Na pandemia, indústrias se mexem rumo à inovação

  • Indústrias brasileiras tradicionais têm modernizado sua produção com o apoio de startups. Essa demanda criou novas oportunidades para o setor de tecnologia
  • Por Carolina Ingizza, Denyse Godoy, Juliana Estigarribia Revista Exame
    11 set 2020

Da noite para o dia, as linhas de produção no tradicional polo automotivo de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, praticamente pararam. Quando a disseminação do novo coronavírus começou a ganhar velocidade no Brasil, a multinacional alemã Mercedes-Benz precisou fechar temporariamente sua fábrica de caminhões no bairro industrial de Pauliceia.

Os diferentes impactos da pandemia não se limitaram a seus cerca de 6.200 funcionários: alcançaram os 280 pontos de venda da marca espalhados pelo país e todo o setor de veículos comerciais. Subitamente, a tendência de digitalização do negócio de venda de caminhões tornou-se uma urgência. Mas a solução encontrada para acelerar a estratégia que lhe permitiria atravessar a crise com menos danos estava do lado de fora dos portões da montadora, na startup Mobiauto, que criou um novo modelo de classificados de veículos.

“Decidimos rasgar o protocolo típico de uma grande empresa para conseguir implementar inovações. Buscar parcerias envolve admitir que não teremos todas as soluções dentro de casa, e esse processo é doloroso, exige desapego”, afirma Roberto Leoncini, vice-presidente da Mercedes-Benz do Brasil.

A colaboração entre a centenária montadora e a startup, que nasceu em 2019 em São Paulo com foco em automóveis, permitiu desenvolver em apenas três semanas o show-room virtual da Mercedes-Benz, catalogando todo o estoque da rede e conectando clientes a concessionários.

O sucesso do site — que acumula, desde maio, mais de 78.000 visitas e 1.000 intenções de compra dos clientes — evidencia o acerto do crescente esforço da indústria de base brasileira em sofisticar processos e também a força das empresas de tecnologia do país, que continuaram muito demandadas durante a pandemia e por isso sofreram menos do que as de outros setores na crise.

“O mais desafiador foi criar um projeto que deveria demorar quatro meses em menos de um”, diz Sant Clair de Castro Junior, um dos dois fundadores da Mobiauto. “Caminhão é um negócio fantástico, que move a economia do país. Para nós, passar a entender desse universo foi um grande aprendizado.” Um legítimo caso de ganha-ganha.

No caos da pandemia, a siderúrgica gaúcha Gerdau, fabricante de vergalhões para a construção civil, também contou com uma startup que já era de casa para um projeto vital: erguer centros de tratamento da covid-19 no ritmo exigido pela maior emergência de saúde pública do país em um século.

Com a Brasil ao Cubo, que inventou um método de construção com módulos pré-fabricados, conseguiu colocar de pé um hospital em São Paulo e outro em Porto Alegre em 60 dias. A construtech foi descoberta em 2019 no meio de 600 startups que participaram de uma seleção para integrar uma aceleradora lançada pela siderúrgica.

“Há muito tempo a Gerdau vinha buscando uma solução para a baixa produtividade na construção civil e nós a trouxemos. A inovação aberta [com parceiros externos à empresa] acabou aproximando os agentes do ecossistema empreendedor”, diz Ricardo Mateus, presidente da Brasil ao Cubo, que usa o aço da Gerdau em suas obras.

“Para as startups, as parcerias também são muito importantes, pois funcionam como um selo de aprovação para investidores e outros potenciais clientes, além de uma forma de testar um produto com um grande público”, afirma Giovanna Fiorini, coordenadora de inovação aberta da Endeavor Brasil, organização global de fomento ao empreendedorismo.

A digitalização das vendas dos caminhões Mercedes-Benz e a parceria entre a Gerdau e a Brasil ao Cubo são os mais recentes exemplos do movimento de modernização da indústria pesada que ganhou velocidade nos últimos anos. Cada vez mais frequentemente, o caminho da inovação é percorrido com o apoio de empresas seminais de tecnologia.

Segundo a 100 Open Startups, empresa que monitora o ecossistema brasileiro de inovação aberta, o número de contratos entre startups e grandes empresas de todos os setores cresceu 20 vezes nos últimos cinco anos. Só nos últimos 12 meses, 1.635 empresas fecharam parcerias com startups brasileiras.

A fabricante de cosméticos Natura, a siderúrgica ArcelorMittal e o banco BMG foram os grupos com maior número de contratos fechados no período. “A inovação aberta passou a ser sinônimo de relacionamento com startups.

Outros tipos de inovação, com centros de pesquisa e universidades, continuam existindo, mas a busca por parcerias com startups cresceu de forma exponencial”, diz Bruno Rondani, fundador da 100 Open Startups. Segundo levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 44% das indústrias entrevistadas não têm uma área dedicada à inovação.

Cerca de 90% nunca se aliaram a uma startup para inovar e 51% nem sequer têm interesse em estabelecer uma parceria com elas. “Setores altamente regulados são mais difíceis para uma startup entrar e se desenvolver, por isso é menos comum ver parcerias com a indústria. No geral, os processos de inovação se limitam ao administrativo, como na área de recursos humanos ou no jurídico”, afirma Ilana Nasser, diretora de relações institucionais da Endeavor Brasil.

Esse foi o primeiro passo dado na inovação aberta pela fabricante de balanças Toledo, fundada em 1956. A companhia acaba de contratar a Gupy, startup criada por quatro empreendedores, incluindo a administradora de empresas Mariana Dias, para realizar processos de recrutamento e seleção de profissionais com o uso de inteligência artificial.

Em busca de soluções tecnológicas para reinventar seu negócio ou entrar em novas áreas, as manufaturas brasileiras se inspiram em gigantes internacionais, como o buscador Google, mas têm na fabricante de motores elétricos catarinense WEG seu maior modelo nacional, segundo a pesquisa da CNI.

Com um departamento interno de inovação, a catarinense teve 44% da receita de 2019 proveniente de produtos lançados ou atualizados nos últimos anos. Em 2020, decidiu pisar no acelerador: mais do que simplesmente contratar empresas de tecnologia para desenvolver soluções, decidiu absorver startups.

Anunciou em julho a aquisição da BirminD, que usa inteligência artificial para otimizar processos, um mês depois de comprar a Mvisia, de controle de qualidade de produção. Comprar startups é uma tática para ganhar agilidade no processo de inovação também bastante usada pelas grandes empresas. Em 2020, 78 fusões e aquisições de startups já foram realizadas no país, um número recorde segundo análise da Distrito, organização que faz pesquisas sobre empreendedorismo no Brasil. O volume acumulado em 2020 é 27,8% superior ao de todo o ano de 2019.

A crise pode ter apressado o esforço de inovação de algumas manufaturas, mas a maioria ainda enxerga a área como não sendo essencial para o negócio. Essa é a conclusão possível de tirar de um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral em parceria com a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), em julho deste ano, que mostra que os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento da indústria foram mais afetados pela pandemia do que em outros setores.

Enquanto 55% dos industriais afirmaram que a área de P&D foi negativamente afetada pela crise, 42% das companhias de serviços efetuaram cortes nesse departamento. A taxa entre as empresas de tecnologia foi de apenas 24% — assim como a Mobiauto, que precisou desbravar um novo campo de atuação durante a pandemia, muitas outras startups usaram a oportunidade para crescer.

As principais razões apontadas pelos entrevistados para reduzir os investimentos em P&D são a pressão para resolver problemas de curto prazo e a dificuldade de acessar laboratórios e espaços de trabalho próprios.

“Anteriormente, muitas empresas já sabiam que buscar inovação aberta era importante, mas ainda tentavam inovar sozinhas. Agora isso ficou ultrapassado. Com a pandemia, os lançamentos precisam ser acelerados até para a sobrevivência do negócio”, afirma Rafael Navarro, presidente da Anpei.

O êxito das parcerias com as startups pode mostrar para um número maior de manufaturas que ficou mais fácil e barato inovar. O investimento em tecnologia não tem sido prioridade para a maioria, um erro de avaliação que o surto do novo coronavírus evidenciou.

Antes da pandemia, apenas 2% das empresas locais aplicavam os conceitos da indústria 4.0 em suas linhas de produção, segundo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. De acordo com o ranking do Índice Global de Inovação 2020, divulgado no início de setembro, o Brasil ocupa a 62a posição entre os 131 países analisados. Apesar de uma melhora de quatro posições em relação a 2019, o país continua 15 posições atrás da 47a colocação que ocupava em 2011.

“Essa situação não corresponde ao tamanho e à importância da economia brasileira. O esforço tecnológico de nossa indústria encolheu de forma acentuada e as empresas tiveram menos acesso a recursos públicos destinados à inovação”, afirma Gianna Sagazio, diretora de inovação da CNI.

O dado mais recente da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre os investimentos dos países em pesquisa e desenvolvimento escancaram o atraso do Brasil. O setor público e a iniciativa privada dos Estados Unidos investiram, juntos, mais de 550 bilhões de dólares em P&D em 2017. Valor semelhante foi aplicado pela China no mesmo período. Por aqui, o montante foi de apenas 40 bilhões de dólares naquele ano.

As vantagens de inovar são claras. Mas formar essa consciência é apenas o primeiro passo de um longo e complexo processo. Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, reforça a importância de departamentos ou áreas dentro da empresa que possam fazer a mediação entre os parceiros.

“A cultura mais flexível e ágil de uma startup se contrapõe à estrutura tradicional e hierarquizada das grandes empresas”, diz o especialista. “As duas equipes têm de trabalhar juntas para desenvolver as soluções, pois uma boa ideia precisa ser adaptada e customizada para determinado produto ou serviço.”

As particularidades do setor industrial, que usa muitas patentes e segredos de produção, às vezes podem limitar a inovação aberta. “As indústrias de grande porte têm bastante receio de abrir informações sobre a manufatura para terceiros, com medo de fraudes ou roubo de dados sobre o negócio”, diz Romeu Gadotti, diretor de projetos da Supero Tecnologia, consultoria de software de Santa Catarina.

A empresa, fundada há 17 anos, tem conquistado gradualmente grandes clientes na indústria, mostrando que é possível haver segurança no processo de inovação aberta. Um de seus maiores clientes atualmente é a ArcelorMittal, que há dois anos usa um de seus programas para monitorar a qualidade da produção do aço antes da entrega ao cliente.

O software da Supero, desenvolvido em parceria com a siderúrgica, consegue indicar quais bobinas precisam ser testadas, selecionar os testes adequados para cada caso e registrar os resultados. “Conseguimos agregar valor ao processo produtivo e evitar gastos desnecessários de logística reversa, pois diminuímos o risco de o cliente precisar devolver um produto para reparos”, diz Gadotti.

A jornada de inovação aberta da Ocyan, que opera equipamentos como navios-sonda para a extração de petróleo no mar, pode ser definitiva para convencer e animar outras empresas de base a se abrir para esse tipo de parceria. Em 2019, lançou um concurso para startups apresentarem soluções para alguns dos dilemas vividos pela companhia em seu dia a dia, desde administrativos até operacionais. Atuou, assim, como um “cliente-anjo”.

