Nossos clones digitais estão chegando

Plataforma Synthesia permite criar cópias virtuais de pessoas com IA

Ronaldo Lemos – Folha – 7.mai.2023 às 11h56

  • Dentre todas as mudanças que a inteligência artificial traz, uma das mais inquietantes é a possibilidade de criar cópias digitais de nós mesmos. A empresa Synthesia oferece o serviço. Você grava um vídeo de 15 minutos em frente a uma tela verde, com boa iluminação, e manda para lá. Dez dias depois a empresa habilita seu clone virtual criado usando IA. O clone é uma réplica não só da sua imagem, mas também da sua voz. O custo é uma taxa anual de US$ 1.000 (cerca de R$ 5.000), mais uma assinatura mensal de US$ 30 (R$ 150). Se a ideia é clonar só a voz, há empresas que oferecem o serviço por US$ 5 (R$ 25) mensais.

Uma vez que o clone é criado, você pode usá-lo em qualquer tipo de vídeo. Um professor pode dar uma aula com o clone (simplesmente inserindo o texto). Um político pode fazer um pronunciamento. Dá inclusive para escolher o cenário e até mudar o idioma (são 120 línguas disponíveis). Dá também para fazer ligações telefônicas com a voz clonada. E participar de videoconferências ao vivo. Está com preguiça de ligar a câmera no Zoom? Coloque o clone no seu lugar.

A evolução do deepfake, futuro da criação de conteúdo – Reprodução/Synthesia

Diante dessa novidade, o que poderia dar errado? Muita coisa. Uma jornalista do jornal Wall Street Journal chamada Joanna Stern resolveu testar as possibilidades. Ela criou seu clone digital e o colocou para interagir com pessoas no mundo real em situações diversas. Ligou para sua irmã com a voz clonada e a irmã acreditou que era ela. Ligou para seu pai pedindo que ele enviasse um número de documento sensível, e o pai enviou.

Ela também ligou para seu banco nos Estados Unidos, que usa reconhecimento de voz para autorizar o acesso ao atendimento. O banco reconheceu a voz como sendo a dela e autorizou o acesso ao sistema. Isso mostra que segurança será um dos desafios. Uma vez que a voz é clonada, ela pode ser usada em fraudes e crimes. Alguém pode usar sua voz para dar um golpe, fazer ameaças, calúnias e assim por diante.

Algumas empresas dizem ter filtros que impedem esse tipo de uso. Outras não tem nada disso. O que é preocupante porque em breve vai ser muito fácil clonar a voz de qualquer pessoa, mesmo sem o seu consentimento. Considerando que o Brasil é o paraíso dos golpes na internet (e que todos nossos dados pessoais vazaram e estão disponíveis online) é altamente recomendável conversar desde já com parentes e amigos para que comecem a duvidar de mensagens de voz enviadas no seu nome, mesmo que na sua própria voz. Na dúvida, vale fazer uma chamada de vídeo para se certificar de que a mensagem enviada é verdadeira.

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Você pode pode perguntar: “mas, Ronaldo, a chamada de vídeo também não pode ser falsificada?”. Pode sim, só que a qualidade ainda não é boa. A jornalista do Wall Street Journal não conseguiu enganar por muito tempo as pessoas durante uma chamada de vídeo. Os participantes logo notaram que tinha algo de errado. Só que com o avanço da tecnologia, em breve a falsificação de vídeo vai se tornar cada vez mais perfeita. Com isso, bancos, certificadoras digitais e outros serviços que têm usado vídeo e voz para autenticar seus clientes estarão em maus lençóis. Junto com todos nós.



Já era – estúdios de fotografia especializados em tirar fotos da família

Já é – estúdios para gravação de podcasts

Já vem – estúdios especializados na criação de clones digitais para inteligência artificial

Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/2023/05/nossos-clones-digitais-estao-chegando.shtml

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Nem tudo é Maktub

Peço licença aos leitores e leitoras. Hoje não consigo escrever sobre economia. Um pouco, talvez

 Zeina Latif – O Globo 10/05/2023

 Meu pai foi um homem de sorte.

Nasceu em uma aldeia na Palestina, na época do mandato britânico, após a partilha do Império Otomano. O mundo dividido pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial trouxe graves consequências históricas. Ao menos meu pai aprendeu inglês, atributo que lhe abriu muitas portas profissionais. Uma reflexão: por ironia, o domínio da língua inglesa pode ter contribuído para a Índia se inserir no mundo da tecnologia digital.

Jovem inquieto e desajeitado para seguir a profissão de pedreiro, dos familiares, contou com a sorte de ter um pai sábio, que o mandou estudar em Belém. Mais sorte ainda ter sido acolhido por uma família cristã, amiga do meu avô, mesmo ele sendo muçulmano. Não fosse isso, teria sido impossível realizar o sonho de estudar.

Foi, assim, acumulando capital humano por meio da escola. O conhecimento de matemática e o raciocínio lógico fizeram a diferença adiante. Papai não fugiu à evidência empírica quanto à importância da educação para a mobilidade social.

Na criação do Estado de Israel, a região de sua aldeia foi inicialmente incorporada à Jordânia. Isso não o poupou do trauma do conflito, que o fez passar por situações que uma criança não deveria, em meio ao pânico dos adultos, deixando marcas em sua personalidade. Mas, por sorte, escapou da morte e da Nakba. Seu vilarejo foi poupado da destruição, e sua família, mesmo mais empobrecida, foi preservada.

Jovens, em qualquer parte do mundo, precisam de perspectiva de futuro, algo que se perdeu na vida dura dos palestinos. Meu pai inquieto poderia ter engrossado a estatística daqueles que se desesperam, mas ele optou por emigrar aos 21 anos.

Utilizou suas economias, fruto de salário como técnico em contabilidade em banco na Jordânia, para comprar passagem na terceira classe do navio para o Brasil. Não sem antes prover algum conforto aos pais, como a compra de uma geladeira. Causou um grande espanto na aldeia, que não conhecia aquela modernidade.

Poucos dias após sua chegada, por sorte, conheceu minha mãe, estudante de Biologia (antiga história natural) da USP, que passava os finais de semana na casa dos pais, em Campinas. Só foi possível o diálogo entre eles por causa do domínio do inglês. O mascate tentava vender mercadoria para a senhora portuguesa, humilde e analfabeta.

Por sorte, ela se interessou pelo produto e chamou a filha, letrada, para tentar entender aquele rapaz de língua enrolada e com as mãos destreinadas machucadas pelo peso das mercadorias.

Por sorte, veio para um país que muito prometia. E ainda, para um estado que crescia rapidamente, São Paulo. Em pouco tempo deixou de ser mascate para se tornar professor de inglês de um executivo de uma multinacional. Foi a porta de entrada no mercado de trabalho formal.

Em um país aberto e acolhedor, ele não precisou se isolar em comunidades estrangeiras, algo comum em outros países. Teve sorte. Rapidamente se incorporou à sociedade. Muitos já não identificavam seu sotaque.

Bom de matemática, dialogava com os engenheiros em seus empregos. Assim, cresceu. Viveu o Brasil do milagre econômico, obteve crédito habitacional e tinha acesso a bons serviços públicos.

Como muitos imigrantes, era disciplinado e poupava bastante — um hábito menos presente nas classes médias daqui, com consequências econômicas e sociais. Sua poupança o permitiu, mais adiante, empreender no comércio. Ele conquistou a liberdade no Brasil e prosperou. A maioria ficou para trás, confinada em suas aldeias.

Ele sabia de seu grande esforço, mas também de sua sorte. Por isso mesmo, era grato a Deus e ao país que o acolheu. Entristecido pelos problemas brasileiros, me pediu para trabalhar para que meu filho não desista do Brasil. Hoje muitos preferem seus descendentes fora do país.

Sorte minha ter sido filha do Ibrahim. Pai rigoroso, não poupou esforços para que tivéssemos acesso a boas escolas. Apoiou, sem questionar, minha escolha de sair de casa para estudar Economia na USP, em São Paulo.

Na noite de sexta passada, meu pai fez sua passagem.

Que os mais humildes não dependam tanto da sorte para darem certo na vida. Que contem com liberdade e igualdade de oportunidades. Esse precisa ser o objetivo de todos os governantes.

Que os mais humildes não dependam tanto da sorte. Esse precisa ser o objetivo dos governantes.

https://oglobo.globo.com/economia/zeina-latif/coluna/2023/05/nem-tudo-e-maktub.ghtml

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A linguagem inclusiva já está disponível

Se o seu objetivo não for polemizar a língua, nem desmerecer tanta gente que clama por ser incluída num discurso que as exclui desde sempre, vale o esforço.

