A saída da pandemia precisa de um ambiente de negócios favorável

por Evandro Milet

com alguns dados da matéria da revista Veja no link https://veja.abril.com.br/economia/por-que-as-exportacoes-da-industria-sofrem-mesmo-com-o-dolar-nas-alturas/

Mesmo com a forte desvalorização do real de 32,3% em relação ao dólar desde o começo do ano, passando de 4,02 reais em 2/1/2020 para 5,4 reais hoje, as exportações brasileiras caíram 7,2% de janeiro a maio em relação ao mesmo período do ano anterior. Os produtos manufaturados caíram 25% e os semimanufaturados caíram 7,5%.

A pandemia influenciou, mas não só. Dados do Iedi – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial mostram que a queda da participação da indústria nas exportações brasileiras vem ocorrendo desde 1993.

A instabilidade macroeconômica é um dos principais entraves. Desde 2014, a dívida pública brasileira vem crescendo em relação ao PIB, o que encarece o crédito e aumenta o risco país. Nesse contexto os investidores partem para países mais seguros e a modernização da indústria fica estagnada.

A insegurança normativa e jurídica também atrapalha o país e prejudica as exportações. A insegurança se dá por um fator cultural: a falta de confiança e cumprimento de acordos entre as partes aumentam a judicialização das relações. O sistema judiciário brasileiro também é complexo. Um estudo de 2018 do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação(IBPT) mostrou que desde a Constituição Federal de 1988, mais de 5,8 milhões de normas foram editadas, ou seja, 774 por dia útil. Sem uma jurisprudência única, as ações são passíveis às mais diferentes interpretações, conforme o entendimento de cada juiz. A instabilidade e a complexidade das decisões das agências regulatórias também tornam os ambientes de negócios complexos e de difícil entendimento.

A pesada e complicada carga tributária também prejudica a produtividade do país. O mesmo estudo do IBPT mostrou que em matéria tributária, foram mais de 1,92 normas editadas por hora em 30 anos. No período foram criadas 16 emendas constitucionais tributárias e novos impostos ou contribuições como CPMF, Cofins, Cide, Cip(ou Cosip), CSLL. E cada norma possui em média 3.000 palavras. A consequência é que muitas empresas que querem vender para o mercado brasileiro estão se instalando no Uruguai ou Paraguai.

A educação também é fator prejudicial. A mais recente edição do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de 2017, mostrou que 60,5% dos alunos saíram do ensino fundamental sem aprender o suficiente em português e 63,1% em matemática. 

Considerando ainda a baixa qualidade de estradas e a subutilização das hidrovias, o desafio para aumentar a competitividade brasileira é enorme.  

Não à toa, o País está em 124º lugar na lista de 190 países no índice de facilidade para fazer negócios do relatório “Doing Business 2020”, do Banco Mundial. No subitem pagamento de impostos o Brasil fica na 184ª posição, na abertura de empresas 138ª, na obtenção de alvarás de construção 170ª e no registro de propriedades 133ª.

O Brasil é de longe o campeão mundial no tempo gastos pelas empresas na preparação de documentos para o pagamento de impostos e contribuições: 1.958 horas ao ano, seis vezes a média de 332 horas registrada nos países da América Latina e Caribe, de acordo com o mesmo relatório do Banco Mundial.

É urgente a retomada da reforma tributária. A elevação prevista da dívida pública para próximo de 100% do PIB vai exigir um grande esforço para a retomada da economia. O aumento da produtividade é crucial e, para isso, é necessário um ambiente de negócios que facilite a vida dos empreendedores e atraia novos investimentos.

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Einstein, eclipse e a educação no interior do Ceará: exemplo para o Brasil

por Evandro Milet (publicado no jornal A Gazeta em 27/06/2020)

Em 29/5/1919, a população de Sobral, no Ceará, presenciou um eclipse total do Sol. Mas não um eclipse qualquer. O fenômeno, cujo melhor ângulo, no mundo, para sua observação seria ali, trouxe uma equipe de cientistas ingleses que comprovaram, pela primeira vez, a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, consolidando uma das maiores revoluções da história da ciência. 

Sobral, modestamente, propiciou que Einstein, até então pouco conhecido, ganhasse fama mundial. Ele comemorou comprando um violino novo(tinha preferência por tocar Mozart) e, compreendendo o impacto histórico de que as leis de sir Isaac Newton já não governavam todo o universo, escreveu: “Newton, perdoe-me”, registrando o momento.

Agora em que há uma nova ênfase na educação científica e matemática com a competição globalizada, devemos prestar atenção na sua opinião sobre a escola: “Comentários críticos de estudantes devem ser recebidos amigavelmente. A vantagem competitiva de uma sociedade não virá da eficiência com que a escola ensina multiplicação e tabela periódica, mas do modo como estimula a imaginação e a criatividade. A imaginação é mais importante que o conhecimento”.

Após 101 anos de um dos maiores momentos da ciência, com certa inspiração cósmica, Sobral desponta como o maior sucesso em resultados para educação no Brasil. Com 208 mil habitantes, a cidade ganhou projeção nacional pelo rápido crescimento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador de desempenho da educação brasileira. Em dez anos, a nota da cidade nos anos iniciais do ensino fundamental passou de 4,9 para 9,1, a mais alta de todo o Brasil.

