Conheça 6 tendências de mobilidade urbana para 2022

Sustentabilidade e coletividade estão no centro do planejamento para melhorar a eficiência do transporte nos grandes centros

Estúdio Folha 28.jan.2022 

A mobilidade urbana deve ser pautada por sustentabilidade e coletividade em 2022. É isso o que revelam as seis principais tendências apontadas pelo instituto de pesquisa WRI Brasil e os associados da Cidadeapé, Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo. Nesse contexto, destacam-se a preocupação com emissões de CO², a redução dos deslocamentos e a ampliação das possibilidades de mobilidade para além dos centros urbanos. Confira:

1) Carros, bikes e patinetes elétricos

As vendas de carros elétricos aumentaram 257% em 2021 no Brasil, quando 2.860 veículos foram emplacados, resultado quase quatro vezes maior que os 801 vendidos em 2020. Os dados são da Anfavea e – ainda que os números absolutos não sejam tão representativos – já indicam a tendência de busca pela mobilidade com zero emissão de carbono. “Veículos elétricos são importantes para alcançarmos essa meta porque, nas grandes cidades, os transportes são responsáveis por 40% a 60% das emissões”, afirma Cristina Albuquerque, gerente de Mobilidade Urbana do WRI Brasil.

Para distâncias curtas e congestionadas, o uso de bicicletas e patinetes elétricos também deve seguir em alta. “O ideal, porém, seria que os serviços de compartilhamento não se limitassem apenas às áreas centrais e estivessem disponíveis também nas regiões periféricas para complementar a última milha de viagem, responsável pela conexão entre a casa das pessoas e o transporte público”, alerta Cristina.

Carro elétricoAs vendas de carros elétricos aumentaram 257% em 2021 no Brasil – Kindel Media no Pexels

2) MaaS – Mobility as a Service

Esse conceito de mobilidade indica uma grande transformação na nossa relação com os carros. E o que inicialmente pode parecer estranho já é comum em outros segmentos. Para muita gente, por exemplo, o hábito de comprar e acumular CDs e vinis perdeu o sentido na era do streaming. É esse mesmo tipo de mudança que o MaaS deve gerar, fazendo com que carros deixem de ser vistos como “bens”. E o entendimento de veículo como serviço inclui desde carros por assinatura até plataformas mais complexas que integram transportes públicos e privados – ônibus, metrô e carro compartilhado, por exemplo – e permitem que os usuários paguem pelo total das viagens em uma única conta.

Mobilidade como serviço (Maas) é um conceito que busca oferecer a mobilidade urbana de forma integrada

Mobilidade como serviço (Maas) é um conceito que busca oferecer a mobilidade urbana de forma integrada – Mercociudades.org

3) Veículos por aplicativo

Segundo a lógica do MaaS, os veículos por aplicativo, tanto carros como motocicletas, também permanecem em destaque. “A tendência nessa linha é que o transporte por aplicativo seja mais um modal para facilitar o acesso à cidade e possa, junto com a mobilidade ativa, apoiar os diversos percursos dos transeuntes urbanos, assim fomentando a multimodalidade e last-mile”, comenta Carolina Guimarães, gerente sênior de Políticas Públicas e Pesquisa da 99.

Além disso, há também mais duas tendências para o segmento: melhorar a relação entre veículos e quantidade de pessoas transportadas e auxiliar no transporte de pessoas com deficiência. “Todas as iniciativas relativas aos aplicativos precisam ser pautadas pela inclusão”, afirma Wans Spiess, diretora de relacionamento da Cidadeapé, representando os associados da associação. “Quanto maior a inclusão, maior será a eficiência do aplicativo”, completa

79% veem integração no transporte como vantajosa no dia a dia

Veículos por aplicativo continuam em alta – Pixabay

4) Pequenas distâncias e transporte ativo

Encurtar distâncias também é uma tendência de mobilidade no mundo todo. A ideia de “cidade de 15 minutos”, cunhada em 2016 por Carlos Moreno, urbanista colombiano e professor na Sorbonne que há mais de 20 anos vive em Paris, propõe um novo estilo de vida urbano em que todas as funções sociais essenciais – ou seja, morar, trabalhar, comprar, estudar e se divertir – possam ser cumpridas percorrendo distâncias curtas, de preferência a pé ou de bicicleta. “A não mobilidade já era uma tendência, e a pandemia comprovou que ela é possível e viável”, afirma Cristina, da WRI.