Por Isabel Clemente* – Valor – 04/05/2023 

Pense no texto como uma estrada. Se for segura, bem pavimentada e sinalizada, não apresentar cruzamentos perigosos, você vai permanecer nela o tempo que for. Sem se preocupar com buracos, há uma grande chance de você ainda aproveitar a vista.

Um texto bom é um pouco assim. Você não esbarra em obstáculos nem cai em armadilhas. Toda palavra parece estar no lugar certo. A leitura flui. Quebra-molas na leitura são feitos de interrupções, explicações excessivas empilhadas numa única sentença. Fora os símbolos matemáticos. Sabe quando alguém insere barra na escrita? Porque não decidiu entre eu e ou, daí optou por e/ou? Tentou usar uma linguagem neutra de gênero e agregou asterisco, arroba e uma fileira de palavras separadas por barra?

As soluções que têm aparecido para minimizar o domínio do masculino na língua portuguesa não estão pacificadas. A polêmica é grande. Na verdade, é uma guerra. Já sabemos que símbolos tornam a leitura menos acessível a certos grupos, como pessoas com dislexia e deficiência visual dependentes de inteligência artificial. Todes não inclui todos e todas, então continuamos sem um pronome neutro que englobe todo mundo. E olha aqui “todo mundo” gritando na minha cara.

Não estávamos preparadas para questionar, lá atrás na escola, por que o plural seria sempre masculino mesmo que a maioria esmagadora do grupo fosse de meninas. É fato, gente, que isso foi uma arbitrariedade. A vigência do plural masculino e a tendência de se referir também ao masculino no singular em textos genéricos foi uma decisão tomada em algum momento da história da nossa língua. Herdamos uma sociedade patriarcal. E como representatividade tem tudo a ver com autoridade, quanto mais representantes de um grupo são vistos pela língua, mais espaço e poder eles têm, e menos relevância é dada aos demais. Como bem resumiu a escritora portuguesa Grada Kilomba, “a língua, por mais poética que possa ser, tem também uma dimensão política de criar, fixar e perpetuar relações de poder e violência, pois cada palavra que usamos define o lugar de uma identidade.”

Movimentos para tornar as línguas mais inclusivas estão acontecendo no mundo todo, em espanhol, francês, italiano, até árabe. A lista é longa e inesperada. Nem o alemão, com sua complicada sintaxe, escapou. Hannover foi a primeira cidade da Alemanha a adotar oficialmente uma linguagem mais inclusiva em seus comunicados, li no “Washington Post”. A iniciativa começou em 2019. Outro dia. Em vez de se referir ao eleitor ou a eleitora, por exemplo, eles preferem a pessoa que vota, o que não soa ruim.

Linguistas responsáveis pela atualização do Petit Robert, dicionário referência da língua francesa, decidiram incluir o pronome neutro iel (uma combinação de “lui” – ele – e “elle” – ela) porque seu uso havia aumentado muito na França. Despertou a ira dos tradicionalistas. O debate lá está quentíssimo. Tem um ensaio ótimo no Lit Hub caso você queira se aprofundar, intitulado “The makers of this French dictionary are under fire for including gender-inclusive language”.

Em 2015, boa parte da imprensa americana adotou o pronome “they”, do plural sem gênero do inglês, como pronome neutro e singular para se referir às pessoas independente do gênero. A prática se disseminou na literatura, nos jornais, na internet. Mesmo no inglês, língua que não sofre – como as latinas – influência tão marcante de gêneros nas palavras, a mudança foi polêmica. Houve chiadeira. Mas, olha que curioso, Shakespeare usava “they” no singular como pronome neutro porque o uso de “he” (ele) foi uma imposição dos gramáticos da era Victoriana.

Norma culta muda na marra sim. Alguém precisou parar de escrever farmácia com ph de uma hora para outra para se atualizar. Jogamos fora o acento agudo de plateia e outros. Abolimos a trema. O estilo da nossa escrita também mudou. Eu causaria espécie se começasse a escrever num estilo parnasiano-bucólico-pastoril. Escritores como Machado de Assis e Lima Barreto buscaram aproximar a escrita do discurso, num tempo em que aquela escrita mais natural não era aceita pela elite. Os modernistas retomaram com força esse ideal na semana de 1922. O gramático Evanildo Bechara lembra, em “Estudos da Língua Portuguesa”, que “todo movimento inovador, qualquer que seja a natureza, tem sempre seu lado iconoclasta, isto é, pretende derrubar conceitos e preconceitos arraigados por uma tradição, substituindo-os por novos parâmetros, que o tempo se encarregará de minimizar ou apodrecer.”

Dito tudo isso, eu só queria chamar sua atenção para uma forma de escrever mais inclusiva com os recursos que a língua já tem. Vai facilitar a conexão com as pessoas que você quer alcançar, independentemente se você já adotou todes, resiste a ele ou não sabe o que pensar a respeito. Tem tempo para refletir.

Vou listar algumas soluções bem simples.

A saudação “boa noite a todos, todas e todes que vieram me prestigiar”, tão comum em lives nas redes sociais, é longa. A comunicação eficaz deve mirar também nas pessoas que carregam crenças com as quais discordamos. Não seria mais natural um “boa noite a vocês que vieram me prestigiar”? Ou, melhor ainda, “boa noite para você que está me assistindo”, já que assistir a um vídeo é uma atividade individual? O singular cria uma intimidade ainda maior no distante mundo digital. E ainda tem caminhos mais informais, como um “boa noite, pessoal, gente, galera, turma, povo”, quem sabe “malta”. Esse eu trouxe de Portugal. Adoro.

O mundo corporativo tem muitos desafios nesse campo. Que tal se referir à clientela em vez de o cliente; liderança ou alta gerência, em vez de top executivos ou os chefes? Funcionários podem ser um time, ou a equipe. Por que não trocar os informes destinados a “investidores” para “quem investe”? Acionistas sem artigo antes também resolve. Uma grande empresa anuncia em seu site de forma quase isenta “precisamos de profissionais plurais e versáteis, abertos ao diálogo e ao contraditório”. Sem “abertos”, podia ter completado a frase com “que saibam dialogar e lidar com o contraditório”.

Às vezes, o segredo é evitar adjetivos e recorrer aos substantivos originais para elaborar frases que não fechem num gênero só. Uma empresa pode ser mais inovadora se, em vez de anunciar “aqui somos inovadores”, apostar mais na “procura incessante por inovação”.

O português tem lindas palavras neutras. Aprendemos que elas são “comum de dois” porque era assim que se dizia então, mas elas são neutras. É só usar sem o artigo. Estudantes, artistas, jornalistas, juristas, profissionais. Sua lista particular deve ter mais. Limar artigos não costuma dar problema, pelo contrário, torna inespecífico o grupo ao qual se dirige. Por exemplo: um comunicado direcionado “a profissionais com mais de dez anos de casa” não é o mesmo que um comunicado direcionado “aos profissionais” ou aos “muitos profissionais”. Resista a “muitos” e “os” porque não fará diferença. Sem artigo, empregadores podem ser chamados de contratantes; e chefe pode entrar sem drama e sem artigo. Num texto bem formulado, fornecedores estão na lista das parcerias comerciais, dos fornecimentos. Aliás, sabia que não existe artigos em latim?

Nem sempre dá para fugir das palavras com gênero, nem encontrar rotas alternativas. Faz parte. Você deverá levar em conta audiência, contexto e propósito do texto. Escolha a coerência e a elegância. Sempre dá para ampliar o alcance do que se quer dizer com repertório e criatividade. Se o seu objetivo não for polemizar a língua, nem desmerecer tanta gente que clama por ser incluída num discurso que as exclui desde sempre, vale o esforço.

A escrita é um meio para sensibilizar, informar, seduzir, convencer e divertir. Qualquer que seja sua intenção, é preciso incluir técnicas para cativar sua audiência, evitando cacos e ruído. Vivemos tempos de muitos conflitos. Trazer mais gente para o debate tornou-se urgente. Uma linguagem inclusiva é das ferramentas mais poderosas que temos à mão para chegar lá, pavimentando nossa estrada com palavras mais amistosas.