Os resultados motivaram outros 18 estados(inclusive o Espírito Santo), apoiados pela ONG Todos Pela Educação, nesse modelo fortemente estruturado na alfabetização na idade certa, na valorização do profissional da educação, na gestão eficiente da escola(diretores são escolhidos por mérito, sem indicação política ou eleição) e na formação continuada dos professores. O Ceará criou inclusive um sistema inédito de distribuir parte do ICMS de acordo com os indicadores de educação dos municípios.

O sucesso demonstrou, na prática, que poucos recursos não é desculpa para educação ruim. Uma boa gestão, com persistência, faz uma enorme diferença. Einstein certamente aplaudiria.

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Perigos digitais – nem tudo é positivo no mundo digital

por Evandro Milet

Quando o Google fez um acordo com o jornal New York Post para publicar anúncios laterais, associados às matérias publicadas, não imaginou a trapalhada que poderia acontecer. Ao lado de uma reportagem sobre um assassino que esquartejava as vítimas e colocava os pedaços em sacos de lixo apareceu uma propaganda de … sacos de lixo. O algoritmo sem noção teve de ser trocado rapidamente.

Grandes empresas anunciantes no YouTube ou redes sociais já retiraram seus anúncios porque foram colocados ao lado de vídeos terroristas ou racistas ou fake news, comprometendo sua imagem.

O mundo digital promete maravilhas para a humanidade em saúde, mobilidade, entretenimento, informação, produtividade, segurança e conforto, mas nos prepara também algumas armadilhas. Carros sem motorista podem aumentar a nossa segurança nas estradas, considerando que não bebem, não dormem, não se distraem e nem falam ao celular dirigindo. Mas podem ser sequestrados por um hacker e nos levar para longe, com pedidos de resgate. Clonagem dos nossos números de WhatsApp para pedir dinheiro para nossos amigos virou rotina. 

Algoritmos sofisticados podem não apenas reconhecer nossos rostos mas também perceber as nossas emoções e aproveitar para nos empurrar produtos para os quais estamos vulneráveis emocionalmente. Podem saber tudo que compramos, todos os nossos roteiros, as consultas e diagnósticos médicos, as nossas consultas no Google, as postagens no Facebook e Instagram. Empregadores usam frequentemente as informações pessoais de candidatos levantadas na rede. Postagens comprometedoras de anos atrás podem custar um emprego. 

Estas são as tais informações não estruturadas que o big data analytics vai processar. Até as nossas escolhas em eleições podem ser manipuladas, não pelas urnas eletrônicas, mas pelos algoritmos que nos induzem escolhas. Estão não só adivinhando como também influenciando os nossos próximos passos. Perigo!

Logo depois da Maratona de Boston em 2013, quando, em um atentado, explodiu uma bomba preparada em uma panela de pressão colocada em uma mochila, uma casa de família foi cercada pela polícia. O que tinha acontecido? Por acaso o marido fez uma consulta no Google sobre mochilas no mesmo dia que a mulher consultara sobre panelas de pressão. A polícia juntou as pontas, o que significa que têm acesso a tudo.

A diretora de comunicação de uma empresa inglesa partindo de Londres para a África do Sul postou no Twitter: “Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca!”. Durante o voo, o comentário racista se espalhou e ela chegou ao destino demitida. Postagens na rede são definitivas e podem acabar com carreiras ou impedir o início delas.

Os assistentes pessoais como o Siri da Apple estão ficando cada vez mais inteligentes e podem responder qualquer pergunta com razoável articulação. Bom, talvez não todas. Um amigo, em um dia nervoso, mandou o Siri para aquele lugar. Essa não é uma palavra bonita, respondeu a geringonça, educadamente.

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Coronavírus expõe avanço extraordinário da medicina da China

Criticada, com razão, por tratar o novo coronavírus como problema menor e demorar a tomar providências para contê-lo, a China, quando enfim resolveu agir, causou espanto pela eficiência com que montou hospitais da noite para o dia, fechou totalmente cidades inteiras e dividiu draconianamente a população entre infectados e sãos.

Menos evidentes, mas até mais impactantes, foram as inovações na medicina que fizeram sua estreia para o público em geral no combate à pandemia – muitas delas ancoradas na robótica em rede 5G, que ainda engatinha no resto do mundo, mas já é amplamente usada na China.

Enquanto o vírus se espalhava, impressoras 3D foram ativamente utilizadas na construção de unidades de atendimento e robôs eram vistos cruzando avenidas para reabastecer os postos com material hospitalar.

Nas UTIs, pacientes graves eram conectados à “membrana de respiração extracorpórea”, aparelho com ares de ficção científica que aspira o sangue e o oxigena antes de devolvê-lo ao corpo quando os pulmões estão falhando. Agora, com o relaxamento das restrições, vê-se nas ruas robôs capazes de escanear a temperatura de até trinta pessoas ao mesmo tempo.

Em pontos de aglomeração, como metrôs, câmeras de extrema sensibilidade, capazes de detectar a temperatura corporal num raio de 30 metros, varrem a multidão.

Tudo isso faz parte de um tremendo esforço do governo chinês para passar à frente de todos – Estados Unidos, principalmente – na área científica em geral, uma estratégia que tem tido efeito de contágio pandêmico no setor de saúde.

Segundo levantamento realizado pelo Peterson Institute for International Economics, de Washington, no mundo, hoje, metade dos óculos cirúrgicos e 60% dos artigos de proteção individual, máscaras e respiradores vêm da China(no Brasil são 70%).