Das oito startups que foram até a fase final de desenvolvimento de projetos, seis se tornaram fornecedores da companhia — como a Delfos, de Fortaleza, que atuava no ramo de energia eólica mas resolveu dar um salto para a indústria petrolífera usando essa oportunidade.

A seleção para a segunda rodada do Ocyan Waves Challenge, neste ano, já recebeu 125 inscrições. “Ficamos surpresos com a qualidade dos trabalhos apresentados. As startups brasileiras têm todas as condições de enfrentar esses desafios”, diz Rodrigo Lemos, diretor de produção offshore da Ocyan e líder do concurso. Para essas empresas de tecnologia, não vai faltar trabalho para ajudar a indústria nacional.

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Medo da opinião alheia, denominado FOPO, invade as redes sociais

Cultura do cancelamento amplifica sintoma, que já havia sido ‘classificado’ na vida real, e postar ou não postar se torna uma questão

Marcia Disitzer 18/09/2020 – O Globo

O termo que vem à baila lembra FOMO (sigla em inglês para o “medo de estar perdendo alguma coisa”), síndrome do mundo moderno antes da pandemia, em que todos estavam lindos e felizes em fotos fartamente distribuídas nas redes sociais. Agora, outra sigla parecida ganha espaço por detectar um comportamento. Chama-se FOPO (“fear of other people’s opinion” ou medo das opiniões alheias). Foi cunhado pelo psicólogo americano Michael Gervais e se refere a um receio que pode virar uma “obsessão irracional”. 

O sintoma agora se expande, contagia as redes sociais e o postar ou não postar vira uma das principais questões contemporâneas. E não é para menos: estamos vivendo uma era, potencializada pela pandemia, em que atitudes individuais — como, por exemplo, a festa promovida pela influenciadora Gabriela Pugliesi em plena quarentena — podem ganhar imensa (e negativa) repercussão. O pavor de ser “cancelado” acaba comprometendo o discernimento e até o “correto”, sob a lente do medo, corre o risco de parecer equivocado.

O consultor de moda e escritor André Carvalhal vem questionando o assunto. “Vale se perguntar se a pessoa que deixa de fazer uma determinada publicação on-line, por não ter segurança ou para ser socialmente aceita, está, de fato, repensando suas ações no mundo real”, explica. “Por exemplo, tem um monte de gente indo a festas durante a pandemia. Elas não postam o que estão vivendo, como fariam em outros períodos, mas seguem na aglomeração, sem questionamento algum”, dispara Carvalhal. 

Segundo o consultor, o FOPO é resultado de tudo que a web intensificou. “Até pouco tempo, o ‘cancelamento’ vinha da imprensa, daqueles que eram chamados de formadores de opinião e faziam a curadoria do que era ou não válido. Hoje, a pirâmide se inverteu”, observa. “E aí entra o medo da opinião dos outros e o consequente receio de expressar a sua, já que todos podem fazer julgamentos a respeito”, continua. Para ele, a novíssima geração já emergiu sob esses novos códigos, e está mais preparada do que os “millennials antigos”.

De acordo com o psicanalista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Christian Dunker, a reflexão a respeito das publicações na internet está em curso e é mais do que bem-vinda. “Estamos aprendendo a ocupar esse espaço”, analisa. “O indivíduo pensar antes de postar e investigar o significado do post para si e para os outros é sinal de que está desenvolvendo consciência crítica”, acredita.

Com 98 mil seguidores no Instagram no perfil @mequetrefismos, a influenciadora Luiza Brasil acredita que a pandemia da Covid-19 deixou as desigualdades sociais ainda mais latentes e transformou o sentido do verbo postar. Ela diz estar tendo ainda mais cuidado neste momento. “Por estarmos todos em casa, surgiu o questionamento do quanto da minha intimidade devo revelar. Percebi que também posso silenciar”, afirma. “Tudo isso está provocando uma mudança de mentalidade. Muitas vezes, eu me pergunto: ‘Preciso mesmo postar isso ou é melhor viver?’”, avalia.

 Antes da pandemia, existia a vangloriação do lifestyle. “Hoje, o que conta é como você está conduzindo a sua vivência, ser mais educativa e empática”, emenda. Luiza acredita que esta reflexão deveria avançar mais algumas casinhas. “O tribunal vazio da internet faz com que as pessoas sintam medo, mas, na maioria das vezes, não altera a conduta nem o caráter do indivíduo. O papo deveria ser outro. São poucos os que investigam a origem do real problema simbolizado no receio de ser ‘cancelado’.”

Carvalhal — que no fim do mês vai lançar o livro “Como salvar o futuro” — diz que todo o processo de postar ou não postar deveria ser utilizado como ferramenta de autoconhecimento. “Procuro pensar no que a dúvida diz sobre mim e não sobre os possíveis comentários negativos”, explica.

Para a antropóloga Carol Delgado, o FOPO tem a ver com a evolução das redes. “Principalmente por causa do confinamento, o virtual tornou-se ainda mais parte do real”, analisa. Porém, ela não crê que este ‘sintoma’ mobilize a população brasileira, e destaca o poder das fakes news no país como prova disso. “A sociedade do Brasil é organizada para ser cara de pau. Não acho que exista uma orientação pautada pelo medo e, sim, pelo medo de passar vergonha”, ressalta.

Medo de passar vergonha é exatamente o que não tem a criadora de conteúdo digital Kika Gama Lobo. À frente do Atitude 50, ela conta que a vida inteira foi julgada pelas opiniões bélicas. “A minha voz sempre precisou sair e rapidamente entendi que pagaria um preço por isso”, observa Kika, que diz ter sido constantemente “patrulhada” no mundo e na web. Nos últimos tempos, ela — que criou, em 2009, a hashtag #riodemerda para chamar atenção para os problemas da cidade — confessa ter ficado mais atenta. 

“O FOPO não me inibe na hora de postar, mas passei a pensar com cuidado nas palavras que utilizo. Eu me preocupo em não ferir ninguém”, explica. “Continuo rebelde, mas penso mais no outro. Existe uma nova etiqueta e procuro encontrar um meio-termo”, admite. Mesmo assim, volta e meia, ela recebe mensagens de conhecidas falando para ela ser mais “cordata” para conseguir contratos. “Dizem que sou louca por misturar maturidade com boletos e política.”

O professor de Filosofia Renato Noguera aponta o debate pouco qualificado das redes sociais como uma das possíveis causas para o FOPO. “Muita gente prefere se manter reservada para não correr o risco de ser mal interpretada e virar alvo dos haters”, pondera. Ele acha que ainda é cedo para avaliar o fenômeno. “É preciso analisar caso a caso. Existe a influência do politicamente correto, que é a celebração da democracia, mas também pode revelar um moralismo ideológico. Há sim um grau de pressão, mas vamos ter que esperar um tempo para entender melhor.” A conferir.

https://oglobo.globo.com/ela/gente/medo-da-opiniao-alheia-denominado-fopo-invade-as-redes-sociais-24645025

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Natura: O impacto positivo da sustentabilidade

A líder do ranking investiu 2,4% da receita de R$ 14,4 bilhões em P&D e fez da inovação um meio para gerar benefícios econômicos, ambientais e para a comunidade

Por Luciana Marinelli, Valor 18/09/2020

Pioneira em integrar metas de sustentabilidade ao seu negócio, a Natura se impôs nos últimos anos um desafio mais ambicioso: gerar impacto econômico, social e ambiental positivo com sua atividade. É mais do que compensar as emissões de carbono decorrentes da produção e distribuição de cremes, xampus e batons com o plantio de árvores ou projetos de recuperação de nascentes. É considerar, por exemplo, que benefício será gerado para a comunidade da região de onde é extraído o insumo de um produto, antes de investir em seu lançamento. Ou pesquisar um uso novo (e rentável) para um material que seria descartado em determinado processo produtivo.

Este é o norte do trabalho de inovação da companhia. “Para nós, só é inovação se tiver impacto positivo”, diz Roseli Mello, diretora global de inovação da Natura. A importância de olhar para o todo ficou mais atual do que nunca, diante da disseminação global da covid-19.

“Acho que a pandemia trouxe muito dessa interdependência”, acrescenta a executiva. “Não adianta eu estar sozinha bem, num ambiente que não está bem.” Não à toa, a Natura alcançou neste ano a primeira posição no ranking das 150 empresas mais inovadoras, elaborado pela Strategy& – consultoria estratégica da PwC – para o anuário Valor Inovação Brasil.

Uma conquista recente retrata bem como esse conceito é colocado em prática. A Natura foi a primeira empresa brasileira de cosméticos a obter, no ano passado, o registro de uma “patente verde” do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), ligado ao Ministério da Economia.

Pesquisadores da empresa, em conjunto com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, desenvolveram uma técnica para aproveitar os resíduos gerados com a extração de óleo de um ingrediente da Amazônia usado em cosméticos da marca. Antes, a biomassa formada por essas sobras era usada como adubo ou como ração. Agora, servirá de insumo para um novo produto para a pele, a ser lançado até o início do ano que vem.

“Temos várias linhas de pesquisa em biotecnologia que buscam um destino mais nobre para os resíduos que a gente gera, porque aí aumentamos também a renda e o desenvolvimento na comunidade onde acessamos nossos ingredientes”, explica Roseli. “Foi o que aconteceu com essa biomassa específica para a qual conseguimos a patente verde.” O ingrediente que serviu de base para a pesquisa ainda é mantido em sigilo pela empresa.

No ano passado, a companhia investiu 2,4% de sua receita líquida, de R$ 14,4 bilhões, em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Os estudos culminaram no lançamento de 330 produtos, 41% mais que em 2018. Quase 60% da receita bruta do grupo é gerada por itens colocados no mercado nos últimos dois anos. Os projetos são desenvolvidos nos dois centros de inovação da Natura no país: um localizado em sua sede, em Cajamar (SP), e outro em Benevides, no Pará, no meio da floresta amazônica. O trabalho com ativos da biodiversidade brasileira é uma das marcas da companhia. A empresa tem registrados mais de 30 ativos proprietários.

Segundo Roseli, os avanços da área de P&D do grupo têm sido impulsionados principalmente pela combinação de genômica – ramo da genética que faz o sequenciamento do DNA – com ciência de dados. “Hoje, praticamente não tem projeto que a gente não use a ciência de dados. Aumenta a produtividade, porque permite olhar para muitos genes ao mesmo tempo”, afirma. Essa combinação, trabalhada mais intensamente pela companhia a partir de 2016, reduz em 40% o tempo de análise para se chegar à vocação de um ativo e sua aplicação ideal.

Desde o momento de bioprospecção, quando o estudo de uma semente ou planta começa, com a extração de seu óleo, manteiga ou extrato, até a composição de uma fórmula que será o protótipo de um cosmético, são feitas análises físico-químicas e sensoriais, que revelam diversas características – se o ingrediente ativa a fabricação de colágeno ou se tem ação no folículo capilar, por exemplo. Todas estas informações compõem um grande banco de dados, cujo cruzamento e simulações permitem chegar às melhores combinações antes da fórmula ir para a bancada do laboratório.