*Carioca, é formada em Jornalismo pela PUC-Rio e mestre em Escrita Criativa pela Royal Holloway, University of London

https://valor.globo.com/opiniao/isabel-clemente/coluna/a-linguagem-inclusiva-ja-esta-disponivel.ghtml

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Inteligência artificial já corrige redações, explica exercícios de matemática e ensina programação

Desenvolvimento da tecnologia oferece ferramentas que já estão mudando as rotinas escolares, mas especialistas apontam formas adequadas de uso

Por Bruno Alfano — O Globo – 07/05/2023 

Alunos do Poliedro aprendem a programar com ajuda do ChatGPT Divulgação

A professora de redação Sileyr Ribeiro, de 31 anos, tem em média 35 alunos do 3º ano do ensino médio se preparando para o Enem na rede estadual do Espírito Santo. Cada um faz 20 redações ao ano, o que dá pelo menos 3.500 textos para corrigir com a máxima atenção que o desafio exige. Desde o ano passado, no entanto, Syleir divide a tarefa com uma máquina.

O atual nível de desenvolvimento da inteligência artificial oferece ferramentas que já estão mudando as rotinas escolares. A tecnologia vem chegando através de plataformas contratadas por redes de ensino públicas e privadas e também da criatividade dos professores que lançam mão dos recursos gratuitos disponíveis como o ChatGPT ou o Midjourney.

Em vez de usar o tempo para correção manual das redações, a professora Sileyr ganhou horas extras para se dedicar à análise dos dados que indicam os avanços ou dificuldades de cada estudante. Um ganho na eficiência pedagógica porque ela pode, assim, identificar problemas pontuais ou coletivos de aprendizagem de forma muito mais precisa e ágil. A plataforma utilizada é a Letrus, que está em todas as escolas da rede estadual do Espírito Santo.

— A inteligência artificial é uma ferramenta à disposição e não um substituto do docente. O professor trabalha junto à plataforma e não em função dela. É parte do processo que o docente acompanhe o passo a passo da execução das tarefas, que dê exemplos para a turma, faça correções individuais de alguns exercícios e planeje intervenções de acordo com os resultados obtidos — analisa a professora, que defende a tecnologia como aliada. — A plataforma auxilia ao reunir os dados para otimizar o trabalho do professor.

A lógica da inteligência artificial não tem fronteiras e pode ser aplicada a diversas áreas do conhecimento. Um núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Alagoas desenvolve uma tecnologia em que o próprio aluno fotografa a questão solucionada e a submete ao robô que vai corrigi-la e, ao mesmo tempo, esmiuçar os erros no processo de resolução. A ferramenta, que já vai ser testada em escolas, ajuda a descobrir os conceitos que não foram bem assimilados pela turma.

— A nossa ideia foi construída a partir do contexto da escola pública brasileira. Tem computador em sala? Não. Tem um dispositivo para cada aluno? Não. Então, o estudante faz toda a atividade no papel da forma como faz hoje tradicionalmente e nós construímos um sistema tutor de inteligência, que vai auxiliar o aluno e entender suas dificuldades — diz Ig Ibert Bittencourt, professor da Ufal que está em Harvard.

A iniciativa é fruto do trabalho do especialista que, neste momento, desenvolve com outros pesquisadores uma nova área de exploração da tecnologia aplicada ao ensino, chamada de IA na educação desplugada. O conceito é que a unidade de ensino não precisa dispor de um aparato gigantesco de máquinas para se beneficiar dos avanços tecnológicos.

— Não adianta demandar um arsenal de equipamentos que nunca vão chegar para quem mais precisa, os alunos da educação pública. Ao mesmo tempo, cria soluções que com certeza poderão auxiliar milhões de professores e alunos de diferentes realidades do país — pontua.

‘Personalização extrema’

Algumas plataformas contam com serviços similares ao da Letrus no ensino de outras línguas. Basicamente porque medem tanto a evolução coletiva quanto a individual da aprendizagem. Além disso, elas funcionam mediando as tarefas que os alunos precisam fazer. Se ele vai melhor, recebe exercícios mais difíceis. Se errar algum ponto, tem aquele conteúdo trabalhado com mais ênfase. Uma dessas plataformas é a Edify.

— O futuro é da personalização ao extremo. Um aluno que gosta mais de esporte terá um tipo de conteúdo diferente do que prefere games, mas os dois vão estar trabalhando a mesma competência, o mesmo objetivo linguístico de diferentes formas — diz Marina Dalbem, CEO da Edify.

Doutor em Engenharia da Informação na Universidade de Osaka (Japão), com tese na área de inteligência artificial aplicada à educação, e professor de Harvard, Seiji Isotani diz que a tecnologia deveria estar mais presente na escola na medida em que as habilidades digitais são fundamentais na contemporaneidade:

— Se a gente não introduzir as tecnologias no ambiente escolar, haverá um problema na nossa percepção de educação de qualidade.

No exterior, conta o especialista, o acesso mais facilitado à tecnologia de ponta permite pedagogias imersivas. Um aluno consegue, por exemplo, abrir um corpo humano utilizando realidade aumentada para entender o funcionamento dos órgãos visualmente.

— Há uma disrupção pedagógica acontecendo que a gente precisa pensar. Ela se dá integrando a tecnologia de maneira persistente e coerente em todo o processo de aprendizagem, em vez de só usar a tecnologia de maneira pontual — afirma.

Frenesi do ChatGPT

Por aqui, as escolas também começaram a utilizar o ChatGPT, ferramenta que viveu um frenesi de popularidade depois de ser liberada e impressionar muita gente pela sua capacidade de produzir conteúdo. Junto do sucesso, veio a preocupação da comunidade escolar com plágio. Se a máquina pode produzir textos inéditos, como garantir que os estudantes não a utilizem para que a IA faça suas atividades? Algumas redes de ensino proibiram o uso. Outras decidiram incorporá-lo.

Professor de pensamento computacional, Israel Peres, do Poliedro, pede para que os alunos façam consultas ao ChatGPT sobre formas de interligar equipamentos como um sensor de distância para que ele tenha certa funcionalidade.

— Existe um exercício de expressão. O aluno tem que se expressar muito claramente e de forma objetiva para que a máquina entenda. O estudante sabe que precisa de uma contextualização para resolver o problema, senão a IA não vai entender o objetivo final e não vai entregar o resultado esperado — afirma.

Apesar de impressionar, o ChatGPT não é oráculo. O pior é que, quando ele não sabe, inventa. Perguntado quem é Bruno Alfano (o autor desta reportagem), a plataforma inventou uma biografia, apontando lugares onde o repórter não trabalhou e até atribuindo a ele a autoria de um livro que nem existe. Na avaliação de Peres, é preciso aprender a fazer as perguntas para usá-lo adequadamente:

— Tem aluno que desiste de usar porque, às vezes, dá mais trabalho explicar o que quer para o ChatGPT do que realizar a atividade.

Já Isotani defende que não só a ferramenta seja aprimorada para estar em sala de aula, mas que alunos e escolas também se preparem para sua utilização. Do ponto de vista pedagógico, diz o especialista, tem que ser explorada como um “companheiro de aprendizagem”. Isso significa que não se pode esperar que o ChatGPT tenha 100% das respostas.

— O aluno precisa ter a capacidade de identificar se o que a máquina produziu está correto e, se for o caso, ir melhorando o resultado. Esse é o melhor jeito de usar o ChatGPT: fazendo perguntas, recebendo dicas e sanando as dificuldades até que se consiga aprender um determinado conteúdo — defende o professor de Harvard.

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Thomas Friedman: ChatGPT e mudança climática são duas gigantes caixas de Pandora

Por Thomas L. Friedman – Estadão/New York Times – 07/05/2023

Se lidarmos com a IA com a mesma negligência que lidamos com a aurora das redes sociais vamos quebrar coisas com mais rapidez, mais força e mais profundidade do que qualquer um possa imaginar

O dicionário Merriam-Webster observa que uma “caixa de Pandora” pode ser “qualquer coisa que pareça algo ordinário, mas seja capaz de produzir males imprevisíveis”. Tenho pensado muito em caixas de Pandora ultimamente, porque nós, Homo sapiens, estamos fazendo uma coisa que nunca fizemos antes: abrindo duas caixas de Pandora ao mesmo tempo, sem nenhuma ideia do que poderá sair de dentro delas.

Uma é rotulada como “inteligência artificial”, exemplificada por plataformas como ChatGPT, Bard e AlphaFold, que atestam, pela primeira vez, a capacidade da humanidade de manufaturar algo divinal, que se aproxima da inteligência em geral, excedendo em enorme medida a capacidade intelectual com a qual nós evoluímos naturalmente.

A outra caixa de Pandora é rotulada como “mudanças climáticas”, e com ela, nós, humanos, estamos pela primeira vez determinando de maneira divinal a transição de uma era climática para outra. Até aqui, esse poder restringia-se amplamente às forças naturais envolvendo a órbita da Terra em torno do sol.