Dois em cada três centros médicos americanos usam produtos da Mindray, maior empresa de tecnologia hospitalar chinesa.

“ A transformação. da qual só agora o planeta se dá conta, é resultado de investimentos pesados desde metade dos anos 2000, que incluíram a contratação de profissionais de ponta na Europa e Estados Unidos” , diz Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China e x-embaixador brasileiro em Pequim.

Não é de hoje que China e medicina caminham entrelaçados. A habilidade chinesa de curar com infusões de ingredientes exóticos tem 2000 anos de história e segue vívida e poderosa no país, onde enche os olhos entrar em uma farmácia com sua infinidade de pequenas gavetas e mostruário de exóticas substâncias perfeitamente arrumadas.

Mas a difusão do 5G, rede de internet de altíssima velocidade com 126.000 torres instaladas no pa´s, alçou a capacidade tecnológica da China no setor médico a um patamar acima do resto do mundo.

Em 2019, um cirurgião realizou a primeira operação remota de cérebro utilizando a rede, ele na cidade de Sanya, a 3000 quilômetros de seu paciente, em Pequim. Outra equipe, da capital, realizou três cirurgias ortopédicas simultâneas em cidades diferentes.

É também o 5G que permite o controle remoto dos robôs que esterilizam hospitais irradiando luz ultravioleta, um dos pilares dos baixos índices de infecção que a China exibe atualmente.

A revolução na medicina faz parte do programa Made in China, idealizado pelo governo do primeiro-ministro Xi Jinping com objetivo de alcançar até 2015 a liderança em setores de alta qualificação, como robótica, nanociência e aviação.

Para chegar lá, a china investe 2,5% d PIB,ou 500 bilhões de dólares, por ano em pesquisa, quase alcançando o maior investidor, Estados Unidos, com 550 bilhões.

Em cinco anos, 7000 cientistas foram “importados” de outros países, com remuneração que passa dos 160.000 dólares por ano e todas as despesas pagas. No mesmo período, 370.000 estudantes chineses receberam incentivos especiais para ingressar em universidades americanas e, depois de formados, aplicar o que aprenderam na China.

 No ano passado, a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, órgão ligado à ONU, anunciou que a China passou pela primeira vez os Estados Unidos em número de patentes – 58.900 contra 57.800. Gigante das telecomunicações, a Huawei é a maior patenteadora corporativa do mundo há três anos seguidos.

Os chineses também são recordistas em publicação de artigos científicos, com 20% do total, ficando os americanos com 16%. A saber: na corrida pelo primeiro lugar, a ciência privilegia a quantidade sobre a qualidade, patenteando e publicando invenções efetivamente inovadoras ao lado de espécimes da conhecida linha de baixa qualidade que tornou o país famoso. Nem tudo que brilha é ouro no Império do Meio.

https://veja.abril.com.br/mundo/coronavirus-expoe-avanco-extraordinario-da-medicina-da-china

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A pandemia criou a Economia Descompartilhada

por Evandro Milet

O conceito de economia compartilhada original sofreu transformações, pelas distorções que o mercado foi criando, por plataformas que mudaram a ideia original de aproveitamento de capacidade excedente. Ideias iniciais de compartilhamento de caronas ou assentos vagos em automóveis viraram grandes negócios concorrentes de táxis, com algumas ótimas vantagens como serviço avaliado pelo cliente e consequentemente com melhor qualidade, facilidade de pagamento e disponibilidade rápida por aplicativo. 

Mas foram além. Vários concorrentes surgiram e a novidade criou até novos hábitos, com muita gente desistindo de comprar carros para andar de aplicativo, inclusive pelas penalidades da nova lei seca. Até especulações urbanísticas surgiram com a possibilidade de redução do número de veículos circulando e vagas de estacionamento e o sonho de ampliação de ciclovias.

Da mesma maneira, as plataformas de aproveitamento de quartos, casas e apartamentos ociosos viraram um negócio que compete com hotéis com enorme sucesso. Para isso se transformaram em facilidade mundial de aluguel por temporada, com inúmeras opções e imagens dos ambientes, confiabilidade, avaliação dos usuários e a possibilidade de realizar o sonho de todo turista de desfrutar o novo ambiente como um habitante local.

Mas também foram além. Imobiliárias e pessoas físicas enxergaram nova forma de investimento, adquirindo imóveis e colocando na plataforma para renda. O Airbnb tem 7 milhões de imóveis no mundo, mais do que as dez maiores cadeias de hotel combinadas, que têm 5,48 milhões de apartamentos.

De repente, a pandemia mudou as tendências até segunda ordem. As pessoas sumiram das ruas e não usam nem automóveis próprios e nem aplicativos. Os turistas a passeio ou a negócio também sumiram de hotéis e de plataformas. E unicórnios como Uber e AirbnB perderam a maior parte do valor. Proprietários de imóveis correm para o aluguel tradicional por períodos longos, fugindo da temporada. Agora que muitos países começam a se liberar de lockdowns rigorosos como fica o negócio dessas plataformas? 

Surge um novo problema: a desconfiança com a higienização de ambientes. Você não sabe quem usou aquele automóvel ou aquele imóvel antes de você. Não sabe se a limpeza foi feita com o rigoroso cuidado devido. O medo de contágio está fazendo voltar os velhos hábitos de querer o seu carro próprio até para fugir de transportes públicos, para praticar a nova tendência do turismo em locais próximos que dispensem aviões ou mesmo para se mudar para regiões com menor aglomeração e vida mais saudável, medida facilitada pela explosão do home office. Também o uso generalizado de plataformas de reuniões remotas está criando o hábito de prescindir de muitas viagens de trabalho.