O resultado é mais qualidade de vida para as pessoas e menos emissão de CO² no ambiente. O grande desafio aqui é garantir infraestrutura e equipamentos nas mais diversas áreas da cidade, descentralizando investimentos para além de áreas determinadas, como o centro expandido, em São Paulo.

Não mobilidade inclui caminhadas curtas ou de bicicleta

Mobilidade ativa ganha espaço, com trajetos curtos feitos a pé, de bicicleta ou patinete – Unsplash

5) Mais ciclovias e bicicletas compartilhadas

Segundo a Cidadeapé, desde o início da pandemia o número de viagens feitas com bicicletas compartilhadas aumentou 30%, e o número de novos usuários desses serviços cresceu 41% em São Paulo. No entanto, para que a utilização atinja seu potencial é preciso investir no aumento da malha, principalmente nas periferias, que são desprovidas de vias seguras para pedalar. “Em cidades com as dimensões de São Paulo, onde a enorme maioria das pessoas mora longe dos locais de trabalho, ciclovias estruturadas precisam ser integradas ao transporte coletivo”, afirma Wans.

Foto de uma ciclovia

Mais ciclovias são tendências para as cidades – Wendel moretti no Pexels

6) Investimento em BRTs

Depois da crise do transporte coletivo gerada durante a pandemia, a tendência é que os investimentos sejam retomados, possivelmente com a proliferação de BRTs (ônibus de trânsito rápido) como tendência. De acordo com Cristina, da WRI, o modelo deve se destacar por ser mais fácil de implementar do que o metrô, utilizar novas tecnologias como veículos elétricos e se mostrar mais confortável para os passageiros.

Modelo dos BRTs deve se destacar por mais fácil de implementar do que o metrô

Modelo dos BRTs deve se destacar por mais fácil de implementar do que o metrô – Prefeitura do Rio de Janeiro/Divulgação

https://estudio.folha.uol.com.br/99app/2022/01/conheca-6-tendencias-de-mobilidade-urbana-para-2022.shtml

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A incrível capacidade do cérebro depois dos 60 anos

“Por volta dos 60 anos de idade, a interação dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro torna-se harmoniosa, o que expande as possibilidades criativas”

Por Cris Arcangeli*  Exame – 10/02/2022

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O diretor da George Washington School of Medicine and Health Sciences (Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade de Washington) fez um pronunciamento importantíssimo para nós, jovens com mais de 60 anos: ele anunciou que o cérebro de uma pessoa idosa é muito mais prático do que se acreditava até agora.

Faz tempo que não me animava tanto com uma notícia. Principalmente porque veio de uma universidade que está situada entre as líderes mundiais em educação e pesquisa.

Vamos detalhar a boa nova: por volta dos 60 anos de idade, a interação dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro torna-se harmoniosa, o que expande nossas possibilidades criativas. Assim podemos entender por que encontramos muitas personalidades que começam a exercer atividades criativas por volta desta idade. Além disso, ao atingir esta faixa etária, as pessoas conseguem usar os dois hemisférios ao mesmo tempo, o que permite a resolução de problemas muito mais complexos.

Não temos como contestar que, com a idade, nosso cérebro perde a rapidez que tinha na juventude, porém há uma vantagem enorme: ele ganha em flexibilidade e nos oferece maior probabilidade de tomarmos decisões certas e de estarmos menos expostos a emoções negativas.

