sombra no portão da frente mostra onde um slogan otimista costumava ser pendurado: “New Thinking, New Possibilities” (Novo pensamento, novas possibilidades).

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA

https://www.estadao.com.br/economia/excesso-fabricas-automoveis-nao-utilizadas-china

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