Pesquisa realizada pelo instituto Capgemini com 11.000 pessoas em 11 países constatou que 35% dos entrevistados consideram comprar um veículo ainda neste ano. Na China, onde o novo coronavírus surgiu, o índice é ainda maior: 61%. Na Índia, 57% pretendem adquirir um automóvel e na Itália, 43%. O instituto constatou que 75% dos que pretendem comprar carro este ano tomaram a decisão para ter melhor controle sobre a higiene.

Entre os dados da pesquisa que mais chamam a atenção está o alto interesse dos jovens pelo carro próprio, o que é uma reversão histórica. Dos entrevistados com idade entre 18 e 24 anos que manifestaram intenção em comprar um automóvel, 85% pretendem comprar um carro pela primeira vez. Estranhamente, as pessoas que não queriam ter, mas apenas acessar bens, voltam a querer ter as suas coisas, com medo de compartilhar.

Como os aplicativos citados, também outros modelos de negócio que usam algum compartilhamento físico sofrem com a desconfiança da higienização ou com o home office, como os coworkings, aluguéis de escritórios compartilhados, as estações de bikes, restaurantes self-service e até varejo de roupas com seus provadores.

Ninguém sabe ainda o que acontecerá com isso tudo depois que uma vacina eficaz finalmente tranquilizar as pessoas. Voltará tudo ao que era? Certamente que não.

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Países onde todos usavam máscaras viram taxas de mortalidade COVID 100 vezes mais baixas do que o projetado

Agora que existem dados globais sobre onde a COVID está se espalhando, os cientistas podem ver os vários fatores que ajudam a atenuar sua propagação. O mais simples e mais eficaz: máscaras.

Revista Fast Company

Por Adele Peters

Quando a COVID-19 começou a se espalhar da China para outros países no final de janeiro, parecia que a Tailândia – um destino popular para turistas chineses, incluindo milhares que haviam viajado de Wuhan naquele mês – poderia ser atingida com força. Porém, no início de junho, o país teve pouco mais de 3.000 casos confirmados e 58 mortes. Nos EUA, a taxa de mortalidade per capita é mais de 450 vezes maior. 

Vários fatores provavelmente retardaram a propagação do vírus na Tailândia, incluindo lockdowns parciais, rastreamento de contatos e voluntários de saúde comunitária que ajudaram a rastrear a doença em todo o país. Mas um fator aparentemente importante foi o uso de máscaras, que se tornaram predominantes lá, mesmo quando a Organização Mundial da Saúde estava dizendo que elas não eram necessárias (a OMS, desde então, mudou a posição). Mesmo agora, com apenas alguns casos novos sendo relatados, 95% dos residentes da Tailândia relatam usar máscaras quando estão em público. 

Um novo estudo que analisou dados globais descobriu que os países que exigiram máscaras no início do surto, ou onde as pessoas as adotaram rapidamente, como na Tailândia, tiveram taxas de mortalidade 100 vezes mais baixas do que o projetado. "Examinamos os dados de 198 países em todo o mundo e a mortalidade por coronavírus, diz o principal autor Christopher Leffler, médico e professor da Virginia Commonwealth University. O que descobrimos é que os países que introduziram máscaras rapidamente – ou seja, antes do surto ter uma chance muito grande de se espalhar pelo país – tinham uma mortalidade muito menor. 

O estudo, que ainda não foi revisado por pares, descobriu que alguns fatores, incluindo as taxas locais de tabagismo e obesidade, urbanização, populações mais velhas e temperaturas médias mais baixas, estavam associados a mais mortes por COVID. Restrições a viagens internacionais foram associadas a menos mortes. E o uso de máscaras teve um impacto muito claro. Os países com uso generalizado de máscaras viram as taxas de mortalidade crescerem 8% por semana, em média, contra 54% em outros países. É algo que não poderia ter sido facilmente estudado no passado, já que a comparação tinha que olhar para países inteiros e aguardar o progresso da pandemia. 

Se você realmente quer conhecer todos os benefícios, precisa olhar para toda uma população, diz Leffler. “Se eu uso uma máscara, ela protege você. Se você usa uma máscara, ela me protege. Portanto, nos países que usam 95% ou mais das pessoas usam uma máscara, os outros 5% ainda recebem benefícios, porque estavam em um país onde o vírus simplesmente não podia se espalhar. 

Muitos países começaram rapidamente o uso difundido de máscaras faciais, incluindo Taiwan, que pesquisadores de John Hopkins previram em janeiro como o país mais atingido no mundo depois da China (até agora, Taiwan sofreu sete mortes em uma população de 23,78 milhões de habitantes). ) Serra Leoa adotou rapidamente máscaras. O mesmo aconteceu com Zâmbia, Venezuela, Eslováquia e outros ao redor do mundo. Mas outros países, incluindo os EUA, adotaram máscaras muito mais lentamente. 