Você sabia que entramos no pico da atividade intelectual humana mais ou menos aos 70 anos? É quando nosso cérebro começa a funcionar com força total. A explicação científica vem de uma substância chamada mielina, cuja quantidade aumenta em nosso cérebro com o tempo, e facilita a passagem rápida de sinais entre os neurônios, aumentando em 300% as habilidades intelectuais.

idosos-empreendedores

 (FG Trade/Getty Images)

A Universidade de Montreal (Canadá) possui um Instituto de Geriatria, que também vem desenvolvendo pesquisas sobre o assunto. Um dos principais pesquisadores, o professor Monchi Oury, acredita que o cérebro das pessoas idosas é bem inteligente: “escolhe” o caminho que consome menos energia, elimina o que considera desnecessário e somente mantém as opções corretas para solucionar problemas que se apresentem. Isso foi provado por um estudo do qual participaram pessoas de diferentes faixas etárias e cujo resultado mostrou que os jovens ficavam confusos ao serem confrontados pelos testes, enquanto os maiores de 60 anos apresentavam as soluções corretas.

Algumas características do cérebro com idade entre 60 e 80 anos comprovam estes dados. Ah… ele é realmente rosado!

  • Os neurônios não morrem, como parece ser um consenso geral. O que acontece é que as conexões entre eles acabam desaparecendo naquelas pessoas que não se envolvem em trabalhos mentais nesta faixa etária.
  • A distração e o esquecimento acontecem por causa do excesso de informações. Mais um motivo para não nos concentrarmos em ninharias desnecessárias e praticarmos o que podemos chamar de desapego mental.
  • A partir dos 60 anos as pessoas conseguem tomar decisões muito mais coerentes, pois não utilizam somente um ou outro hemisfério do cérebro: conseguem utilizar ambos ao mesmo tempo.
  • Podemos concluir que os chamados idosos que levam um estilo de vida saudável, se movem, praticam atividades físicas viáveis e mantêm plena atividade mental, NÂO têm suas habilidades intelectuais diminuídas com a idade. Ao contrário, elas até CRESCEM, podendo até atingir um pico entre os 80 e 90 anos.

Minha decisão pessoal, e que recomendo a todos é: não tenham medo da velhice.  Esforcem-se para se desenvolverem intelectualmente.  Aprendam novos trabalhos manuais, façam música, aprendam a tocar instrumentos musicais, pintem quadros!  Dancem!  Interessem-se pela vida, encontrem-se e se comuniquem com amigos, façam planos para o futuro, viajem da melhor maneira que puderem.  Não deixem de ir a lojas, cafés, shows.  Não se calem sozinhos: isso é destrutivo para qualquer pessoa, independente da idade.

Vivam de acordo com o pensamento: todas as coisas boas ainda estão à minha frente!

FONTE: New England Journal of Medicine.

Passe esta informação para sua família e amigos de 60, 70 e 80 anos de idade, para que eles possam se orgulhar da idade que têm!

*Cris Arcangeli é empresária, apresentadora, escritora e palestrante, É criadora de cinco empresas: Phytoervas, Phyta , PH – Arcangeli, Éh Cosméticos e, atualmente é CEO da Beauty In.

https://exame.com/blog/empreender-liberta/a-incrivel-capacidade-do-cerebro-depois-dos-60-anos/

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Com verba cada vez menor para pesquisa, Brasil vê fuga de cérebros se intensificar e virar ‘diáspora’

De acordo com levantamento do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), há atualmente, pelo menos, de dois a três mil pesquisadores brasileiros no exterior

Bruno Alfano O Globo 09/02/2022 

RIO – Num cenário de restrições orçamentárias cada vez maiores para pesquisa, a fuga de cérebros já virou uma diáspora. É com essa expressão que o mundo acadêmico tem se referido ao aumento exponencial de mão de obra altamente qualificada de pesquisadores que têm deixado o Brasil em busca de melhores oportunidades, condições de trabalho e reconhecimento. Na bagagem, eles levam conhecimento de ponta e anos de investimento público. De acordo com levantamento do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), há atualmente de dois a três mil pesquisadores brasileiros no exterior.