Tome-se como exemplo o patauá, um fruto originado de uma palmeira da Amazônia que é a base de uma linha de produtos lançada em 2018. Por meio do mapeamento dos genes desse ingrediente, a Natura descobriu propriedades capazes de aumentar a velocidade de crescimento do fio de cabelo. “Com todas essas pesquisas, sei exatamente o que deve entrar na formulação, nem mais, nem menos, para chegar a esse resultado”, conta Roseli.

“Em paralelo, uma equipe identifica como vamos manejar essa árvore, em qual época do ano tirar a semente, como deve ser conservada para estruturarmos uma cadeia de comércio justo com rastreabilidade, em que o benefício volte para a comunidade de onde tiramos esse ativo”, acrescenta.

Este processo ficou ainda mais ágil no ano passado, com a inauguração de um novo laboratório de fórmulas em Cajamar, que permite integrar todos os dados gerados desde a fabricação de protótipos, que são as fórmulas testadas para dar origem a um produto. Por ano, a área de inovação trabalha com cerca de dois mil protótipos em diferentes fases de desenvolvimento. “A gente chega a usar o equivalente a 300 computadores para poder processar os dados”, conta Roseli. A empresa tem um acordo com o Google, que disponibiliza espaço na “nuvem” computacional de acordo com a necessidade para aquela semana ou dia.

Além do investimento interno em P&D, a companhia também se apoia na inovação aberta, fomentando contribuições da comunidade acadêmica, fornecedores e startups de diversas áreas. A gama de atores envolvidos nesse processo aumenta a cada ano. Em outubro do ano passado, a Natura fez o maior chamado de inovação aberta de sua história, o desafio “Natura Innovation Challenge – Zero Waste Packaging”. O objetivo era receber projetos que envolvessem a redução de resíduos e de embalagens em qualquer uma das etapas da atividade cosmética, do desenvolvimento de produtos e sua fabricação, até sua distribuição e consumo.

O programa teve participação da comunidade científica, empresas e startups, colaboradores, consultoras da marca e até do público em geral. Ao final, recebeu 570 propostas, de 35 países. “Essa é a expansão [que temos buscado], usar de fato toda a rede que está conectada à Natura e que pode contribuir olhando o desafio de resíduos cada um do seu lugar”, afirma Roseli. Oito projetos foram pré-selecionados e três foram escolhidos para seguir em desenvolvimento conjunto com pesquisadores da Natura. No momento, estão em fase de testes.

A capacidade de olhar o todo e entender demandas diversas de toda sua cadeia de relações – dos funcionários e consultoras ao consumidor – ajudou a companhia a obter bons resultados mesmo durante a pandemia. A empresa criou protocolos e se organizou de forma a manter, de maneira segura, a produção de itens de higiene e viabilizar a fabricação de álcool em gel. Paralelamente, desenvolveu novas ferramentas digitais para que suas 1,5 milhão de consultoras mantivessem o contato com seus clientes. Com estas e outras medidas, a receita da marca Natura cresceu 7,9% no Brasil no segundo trimestre do ano. As vendas, que chegaram a cair 23,5% em abril – período de adaptação ao novo cenário –, cresceram 23,6% em maio e 29,4% em junho, na comparação com os mesmos períodos de 2019.

https://valor.globo.com/inovacao/noticia/2020/09/18/natura-o-impacto-positivo-da-sustentabilidade.ghtml

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Quem são os empreendedores nas redes sociais

Como muitas pessoas fizeram das mídias sociais digitais o seu emprego e viram nas redes a oportunidade de empreender

Por Beatriz Correia Revista Exame Publicado em: 25/08/2020

Um escritório, um computador, muita papelada e um celular tocando toda hora. É assim que você pode imaginar um empreendedor. Isso até poderia ser real se nós estivéssemos algumas décadas atrás. Mas a verdade é que agora, o perfil de quem abre um próprio negócio pode ser ainda mais variado. E inclusive, o empreendedor pode ter como ferramenta apenas um celular com acesso à internet e com uns aplicativos instalados. 

As redes sociais surgiram com o objetivo de entreter e criar conexões entre as pessoas, mas para muitos as plataformas se tornaram o “local de trabalho”. No Examinando de hoje, vamos mostrar como muitas pessoas fizeram das mídias sociais o seu emprego e viram nas redes a oportunidade de empreender. 

Eu aposto que qualquer dia que você sair de casa, seja para onde for, no meio do caminho você vai encontrar pelo menos uma pessoa com o celular na mão. O aparelho virou essencial no dia a dia das pessoas porque resolve muita coisa. Hoje, o celular é telefone, câmera fotográfica, computador e até banco. Mas apesar de tantas funções, as pessoas gastam boa parte do tempo que passam nesse aparelho nas redes sociais. 

Uma pesquisa mostrou que em uma média mundial, as pessoas gastam mais de 140 minutos por dia nas redes sociais. E esse número altera de região para região. A América Latina é onde mais se usa as redes. A média diária é de 212 minutos. O nível mais baixo foi registrado na América do Norte, com 116 minutos.

E o Brasil está no top 3. Nós somos o segundo lugar no mundo que mais se usa as redes sociais. Perdemos apenas para as Filipinas. A gente gasta nada menos do que 225 minutos por dia nas redes. Isso significa que pode ser que você passe quase 4 horas do seu dia só nisso. Mas não é só o tempo nas redes sociais que é grande não. 

Uma outra pesquisa mostrou que quase metade do planeta está nas redes. É por isso que é difícil encontrar alguém que não tenha perfil em nenhuma rede social. Afinal, são mais de 3,5 milhões de pessoas conectadas. A maior parte dos usuários está no Instagram e no Facebook. 

Com tanta gente gastando tanto tempo na internet, era quase que inevitável que as redes virassem o foco de muitos negócios. Atualmente 78% das empresas brasileiras estão presentes em pelo menos uma mídia social. Desse total, 57% estão conectadas apenas e exclusivamente para fazer vendas online. Só o Instagram cresceu 57% como plataforma de vendas nos últimos meses. 

Os números não negam que as redes viraram plataforma para empreender. Pelo menos 83% das pessoas já admitiram ter feito compras através do Instagram. E 85% acreditam que a rede é um novo meio de encontrar produtos. Nesse ano, o crescimento das redes sociais ainda teve um impulso com a pandemia. O Instagram, o Facebook e o Whatsapp cresceram em média 40% no Brasil desde a segunda quinzena de março deste ano.

Mas colocar os produtos à venda, não é o único modelo que levou as redes sociais ao posto de plataforma para empreendedores. Muitas pessoas hoje ganham dinheiro e vivem apenas de aparecer no Instagram ou no YouTube. Você já deve ter ouvido falar nos influenciadores digitais. 

São pessoas que têm como trabalho criar conteúdo nas redes sociais. Eles estão nas mais diversas áreas: comédia, saúde, educação, notícias. O segundo maior canal do YouTube no Brasil é de um comediante, o Winderson Nunes. Ele surgiu como celebridade na plataforma de vídeos e hoje faz shows pelo mundo todo. 

Mas há influenciadores sobre praticamente tudo: estilo de vida saudável, que mostram uma rotina de atividades físicas e boa alimentação, moda. Outros que ensinam temas específicos como matemática, biologia ou finanças pessoais. Mas afinal, se ser influenciador digital virou uma profissão, como as pessoas ganham dinheiro com isso? 

Basicamente a renda vem de anúncios e posts publicitários, aqueles em que o influenciador apresenta um produto e faz a propaganda dele. Os profissionais recebem por isso. Mas ainda tem o fato de que ser alguém influente nas redes sociais te faz ser uma pessoa pública, conhecida. E isso pode abrir portas. É por isso que muitos influenciadores viram atores ou atrizes, modelos ou apresentadores, por exemplo. 

Mesmo não sendo fácil se tornar um influenciador, as redes sociais tem sido cada vez mais um ambiente propício para os negócios, sejam eles da forma que forem. Um estudo de uma empresa de marketing de influência mostrou que o engajamento dos usuários no Instagram aumentou 24% em março deste ano. E as lives cresceram 70% no período. Os dados mostram que com o avanço da internet e com o domínio das redes sociais, ter um negócio tem se tornado não mais fácil, mas com certeza mais acessível. 

https://exame.com/videos/examinando/examinando-quem-sao-os-empreendedores-nas-redes-sociais/

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O que está por trás do WeChat, o aplicativo mais usado na China

Misto de WhatsApp com serviços financeiros e loja, aplicativo é verdadeiro canivete suíço para chineses – e está sujeito à influência e vigilância do governo local

20/09/2020  Por Paul Mozu – The New York Times(publicado no Estadão)

Fora da China, o WeChat é, principalmente, um meio de conectar a comunidade chinesa ao seu país de origem

Pouco depois da eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos, Joanne Li percebeu que o aplicativo que a conectava a outros imigrantes chineses a tinha desligado da realidade. Tudo que ela via no aplicativo chinês WeChat indicava que Donald Trump era um líder admirado e empresário impressionante. Ela acreditou que esse era o amplo consenso em relação ao recém-eleito presidente americano. “Mas então comecei a conversar com estrangeiros a respeito dele, com pessoas que não eram chinesas”, disse ela. “Fiquei muito confusa.”

Ela começou a ler mais fontes de notícias, e Joanne, que vivia em Toronto na época, começou a se dar conta que o WeChat estava repleto de fofocas, teorias da conspiração e até mentiras. Um artigo alegava que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, planejava legalizar as drogas. Outro boato dizia que o Canadá tinha começado a vender maconha nos mercados. Uma publicação de um perfil de notícias de Xangai alertava os chineses para tomarem o cuidado de não trazer a droga acidentalmente do Canadá, correndo o risco de serem presos.

Ela também questionou o que era dito a respeito da China. Quando uma importante executiva da Huawei foi detida no Canadá em 2018, artigos da mídia estrangeira foram rapidamente censurados no WeChat. Seus amigos chineses, tanto dentro como fora do país, começaram a dizer que não havia justiça no Canadá, contrariando a experiência direta dela. “Subitamente, descobri que conversar com os outros a respeito do assunto não fazia sentido”, disse Joanne. “Parecia que, se eu só acompanhasse a mídia chinesa, meus pensamentos seriam diferentes.”

Joanne não tinha muita alternativa além de suportar os defeitos em nome das qualidades. Criado para ser “tudo para todos”, o WeChat é indispensável.

Para a maioria dos chineses na China, o WeChat é uma espécie canivete-suíço dos aplicativos: permite compartilhar histórias, conversar com antigos colegas, pagar contas, coordenar as ações com os colegas de trabalho, publicar imagens das férias dignas de inveja, fazer compras e receber notícias. Para os milhões de integrantes da diáspora chinesa, essa é a ponte que os conecta ao lar, seja no bate-papo com a família ou nas fotos de gastronomia.