Em abril, o CDC recomendou que os americanos usassem máscaras de pano em público, depois que o governo havia desencorajado os americanos de usarem máscaras. Espera-se que a agência emita novas orientações em breve. Mas muitos americanos ainda resistem a usá-los. Leffler acha que isso pode mudar. Eu acho que você pode ver a maré virando, e você pode ver cada vez mais aceitação na comunidade científica do benefício das máscaras, diz ele. “E acho que isso também vai filtrar para o público. . . Só posso ver isso se movendo em uma direção, e isso é a favor de uma maior aceitação das máscaras. 

As máscaras não precisam ser de nível médico para ajudar. Enquanto Taiwan, um fabricante de máscaras, fornecia aos cidadãos as máscaras da mais alta qualidade, outros países que confiavam nas máscaras de pano também viam benefícios quando o uso da máscara era generalizado. Se você é médico e cuida de um paciente com COVID, precisa de equipamentos de proteção individual que estejam quase perfeitos, porque precisam trabalhar perto de 100% para protegê-lo, diz Leffler. Mas se você falar sobre o que as pessoas precisam na rua, mesmo que seja uma máscara que bloqueou apenas metade das transmissões, isso terá um efeito enorme. Se você passar 10 gerações através da propagação da infecção, 2 elevado a 10 é 1.024. Portanto, mesmo que bloqueie apenas metade das transmissões, bloqueará quase toda a propagação do vírus à medida que você avança no tempo. 

SOBRE A AUTORA

Adele Peters é escritora da Fast Company que se concentra em soluções para alguns dos maiores problemas do mundo, das mudanças climáticas aos sem teto. Anteriormente, ela trabalhou com o GOOD, BioLite e o programa Produtos e Soluções Sustentáveis da Universidade da California Berkeley, e contribuiu para a segunda edição do livro best-seller Worldchanging: Um Guia do Usuário para o século XXI.

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O Brasil é empreendedor desde sempre

por Evandro Milet

Em “História da Riqueza no Brasil”, Jorge Caldeira subverte grande parte da nossa história, desde as noções básicas até a argumentação usada nas obras de Caio Prado, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre.

Caldeira inovou ao utilizar a econometria, possível agora com a informatização de dados antes dispersos em arquivos em papel, como os de vários censos realizados no país. Os números mostraram um Brasil diferente do que conhecíamos. A noção de que o Brasil colônia dependia da exportação de açúcar e no interior predominava a economia de subsistência cai por terra com os novos números. 

Havia no interior uma economia pujante, correndo fora dos registros oficiais e, portanto, do pagamento de impostos, capaz de gerar excedentes e permitir a acumulação de riqueza. Por esse motivo a economia colonial era, no final do século XVIII, muito maior que a de Portugal. O empreendedorismo é característica marcante na história do povo brasileiro, não só no interior, mas até com os indígenas. 

Ao longo de toda a costa, os tupi-guarani foram parceiros, inicialmente trocando pau-brasil, valiosíssimo na Europa, por instrumentos de ferro que os indígenas não conheciam. A derrubada de uma árvore podia demorar um décimo do tempo com as novas ferramentas. Essa relação foi ampliada pelo costume dos tupis, onde os filhos saiam para se casar com mulheres fora da taba e as mulheres permaneciam, atraindo parceiros de fora, o que provocou grande número de casamentos de índias com portugueses e selou uma parceria que durou muito tempo.

Em vários trechos, o livro ajuda a compor o quadro do porquê da diferença de desenvolvimento entre o Brasil e Estados Unidos, considerando que, em 1800, os dois países se equivaliam em população e tamanho da economia. Uma das causas foi o analfabetismo resolvido lá e aqui não durante o século XIX. 

Outras causas foram a ausência de universidades( a USP foi a primeira, apenas em 1933) e tipografia no país, onde não circulavam livros, até a vinda da família real em 1808. E por fim a estagnação da economia durante o império, com a manutenção da escravidão e os entraves ao desenvolvimento do capitalismo. A renda per capita passou de 670 dólares em 1820 para 704 em 1890, mostrando claramente uma estagnação. Nos EUA, a renda per capita quase que triplicou entre 1820 e 1890 passando de 1,3 mil para 4 mil dólares.

O país ficou sufocado pelo peso do governo nas relações do mercado. 

Isso fica evidente nas primeiras medidas da República, liberando a economia e provocando um crescimento espetacular do país. Em São Paulo, o número de bancos saltou de 5 para 22 entre 1889 e 1890. As indústrias organizadas em sociedades anônimas saltaram de 4 para 64 em 1890, e em 1891 já eram 210. A indústria têxtil passou de 79 mil fusos instalados em 1883 para 280 mil em 1898. 

A tendência de crescimento se consolidou a partir daí, apesar de crises cíclicas. Em 1907 havia 3,25 fábricas no país, em 1920 eram 13,3 mil. Em 1890 havia 9,9 mil quilômetros de linhas férreas, em 1930 atingiram 32 mil quilômetros. A partir daí, a ênfase foi toda para o modal rodoviário, ao ponto de chegarmos hoje com apenas 28,2 mil quilômetros de ferrovias( dos quais 8,6 mil não estão em uso), menos do que em 1930, e uma distorção enorme na logística de pessoas e cargas no país.

Até 1973, o país era a economia que mais crescera no mundo nas oito décadas anteriores. Depois disso o peso do Estado, dívidas crescentes, inflação, carga tributária e excesso de burocracia nos fazem marcar passo. 

Mas mantemos sempre a esperança de uma retomada rumo a um país civilizado e desenvolvido.