O orçamento das duas principais agências federais de fomento à pesquisa indica como a capacidade de produção brasileira está mais restrita. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) informa que o orçamento para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) caiu de R$ 5,13 bilhões em 2012 para R$ 2,48 bilhões este ano. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro bloqueou outros R$ 802 milhões. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) perdeu a metade da verba que teve dez anos atrás, passando de R$ 2,04 bilhões para R$ 1,02 bilhões.

— O Brasil, assim, está financiando os países ricos. Estamos entregando mão de obra altamente qualificada e nos privando do desenvolvimento que eles poderiam propiciar para o país — afirma Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC.

Greice Westphal, de 33 anos, está no Canadá, onde deve seguir a carreira de pesquisadora Foto: Arquivo pessoal

Greice Westphal, de 33 anos, está no Canadá, onde deve seguir a carreira de pesquisadora Foto: Arquivo pessoal

Realidades opostas

Greice Westphal, de 33 anos, pesquisa um modelo de tratamento multiprofissional da obesidade para que vire um serviço do SUS. Ela é doutoranda na Universidade Estadual de Maringá e, atualmente, está no Canadá, onde fez parte da sua pesquisa. Voltará ao Brasil apenas para defender a tese, mas o futuro como pesquisadora será em Ottawa.

— Aqui eles pagam até para os voluntários participarem da pesquisa. No Brasil, temos que implorar para os pacientes continuarem o tratamento para não perdemos os dados. Aliás, tive diversas vezes que tirar dinheiro do meu próprio bolso para comprar insumos ou consertar equipamentos. É tão parte da rotina que nem sei quanto já gastei — conta Westphal. — Trabalho com pesquisa científica há oito anos e nunca fui tão bem reconhecida como estou sendo aqui.

Coordenadora do Laboratório de Estudos de Educação Superior da Unicamp, Ana Maria Carneiro, que pesquisa a diáspora desde 2020, afirma que, apesar de não haver dados precisos, há fortes indícios de que esse movimento se intensificou por conta da queda brusca de financiamento nos últimos anos. No ano passado, o CNPq teve o menor orçamento deste século.

— Esse cenário é muito desanimador. Quem tem oportunidade de deixar o Brasil, vai — explica Carneiro.

Com apenas 22 anos, Mateus Silva já está saindo do país. Ele foi aceito para fazer doutorado em Yale e na Universidade de Nova York com uma bolsa do governo americano que financia novos cientistas. Aluno de mestrado em Neurociências e Biologia Celular da Universidade Federal do Pará, ele aponta o sucateamento da ciência brasileira como principal motivo da sua saída.

— O sucateamento começa desde a remuneração dos jovens pesquisadores. As bolsas infelizmente não são reajustadas desde 2013 e hoje limitam muito a qualidade de vida da maioria dos pós-graduandos, em especial dos que vivem sozinhos em outra cidade — explica Silva. — A situação já está ruim nos grandes centros de pesquisa no Sul e Sudeste, que recebem o grosso do investimento nacional. Agora, imagine como estão as regiões que recebem um financiamento muito menor do governo federal, como a região Norte?

Formado em fisioterapia pela Universidade Federal de Sergipe, Fernando Sousa, de 26 anos, desenvolve tratamentos para dor. No mestrado, ele investigou o efeito de dois programas simples de exercícios que os pacientes podem fazer sozinhos em casa para tratar a dor do ciático. No doutorado, desenvolveu um projeto para estudar a eficácia da telerreabilitação para pessoas com dores no ombro. Tentou bolsa três vezes no CNPq até desistir. Em janeiro desse ano, desembarcou em Melbourne, na Austrália, onde desenvolverá sua ideia pela Monash University.

— A fila de espera no hospital universitário da cidade em que eu morava no Brasil chegava a um ano e meio. São pessoas com dor sofrendo esse tempo inteiro sem assistência. A pesquisa que estou desenvolvendo aqui na Austrália seria útil para o aprimoramento do SUS, diminuindo essa fila — diz.

No entanto, segundo o pesquisador, o trabalho que ele desenvolverá precisará ser modificado para poder ser usado no Brasil.