Para mim, a grande dúvida, conforme abrimos as caixas simultaneamente, é: que tipo de regulações e ética temos de instaurar para lidar com o que sair voando de dentro delas?

Sejamos sinceros, nós não compreendemos o quanto as redes sociais seriam usadas para minar os dois pilares fundamentais de qualquer sociedade livre: a verdade e a confiança. Então, se nós lidarmos com a IA generativa com a mesma negligência — se adotarmos novamente o mesmo mantra inconsequente pronunciado por Mark Zuckerberg na aurora das redes sociais, “mova-se rápido e quebre coisas” — meus amigos, nós vamos quebrar coisas com mais rapidez, mais força e mais profundidade do que qualquer um possa imaginar.

“Houve uma falha de imaginação quando as redes sociais foram lançadas e depois uma falha em não responder responsavelmente às suas consequências não imaginadas uma vez que elas permearam as vidas de bilhões de pessoas”, disse-me Dov Seidman, fundador e presidente do HOW Institute for Society e da LRN. “Nós perdemos muito tempo — e o nosso caminho — no pensamento utópico de que apenas coisas boas poderiam resultar das redes sociais, por simplesmente conectar as pessoas e dar-lhes uma voz. Nós não podemos permitir falhas similares com a inteligência artificial.”

Portanto existe “um imperativo urgente — tanto ético quanto regulatório — para que essas tecnologias de inteligência artificial devam ser usadas apenas para complementar e elevar o que nos torna singularmente humanos: a criatividade, a curiosidade e, na nossa expressão mais sublime, a capacidade de ter esperança, ética, empatia, determinação e de colaborar com os demais”, acrescentou Seidman (membro da diretoria do museu fundado por minha mulher, o Planet Word).

“O ditado que diz, ‘Com grande poder vem grande responsabilidade’, nunca foi tão verdadeiro. Nós não conseguiremos suportar uma outra geração de tecnologistas proclamando sua neutralidade ética e nos dizendo, ‘Ei, nós somos apenas uma plataforma’, enquanto essas tecnologias de IA estão possibilitando formas exponencialmente mais poderosas e profundas de empoderamento humano e interação.”

Por esses motivos, eu questionei James Manyika, que dirige a equipe de tecnologia e sociedade do Google e o Google Research, onde está sendo conduzida grande parte dessa inovação em IA, em busca de sua opinião a respeito das promessa da IA e seus desafios.

“Nós temos de ser ousados e responsáveis ao mesmo tempo”, afirmou ele. “A razão para sermos ousados é que, em tantos campos diferentes, a IA tem potencial para ajudar as pessoas com tarefas cotidianas e enfrentar alguns dos maiores desafios da humanidade — como assistência de saúde, por exemplo — e ocasionar novas descobertas científicas, inovações e ganhos em produtividade que levarão a uma prosperidade econômica maior.”

A inteligência artificial fará isso, acrescentou ele, “dando às pessoas de todas as partes acesso à totalidade do conhecimento do mundo — em suas próprias línguas, em seus meios de comunicação preferidos, via texto escrito, fala, imagens ou código”, entregues por smartphones, TVs, áudios ou e-books. Muito mais gente conseguirá obter a melhor assistência e as melhores respostas para melhorar suas vidas.

Mas nós também temos de ser responsáveis, acrescentou Manyika, citando várias preocupações. Primeiro, essas ferramentas precisam ser totalmente alinhadas com os objetivos da humanidade. Segundo, nas mãos erradas, essas ferramentas poderiam causar um dano enorme, seja em se tratando de desinformação, falsificações perfeitas ou ataques de hackers (os bandidos estão sempre entre os primeiros a adotar novas tecnologias).

Finalmente, “a engenharia está à frente da ciência em certa medida”, explicou Manyika. Ou seja, até as pessoas que estão construindo esses ditos grandes modelos de linguagem, subjacentes em produtos como ChatGPT e Bard, não entendem completamente como eles funcionam e o escopo total de suas capacidades. Nós somos capazes de projetar e construir sistemas de IA extraordinariamente capazes, acrescentou ele, que podem ser expostos a alguns poucos exemplos de aritmética ou a uma língua rara ou a explicações de piadas e serem capazes de começar a fazer muitas outras coisas com esses poucos fragmentos impressionantemente bem. Em outras palavras, nós não entendemos completamente ainda quais coisas boas ou ruins esses sistemas são capazes de fazer.

Portanto, nós precisamos de alguma regulação, mas isso tem de ser feito cuidadosamente e de modo iterativo. Um regime único não dará conta de tudo.

Por quê? Bem, se estivermos mais preocupados a respeito de a China superar os EUA em inteligência artificial, vamos querer turbinar nossa inovação em IA, não diminuir seu ritmo. Se quisermos democratizar verdadeiramente a IA, podemos nos sentir tentados a abrir seu código-fonte. Mas códigos abertos podem ser explorados. E o que o Estado Islâmico faria com o código? Então temos de pensar em controles de armamentos. Se estivermos preocupados com a possibilidade de sistemas de IA agravarem discriminações, violações de privacidade e outros males sociais facciosos, da maneira que as redes sociais fazem, vamos querer regulações o quanto antes.

Se quisermos tirar vantagem de todos os ganhos em produtividade que a IA deverá gerar, vamos precisar de foco na criação de novas oportunidades e redes de segurança para todos os assistentes jurídicos, conselheiros financeiros, tradutores e trabalhadores que cumprem tarefas repetitivas que poderiam ser substituídos imediatamente — e talvez advogados e programadores amanhã. Se estivermos preocupados com a possibilidade da IA se tornar superinteligente e começar a definir seus próprios objetivos, independentemente de levar em consideração ou não o estrago para os humanos, vamos desejar impedi-la imediatamente.

Isso é tão real que, na segunda-feira, Geoffrey Hinton, um dos pioneiros nos projetos de sistemas de inteligência artificial, anunciou que estava deixando a equipe de IA do Google. Hinton afirmou acreditar que o Google está se comportando responsavelmente com o desenvolvimento e a aplicação de seus produtos de IA, mas que queria estar livre para falar abertamente a respeito de todos os riscos. “É difícil ver como seríamos capazes de evitar que atores perversos a usassem para cometer maldades”, disse Hinton a  Cade Metz, do Times.

Porque quanto mais ampliarmos a escala da inteligência artificial, mais a regra dourada precisará ser ampliada: faça às pessoas o que você gostaria que fizessem por você”

Isso tudo somado diz uma só coisa: nós, enquanto sociedade, estamos na iminência de ter de decidir a respeito de algumas contrapartidas bem grandes à medida que introduzimos a IA generativa.

E regulação do governo, sozinha, não nos salvará. Eu tenho uma regra simples: quanto maior o ritmo da transformação e maiores os poderes divinais que a humanidade desenvolve, mais tudo o que é antigo e vagaroso importa como nunca; mais tudo o que você aprendeu na escola dominical — ou em onde quer que você tenha encontrado sua inspiração ética — importa como nunca.

Porque quanto mais ampliarmos a escala da inteligência artificial, mais a regra dourada precisará ser ampliada: faça às pessoas o que você gostaria que fizessem por você. Porque dados os poderes cada vez mais divinais dos quais nos estamos dotando, todos nós seremos capazes de fazer coisas às outras pessoas com mais rapidez, economia e profundidade do que nunca antes.

O mesmo vale quando se trata da caixa de Pandora climática que estamos abrindo. Como a Nasa explica em seu website, “Nos 800 mil anos passados, nós tivemos oito ciclos de eras glaciais e períodos mais quentes”. A era glacial mais recente acabou cerca de 11,7 mil anos atrás, dando espaço para nossa atual era climática — conhecida como  Holoceno (que significa “inteiramente recente”) — que foi caracterizada por estações estáveis que permitiram agricultura estável, a construção das comunidades humanas e, em última instância, a civilização como a conhecemos hoje.

“A maioria dessas mudanças climáticas é atribuída a variações muito pequenas na órbita da Terra, que alteram a quantidade de energia solar que nosso planeta recebe”, nota a Nasa.

Bem, diga adeus a esse passado. Há atualmente uma discussão intensa entre ambientalistas — e geólogos da União Internacional das Ciência Geológicas, a organização profissional responsável por definir as eras geológico/climáticas da Terra — a respeito da humanidade ter se retirado do Holoceno e ocasionado uma nova era, chamada Antropoceno.

Esse termo vem “de ‘antropo’, que designa ‘humano’, e ‘ceno’, que significa ‘novo’— porque a humanidade causou extinções em massa de espécies de plantas e animais, poluiu os oceanos e alterou a atmosfera, entre outros impactos duradouros”, explicou um artigo da Smithsonian Magazine.