Entrelaçado a tudo isso, estão a vigilância e a propaganda do Partido Comunista Chinês, cada vez mais robustas. Conforme o WeChat se tornou onipresente, o aplicativo se converteu em uma importante ferramenta de controle social, uma forma de as autoridades chinesas orientarem e policiarem o que as pessoas dizem, com quem conversam e o que leem. O app chegou até a expandir o alcance de Pequim para além de suas fronteiras. Quando a polícia secreta faz ameaças no exterior, estas são frequentemente feitas por meio do WeChat. 

Quando pesquisadores militares trabalhando infiltrados nos EUA tinham que falar com as embaixadas chinesas, eles usaram o WeChat, de acordo com documentos jurídicos. O partido usa o WeChat para coordenar suas ações com membros estudando no exterior.

Como um dos alicerces do estado de vigilância da China, o WeChat é agora considerado uma ameaça à segurança nacional nos EUA. O governo Trump propôs banir totalmente o WeChat, bem como o aplicativo chinês de vídeos curtos TikTok. Da noite para o dia, duas das maiores inovações chinesas da internet se tornaram uma nova frente no amplo impasse tecnológico entre China e EUA.

Ainda que os dois aplicativos tenham sido misturados na mesma categoria pelo governo Trump, eles representam duas abordagens distintas para a Grande Muralha Eletrônica que bloqueia o acesso chinês aos sites do exterior.

Mais conhecido e voltado ao público jovem, o TikTok foi pensado para o mundo selvagem fora dos limites da claustrofóbica censura da China; existe apenas fora das fronteiras do país. Ao criar um app independente para conquistar usuários em todo o mundo, a ByteDance, proprietária do TikTok, desenvolveu a melhor aposta de uma startup chinesa para concorrer com as gigantes ocidentais da internet. Além da imensa popularidade, a separação entre o TikTok e os aplicativos de sua família na China inspirou campanhas corporativas nos EUA para salvá-lo, mesmo com Pequim potencialmente acabando com qualquer acordo ao declarar a tecnologia central do aplicativo uma prioridade de segurança nacional.

Ainda que o WeChat tenha regras diferentes para os usuários dentro e fora da China, o app continua sendo uma única rede social abrangendo toda a Grande Muralha Eletrônica  da China. Nesse sentido, ajudou a levar a censura chinesa ao restante do mundo. Uma proibição interromperia milhões de conversas entre parentes e amigos, motivo pelo qual um grupo deu entrada em um processo para deter os esforços do governo Trump. Seria também uma vitória fácil para governantes americanos interessados em reagir ao alcance expandido dos tentáculos tecnoautoritários da China.

Joanne sentiu o estalo do chicote do controle chinês sobre a internet quando voltou à China em 2018 para assumir um emprego no setor imobiliário. Depois de ter vivido no exterior, ela buscou equilibrar suas fontes de informação com grupos que compartilhavam artigos a respeito de acontecimentos globais. 

Com a disseminação do coronavírus no início de 2020 desgastando as relações da China com países de todo o mundo, ela publicou no WeChat um artigo da Radio Free Asia, sediada nos EUA, a respeito da deterioração da diplomacia entre China e Canadá, um texto que teria sido censurado. No dia seguinte, quatro policiais foram ao apartamento da família dela, armados e empunhando escudos. “Minha mãe ficou aterrorizada”, disse ela. “Ficou branca quando os viu.”

Os policiais levaram Joanne, seu celular e computador até a delegacia local. Ela disse que teve as pernas presas a uma cadeira enquanto era interrogada. Fizeram-lhe repetidas perguntas a respeito do artigo e de seus contatos do WeChat no exterior antes de a trancarem em uma cela durante a noite.

Ela foi solta duas vezes, mas acabou arrastada novamente à delegacia para novos interrogatórios. Joanne disse que um oficial chegou até a insistir que havia proteção à liberdade de expressão na China enquanto a interrogava a respeito do que tinha dito na internet. “Não disse nada”, respondeu ela. “Só pensei, como será essa liberdade de expressão? Será a liberdade de arrastar para a delegacia para sucessivas madrugadas de interrogatórios?”

Finalmente, a polícia a obrigou a escrever uma confissão e jurar lealdade à China antes de soltá-la.

Muralha

O WeChat começou como simples imitador. Sua criadora, a gigante chinesa da internet Tencent, tinha reunido uma imensa base de usuários a partir de um aplicativo de bate-papo pensado para os computadores pessoais. Mas uma nova geração de aplicativos de mensagens para celular ameaçava seu domínio da forma de comunicação entre os jovens chineses.

O visionário engenheiro Allen Zhang, da Tencent, enviou uma mensagem ao fundador da empresa, Pony Ma, preocupado com o fato de seus produtos serem superados. Esse recado levou a uma nova missão, e Zhang criou um aplicativo faz-tudo que se tornou uma necessidade do cotidiano na China. O WeChat pegou carona na popularidade das outras plataformas online da Tencent, combinando pagamentos, comércio eletrônico e rede social em um único serviço.

O produto se tornou um sucesso, e acabou eclipsando os apps que inspiraram o WeChat. E a Tencent, que lucrou bilhões com os jogos online incluídos em suas diferentes plataformas, teve então uma forma de ganhar dinheiro com praticamente todos os aspectos da identidade digital de uma pessoa — segmentando anúncios, processando pagamentos e facilitando serviços como entregas de comida.

O universo da tecnologia dentro e fora da China ficou maravilhado. A rival da Tencent, Alibaba, apressou-se para criar um produto concorrente. O Vale do Silício estudou essa mistura de serviços e seguiu o mesmo rumo.

Criado para o mundo fechado dos serviços de internet na China, o único tropeço do WeChat ocorreu fora da Grande Muralha Eletrônica. A Tencent promoveu uma intensa campanha de marketing no exterior, chegando a contratar o astro do futebol Lionel Messi como seu porta-voz em determinados mercados. Para os usuários fora da China, foi criado um conjunto de regras à parte. As contas internacionais não seriam sujeitas à censura direta e os dados seriam armazenados em servidores fora da China.

Mas, sem os muitos serviços que o WeChat oferece apenas na China, o app perdeu parte do seu poder de atração. Fora do país, sua aparência era mais prosaica, semelhante aos demais aplicativos de mensagens. No fim, seus principais usuários no exterior seriam os imigrantes chineses. A Tencent não respondeu aos pedidos de contato para esta reportagem.

Com o tempo, as distinções entre as versões chinesa e internacional do app se tornaram cada vez menos importantes. Os chineses que criam suas contas na China e deixam o país levam consigo uma conta censurada e monitorada. Se usuários internacionais conversam com usuários dentro da China, suas publicações podem ser censuradas.

Em termos de notícias e fofocas, a maior parte vem de usuários do WeChat dentro da China, que espalham esse conteúdo pelo mundo. Enquanto a maioria das redes sociais tem uma série de filtros e bolhas que reforçam diferentes pré-concepções, o WeChat é dominado por um superfiltro, seguindo de perto as narrativas da propaganda oficial.

Bolhas

“As bolhas formadas pelos filtros do WeChat não decorrem de algoritmos, e sim do regime fechado do ecossistema chinês da internet e sua censura. Isso as torna piores do que qualquer outra rede social”, disse Fang Kecheng, professor da Faculdade de Comunicação e Jornalismo da Universidade Chinesa de Hong Kong.

Fang começou a reparar nas limitações do WeChat em 2018, quando fazia pós-graduação na Universidade da Pensilvânia, ao lecionar um curso online de alfabetização na mídia para chineses mais jovens.

De fala mansa e bem versado no eco e no ruído da mídia americana e chinesa, Fang tinha a expectativa de ser procurado principalmente por chineses curiosos dentro da China. Um grupo inesperado compareceu às aulas: imigrantes chineses vivendo nos EUA, Canadá e outros países.

“Parecia óbvio. Como estavam todos fora da China, deveria ser fácil desenvolver um entendimento da mídia estrangeira. Seria algo presente no seu cotidiano”, disse Fang. “Percebi que não era bem assim. Eles estavam fora da China, mas todo o seu ambiente de mídia seguia inteiramente dentro da China, e seus canais de informação remetiam todos a contas públicas do WeChat.”

Os cursos online de seis semanas oferecidos por Fang foram inspirados em uma conta do WeChat que ele manteve chamada News Lab, cujo objetivo era ensinar aos leitores a respeito do jornalismo. Com os cursos, ele incluía artigos de veículos como Reuters acompanhados de fichas ensinando aos alunos como analisá-los, levando-os a enxergar a diferença entre comentários de especialistas e fontes primárias.

Em uma aula de 2019, ele fez um amplo alerta para os perigos dos obstáculos ao fluxo de informações. “Agora, a muralha está ficando cada vez mais alta. Está cada vez mais difícil enxergar o mundo exterior”, disse ele. “Isso não vale somente para a China, mas para boa parte do planeta.”

Sem contato

Quando a mãe de Ferkat Jawdat desapareceu na vasta rede de campos de reeducação da China onde os uigures são doutrinados, seu WeChat se tornou uma espécie de memorial.

O aplicativo pode ter sido usado como prova contra ela. Mas, como muitos uigures, ele se viu abrindo o WeChat de novo e de novo. Estavam contidos ali anos de fotos e conversas com a mãe. E seguia viva ali a remota esperança de, um dia, receber uma resposta dela. Quando ela o fez, contrariando todas as probabilidades, a polícia secreta seguiu seu rastro.

Doente e cansada, a mãe de Jawdat foi solta dos campos em meados de 2019. A polícia chinesa deu a ela um celular com acesso ao WeChat. Ao ouvir o som da voz da mãe, Jawdat tentou conter uma enxurrada de emoções. Ele não sabia ao certo nem mesmo se ela estava viva. Apesar do alívio, ele percebeu que havia algo de errado. Ela fez elogios genéricos ao Partido Comunista Chinês.

Então a polícia o procurou. Eles o abordaram com uma solicitação de amizade anônima no WeChat. Quando ele aceitou, um homem se apresentou como oficial do alto escalão das forças de segurança da China na região de Xinjiang, epicentro dos campos de reeducação. O homem tinha uma proposta. Se Jawdat, cidadão americano e ativista uigur, parasse com as tentativas de chamar a atenção do mundo para os campos, sua mãe poderia receber um passaporte e permissão para se reunir com o restante da família nos EUA.

“Foi uma espécie de ameaça”, disse ele. “Fiquei quieto por duas ou três semanas, apenas para ver qual seria a reação dele.” No fim, não deu resultado. Depois de recusar uma entrevista com a imprensa e faltar a uma palestra, Jawdat ficou impaciente e confrontou o homem. “Ele começou a me ameaçar, dizendo, ‘Você é só uma pessoa enfrentando a superpotência. Comparado à China, você não é nada’.”

A experiência fez Jawdat se tornar intolerante com o aplicativo que possibilitou as ameaças, mesmo sendo sua única forma de entrar em contato com a mãe. Ele disse conhecer dois outros uigures americanos que viveram situações parecidas. Relatos de outras pessoas indicam que episódios parecidos ocorreram em todo o mundo.