— A realidade da Austrália é totalmente diferente. Existem fatores culturais e locais que influenciam o manejo da dor. Assim, é preciso investimento para desenvolver uma pesquisa similar aplicada ao SUS no Brasil — explica.

Na pandemia, importantes nomes no combate à Covid-19 acabaram deixando o país. Alvo de hostilidade de negacionistas, a microbiologista Natália Pasternak, por exemplo, foi para Columbia, nos EUA, pesquisar desinformação em ciência. Já Pedro Hallal, responsável pelos maiores inquéritos sorológicos no Brasil durante a pandemia, foi dar aulas na Universidade da Califórnia.

— O melhor aluno de doutorado que tive saiu do Brasil. Ele foi vendo que as oportunidades e o financiamento estavam cada vez mais difíceis no país, acabou aceitando um convite da Austrália e acho que nunca mais volta — afirma Hallal, que voltará ao Brasil ainda neste ano. — Além de todos os problemas, sofri ainda perseguição ideológica deste governo até no financiamento de projetos.

Falta de emprego

Na avaliação do presidente da SBPC, o Brasil vê se repetir um fenômeno do final dos anos 1990, quando o país doutorava pessoas que não conseguia empregar. Com isso, explica Renato Janine Ribeiro, esses profissionais acabam tendo renda incompatível com a formação de ponta que possuíram — e encontram oportunidades no exterior.

— Enquanto isso, algumas instituições de pesquisa sofrem com a falta de sangue novo. O Inpe, por exemplo, tem setores que estão muito desfalcados. O Brasil precisa contratar esses jovens. Não porque tem que dar emprego para eles, mas porque o país formou essas pessoas e as instituições precisam delas — diz.

Atualmente, um aluno de doutorado no Brasil recebe R$ 2.200 de bolsa com obrigação de dedicação exclusiva.

— Com esse dinheiro, não posso morar sozinha, não posso juntar dinheiro. Não estou mais jovem para ficar morando em república. Não quero mais ter essa vida de universitário. Quero começar minha vida. Não é nem o piso salarial de ninguém com graduação e não conta para aposentadoria, não tem férias, FGTS, nada — afirma Sabrina Paes Leme, mestranda do Inpe em sensoriamento remoto que já conseguiu financiamento para estudar em universidades na Austrália e na Holanda.

De acordo com Ana Maria Carneiro, o Brasil ainda pode reverter os danos causados pela fuga de cérebros se conseguir, no futuro, atrair esses profissionais de volta ou pelo menos fazer com que eles estabeleçam parcerias com universidades brasileiras. Segundo a pesquisadora da Unicamp, o Itamaraty já tem treinado seus diplomatas para eles conseguirem estimular os cientistas brasileiros no exterior a criarem pontes com o país.

— Esses pesquisadores têm intenção de manter laços com o Brasil, mas ainda há entraves aqui no país para que isso ocorra com mais frequência — diz.

https://oglobo.globo.com/brasil/educacao/com-verba-cada-vez-menor-para-pesquisa-brasil-ve-fuga-de-cerebros-se-intensificar-virar-diaspora-25386290

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O CIO ganha ainda mais relevância no varejo digital

Para liderar a transformação digital contínua de sua empresa, ele tem de seguir três princípios e, além disso, fazer a transformação digital de si próprio

Leonardo Pujol MIT Sloan Review 08 de Fevereiro 2022

Em 2021, o e-commerce superou os shopping centers no Brasil em receita. De acordo com um estudo da gestora de investimentos independente Canuma Capital, as vendas do comércio eletrônico saltaram de R$ 160 bilhões, em 2019, para R$ 260 bilhões em 2021 – lembrando que esses dados incluem transações cross border, representada pela operação de marketplaces estrangeiros como Amazon, Shopee e Aliexpress e que é responsável por cerca de 20% desse total, segundo dados da Ebit|Nielsen. No mesmo período, a receita total dos shoppings caiu de R$ 190 bilhões para R$ 175 bilhões.