Cientistas que estudam o sistema terrestre temem que esta era fabricada pelo homem, o Antropoceno, não terá nenhuma das estações previsíveis do Holoceno. A produção agrícola poderia se tornar um pesadelo.

Mas, nesse aspecto, a inteligência artificial poderia ser nossa salvadora: apressando descobertas na ciência de materiais, densidades de baterias, fusão como fonte de energia e uma energia nuclear modular e segura que possibilitem aos humanos administrar os impactos das mudanças climáticas inevitáveis neste momento e evitar outros efeitos inimagináveis.

Mas, se a inteligência artificial nos permite uma maneira de atenuar os piores efeitos das mudanças climáticas — se a IA, com efeito, nos der uma segunda oportunidade —, melhor seria que a aproveitássemos corretamente. Isso significa mais regulações inteligentes para ampliar rapidamente a escala da energia limpa e a escala dos valores de sustentabilidade. A não ser que disseminemos uma ética de conservação — uma reverência à natureza selvagem e a tudo o que nos provê ar limpo e água limpa — nós poderíamos terminar em um mundo em que as pessoas se sentem no direito de dirigir através da floresta tropical, já que seus Hummers são movidos totalmente a eletricidade. Isso não pode acontecer.

Conclusão: essas duas grandes caixas de Pandora estão abrindo. Deus nos salve se nós adquirirmos poderes divinais suficientes para abrir o Mar Vermelho, mas não dimensionarmos os Dez Mandamentos. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

https://www.estadao.com.br/internacional/thomas-friedman-chatgpt-e-mudanca-climatica-sao-duas-gigantes-caixas-de-pandora/

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Uma máquina que lê mentes? Entenda como cientistas conseguiram transformar pensamentos em palavras

Resultados obtidos pelo melhor sistema de leitura de mente já produzido são impressionantes. Entenda como o estudo foi feito

Por Fernando Reinach – Estadão – 06/05/2023 

Imagine você deitado em uma máquina que monitora seu cérebro. Aí você pensa para si mesmo “eu preciso tirar minha carteira de motorista”. Ao lado um computador que processa a atividade que ocorre em seu cérebro, submete a imagem da atividade cerebral a um decodificador, e na tela aparece a frase “eu ainda não aprendi a dirigir”. O que aparece na tela não é exatamente o que você pensou, mas é muito parecido. Esse é o tipo de resultado obtido com o melhor sistema de leitura de mente já produzido. Não é perfeito, mas é impressionante. Vale a pena entender como esse sistema funciona e suas implicações na privacidade do pensamento humano.

A máquina onde o voluntário se deita é um equipamento de ressonância magnética funcional, similar ao usado nos hospitais para obter imagens do nosso corpo. A diferença é que ele é capaz de detectar a quantidade de oxigênio no sangue que circula em cada pedacinho de nosso cérebro. Mas, ao invés de tirar uma foto, como fazem os existentes nos hospitais, ele faz um filme. Nesse filme é possível observar como a quantidade de oxigênio no sangue que circula em cada milímetro cúbico do cérebro varia ao longo do tempo.

Quando os neurônios em um dado local do cérebro estão ativos, eles consomem mais oxigênio e o nível de oxigênio baixa no sangue. Quando os neurônios entram em repouso, o nível de oxigênio volta ao normal. Dessa maneira, o filme produzido por esse equipamento mostra que áreas do cérebro estão ativas ou inativas a cada momento.

Exemplo: quando uma pessoa fecha os olhos, a parte do cérebro que recebe os impulsos vindos da retina diminui sua atividade e isso aparece no filme. Esse equipamento tem sido usado para descobrir as áreas do cérebro que são ativadas durante diferentes atividades, como o andar, o sonhar, o falar, o imaginar e assim por diante. É um instrumento poderoso.

Nesse experimento, três voluntários deitaram nessa máquina com um fone de ouvido e, por 16 horas, ficaram ouvindo uma série de podcasts. Durante todo esse tempo a atividade dos neurônios de cada microrregião de seus cérebros foi registrada. Desse modo, cada vez que a pessoa ouvia uma frase, a máquina de ressonância registrava as áreas do cérebros que estavam ativas.

No final, os cientistas tinham um filme de 16 horas de atividade cerebral e a correspondente trilha sonora (o podcast) que tinha provocado a resposta do cérebro a cada palavra ou frase ouvida. Esses dados foram usados para treinar um sistema de inteligência artificial capaz de correlacionar padrões de atividade cerebral a frases. O resultado desse treinamento é um software decodificador, capaz de transformar cada padrão de atividade cerebral em uma palavra ou frase.

De posse desse decodificador, os cientistas fizeram o inverso: pediram aos voluntários que imaginassem narrativas. Enquanto eles imaginavam as frases na mente, a máquina de ressonância registrava a atividade em todo o cérebro e submetia o filme ao decodificador. Esse, por sua vez, tentava deduzir, a partir das imagens da atividade cerebral, o que os voluntários estavam pensando.

É o exemplo acima: imagino que ainda preciso tirar a carta de motorista e o decodificador informa que ainda não sei dirigir. O resultado não é perfeito, e está longe de acertar sempre, mas é impressionante como o decodificador consegue não só descobrir o que os voluntários estavam pensando, mas colocar em palavras esses pensamentos. Para surpresa dos cientistas, o decodificador consegue descrever não só pensamentos que envolvem palavras ouvidas ou imaginadas mas também pensamentos que envolvem imagens ou filmes mudos. Se você mostra para o voluntário uma foto de uma menina, o sistema escreve menina na tela. Ou seja, ao ver a imagem da menina, o cérebro do voluntário é ativado em regiões semelhantes às ativadas quando a pessoa ouve a palavra menina.

Esse experimento mostra que estamos chegando perto de deduzir o que se passa na mente de uma pessoa simplesmente observando que áreas do seu cérebro estão ativas. Em teoria, no futuro, uma pessoa não vai precisar nos contar o que está pensando ou sentindo, basta observar a atividade cerebral dessa pessoa para saber o que se passa pela mente da pessoa. As implicações morais e éticas do uso dessa tecnologia são enormes. Hoje nossos pensamentos só podem ser descobertos por outra pessoa se nós os relatarmos.

Esse reduto de privacidade pode, em teoria, deixar de existir. Esse sistema pode ser usado em interrogatórios policiais substituindo os polígrafos, ou mesmo sessões de tortura em interrogatórios. Mas não se preocupe, esses sistemas ainda são imprecisos e os decodificadores (que transformam as imagens em palavras) são específicos para cada pessoa, ou seja, o decodificador construído para um voluntário não funciona em outro voluntário. O mais impressionante é que estamos começando entender como a mente é produzida pelo cérebro.

Mais informações: Semantic reconstruction of continuous language from non-invasive brain recordings. Nat Neurosci https://doi.org/10.1038/s41593-023-01304-9 2023

Fernando Reinach é biólogo

https://www.estadao.com.br/ciencia/fernando-reinach/uma-maquina-que-le-mentes-entenda-como-cientistas-conseguiram-transformar-pensamentos-em-palavras/

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Startup capixaba vence competição com quase mil empresas no Web Summit Rio

Criada no Espírito Santo em 2018, a Jade Autism promove educação inclusiva por meio da tecnologia e já é usada por 160 mil crianças em todo o mundo

Por Carolina Nalin — O Globo – 05/05/2023 

Ronaldo Cohin, CEO e fundador do Jade Autism Reprodução/Web Summit

A startup capixaba Jade Autism foi a grande vencedora do Pitch da primeira edição do Web Summit Rio. O fundador Ronaldo Cohin recebeu o prêmio depois de concorrer com quase mil startups presentes no evento. Com foco na educação inclusiva, o software da empresa oferece suporte a crianças e adolescentes com autismo. A solução permite que escolas e professores ofereçam uma abordagem individualizada para cada aluno.

Termo comum no universo das startups, o pitch é uma apresentação curta e objetiva de uma pequena empresa com o objetivo de convencer um investidor. No Web Summit Rio, o Pitch é a grande competição que reúne startups em estágio inicial de todo o mundo para uma batalha ao vivo no palco ao longo dos quatro dias de evento.

Nesta edição, foram selecionadas 42 das 974 startups expositoras. Oito empresas se enfrentaram na semifinal até que três finalistas fossem escolhidas para a final, ontem.

Esse foi o segundo pitch de Ronaldo Cohin: ele já havia apresentado sua startup na conferência da Web Summit Lisboa, em novembro do ano passado.