“Não sei se será carma ou justiça quando os próprios chineses sentirem a dor de perder o contato com os parentes”, disse Jawdat a respeito da proibição proposta pelo governo Trump. “Há muitas autoridades chinesas que têm os filhos morando nos EUA. O WeChat deve ser uma das ferramentas que usam para manter o contato. Se eles sentirem essa dor, talvez consigam se colocar no lugar dos uigures.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

https://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,o-que-esta-por-tras-do-wechat-o-aplicativo-mais-usado-na-china,70003443393

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O dia em que a Terra parou

por Evandro Milet (publicado em 19/9/2020 em A Gazeta/ES)

O filme de 1951 com esse título, depois refilmado em 2008, conta a história da chegada de um extraterrestre à Washington, onde tenta alertar os líderes da Terra sobre os perigos de uma guerra nuclear que estaria preocupando os outros planetas. Mal compreendido, ele tenta conversar com cientistas. Para que tenha crédito, decide dar à humanidade uma demonstração de força — no dia seguinte, todos os aparelhos elétricos da Terra param de funcionar ao mesmo tempo.

Hoje não precisaríamos de um extraterrestre para esse serviço. Basta algum hacker invadir os computadores das empresas de eletricidade para esse efeito. Como afirmou recentemente Sílvio Meira, é impossível, pelo custo astronômico, garantir que um software hoje faz aquilo e só aquilo que foi projetado para fazer. Há inúmeras vulnerabilidades, o que leva as empresas a viverem uma permanente corrida de gato e rato com hackers amadores ou profissionais de todas as partes do mundo.

Imaginem quando os automóveis forem autônomos, e depois aviões, comandados por sensores e software, e todos os serviços, indústrias e negócios estiverem em nuvem, numa imensa rede, conectados pelo 5G.

A ficção científica convive com discos voadores, robôs, viagens interplanetárias, máquinas do tempo ou computadores falantes, mas pouco visualizou que todas as coisas pudessem ser dotadas de inteligência, por não prever a exponencial miniaturização e a explosiva capacidade dos chips. A fantasia dos contos infantis foi mais precisa. Lá os objetos falam, pensam e se comunicam como o espelho da madrasta da Branca de Neve, as louças em a Bela e a Fera ou as cartas do baralho em Alice no País das Maravilhas. 

Há previsões que, em 2025, um trilhão de objetos poderão estar conectados na internet das coisas.

No conto “Resposta” de 1954, de Fredric Brown, autor norte-americano de ficção, cientistas conectam todos os computadores da totalidade dos planetas habitados do universo a um supercomputador capaz de combinar o conhecimento integral de todas as galáxias. Em seguida, um cientista formula ao computador uma pergunta que nenhuma máquina tinha sido capaz de responder até então: Deus existe? Ao que o computador responde sem hesitação: Sim, agora existe. Apavorado, o cientista tenta desligar a chave, mas é fulminado por um raio caído de um céu sem nuvens. Oremos.

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Frederico Trajano, o executivo inovador: “Inovar não é destruir o passado”

Primeiro a ser eleito na nova categoria, Frederico Trajano vai aumentar o número de aquisições e diz que não há limite para os investimentos em inovação

Por Adriana Mattos, Valor — São Paulo

18/09/2020 

Para o CEO do Magazine Luiza, a empresa toda tem que pensar fora da caixa e não ficar na bolha da Faria Lima. 

Há poucas áreas em que o consumidor consegue perceber o efeito das inovações em sua vida como no varejo – seja no processo de compra ou de experimentação. Nos últimos anos, varejistas pelo mundo, sabendo disso, avançaram sobre novas possibilidades – da loja sem caixa ao provador com atendente virtual. No Brasil, de um ano para cá, essa revolução na loja passou a dividir espaço com outra, no segmento de “marketplaces”, algo que talvez melhor explique o prêmio recebido neste ano pelo presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, como o executivo mais inovador do país. Eleito por um conselho de notáveis, a premiação é concedida pela primeira vez pelo anuário Valor Inovação Brasil, junto com a Strategy&, consultoria estratégica da PwC.

Como CEO da rede, Trajano acelerou o lançamento de ações para digitalizar os vendedores, parceiros da varejista, levando-os a gerar negócios a partir de seu “marketplace”, plataforma de venda de produtos de terceiros, além da venda de seu próprio estoque. No fim de 2016, o Magazine Luiza começou a atuar nessa área, mas foi a partir de 2019 que cresceu o volume de soluções em serviços para o pequeno empreendedor.

A empresa quer criar o que chama de ecossistema de serviços para os parceiros, na área de sistemas e logística (entrega das mercadorias vendidas pelo lojistas), no financeiro (como crédito) e em pagamentos virtuais.

Para Trajano, inovar é algo inerente ao processo de construção do Magazine Luiza, fundado em 1957, em Franca (SP), pela tia avó, Luiza Trajano Donato. Ele é a terceira geração da família.“Minha tia vendeu a primeira TV em cores para boa parte das casas do interior de São Paulo, a minha mãe [Luiza Helena] vendeu a primeira lavadora automática, e agora, nesse ciclo, estamos gerando inclusão digital.”

“Não acreditamos em inclusão social sem inclusão digital, e para que isso ocorra é preciso inovar, investir em tecnologia. Isso é absolutamente fundamental para que a gente cumpra o nosso propósito de digitalizar o Brasil”, afirma.

O Magazine Luiza quer dar as ferramentas para criar mais empreendedores digitais, que cresçam vendendo pelo seu on-line. Esses lojistas expõem seus produtos nas plataformas da rede e pagam uma taxa pelos serviços que usam do site. É algo que outras cadeias vêm fazendo – como B2W e Mercado Livre –, algumas até há mais tempo, exigindo que o Magalu acelere mais em suas inovações.

Ao mencionar iniciativas recentes dentro dessa estratégia, ele cita o projeto Parceiro Magalu, lançado logo no início da pandemia, em março. Por meio dele, pessoas físicas e jurídicas (pequeno porte) podem vender on-line, tendo lojas dentro do Magazine Luiza. No caso das pessoas físicas, os consumidores vendem em suas redes sociais produtos da própria varejista e ganham comissão sobre a venda. O produto já existia e foi integrado numa plataforma maior, como forma de dar opção de novo negócio no início da atual crise.

“Olhando mais recentemente, o Parceiro Magalu é uma plataforma inovadora e foi grande destaque da companhia na pandemia porque atinge dois públicos, a pequena empresa analógica que estava com a porta fechada e o Parceiro Magalu para pessoa física. Com isso, 300 mil pessoas passaram a vender produtos do Magalu e ganhar renda extra com isso”, diz. 

Em junho de 2020, além dessas 300 mil pessoas, eram 32 mil vendedores no marketplace da empresa – um ano antes, eram oito mil. Entre abril e junho de 2020, muito impulsionado pelo marketplace, o braço digital do Magalu vendeu mais do que a soma das receitas do on-line e das lojas físicas no segundo trimestre de 2019. O crescimento foi de 182%, o maior da história da empresa.

O executivo cita aquisições recentes para avançar nessa montagem de um novo sistema, integrado ao Luizalabs, o laboratório de pesquisa e desenvolvimento do grupo. “Estamos aumentando o número de aquisições em diversas áreas e teremos logo mais anúncios [de compras]. O Luizalabs está cada vez mais relevante e não tem limite para o investimento que vamos fazer lá”, conta. Em agosto, a empresa anunciou quatro aquisições de startups focadas em logística, sistemas e comunicação.

De janeiro a junho de 2020, a empresa investiu R$ 78,5 milhões em tecnologia, alta de 52% sobre 2019. Na lista de áreas de investimentos da rede (novas lojas, reformas etc.), é aquela com maior valor, e quase a metade de todo o investimento no período. 

O Luizalabs surgiu em 2014 e por lá passa tudo que é relacionado com tecnologia. São cerca de 1.300 desenvolvedores e especialistas – há dois anos, eram 300. Por meio do Luizalabs, em três meses são entregues projetos que normalmente levariam um ano.

Não é só a equipe do laboratório que segue esse direcionamento focado em inovação. A empresa toda tem que pensar fora da caixa. “Quando avaliamos contratações, temos um conjunto de critérios, e um deles é inovação”, diz Trajano ao explicar que o tema deve estar distribuído pela empresa. “É preciso agir rápido, testar, implementar e aprender com o erro, e não esperar muito para fazer. Não há uma pessoa, uma área designada para cuidar da inovação.” Cabe à alta gestão estabelecer um norte para as pessoas inovarem dentro daquilo que se quer. O diretor de agilidade, Henrique Imberti, ajuda a gerenciar o andamento de projetos, que muitas vezes são testados ao mesmo tempo na rede.

Uma das medidas tomadas durante a pandemia, gerada a partir de uma ideia inovadora, foi a venda de insumos agrícolas no marketplace, a ideia que surgiu quando Trajano trabalhou em home office, numa fazenda da família próxima de Franca (SP). “Fora da bolha da Faria Lima e olhando para fora você tem insights, como o que tivemos ao colocar o agro na plataforma. A inovação surge daí, você vive a realidade e tem insights a partir dela”, afirma.

Para Trajano, não passa de mito a afirmação de que para inovar é preciso destruir o passado. “Eu acredito mais na inovação que alavanca o passado, e não que o destrói”, diz. Ele dá como exemplo a decisão de não separar a operação das lojas físicas do site, em 2014, num momento em que muita gente fazia esse tipo de ‘spinoff’.

“Fizemos porque acreditávamos naquilo que foi criado e eu não iria destruir isso”, diz. As pessoas inovadoras que ele mais respeita aprendem com o legado e não jogam fora. “Inovar não é jogar o legado fora”, diz o executivo, que faz parte da terceira geração da família. Em 2016, aos 39 anos, Trajano assumiu a presidência para acelerar a operação digital da empresa.

Para Victor Saragiotto, analista do Credit Suisse, “não são muitas as empresas que vêm fazendo do limão uma limonada como o Magazine Luiza”, diz em relatório. De janeiro a junho, incluindo o período de pandemia, a receita do Magazine Luiza cresceu 25%, para quase R$ 11 bilhões.

https://valor.globo.com/inovacao/noticia/2020/09/18/frederico-trajano-o-executivo-inovador-inovar-nao-e-destruir-o-passado.ghtml

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O Instagram vai engolir o Facebook? Audiência já é 31% maior

Um relatório da Socialbakers mostra que o total de interações no Instagram foi quase 19 vezes maior do que no Facebook entre os meses de abril, maio e junho

Por Matheus Doliveira na Revista Exame Publicado em: 17/09/2020

Quando Mark Zuckerberg decidiu comprar o Instagram por 1 bilhão de dólares em 2012, nem mesmo ele deveria imaginar que em menos de uma década a rede social de compartilhamento de fotos disputaria a audiência do Facebook tão de perto.

Dados da consultoria Socialbakers mostram que o total de interações no Instagram foi quase 19 vezes maior do que no Facebook entre os meses de abril, maio e junho deste ano. Em termos de audiência global, o Instagram ampliou para 31,2% a vantagem que era de 28% contra o Facebook no primeiro trimestre de 2020.