Esses números não representam perda de relevância dos shoppings, mas demonstram o impacto da combinação entre o cenário macro e o comportamento dos clientes para os negócios, escancarando a urgência da digitalização das vendas para todo tipo de comércio. Quanto ao varejo restrito, por exemplo, a porção do e-commerce passou de 6,8% em 2019 para 12,7% em 2021, provando que o movimento por transações online segue em constante alta. Diante disso, o que deve acontecer com o varejo em 2022, com a forte expectativa da retomada do presencial, apesar das novas variantes do coronavírus?

Aconteça o que acontecer, a expectativa é de fortalecimento ainda maior do papel de CIO – o executivo-chefe de informação. Porque, aconteça o que acontecer, a digitalização das operações das empresas varejistas deve ganhar ainda mais tração, o que vai muito além de ter um e-commerce ou presença nas redes sociais. Um varejo digital é aquele que usa a tecnologia a favor da agilidade, de uma operação mais eficiente, de experiências melhores para o consumidor, de inovação – em especial, lançamento de serviços – e de modernização da cadeia de fornecimento. Tudo isso, que favorece a geração de receita, depende fortemente do CIO e de seu desempenho.

O velho diretor de informática tem recebido cada vez mais nomes, conforme a ênfase do cargo: além de CIO, pode ser conhecido como CDO (executivo-chefe de dados), CIDO (executivo de informação e digital) e CTO (executivo-chefe de tecnologia, que, na definição original, tem mais foco no cliente externo enquanto o CIO foca o cliente interno).

Independentemente do nome escolhido, esse executivo não tem apenas entendimento profundo de tecnologias; ele combina isso com visão do negócio e grande flexibilidade, sendo uma peça indispensável para organizações que desejam prosperar num ambiente cheio de incertezas e volatilidade.

Artigo O CIO ganha ainda mais relevância no varejo digital

No que diz respeito à etapa prática da transformação digital do varejo, o CIO deve se responsabilizar por três pontos principais:

  1. Tornar a infraestrutura tecnológica invisível.
  2. Entregar aplicativos no ritmo da inovação.
  3. Fazer a ideia de segunda-feira virar realidade na sexta-feira.

Em relação à própria transformação digital, o CIO pode considerar mais seis pontos adicionais:

  1. Escolher as estratégias com as quais vai se alinhar.
  2. Conviver com a “shadow IT”.
  3. Mudar a mentalidade de despesa para receita.
  4. Saber fazer pitches além dos números.
  5. Revisar como habilidades são avaliadas em sua equipe.
  6. Incluir na gestão de seus projetos o valor gerado.

UM HANDBOOK

Comecemos por explorar cada um dos três conceitos-chave da digitalização do varejo, sintetizados no The digital CIO’s handbook for retailers, um guia especializado produzido pela Capgemini.

1. Infraestrutura invisível

Pense na experiência de usar uma Apple TV pela primeira vez. Você remove o dispositivo da embalagem, conecta-o à TV, digita sua senha e, voilá, está pronto e funcionando. Sem configuração demorada, sem processos mirabolantes, sem manual do usuário. Ele apenas funciona.

Quando menciona a infraestrutura invisível, é a isso que a Capgemini se refere. Trata-se do uso de soluções que dispensam a necessidade de investimento em infraestrutura básica para oferecer uma melhor experiência ao usuário.

Dentro desse pacote de soluções está a migração para a nuvem. Sinônimo de operações inteligentes nas empresas, a nuvem oferece agilidade aprimorada, ciclos de desenvolvimento mais rápidos, redução de custo e automação. Isso porque ela combina todos os componentes necessários para uma verdadeira transformação digital. E as empresas estão cientes disso – tanto que alguns estudos projetam a migração de mais de dois terços das cargas de trabalho para a nuvem nos próximos anos.

O problema é que apenas metade das organizações aproveita todo o potencial oferecido pela tecnologia atualmente. Para usufruir os benefícios na sua integralidade, a recomendação da Capgemini é reconhecer que a nuvem é o meio, não um fim em si. O que requer uma mudança na cultura, nas pessoas e nos processos, além de planejamento – cabe ao CIO construir um business case e um roteiro que transforme a empresa.