— Foi muito legal, a competição foi super acirrada, e o nível das startups estava muito alto. A gente está muito feliz. Não ganhamos prêmio, mas um troféu. E agora viro garoto-propaganda do evento no ano que vem — disse Ronaldo.

Planos de internacionalização

Segundo Ronaldo, o prêmio veio ao encontro dos planos da startup de ampliação no mercado estrangeiro:

— (Esse prêmio) vai validar o nosso negócio para crescer dentro da Europa, que é o próximo passo. Nesse mês já devemos atender escolas públicas dentro da Inglaterra.

Ele desenvolveu o programa ao lado da cofundadora da empresa, Joice Andrade, na Universidade de Vila Velha, no Espírito Santo. Ele foi músico de rock em turnê por longos anos antes de voltar à faculdade para estudar computação. Sua filha foi diagnosticada com autismo enquanto ele estudava, o que ensejou a escrever sua dissertação sobre sua condição.

O aplicativo Jade Autism foi criado em 2018 e já é usado por 160 mil crianças em todo o mundo. Ronaldo avalia que a startup tem grande potencial de expansão, já que 380 milhões de crianças em todo o mundo têm deficiências cognitivas, e US$ 16 bilhões são gastos anualmente em tecnologia de assistência.

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2023/05/startup-capixaba-vence-competicao-com-quase-mil-empresas-no-web-summit-rio.ghtml

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As habilidades que IA nenhuma pode ensinar

O uso desenfreado de chatbots e de outras tecnologias de inteligência artificial e a maior recusa pelo modelo presencial de trabalho afetam o desenvolvimento das soft skills, características indispensáveis para o profissional do futuro

Eduardo Peixoto – MIT Sloan review – 27 de Abril

Há dez anos, em um mundo ainda sem Alexa (ok, a Siri já existia, mas ainda sem tanta popularidade), o filme Her apresentou a história de “amor” entre um humano e uma assistente virtual e as implicações sociais daquela distópica relação: Samantha, uma inteligência artificial cativante e com aparentes sentimentos genuínos por Theodore, um escritor de cartas personalizadas cada vez mais isolado e envolvido com aquela companhia sem carne, nem osso. Em uma cena, o personagem interpretado por Joaquin Phoenix questiona o valor de seu trabalho, refletindo se de fato ajudava as pessoas com suas palavras ou se apenas criava uma ilusão de conexão emocional entre elas.

Corta para o nosso mundo atual.

Vivemos o boom dos chatbots, com simulações e interfaces cada vez mais sofisticadas e acessíveis, em que a máquina, adaptada às preferências do usuário, oferece apoio, informação, lazer e prazer sem a expectativa de reciprocidade. Somos livres para programarmos a companhia virtual ideal. E qual é o impacto nas vivências interpessoais? Como aprimorar as chamadas soft skills se nos distanciamos e nos prendemos cada vez mais às plataformas digitais? Neste texto, você ainda verá muitas outras interrogações.

Nas recentes edições da South by Southwest (SXSW), onde acompanhei uma série de palestras do South Summit Brazil, no qual representei o CESAR em um dos painéis, e de outros eventos, as soft skills estão no centro do debate, seja para falar de educação, inteligência artificial (IA) ou das necessidades para o profissional do futuro. Pensamento analítico e crítico, inteligência emocional, raciocínio lógico, resolução de problemas, criatividade, liderança, persuasão e negociação, resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade estão entre as habilidades listadas pelo Fórum Econômico Mundial que estão mais em alta no mercado. Mas como pensar criticamente se somos constantemente induzidos por algoritmos? Como ser mais criativo quando temos conteúdo pronto à distância de um clique? Como persuadir se lidamos com obedientes robôs? “Como desenvolver human skills se as plataformas digitais nos isolam?”, fiz esta provocação no South Summit.

A dissonância nos dias atuais aumenta devido à enorme barreira para retomar a rotina presencial de trabalho. Para muitos, até o híbrido deixou de ser possibilidade. É 100% remoto: “Entrego o que pedem, tudo certo, mas ficarei aqui no meu cantinho”. De forma consciente ou inconsciente, optamos por mais isolamento, e isso não ajuda no desenvolvimento das capacidades profissionais requeridas.

A rotina de mediação digital transmite de forma precária diversos parâmetros, e vamos preenchendo em nossas cabeças, ao nosso modo, as características de personalidade daqueles com quem estamos lidando só por meio de telas. Pior: assumimos tais aspectos como verdadeiros. Fazemos isso mesmo sabendo ser possível apenas ao longo da convivência, e esta pode ser frustrante. Ninguém quer se frustrar mais.

A tendência é de massificação da interação com as companhias digitais “perfeitas”, como chatbots, assistentes de voz e avatares, livres dos nossos humanos defeitos. A tal “virtual companionship” tem um capítulo dedicado por Rohit Bhargava no ótimo livro The future normal – cujo subtítulo é como vamos viver, trabalhar e prosperar na próxima década, em tradução livre. “E se você pudesse desenvolver um relacionamento significativo com um aplicativo ou um robô?”, questiona. Embora as entidades virtuais possam oferecer benefícios em termos de engajamento do cliente e criação de relacionamentos, também há riscos significativos a serem analisados. Um deles é a dependência emocional.

Bhargava observa que as pessoas podem se tornar tão dependentes que podem negligenciar as conexões humanas reais e, em última análise, prejudicar a saúde mental e emocional. Ele ainda adverte empresas a serem cuidadosas ao criar essas entidades virtuais, para garantir ética, privacidade, segurança e outras responsabilidades, além de evitar prejuízo aos usuários. As companhias precisam estar cientes de que esses relacionamentos virtuais não substituem as conexões humanas reais e devem ser vistos como complementares.

O alerta é ignorado por muitos. Um exemplo é o assustador crescimento do Xiaoice, chatbot desenvolvido pela Microsoft e fenômeno na China, um sucesso graças à programação avançada de inteligência artificial e capacidade de aprendizado de máquina. Parte considerável dos mais de 700 milhões de usuários “namora” com a IA, que age como se fosse uma jovem com seus 20 e poucos anos. Problemático, para dizer o mínimo.

A terapeuta belga Esther Perel compartilhou no SXSW o caso de um paciente que, ao não conseguir uma consulta com ela, criou o BOT Esther, uma IA treinada com os artigos da profissional, para lidar com seus dilemas amorosos. Apesar da inovação, Esther, claro, desincentiva, porque não há respostas certas ou erradas quando se trata de questões complexas. A IA não tem experiência de vida ou memórias emocionais, necessárias para a real interação clínica.

Voltando ao indiano Bhargava, ele diz para não criarmos futuros apocalípticos e sermos otimistas quanto às transformações tecnológicas. Para isso, em minha opinião, não podemos continuar nos limitando a interagir das nossas casas. Além do componente da economia, com vários setores afetados pelo home office, pode haver uma lacuna muito grande nas habilidades de relacionamento entre as pessoas, e esta ficha parece não estar caindo. Não é só presencial, nem tampouco só remoto. Nem tanto, nem tão pouco. Que voltemos a nos arriscar mais, a nos frustrar mais, a nos relacionar mais com as pessoas. Imperfeitas, porém verdadeiras.

Colunista

Eduardo Peixoto

Eduardo Peixoto é CEO do CESAR Centro de Inovação e professor da CESAR School. Mestre em comunicação de dados pela Technical University of Eindhoven-Holanda, com MBA na Kellogg School of Management e na Columbia Business School, atua há 30 anos na área de tecnologias da informação e comunicação (TICs). Trabalhou como executivo no exterior, na Philips da Holanda e na Ascom Business System AG (Suíça).

https://mitsloanreview.com.br/post/as-habilidades-que-ia-nenhuma-pode-ensinar

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China busca ‘recuperação’ da IA criando suas próprias ferramentas semelhantes ao ChatGPT

Yojana Sharma – University World News – 10 de março de 2023

O recente surgimento nos Estados Unidos da ferramenta de escrita ChatGPT assistida por inteligência artificial da OpenAI, e o zumbido mundial que a acompanha sobre sua capacidade de responder quase como um ser humano a perguntas, subverteu a oferta declarada da China de emergir como uma potência global de inovação em IA durante esta década, de acordo com os especialistas.

O governo chinês tem investido bilhões de yuans em pesquisa e desenvolvimento no setor de inteligência artificial (IA) e no desenvolvimento de talentos de IA por meio de novos programas universitários.

Mas o ChatGPT deixou as empresas e universidades chinesas tentando recuperar o atraso e iniciou uma nova “corrida armamentista” com os Estados Unidos, focada na IA generativa. Desde o surgimento do ChatGPT, o governo central e as autoridades municipais anunciaram novos fundos para atrair startups promissoras que possam desenvolver um ChatGPT chinês.