No final de junho, o Instagram quase bateu seu próprio recorde de interações, e, durante o período, raramente ficou abaixo de 80%. Já no Facebook, o engajamento com postagens caiu expressivamente, passando de 100% em março para 50,8% durante os meses de abril, maio e parte de junho, quando voltou aos níveis normais.

“O Instagram está se tornando a plataforma de mídia social número 1 quando se trata de engajamento de marcas. Quando olhamos para o engajamento em um nível absoluto, o Instagram tem um alcance maior por marcas do que o Facebook”, afirma Alexandra Avelar, gerente nacional da Socialbakers no Brasil. 

Na disputa entre Instagram e Facebook, no entanto, as marcas continuam preferindo o logotipo azul, apesar das interações no Instagram terem sido 18,7 vezes maior entre abril e junho. Cerca de 70% de todas as postagens dos 50 maiores perfis de empresas do mundo ainda são feitas no Facebook. “Esse panorama mostra que o caminho seguirá positivo para o Instagram no futuro. A plataforma continua sendo altamente eficaz para promover o engajamento e alcançar grandes públicos e é cada vez mais o lugar certo para as empresas se mostrarem de maneira criativa, estimularem engajamento e aumentarem o reconhecimento da marca”, diz Alexandra.

Aqui no Brasil, a quantidade de postagens feitas tanto no Instagram quanto no Facebook é quase a mesma. Porém, ao contrário do que ocorre no mundo, a audiência das marcas ainda é maior no Facebook, mesmo que a quantidade de interações nessa mídia social seja muito menor do que no Instagram.

Mesmo tendo sido alvo de boicotes por diversas marcas e acusado de não combater discursos de ódio dentro de sua própria casa, no segundo trimestre de 2020, o Facebook superou as estimativas de Wall Street. A companhia registrou alta de 11% na receita, cerca de 18,7 bilhões de reais. A expectativa do mercado era de um crescimento de 2,5%. Com o resultado, o valor de mercado do Facebook, que lucra principalmente com as redes sociais Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger, superou os 700 bilhões de dólares.

A batalha faz sentido?

Falar de uma disputa entre duas redes sociais que compartilham o mesmo dono pode parecer estranho, afinal, estando o Facebook ou o Instagram na liderança, a companhia de Mark Zuckerberg se beneficiará da mesma forma.

Além de estar roubando a audiência do Facebook, estimativas mostram que a contribuição do Instagram para a receita da companhia de Zuckerberg foi de 3,4 bilhões de dólares em 2016 para 20 bilhões de dólares no ano passado, quase 30% do total. 

Embora os mais críticos enxerguem a ascensão sem precedentes do Instagram como uma ameaça real à existência Facebook, os usuários não usam as duas redes sociais da mesma forma, o que pode fazer com que as marcas continuem preferindo fazer publicidade no Facebook, como aponta artigo de opinião da gerente nacional da socialbakers no Brasil, Alexandra Avelar, publicado no site Meio e Mensagem.

Segundo Alexandra, enquanto os usuários do Facebook estão mais dispostos a ver conteúdos mais informativos e densos, o Instagram é procurado como uma rede de conteúdos mais rápidos e dinâmicos, o que acaba gerando mais engajamento. Hoje, milhares de marcas trabalham em campanhas nas plataformas, mas o alcance das propagandas não é o único fator na decisão entre Facebook e Instagram.

https://exame.com/casual/o-instagram-vai-engolir-o-facebook-audiencia-ja-e-31-maior/

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Uma conversa: Luciano Huck & Thomas Piketty – para reduzir desigualdades

ESTADO PRECISA RESOLVER ‘OPACIDADES’ PARA RASTREAR E REDUZIR DESIGUALDADES

Economista francês defende choque de transparência para diminuir “distância entre pessoas e governos” e também impostos sobre fortunas e heranças no pós-pandemia 

Texto: Luciano Huck, especial para o Estado

13 de setembro de 2020 

Conversa virtual de Luciano Huck com o economista Thomas Piketty.

Para conversar sobre desigualdades e geração de oportunidades, convidei para dialogar um dos mais respeitados pensadores e autores da atualidade. Seu livro O Capital no Século XXI vendeu no mês de lançamento, em 2013, mais do que qualquer outro livro da Harvard University Press em 101 anos. Nenhuma obra de economia teve impacto tão explosivo. Foi seguramente o livro de economia mais debatido dos últimos anos.

A revista The Economist declarou que a obra poderia “revolucionar o modo como as pessoas enxergam a história econômica dos últimos dois séculos”. A também britânica Prospect acrescentou o autor à sua lista de pensadores mais influentes do mundo ocidental.

Economista francês, ele é reconhecido mundialmente pelas pesquisas sobre desigualdade e redistribuição da renda. Partindo de uma fórmula simples, constatou que, sem mudanças políticas, não há nem haverá como escapar do aumento da desigualdade, visto que a renda sobre o capital avança em ritmo mais acelerado do que o crescimento econômico.

Thomas Piketty se junta hoje à galeria de notáveis que se dispuseram a compartilhar, aqui no Estadão, suas visões de vanguarda sobre o mundo contemporâneo e sobre o pós-pandemia. As ideias e teses do francês não são uma unanimidade. Mas, sem dúvida, são provocativas. Bem embasadas, servem de combustível para necessárias reflexões.

Luciano Huck: O que me traz a você é minha curiosidade. Tenho buscado aprender e discutir como fazer um Brasil menos desigual, gerador de oportunidades para todos. A enorme maioria da população brasileira vive uma perversa pobreza hereditária, sem mobilidade social. Na sua opinião, o que fez do Brasil um dos países mais desiguais do planeta?

Thomas Piketty: Uma das conclusões-chave que trago no livro Capital e Ideologia é que, no longo prazo, o que traz prosperidade a um país é a diminuição da desigualdade, um sistema educacional mais inclusivo e uma redução da concentração de renda. O Brasil não passou pelas grandes transformações no século 20 que em alguns lugares diminuíram a desigualdade e, com isso, aumentaram a prosperidade da economia. O Brasil não sofreu tanto com os horrores das duas Guerras Mundiais, que, nos EUA e no Leste Europeu, por exemplo, contribuíram bastante para a alteração do cenário político, para a competição pelo poder entre grupos sociais. A depressão econômica antes e depois das Guerras ajudou a desacreditar a antiga elite e a reduzir a legitimidade do sistema de mercado, desse sistema capitalista do laissez-faire, o que forçou um rebalanceamento das forças. No Brasil, isso não aconteceu. O legado da escravidão, esse legado específico da origem do Brasil, não permitiu o desenvolvimento de novas forças. 

A história dos partidos políticos do País, a importância dos militares, é uma situação inicial de muitas desigualdades.

Está completamente errada, porém, a visão de que uma cultura de igualdade ou de desigualdade é uma característica permanente de um país. Observando diferentes casos, você vê que países que hoje parecem muito igualitários, como a Suécia, e países ainda mais desiguais do que o Brasil se transformaram completamente depois de determinadas mudanças políticas, mudanças até mesmo pacíficas. Na história política do Brasil, você sabe melhor do que eu, o voto universal é relativamente recente. Só começou realmente no final dos anos 1980. Todas as Constituições antes disso excluíam parcelas da população.

Luciano Huck: Faço televisão há mais de 20 anos. Falo com 30 milhões de brasileiros toda semana. Sou um bom ouvinte e gosto de contar histórias. A desigualdade brasileira ninguém me relatou: Eu vi. E esse desconforto me fez sair da zona de conforto e começar a procurar soluções para nossos problemas. Como você explicaria para uma pessoa comum, alguém do povo, que a vida dos filhos dela e dos netos dela pode melhorar?

O que eu quero dizer para os brasileiros é que, pelas evidências internacionais e históricas, o Brasil é hoje desigual demais para conseguir se desenvolver”

Thomas Piketty

Thomas Piketty: É difícil estimar prazos e expectativas consistentes quanto ao que pode ser realizado em 5 ou 10 anos. Há um discurso conservador, especialmente no Brasil, em que as elites dizem que a redistribuição de renda só poderá ser feita no futuro, quando o País for mais rico, e que, se feita agora, será um desastre até mesmo para os pobres. O que eu quero dizer para os brasileiros é que, pelas evidências internacionais e pelas evidências históricas, o Brasil é hoje desigual demais para conseguir se desenvolver. Não estou sugerindo zerar a desigualdade e taxar as pessoas ricas em 100%. Mas, no Brasil, hoje você paga altos impostos indiretos — de 20%, 30%, na sua conta de eletricidade, por exemplo. E, se você herda uma herança imensa, você paga somente 1% ou 2% de impostos. Em muitos países, inclusive alguns dos mais ricos do mundo, as pessoas pagam menos impostos na conta de eletricidade e mais impostos sobre altas quantias de dinheiro.

Luciano Huck: Sempre que discutimos políticas de proteção social, de diminuição das desigualdades e geração de oportunidades, temos que ficar atentos para que não se torne uma equação de soma zero. Qual o melhor caminho para o Brasil considerando a estrutura do Estado brasileiro: cara, pesada, ineficiente, corrupta e com pouquíssima capacidade de investimento?

Thomas Piketty: Vocês precisam de mais transparência sobre quem está pagando o que e sobre quem está recebendo o quê. No Brasil, é muito difícil de saber, em nível de bens econômicos, quem está pagando tais e tais impostos e quem está acessando tais e tais serviços. Para gerar confiança no Estado brasileiro e para aumentar a capacidade do governo de investir, essa transparência é fundamental. Supostamente, nós vivemos a era da bigdata, mas, na prática, a nossa bigdata é falsa, não passa de um grande monopólio privado das grandes empresas de tecnologia. Estamos, na verdade, na era da grande opacidade no que se refere à administração pública. Da capacidade do governo de rastrear a desigualdade, de rastrear dados de saúde pública, etc., tudo é muito mais restrito do que deveria ser. 

Acho importante municiar as pessoas, dar as informações, dar a possibilidade de as pessoas acompanharem e avaliarem o que o governo está fazendo, acompanhando os progressos e fracassos. Se você tem uma certa distribuição da carga tributária no Brasil em 2020 e 2021, é importante fixar uma meta para 2022, 2023, 2024, 2025, e divulgar isso publicamente para mostrar o que foi feito e o que não foi. Por enquanto, existe um grande discurso sobre justiça social, mas não os meios para rastrear e monitorar se estão realmente indo nessa direção.

Luciano Huck: Tem uma frase que você repete com frequência: “Vamos aos fatos”. E isso me conecta a você. Mas os seus fatos vêm dos dados e análises históricas. Já os meus fatos vêm da rua. Entre tantas deficiências e ineficiências que a pandemia veio iluminar no Brasil, chama a atenção a maneira como lidamos mal com dados e tecnologia no governo. Temos uma população conectada, com mais de 200 milhões de chips de celular ativos, mas um governo ainda muito distante do que poderia ser um governo digital. Como você avalia a ideia de transformar os governos em plataformas digitais e como isso poderia impactar na redução de desigualdades?