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Presidente do Itaú: crise ambiental será mais severa do que a pandemia

Presidente do maior banco do País defende que o combate às mudanças climáticas seja um dos pilares da retomada. E que as empresas repensem seu propósito. Saiba mais sobre ODS e ESG.

Por Rodrigo Caetano – Publicado em: 22/06/2020  

Para Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco, essa é a hora para o governo aumentar os gastos, mas com responsabilidade. A pandemia do coronavírus impõe uma nova maneira de pensar a economia. Diante da severidade da crise, não basta fazer: é preciso pensar em como fazer. “Atuar de forma ética e com responsabilidade social e ambiental passou a ser fundamental”, diz Bracher. “Afinal, o Brasil é a nossa casa, e é natural que a gente faça a nossa parte para mantê-la em ordem”.

O maior risco está na próxima crise. Ocasionada pelas mudanças climáticas, ela não respeitará barreiras geográficas ou políticas, assim como a do coronavírus, mas será mais intensa e duradoura. Cabe à sociedade, incluindo as empresas, e também aos governos, trabalharem para evitá-la.  

“Só no ano passado, os focos de queimadas cresceram 30%, segundo o INPE”, afirma Bracher. “Esse é um problema no qual o papel do governo é fundamental, pois cabe a ele coibir o avanço das queimadas ilegais na região”.

Para o Itaú, esse repensar da economia e do papel das empresas se materializou em um grande esforço filantrópico, superior a 1 bilhão de reais. Entretanto, não será dessa vez que a filantropia passará a ser encarada como um elemento estratégico para o desenvolvimento, e não uma forma de caridade. “Eu gostaria de acreditar que sim, mas, sendo bastante pragmático, acho que ainda não veremos isso acontecer de forma estruturada”, afirma.   

Por e-mail, Bracher conversou com a Exame. Confira trechos da entrevista:

P – O setor financeiro e os governos devem incluir o combate às mudanças climáticas como um dos pilares para a retomada econômica pós-pandemia?

Não tenho dúvidas de que devem. Crises como a causada pela covid-19 e os impactos das mudanças climáticas não respeitam barreiras geográficas ou políticas e evidenciam desigualdades e vulnerabilidades sociais. Os danos causados pelas mudanças climáticas podem até ser mais lentos, mas certamente são mais duradouros do que os da pandemia que estamos vivendo. Paralelamente à pandemia, estamos assistindo ao crescimento dos incêndios na Amazônia. Só no ano passado, os focos de queimadas cresceram 30%, segundo o INPE. Esse é um problema no qual o papel do governo é fundamental, pois cabe a ele coibir o avanço das queimadas ilegais na região. 

P – No setor financeiro, o tema que ganha cada vez mais relevância é o do ESG* (meio ambiente, social e governança). Quando começaremos a ver a sustentabilidade e as questões climáticas realmente afetarem a precificação de ativos?

Os preços dos ativos, como os preços de qualquer bem da economia, são determinados pela relação entre oferta e procura. Cabe aos investidores exercer essa avaliação da importância do ESG para um ativo, demandando mais aqueles que são aderentes ao ESG e menos aqueles que não são. É isso que fará a diferença. Para nós, a avaliação ESG já é realidade, especialmente nos negócios do banco de atacado e no mundo de investimentos. 

Outras iniciativas nossas incluem o compromisso público de estimular setores de impacto positivo, como energia renovável, saúde e educação. Também temos oferecido ativos novos, como os green bonds, por meio dos quais as empresas captam recursos e garantem sua aplicação em projetos que tenham impacto positivo comprovado. No exterior, isso está mais avançado do que no Brasil. 

P – Atualmente, o Brasil atinge apenas 1 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável* (ODS) da ONU. Como acelerar essa agenda? Falta engajamento do governo ou das empresas?

É importante uma tomada de consciência da sociedade em relação a isso para cobrar do governo e das empresas uma atuação mais efetiva. Nós, aqui no Itaú Unibanco, lançamos 8 compromissos de impacto positivo em 2019, que cobrem 10 ODS em que o banco tem maior potencial de impacto. Temos metas para cada um desses compromissos, que acompanhamos de perto.

Entrevista completa: https://exame.com/negocios/bracher-itau-crise-ambiental-severa-pandemia/

*Veja a seguir a lista dos 17 ODS(Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU e uma descrição do significado de ESG:

Objetivo 1: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares

Objetivo 2: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável

Objetivo 3: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades

Objetivo 4: Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos

Objetivo 5: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas

Objetivo 6: Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos.

Objetivo 7: Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos

.

Objetivo 8: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos

Objetivo 9: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação

Objetivo 10: Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles

Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis

Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos 

Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável

Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade

Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis

Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável

*ESG

ESG é um termo cada vez mais usado no mundo dos investimentos para representar fatores ambientais, sociais e de governança (environmental, social and governance em inglês). Esses fatores estão sendo cada vez mais utilizados como critérios de análise que vão além de questões econômico-financeiras. Na prática, a análise de um investimento inclui, além de risco e retorno, a avaliação do impacto que ele causa na sociedade.

Os investimentos que levam em consideração fatores ESG se preocupam principalmente com os seguintes pontos:

Ambientais

  • Mudança climática e emissão de carbono
  • Uso de recursos naturais
  • Poluição e resíduos

Sociais

  • Saúde, segurança, diversidade e treinamento de colaboradores
  • Responsabilidade com o consumidor
  • Relação com a comunidade
  • Atividades beneficentes

Governança

  • Direitos dos acionistas
  • Composição do Conselho de Administração (independência e diversidade)
  • Política de remuneração da diretoria
  • Fraudes

Ambiental, Social e Governança refere-se aos três fatores centrais na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em uma empresa ou negócio. Esses critérios ajudam a determinar melhor o desempenho financeiro futuro das empresas. 