Um professor universitário no sul da China disse que mesmo no curto período desde o lançamento da versão pública do ChatGPT em novembro do ano passado, as universidades chinesas com fortes departamentos de IA estão sob pressão para expandir o recrutamento de estudantes de pós-graduação e pesquisa e implementar esquemas para atrair de volta do exterior, estudantes e pesquisadores chineses especializados em IA generativa.

A China quer seus próprios sistemas inteligentes de linguagem natural por razões que vão desde a linguagem e a necessidade de sistemas de linguagem chinesa para acompanhar o inglês e outras línguas globais, até razões puramente políticas relacionadas a seus objetivos como uma potência global de ciência e tecnologia.

“Estamos sob pressão para mostrar que podemos responder a esse novo desafio da IA e que não estamos atrás dos Estados Unidos nessa área”, disse o professor, falando sob condição de anonimato.

No entanto, a ambivalência chinesa sobre ferramentas do tipo ChatGPT, particularmente no contexto chinês da necessidade de controlar a disseminação e censurar rapidamente tópicos considerados sensíveis, levou algumas universidades e empresas de tecnologia a adotarem uma abordagem conservadora e discreta, ao mesmo tempo em que tentando mostrar que estão competindo para estar entre os primeiros a lançar uma versão chinesa do ChatGPT, observaram especialistas em tecnologia na China.

O ChatGPT é proibido na China, em parte porque treinou com dados que estão fora do firewall da Internet da China, que impede a entrada de influências ocidentais. No entanto, muitos usaram servidores proxy ou VPNs para acessá-lo, criando um burburinho na China. Por um curto período neste mês, o governo até bloqueou o acesso à VPN, para reafirmar o controle em meio à agitação.

“Vimos muitas empresas na China entrarem no frenesi e anunciarem que estão trabalhando ou lançarão ferramentas semelhantes ao ChatGPT ou integrando-as em seus mecanismos de pesquisa. Parte disso é puramente por causa do hype atual, e isso vai esfriar um pouco”, disse Hanna Dohmen, pesquisadora sênior do Centro de Segurança e Tecnologia Emergente da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, ao University World News.

“Mas até que ponto eles serão tão bons ou potencialmente até melhores do que os produtos americanos ou ocidentais é difícil dizer neste momento”, reconheceu Dohmen.

No entanto, ela descreveu o surgimento do ChatGPT como um “ponto de virada” na competição global de pesquisa em IA.

“Embora a competição tecnológica em IA não seja nova, agora estamos vendo avanços em IA generativa sendo comercializados e lançados ao público, e isso terá consequências significativas para a rivalidade tecnológica entre os Estados Unidos e a China”, disse ela. .

A ferramenta da Universidade Fudan falha

Após o choque inicial de ser “deixado para trás”, especialistas em tecnologia na China têm debatido quão grande é a distância entre a China e os Estados Unidos e com que rapidez ela pode ser superada.

Mas a pressa para lançar produtos de linguagem de IA generativa antes de estarem prontos já produziu baixas iniciais – uma indicação de uma lacuna considerável na IA generativa.

A Universidade Fudan de Xangai desenvolveu seu próprio MOSS, um serviço semelhante ao ChatGPT, uma ferramenta de linguagem baseada em IA com um décimo dos recursos do ChatGPT. Mas foi anunciado como “suficiente para pesquisa acadêmica”, de acordo com reportagens da mídia sobre seu lançamento no mês passado.

O objetivo era mostrar as proezas tecnológicas de IA da Universidade de Fudan, inclusive em comparação com empresas de tecnologia chinesas, das quais recrutou vários pesquisadores de alto nível nos últimos anos.

Mas a equipe da Universidade Fudan foi forçada a pedir desculpas publicamente quando o MOSS caiu horas após o lançamento em 20 de fevereiro, devido a um aumento repentino de tráfego na plataforma de mídia social chinesa Weibo. A equipe Fudan disse agora que o MOSS não estará mais disponível abertamente ao público. Esperava-se que o projeto fosse uma ferramenta de código aberto.

O MOSS, capaz de gerar conversas, além de fazer e responder perguntas, foi desenvolvido por uma equipe do Grupo de Processamento de Linguagem Natural da Universidade Fudan, liderado por Qiu Xipeng, professor da Escola de Ciência da Computação de Fudan, e apoiado pelo ShO Laboratório de Inteligência Artificial de anghai foi criado em julho de 2020 como um instituto de pesquisa de nível nacional de classe mundial com colaborações com outras universidades na China, Hong Kong e no exterior.

A equipe da Fudan University, que inicialmente descreveu o MOSS como um modelo de linguagem conversacional como o ChatGPT, minimizou a comparação um dia após seu lançamento, dizendo que eles tinham muito a melhorar.

“MOSS ainda é um modelo muito imaturo; ainda tem um longo caminho a percorrer antes de chegar ao ChatGPT. Um laboratório de pesquisa acadêmica como nós é incapaz de produzir um modelo cuja capacidade se aproxima do ChatGPT”, disse um comunicado publicado no site da universidade, observando que os recursos de computação disponíveis não eram suficientes para suportar um tráfego tão grande.

A declaração da equipe acrescentou que “como um grupo acadêmico, não temos experiência em engenharia suficiente, criando uma experiência muito ruim e uma primeira impressão em todos, e por meio deste expressamos nossas sinceras desculpas a todos”.

Versões comerciais com maior probabilidade de surgir

Diz-se que outras universidades na China estão trabalhando em versões semelhantes ao ChatGPT, mas, não querendo prejudicar sua reputação após o desastre de Fudan, elas não estão com pressa de lançar, disse o professor no sul da China.

A Fudan University pelo menos tinha conexões com a indústria de IA e reuniu mais de uma dúzia de executivos e acadêmicos de empresas de IA para analisar o desenvolvimento do ChatGPT, riscos de segurança e áreas de uso potencial, disse ele.

Embora a Fudan University tenha sido a primeira a lançar, é geralmente aceito entre os especialistas da indústria de tecnologia da China que serão as gigantescas empresas privadas de tecnologia do país que lançarão um concorrente doméstico do ChatGPT.

A Baidu, empresa de Pequim que administra o mecanismo de busca na Internet equivalente ao Google – que é proibido na China – anunciou em 7 de fevereiro que lançaria seu chatbot Ernie ainda este mês, depois de incorporar o bot em seu serviço de busca. Mas ainda não está claro o que Ernie será capaz de fazer.

O ChatGPT é construído em um grande modelo de linguagem treinado em uma grande quantidade de dados de linguagem. Ernie se baseou não apenas em dados chineses de internet e mídia social, mas também em informações em inglês que incluem Wikipedia e Reddit, ambos bloqueados na China.

Em uma enxurrada de anúncios após o burburinho do ChatGPT, o gigante do comércio eletrônico Alibaba e o titã multimídia Tencent também anunciaram rapidamente planos para seus próprios chatbots de IA. O Alibaba disse que está testando um serviço semelhante ao ChatGPT, enquanto seu instituto de pesquisa interno, Damo, está desenvolvendo seu próprio chatbot de IA.

A mídia chinesa informou recentemente que a Damo Academy solicitou uma patente para “diálogo homem-máquina e métodos, sistemas e dispositivos eletrônicos de treinamento de modelos de linguagem pré-treinados”, que podem melhorar a precisão das interações de perguntas e respostas.

Hao Peiqiang, um desenvolvedor independente baseado em Tianjin que dirigia uma empresa de mecanismos de busca na China, disse em seu canal no YouTube que esperava que o bot Ernie do Baidu ficasse muito atrás do ChatGPT.

“A resposta do Baidu ao ChatGPT pode viver bem dentro do Grande Firewall porque não precisa competir com contrapartes internacionais. Desde que consiga satisfazer as necessidades do mercado interno, ainda vai gerar dinheiro”, afirmou.

A Tencent montou uma equipe para desenvolver um chatbot chamado HunyuanAide. A empresa disse anteriormente que tem uma estratégia para pesquisa e tecnologia relacionada, que avançará “de maneira ordenada”.

“Assim como as empresas americanas, empresas chinesas como a Baidu vêm trabalhando no treinamento desses grandes modelos de linguagem há alguns anos”, disse Hanna Dohmen, de Georgetown. “Certamente há muitos dados aos quais a China tem acesso que são diferentes dos que o Ocidente tem acesso e isso é uma preocupação”, disse ela, referindo-se ao viés e à distorção que afeta os modelos de linguagem, incluindo o ChatGPT.