Thomas Piketty: É muito importante disponibilizar informações aos cidadãos. Isso é relativamente fácil agora, ou pelo menos deveria ser relativamente fácil, considerando as novas tecnologias disponíveis. Mas ainda há uma grande distância entre as pessoas e os governos. Acho que temos que criar uma linguagem que traduza princípios e aspirações gerais em ações concretas e notáveis. Quando você diz “nós vamos trazer 90% das crianças para o ensino fundamental e ter um professor para cada 25 ou 30 alunos”, você divulga um objetivo simples, quantitativo, que pode ser monitorado, que pode ser acessado. As grandes transformações históricas precisam conseguir se expressar em termos quantitativos.

O nosso sistema capitalista atual está danificando o planeta, criando muita desigualdade”

Thomas Piketty

Luciano Huck: No livro, você mostra como a França diminuiu desigualdades muito mais depois da guerra do que depois da Revolução Francesa. O Brasil também nunca reduziu tanto sua desigualdade como nesta pandemia, com o necessário auxílio emergencial. Mas é um voo de galinha, porque não está ancorado em nenhum planejamento e porque falta excelência de execução. Muito se tem discutido sobre a origem de recursos para programas de proteção social e investimentos de infraestrutura. Qual sua opinião sobre a necessidade de rigor fiscal e sobre a emissão de dívidas de curto prazo e moeda por países como o Brasil?

Thomas Piketty: Numa crise como esta, é muito tentador dizer “ok, nós vamos fazer o Estado bancar tudo, aumentar a dívida pública, etc.”. Vejo, na Europa e nos EUA, pessoas de lados diferentes do espectro político defendendo que o governo se endivide e pague tudo, que os bancos centrais são fortes e que não é preciso se preocupar com os impostos neste momento. Eu entendo essa lógica, mas ela é perigosa. Não é algo que você pode fazer em qualquer lugar do mundo. Os mercados financeiros mundiais podem perseguir e machucar mais intensamente os países que não operam em dólar ou em euro. Mas, mesmo na zona do dólar ou do euro, em algum momento você terá que quitar as dívidas, pagar pelos gastos públicos. É necessário indicar agora em qual direção nós iremos.

Precisamos de um sistema tributário mais igualitário, com mais justiça fiscal, aumentando os impostos dos bilionários, dos milionários. O imposto de renda é importante, mas os impostos sobre as fortunas são mais importantes ainda. Porque o que acontece no topo da pirâmide social é que algumas pessoas concentram sua riqueza em empresas, sem caracterizá-la como renda — e sem serem devidamente taxadas, portanto. Nós vivemos numa época em que, em qualquer país, os bilionários aumentaram as suas fortunas, os seus lucros e os seus bens muito mais rapidamente do que a média das pessoas. Então é natural que em algum momento você peça mais a essas pessoas que cresceram mais o seu patrimônio. 

Tudo bem existirem pessoas ricas e pessoas pobres, contanto que a diferença não seja muito grande e que todos consigam crescer na mesma velocidade. Se você olha para dez anos atrás, as maiores fortunas eram de 30, 40 bilhões de dólares; hoje, elas são de 100, 150 ou quase 200 bilhões de dólares, como é o caso do Jeff Bezos (Amazon). E a economia norte-americana não cresceu nessa mesma velocidade. É importante deixar claro desde já que uma fatia maior vai ser cobrada desses grupos — em parte, para pagar pela nova infraestrutura e pelos novos investimentos e, em parte, para pagar as dívidas que aumentaram agora por causa da pandemia.

Luciano Huck: Estes 1% mais ricos sempre foram acusados de passividade em relação às questões da desigualdade. E neste momento da história ou nos comprometemos de fato em sermos parte da solução ou vamos colapsar. Como você entende que deveria ser esse comprometimento? Qual o papel do Estado nessa relação?

A enorme maioria da população brasileira vive uma perversa pobreza hereditária, sem mobilidade social”

Luciano Huck

Thomas Piketty: O que você vê na história é que isso não acontece voluntariamente. Você precisa da força do Estado. Eu acho a filantropia ótima. Mas ela deve ser algo além dos impostos, e não substituí-los. No final das contas, eu defendo que haja um imposto compulsório sobre as fortunas. Foi interessante observar as discussões que aconteceram durante as primárias do Partido Democrático dos EUA. Tanto a Elizabeth Warren quanto o Bernie Sanders, que não venceram as primárias, conseguiram um apoio imenso dos eleitores com menos de 50 anos ao fazer duas propostas: um imposto anual sobre o patrimônio total dos bilionários e uma taxa de saída para aqueles que quiserem mudar de cidadania para fugir da tributação. 

Se você quiser ficar nos EUA, você vai continuar pagando os impostos de lá, mas, se você quiser sair dos EUA, desistir da nacionalidade norte-americana para conseguir outra, uma nacionalidade suíça, por exemplo, você tem antes que deixar de 40% a 60% da sua fortuna nos EUA. Acho que necessitamos de algo assim. Nossa ideia de fluxo de capital livre precisa mudar. Nós praticamente sacralizamos os direitos de alguém construir fortunas e poder apertar um botão e tirar seus bens do país. Isso não é sustentável, porque, no final, vai ser a classe média, a classe média-baixa que vai pagar todos os impostos do país. E isso, em algum momento, vai fragilizar o nosso contrato social.

Luciano Huck: Nessas conversas em que tento iluminar o debate pós-pandemia, eu ouvi do geneticista Peter Diamandis a seguinte frase: “Se você quer ser um bilionário, cause um impacto positivo na vida de um bilhão de pessoas”. O que você acha dela?

Thomas Piketty: Bom, há muitos bilionários e oligarcas no mundo que eu não vejo fazendo nada. É importante observar que todos os bens, todas as coisas boas que acontecem no mundo são naturalmente coletivas. O Bill Gates não inventou o computador sozinho — existem milhares, milhões de engenheiros, de cientistas da computação, de técnicos, de pesquisadores, e nós não colocamos o valor deles no final de cada produto. Sem esse estoque de conhecimento comum, que foi acumulado pela humanidade por centenas de anos, nada seria possível. Então nós temos que ser mais conscientes de que a riqueza não é um passe de mágica de um único indivíduo. As coisas não funcionam assim. 

Nos EUA, houve uma grande mudança nos anos 1980. O governo decidiu ir atrás de mais inovação, e o presidente Ronald Reagan, em mensagem clara, disse que talvez aumentasse a desigualdade, mas que seriam tantas as inovações, tantas as descobertas úteis realizadas por bilionários que a renda média iria aumentar. Mas o que nós vimos 30 anos depois foi que o crescimento do PIB per capita nos EUA caiu à metade: ele foi de 1,1% por ano no período de 1990 a 2020, e, no período de 1950 a 1990, ou no período de 1910 a 1950, ele era de 2,2%.

Luciano Huck: No seus livros você discute a riqueza e os sistemas sociais ao longo da história. Também faz uma extensa discussão sobre a evolução da escravidão e da servidão. O Brasil tem uma terrível herança escravocrata, que, mesmo mais de 130 anos depois da abolição, ainda não foi devidamente endereçada. Nossas políticas reparadoras foram muito tímidas e ineficientes. Hoje, somos uma sociedade que não gera oportunidades de maneira equilibrada entre brancos e negros. Nossa violência urbana mata de maneira desproporcional muito mais negros do que brancos. Durante a pandemia, o debate sobre racismo e antirracismo ganhou enorme relevância pelo mundo. No Brasil, não foi diferente. Pessoalmente entendo que temos que reconhecer nossos privilégios como homens brancos e ricos, sair da inação e mergulhar na defesa de narrativas antirracistas. Como você enxerga essa questão?

Thomas Piketty: Essas questões foram negligenciadas por tempo demais, não só no Brasil, mas nos EUA, e também em países como a França e a Inglaterra, onde a história colonial, a experiência com a escravidão e a experiência após a escravidão tiveram um papel imenso no processo de industrialização. Na França, o Estado obrigou as antigas colônias de escravos, como o Haiti, a pagar, de 1825 até 1950, uma compensação pela perda de propriedades dos antigos donos de escravos. Esse pagamento, aliás, gerou grande dívida e acabou afetando o PIB desses países. Então não houve uma reparação da escravidão; houve, sim, reparação para o outro lado, para os donos dos escravos. 

Recentemente, um dos maiores defensores brancos da abolição da escravidão, Victor Schœlcher, teve suas estátuas derrubadas na Martinica e em Guadalupe, e os franceses ficaram chocados, perguntando “por que estão com raiva do Schœlcher?”. Na verdade, o Schœlcher, a exemplo de muitos intelectuais liberais da época, como o Alexis de Tocqueville, defendiam a indenização dos donos de escravos. Para eles, não deveria haver nenhuma compensação para os escravos, e sim para os donos.

Mas nós não podemos falar só em reparação. Precisamos também de uma política antidiscriminatória combinada a uma política de renda universal. Em Capital e Ideologia, eu falo de um sistema de herança para todos, onde todos receberiam um valor mínimo ao completar 25 anos. Ela não substituiria as outras partes do nosso sistema social, como as escolas públicas, a rede pública de saúde ou a renda básica. Seria algo a mais. E universal, não importa quais os seus antepassados, nós não vamos fazer um estudo de genealogia.

Tudo bem existirem pessoas ricas e pessoas pobres, contanto que a diferença não seja muito grande e que todos consigam crescer na mesma velocidade”

Thomas Piketty

Em alguns casos específicos, porém, isso se uniria a um programa de reparação e a uma política antidiscriminatória devido a injustiças passadas. A França deveria hoje devolver os impostos que foram pagos pelo Haiti, por exemplo. Nos EUA, em 1998 o Congresso aprovou uma indenização aos nipo-americanos que foram prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial. No caso dos nipo-americanos, não era muito, eram 400 dólares, para pessoas que ainda estavam vivas em 1998 e passaram um, dois ou três anos como prisioneiros durante a Segunda Guerra. Não houve nada assim para as pessoas que sofreram com a escravidão. E, de certa maneira, é tarde demais. Mas, para os afrodescendentes que sofreram com a segregação racial até os anos 1960, ainda há tempo.

No Brasil, as questões agrárias poderiam servir como uma ferramenta de reparação por injustiças do passado. No caso da Guiana Francesa, da Martinica, de Guadalupe, foram feitas propostas concretas nesse sentido. Eu não sei tanto sobre o Brasil, mas existem áreas nas Guianas, na Martinica, e em Guadalupe que ainda pertencem aos descendentes dos antigos donos de escravos, enquanto que os descendentes dos próprios escravos não têm terra nenhuma. É possível formar uma comissão para redistribuir parte dessas terras. Hoje existe o mesmo problema na África do Sul. Depois do fim do apartheid, não houve reforma agrária. Está na hora de pensar sobre isso.