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Como inovar para resolver o desemprego?

(*) Paulo Milet 

Kai-Fu-Lee, no seu excelente livro Inteligência Artificial (IA), lançado em 2018, isto é, bem antes do “lançamento” do coronavírus, preocupado com o possível desemprego causado pelo avanço da IA, propõe a adoção das medidas que ele chamou de “Os três Rs: Reciclar (o conhecimento das pessoas), Reduzir (a carga de trabalho) e Redistribuir (a renda)”, ao longo dos próximos anos.

 Inteligentemente, Lee não considera a idéia fechada. Antes pelo contrário, ele diz claramente que essas três possibilidades devem ser bem pensadas e devem incorporar “comos” e ideias do maior número de pessoas. Eu, pessoalmente, acredito que esses três verbos são totalmente aplicáveis quase que de imediato, em paralelo ou assim que a crise entrar na sua fase descendente (algumas semanas? meses?). 

RECICLAR: Atualização de conhecimentos. As novas funções, atividades e profissões não estão sendo cobertas pelas entidades educacionais convencionais. O conceito de Life Long Learning (aprendizagem ao longo de toda a vida) precisa ser imediatamente considerado e priorizadas essas novas funções e profissões. Além dos novos conhecimentos, recuperar os que evadiram (dropout recovery) do ensino convencional e disponibilizar para esses, de modo online e gratuito, todas as trilhas de conhecimento necessárias para fechar seus ciclos nos ensinos fundamental e médio (São mais de 50.000.000 os que abandonaram os estudos nesses níveis). 

REDUZIR: A redução de carga de trabalho normalmente não aparece entre as soluções possíveis para o desemprego, mas a matemática torna isso óbvio. Simplificadamente, se 100 milhões querem trabalhar e 10% não conseguem, se reduzirmos a carga de trabalho na mesma proporção, o trabalho ocupará toda a PEA. Claro que isso teria que ser sincronizado com o R anterior (Reciclagem). Estamos acostumados com uma jornada de trabalho de 40/44h por semana, ou 8h por dia, como se isso fosse uma lei universal com uma lógica imutável. Nada mais enganoso. Vários países no mundo adotam cargas diferenciadas, por exemplo: Holanda, Dinamarca, Alemanha e França ficam no limite de 35h. E de onde veio essa carga? É relativamente recente. Basicamente vem do início do século XX, como uma correção nas cargas abusivas da revolução industrial. Em 1919 a OIT definiu 48h e em 1935 corrigiu para 40h. 

Ora, se estamos no limiar de uma nova revolução, porque não ousar nesses campos? Podemos buscar inspiração não no futuro, mas no passado, mais precisamente na Ilha de Utopia descrita em 1516 por Thomas Morus: ” Se todos trabalharem, a carga horária diminui para todos. Havendo seis horas apenas para trabalhar, esse tempo é suficiente para produzir bens abundantes que bastem para as necessidades e que cheguem não apenas para remediar, mas até sobrem.” “Nesta ilha dividem-se o dia e a noite em 24h exatas e destinam-se ao trabalho apenas 6 horas com intervalo para refeição e seguida de ceia. As 8 da noite vão para a cama, dando 8 horas de sono. O tempo livre entre o trabalho, as refeições e o sono é ocupado livremente por cada indivíduo, como melhor entender.” E Porque não? Seria utópico? (Com o perdão do trocadilho). 

REDISTRIBUIR: Redistribuição da riqueza. Essa discussão vem de muito tempo e defende que cada trabalhador tenha uma Renda Universal Básica, com ou sem contrapartida de trabalho. A argumentação é social e defende que todo ser humano deve ter suas necessidades básicas atendidas. Nesse campo, vimos uma decisão corajosa ser aprovada em questão de dias no Brasil, com uma renda de R$ 600,00 por pessoa com renda abaixo de determinado piso. O Bolsa família já era uma tentativa nessa direção. E de onde viria inicialmente o dinheiro para esses desembolsos? Vou me socorrer com André Lara Resende, que, no seu livro Consenso e Contrassenso, recupera a MMT, sigla em inglês para a Moderna Teoria Monetária, permitindo a emissão para financiar gastos sociais, respaldado pelo que aconteceu na crise de 2008 e com o controle de juros e eu completo aqui com a crise do coronavírus em maior escala. 

Atravessando e completando essa discussão, precisaríamos ter uma maneira de “formalizar” o trabalho, de modo que esse não estivesse em desvantagem em relação ao emprego formal, criando em paralelo o conceito de destrabalho (ver José Roberto Affonso) além de desemprego. Com um pouco de boa vontade e uma dose adicional de inteligência por parte dos governos, parlamento e empresas, certamente seria possível definir um plano com um horizonte de, vamos dizer, 10 anos, para que essas medidas estejam total e progressivamente implantadas, claro que em paralelo com ações fundamentais na saúde, habitação, saneamento e mobilidade. 