“O aumento da desinformação em escala é muito real com ferramentas generativas de IA se elas não forem regulamentadas adequadamente ou se as políticas corretas não estiverem em vigor”, alertou ela.

Mas na China os dados são vistos como uma vantagem. As empresas chinesas “têm dados massivos, provavelmente mais dados do que os Estados Unidos ou a Europa, e têm menos regulamentações sobre esses dados. Portanto, eles têm uma vantagem de dados ”, disse Caroline Wagner, professora da Ohio State University e especialista em tecnologia da China, ao University World News.

Controle e censura

Mas o controle e a censura são considerações adicionais importantes para os desenvolvedores chineses.

“A China está realmente tentando se antecipar às tecnologias emergentes e aos riscos que elas potencialmente representam para a ruptura política e social, que o governo chinês deseja controlar”, observou Dohmen.

A China já introduziu regulamentos de síntese profundos que entraram em vigor em 10 de janeiro. Os regulamentos incluem qualquer texto e áudio “gerados sinteticamente”, incluindo texto gerado por chatbots.

Uma de suas disposições afirma: “É proibido o conteúdo que vá contra as leis existentes, assim como o conteúdo que coloque em risco a segurança e os interesses nacionais, prejudique a imagem nacional ou perturbe oeconomia” – visto por muitos como um conjunto muito amplo de restrições.

“A China é o primeiro país do mundo a regulamentar de forma abrangente a tecnologia de síntese profunda, com controles tão amplos e abrangentes que ficam a critério do governo chinês”, disse Dohmen.

“Essa é uma preocupação fundamental porque permite que o governo chinês suprima qualquer conteúdo contrário aos interesses econômicos, políticos e de segurança nacional de Pequim.

“As empresas chinesas terão que cumprir esses regulamentos. E isso deixa muito arbítrio para o governo chinês, em termos do que considera aceitável, dentro dos limites de seu desejo de regular o conteúdo e seus esforços de censura”, disse Dohmen.

Mas ela acrescentou: “Restrições excessivas, regulamentação de conteúdo e censura podem impedir a comercialização e a inovação de tais tecnologias”.

Os reguladores já disseram às principais empresas de tecnologia chinesas para não oferecer serviços ChatGPT ao público em meio ao crescente alarme em Pequim sobre suas respostas sem censura às consultas dos usuários.

“As empresas de tecnologia precisam considerar as consequências políticas”, disse um especialista chinês em tecnologia em Pequim, falando sob condição de anonimato. “O problema com as tecnologias do tipo ChatGPT é sua imprevisibilidade”, disse ela.

“O aparato de segurança da China identificou e vigia dissidentes acadêmicos para impedi-los de falar, mas o ChatGPT não pode ser identificado e controlado dessa maneira. Vai precisar de um mecanismo de segurança totalmente novo”, acrescentou.

Os reguladores da China exigem que qualquer coisa postada online seja revisada com antecedência para garantir que não contenha tópicos e termos proibidos.

O Baidu possui um filtro abrangente para termos confidenciais. Mas um bot semelhante ao ChatGPT que gera conteúdo pode ser menos fácil de restringir sem moderação humana substancial, que existe atualmente.

O ChatYuan lançado por Xu Liang, desenvolvedor líder da Yuanyu Intelligence, uma start-up que lançou seu próprio chatbot de pequena escala no final de janeiro, foi suspenso apenas um dia depois, após circular respostas sobre a economia da China e a guerra russa na Ucrânia que eram contrárias à versões oficiais.

O esforço da China para desenvolver serviços semelhantes ao ChatGPT pode ser prejudicado pelos controles de exportação dos EUA que restringem o acesso da China a chips avançados necessários para impulsionar poderosos mecanismos de IA.

Controles de exportação podem atrapalhar o desenvolvimento

“Os EUA e o Ocidente podem ter uma vantagem de chips e tentar tirar vantagem disso por um curto período de tempo, enquanto a China tenta multiplas fontes ou construir seus próprios chips – mas será um longo caminho para eles construírem seus próprios, ” observou Caroline Wagner.

Esta é uma das razões pelas quais alguns especialistas em tecnologia da China – incluindo Zhang Yalin, fundador e diretor de operações de uma empresa iniciante de chips de IA Enflame Technology, com sede em Xangai – acreditam que uma ferramenta chinesa para rivalizar com o ChatGPT pode levar de três a cinco anos. ausente.

Até o ministro da Ciência e Tecnologia da China, Wang Zhigang, reconheceu que não seria fácil recuperar o atraso.

O ChatGPT tem vantagens na entrega de resultados em tempo real, o que é “muito difícil de conseguir”, disse Wang em conferência de imprensa no dia de abertura da sessão anual do Congresso Nacional Popular, a 5 de março.

A China fez muito planejamento e pesquisa nas áreas de processamento de linguagem natural e compreensão de linguagem natural ao longo dos anos e obteve algumas conquistas, de acordo com Wang. Mas para que a China alcance os resultados vistos pela OpenAI, o país precisa “esperar para ver”, disse.

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IBM vai suspender contratação para vagas que podem ser executadas por inteligência artificial

Serão afetadas funções administrativas não voltadas ao cliente. CEO prevê que 30% desses postos de trabalho poderão ser substituídos por automação em 5 anos, ou seja, seriam 7.800 empregos fechados

Por Bloomberg/O Globo – 02/05/2023 

O CEO da International Business Machines (IBM), Arvind Krishna, disse que a empresa pensa em interromper a contratação para cargos que acredita que poderiam ser substituídos por inteligência artificial nos próximos anos.

Segundo ele, a contratação em funções administrativas – como recursos humanos –, por exemplo, será suspensa ou retardada. Essas funções não voltadas para o cliente totalizam cerca de 26 mil trabalhadores, acrescentou Krishna:

– Eu poderia ver facilmente 30% disso sendo substituído por IA e automação em um período de cinco anos.

Isso significaria cerca de 7.800 empregos perdidos. Parte de qualquer redução incluiria a não substituição de funções desocupadas, informou um porta-voz da IBM.

Como as ferramentas de inteligência artificial capturaram a imaginação do público por sua capacidade de automatizar o atendimento ao cliente, escrever texto e gerar códigos, muitos observadores se preocuparam com seus impactos no mercado de trabalho.

O plano de Krishna marca uma das maiores estratégias de força de trabalho anunciadas em resposta ao rápido avanço da tecnologia.

Tarefas mais comuns, como fornecer cartas de verificação de emprego ou mover funcionários entre departamentos, provavelmente serão totalmente automatizadas, disse Krishna. Ele acrescentou que algumas funções de RH, como avaliar a composição e produtividade da força de trabalho, provavelmente não serão substituídas na próxima década.

Atualmente, a IBM emprega cerca de 260 mil trabalhadores e continua contratando para funções de desenvolvimento de software e atendimento ao cliente. A empresa anunciou cortes de empregos no início deste ano, que podem chegar a cerca de 5 mil trabalhadores, uma vez concluídos. Ainda assim, Krishna disse que a IBM aumentou sua força de trabalho em geral, contratando cerca de 7 mil pessoas no primeiro trimestre.

– Encontrar talentos é mais fácil hoje do que há um ano – admitiu Krishna.

Krishna, que é CEO da IBM desde 2020, trabalhou para focar a empresa centenária em software e serviços como nuvem híbrida. Ele se desfez de negócios de baixo crescimento, como a unidade de infraestrutura gerenciada Kyndryl e parte do negócio Watson Health. A empresa está atualmente considerando a venda de sua unidade meteorológica.

Sediada em Armonk, Nova York, a IBM superou as estimativas de lucro em seu trimestre mais recente devido ao gerenciamento de despesas, incluindo os cortes de empregos anunciados anteriormente. Espera-se que novas etapas de produtividade e eficiência gerem US$ 2 bilhões por ano em economia até o fim de 2024, disse o diretor financeiro James Kavanaugh no dia da apresentação do balanço da empresa.

Até o fim de 2022, Krishna disse acreditar que os EUA poderiam evitar uma recessão. Agora, ele vê o potencial para uma recessão “rasa e curta” no fim deste ano. Embora o forte portfólio de software da empresa, incluindo a Red Hat, unidade adquirida recentemente, deva ajudá-la a manter um crescimento estável, apesar do agravamento das preocupações macroeconômicas, escreveu Anurag Rana, da Bloomberg Intelligence, na semana passada.

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2023/05/ibm-vai-suspender-contratacao-para-vagas-que-podem-ser-executadas-por-inteligencia-artificial.ghtml

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