Luciano Huck: A reforma agrária no Brasil lidou mais com o lado social e pouco com a viabilidade econômica das terras distribuídas. Por isso, acho que não funcionou tão bem. Ouço com atenção a ideia, mas eu não consigo enxergar de onde virá o dinheiro para esta herança mínima. Como pagar uma quantia para todas as pessoas de 25 anos?

Thomas Piketty: Hoje, a herança média em um país como a França é de 200 mil euros. Mais da metade da população, porém, não recebe nada. As pessoas do topo recebem milhões. Algumas recebem bilhões. O sistema que estou propondo não é muito radical. Eu defendo que todas as pessoas com 25 anos recebam 120 mil euros — e que os herdeiros de milionários recebam 600 mil euros, bem mais do que os 120 mil euros dos demais. 

Então, ainda estamos muito longe da igualdade de oportunidades. As pessoas gostam de falar sobre a igualdade de oportunidades, mas, quando se trata de aplicar o princípio, principalmente quando se trata do imposto sobre a herança, elas rechaçam o conceito. Existem muitas pessoas que, em termos de patrimônio, estão na metade de baixo da população e, mesmo assim, têm ideias boas de negócios: 120 mil euros, em vez de zero, farão muita diferença para elas.

Luciano Huck: Eu e você somos parte da geração 1971. Segundo o filósofo austríaco Rudolf Steiner, a vida humana se desenvolve ao longo de setênios. Estamos fechando o nosso sétimo setênio, que, segundo a teoria de Steiner, é o setênio do altruísmo, de uma fase expansiva, do questionamento diante do medo do envelhecimento, um período sedento por novidades. Qual deveria ser o legado da nossa geração?

Por enquanto, existe um grande discurso sobre justiça social, mas não os meios para rastrear e monitorar se estão realmente indo nessa direção”

Thomas Piketty

Thomas Piketty: Eu fiz 18 anos no fim do comunismo na Europa. O início do meu trabalho, das minhas pesquisas, foi observando esse fracasso imenso do comunismo soviético e do Leste Europeu. E, na época, se alguém me dissesse que, 30 anos depois, eu seria a favor do socialismo participativo, eu ia achar isso uma piada. Na época, eu era bastante anticomunista — eu ainda sou, na verdade — e muito mais a favor do livre mercado. A tarefa da nossa geração, pelo menos para mim, na Europa, é perceber que nós fomos muito longe na direção do hipercapitalismo e tentar construir alternativas econômicas, alguma esperança em outro sistema econômico. O nosso sistema capitalista atual está danificando o planeta, criando muita desigualdade. 

Depois do desastre comunista do século 20, nós precisamos pensar em uma nova forma de socialismo, muito mais descentralizada, mais participativa, democrática, federal. Precisamos continuar pensando. As pessoas da geração da Guerra Fria ou eram tentadas a ser comunistas ou eram muito anticomunistas — e elas ainda estão vivendo na Guerra Fria e não querem saber de alternativas econômicas. Penso que nós temos que reabrir a discussão. E penso que o crescimento das políticas identitárias é uma consequência de termos encerrado as discussões econômicas. Então, se você continuar dizendo para as pessoas que há apenas uma forma de política econômica e que os governos não podem fazer nada além de controlar suas fronteiras e suas identidades, não é de se surpreender que, 20 anos depois, as pessoas só falem do controle de fronteiras e de proteção de identidade. Nós precisamos retomar a discussão econômica. Precisamos refletir sobre os desastres do século 20 e partir para um novo século.

Luciano Huck: Muito obrigado pela conversa.

https://www.estadao.com.br/infograficos/cultura,estado-precisa-resolver-opacidades-para-rastrear-e-reduzir-desigualdades,1119966

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Hackers norte-coreanos roubam bilhões em criptomoedas. Como eles os transformam em dinheiro real?

Para os hackers de Pyongyang, o roubo é a parte fácil. Na verdade, colocar as mãos no dinheiro é uma história diferente.

Por Patrick Howell O’Neill  MIT Technology Review(Tradução Evandro Milet)

10 de Setembro 2020

Durante anos, a dinastia Kim da Coréia do Norte ganhou dinheiro por meio de esquemas criminosos como tráfico de drogas e falsificação de dinheiro. Na última década, Pyongyang se voltou cada vez mais para o crime cibernético – usando exércitos de hackers para conduzir roubos de bilhões de dólares contra bancos e bolsas de criptomoedas, como um ataque em 2018 que rendeu US $ 250 milhões de uma só vez. 

As Nações Unidas afirmam que essas ações geram grandes somas que o regime usa para desenvolver armas nucleares que podem garantir sua sobrevivência a longo prazo. Mas há uma grande diferença entre hackear uma bolsa de criptomoeda e realmente colocar as mãos em todo o dinheiro. Fazer isso requer mover a criptomoeda roubada, lavá-la para que ninguém possa rastreá-la e trocá-la por dólares, euros ou yuans que podem comprar armas, luxos e necessidades que nem mesmo os bitcoins podem. “Eu diria que a lavagem é mais sofisticada do que os próprios hacks”, disse Christopher Janczewski, um dos principais agentes do IRS (Receita Federal americana) especializado em criptomoedas.

Janczewski vê muita ação atualmente. Ele conduziu investigações sobre o recente hack que afetou usuários verificados do Twitter e sobre as atividades financiadas por Bitcoin do maior site da darknet para imagens de abuso sexual infantil. Janczewski foi mais recentemente o investigador principal em um caso para rastrear e apreender US$ 250 milhões em criptomoedas de uma série sem precedentes de hacks multimilionários supostamente executados pela equipe de hackers norte-coreana conhecida como Lazarus Group.

E, diz ele, as táticas de Lazarus estão em constante evolução.

Lavando dinheiro sujo

Depois que Lazarus hackeou com sucesso um alvo e assumiu o controle do dinheiro, o grupo tenta encobrir seu rastro para despistar os investigadores. Essas táticas geralmente envolvem mover moedas para carteiras e moedas diferentes – por exemplo, mudar de éter para Bitcoin.

O chamado grupo Lazarus usou esquemas elaborados de phishing e ferramentas de ponta para lavagem de dinheiro para roubar dinheiro para o regime de Kim Jong-un.Mas o método norte-coreano evoluiu nos últimos anos. Uma tática, conhecida como “cadeia de casca”(peel chain), move dinheiro em transações rápidas e automatizadas de uma carteira Bitcoin para novos endereços por meio de centenas ou milhares de transações de uma forma que esconde a fonte do dinheiro e diminui o risco de acender luzes vermelhas. 

Outra abordagem, chamada de “salto em cadeia”, move o dinheiro através de diferentes criptomoedas e blockchains para retirá-lo do Bitcoin – onde cada transação é lançada em um livro razão público – e para outras moedas mais privadas. A ideia é esfriar a trilha ou, melhor ainda, dar falsos alarmes aos investigadores.

A operação de lavagem do Lazarus, diz Janczewski, envolve a criação e manutenção de centenas de contas e identidades falsas, um nível consistente de sofisticação e esforço que destaca a importância da operação para Pyongyang. É extremamente difícil citar um valor preciso, mas os especialistas estimam que a Coréia do Norte depende de atividades criminosas para até 15% de sua receita, com uma parte significativa disso impulsionada por ataques cibernéticos.

Uma corrida armamentista silenciosa

Roubar criptomoedas está longe de ser o crime perfeito. A polícia e os reguladores antes eram quase sem noção, mas agora eles têm anos de experiência em investigação de criptomoedas. Além disso, estão ganhando níveis cada vez maiores de cooperação com as bolsas, que enfrentam pressões do governo e desejam maior legitimidade. 

Os investigadores deixaram de estar permanentemente na defensiva e passaram a ser mais proativos, com o resultado de que muitas bolsas responderam com novas regras e controles que simplesmente não existiam antes. As ferramentas de vigilância do blockchain são poderosas e cada vez mais difundidas, provando que a criptomoeda não é tão anônima quanto o mito popular pode dizer. Acontece que o estado ainda tem muito poder, mesmo neste mundo cypherpunk¹.

Não importa quantas cascas um hacker possa jogar sobre a criptomoeda roubada, o esforço geralmente se depara com um fato inegável: se você estiver tentando trocar uma grande quantidade de criptomoeda por dólares americanos, quase inevitavelmente terá que trazer tudo de volta para Bitcoin. Nenhuma outra criptomoeda é tão amplamente aceita ou tão facilmente convertida em dinheiro. Embora novas moedas e tecnologias de privacidade tenham surgido há anos, o Bitcoin e seu livro-razão público permanecem “a espinha dorsal da economia da criptomoeda”, diz Janczewski.

Isso significa que o destino final da moeda costuma ser um operador de balcão – uma operação sob medida em um país como a China, que pode transformar moedas em dinheiro, às vezes sem amarras. Esses negociantes costumam ignorar os requisitos legais, como as leis do tipo conheça seu cliente, que tornam as bolsas de criptomoedas maiores em lugares arriscados para a lavagem de bilhões roubados.

“O que costumávamos ver eram apenas transações de Bitcoin entre um roubo e o movimento em direção a negociantes de balcão que permitem que Lazarus saia do Bitcoin. Isso é relativamente simples ”, diz Jonathan Levin, fundador da empresa de investigação de criptomoedas Chainalysis. “Agora, há muito mais moedas envolvidas. Eles são capazes de se mover através de moedas obscuras, mas eventualmente terminam no mesmo lugar, qual seja movendo de volta para o Bitcoin e através do mercado de balcão”.

As operações de balcão são a forma preferida do Lazarus movimentar milhões de Bitcoins em dinheiro.

E o negócio é enorme: os 100 maiores negociantes de balcão envolvidos em lavagem de dinheiro recebem centenas de milhões de dólares em Bitcoins todos os meses, representando cerca de 1% de toda a atividade de Bitcoins.

A atividade ilegal movida a bitcoin não é responsável pela maior parte do uso de blockchains, mas permanece significativa e continua a crescer, de acordo com Chainalysis. 

O ransomware², por exemplo, é um negócio de bilhões de dólares possibilitado pela criptomoeda, enquanto os mercados anônimos de darknet movimentaram mais de US$ 600 milhões em Bitcoin em 2019.

“Há uma sofisticação maior do que vimos no passado”, diz Levin. “Algumas dessas ações foram bem-sucedidas, mas com os EUA cada vez mais agindo e respondendo a pedidos de congelamento de fundos e confisco de ativos, essas técnicas podem não ser tão eficazes no futuro.”

¹O termo cypherpunk é um trocadilho com as palavras cypher, referente à criptografia, e cyberpunk, nome da subcultura underground aliada às tecnologias de informação e cibernética, conhecida também pela sua resistência ao “establishment” e ao “mainstream”.

²Ransomware é um software malicioso que infecta seu computador e exibe mensagens exigindo o pagamento de uma taxa para fazer o sistema voltar a funcionar. Essa classe de malware é um esquema de lucro criminoso, que pode ser instalado por meio de links enganosos em uma mensagem de e-mail, mensagens instantâneas ou sites.

https://www.technologyreview.com/2020/09/10/1008282/north-korea-hackers-money-laundering-cryptocurrency-bitcoin/

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