(*) Paulo Milet é consultor e empresário em EaD, Universidades corporativas e Gestão (pmilet@eschola.com) http://www.eaducam.com.br/ Twitter @miletpaulo e @pmilet Linkedin paulo milet

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Davos 2020: Propósito de empresas na 4ª Revolução Industrial – Capitalismo de stakeholders

Por que precisamos do ‘Manifesto de Davos’ para um melhor modelo de capitalismo?

por Klaus Schwab – Fundador e Presidente Executivo, Fórum Econômico Mundial

Que tipo de capitalismo queremos? Essa pode ser a questão definidora da nossa época. Se queremos sustentar nosso sistema econômico para as gerações futuras, devemos respondê-la corretamente.

De um modo geral, temos três modelos para escolher. O primeiro é o capitalismo do acionista, adotado pela maioria das empresas ocidentais, que sustenta que o objetivo principal de uma empresa deve ser maximizar seus lucros. O segundo modelo é o “capitalismo de estado”, que confia ao governo o direcionamento da economia e ganhou destaque em muitos mercados emergentes, principalmente na China. 

Mas, comparada a essas duas opções, a terceira recomenda mais. O capitalismo de stakeholders(partes interessadas), um modelo que propus há meio século, posiciona as empresas privadas como administradores da sociedade e é claramente a melhor resposta aos desafios sociais e ambientais de hoje.

O capitalismo do acionista, atualmente o modelo dominante, ganhou terreno nos Estados Unidos nos anos 1970 e expandiu sua influência globalmente nas décadas seguintes. Sua ascensão não foi sem mérito. Durante seu auge, centenas de milhões de pessoas em todo o mundo prosperaram, enquanto empresas com fins lucrativos abriram novos mercados e criaram novos empregos. 

Mas essa não foi a história toda. Os defensores do capitalismo dos acionistas, incluindo Milton Friedman e a Escola de Chicago, negligenciaram o fato de que uma empresa de capital aberto não é apenas uma entidade com fins lucrativos, mas também um organismo social. Juntamente com as pressões do setor financeiro para turbinar os resultados de curto prazo, o foco exclusivo nos lucros fez com que o capitalismo dos acionistas se tornasse cada vez mais desconectado da economia real. Muitos percebem que essa forma de capitalismo não é mais sustentável. A questão é: por que as atitudes começaram a mudar apenas agora?

Se tiver interesse, leia a seguir a íntegra do Manifesto

Manifesto de Davos 2020: O Propósito Universal de uma Empresa na Quarta Revolução Industrial

A. O propósito de uma empresa é envolver todas os seus stakeholders na criação de valor compartilhado e sustentado. Ao criar esse valor, uma empresa atende não apenas seus acionistas, mas todas as partes interessadas – funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais e a sociedade em geral. A melhor maneira de entender e harmonizar os interesses divergentes de todas as partes interessadas é através de um compromisso compartilhado com políticas e decisões que fortaleçam a prosperidade a longo prazo de uma empresa.

i. Uma empresa atende a seus clientes fornecendo uma proposta de valor que melhor atenda às suas necessidades. Aceita e apoia uma concorrência leal e condições equitativas. Tem tolerância zero à corrupção. Mantém o ecossistema digital em que opera, confiável e que merece confiança. Mantém os clientes totalmente informados da funcionalidade de seus produtos e serviços, incluindo implicações adversas ou externalidades negativas.

ii. Uma empresa trata seus funcionários com dignidade e respeito. Honra a diversidade e busca melhorias contínuas nas condições de trabalho e no bem-estar dos funcionários. Em um mundo de rápidas mudanças, uma empresa promove a empregabilidade contínua por meio de permanentes aprimoramento e capacitação.

iii. Uma empresa considera seus fornecedores como verdadeiros parceiros na criação de valor. Oferece uma oportunidade justa aos novos participantes no mercado. Integra o respeito pelos direitos humanos em toda a cadeia de suprimentos.

iv. Uma empresa atende a sociedade em geral por meio de suas atividades, apoia as comunidades onde trabalha e paga sua parcela justa de impostos. Garante o uso seguro, ético e eficiente dos dados. Atua como um administrador do universo ambiental e material das gerações futuras. Protege conscientemente nossa biosfera e defende uma economia circular, compartilhada e regenerativa. Expande continuamente as fronteiras do conhecimento, da inovação e da tecnologia para melhorar o bem-estar das pessoas.

v. Uma empresa fornece a seus acionistas um retorno sobre o investimento que leva em consideração os riscos empresariais incorridos e a necessidade de inovação contínua e investimentos sustentados. Gerencia com responsabilidade a criação de valor a curto, médio e longo prazo, buscando retornos sustentáveis para os acionistas que não sacrificam o futuro para o presente.

B. Uma empresa é mais do que uma unidade econômica geradora de riqueza. Ele cumpre as aspirações humanas e sociais como parte do sistema social mais amplo. O desempenho deve ser medido não apenas no retorno aos acionistas, mas também em como ele atinge seus objetivos ambientais, sociais e de boa governança. A remuneração dos executivos deve refletir a responsabilidade das partes interessadas.

C. Uma empresa que possui um escopo multinacional de atividades não serve apenas a todas as partes interessadas diretamente envolvidas, mas atua ela mesma como uma parte interessada – juntamente com governos e sociedade civil – do nosso futuro global. A cidadania global corporativa exige que uma empresa aproveite suas  competências essenciais, seu empreendedorismo, suas habilidades e recursos relevantes em esforços colaborativos com outras empresas e partes interessadas para melhorar o estado do mundo.


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