2. Aplicativos no ritmo da inovação

Experiências de usuário inovadoras, ciclos de inovação ativos e alta capacidade de resposta ao mercado estão entre as características dos empreendimentos digitais de sucesso. Especialmente se essas experiências acontecem nos aplicativos que gravitam o negócio.

Neste ponto, transformar significa modernizar o software existente, adotar uma abordagem moderna para o desenvolvimento entre pessoas, processos e tecnologia – mesclando soluções de nuvem, como microsserviços e conteinerização, integração de nuvem híbrida, metodologias ágeis e DevOps.

Com uma base sólida, o CIO permite que a varejista execute e se adapte rapidamente às condições de um mercado em constante inovação – e até mesmo preveja produtos e serviços antes que sejam necessários. Para fortalecer sua posição estratégica, o CIO deve justificar de forma clara a razão para tal movimentação junto ao CEO e à alta liderança por meio de um roadmap com projeções de curto, médio e longo prazo, desenhado simultaneamente a conquistas da estratégia do negócio.

A recomendação para o CIO é começar por um projeto pequeno e que seja nativo na nuvem, a ser acompanhado por uma equipe pequena e habilidosa, apaixonada por tecnologia. Assim, os riscos podem ser controlados e novas metodologias, testadas. De acordo com Capgemini, o CIO deve selecionar colaboradores que sejam agentes de mudança e tenham a ambição de se tornar futuros líderes, pessoas que inspiram a transformação. Em projetos-piloto, essa equipe tem o poder de aprofundar suas habilidades e cascatear os ensinamentos em iniciativas em suas áreas de atuação.

3. De segunda a sexta-feira

Fazer a ideia de segunda-feira se materializar na sexta. Esse é o terceiro conceito que todo o CIO precisa abraçar, segundo a Capgemini. No mundo digital, as organizações precisam repensar os negócios com a velocidade de uma startup. Isto é, a inovação que costumava levar meses para virar realidade, desde o surgimento da ideia, deve levar apenas alguns dias.

Fazer isso envolve a mudança de um modelo baseado em projetos para um modelo centrado em produtos. O CIO pode construir esse cenário por meio de tecnologias emergentes – internet das coisas, inteligência artificial, machine learning, entre outras. E, claro: como no primeiro e no segundo conceito, aqui também existe a necessidade de uma mudança na cultura da empresa, nas pessoas e nos processos.

Pensando em uma estratégia DevOps, o CIO tem a missão de construir um time ágil e preparado para incorporar uma “orientação a produtos”, tendo como norte a aplicação de tecnologias de forma singular. Não há mais tempo para equipes superespecializadas e “largadas em seu quadrado”. Agora, o time precisa aprender a falar a mesma língua, especialmente a língua do negócio, em uma velocidade jamais alcançada antes.

UMA JORNADA EVOLUTIVA

Para promoverem a digitalização de suas empresas, os CIOs precisam se transformar digitalmente, como entende Stephen Jay Andriole, que é professor da Vilanova University e foi diretor da Darpa, maior agência estatal de pesquisa militar do mundo. O especialista explica que esses executivos devem continuar a providenciar para que a parte técnica-operacional das empresas continue a funcionar sem tropeços – as redes de comunicação precisam estar ativas, softwares devem funcionar, dados devem estar sempre seguros e acessíveis. Mas, além de mantenedores de infraestrutura tecnológica, eles devem passar a se ver como facilitadores digitais da criação de valor, o que requer adotar novos modos de operar. Andriole identifica alguns deles:

1. Escolher as estratégias com as quais se alinhar

Engajar-se nas estratégias de negócios já vem sendo uma prioridade para CIOs há tempos. No entanto, a maioria deles ainda reclama de ineficiência no planejamento de suas empresas, com estratégias em excesso. Por isso, eles devem escolher a quais planos se alinham. Segundo Stephen Jay Andriole, em casos de conflitos entre planos, as prioridades estratégicas de curto prazo devem ser favorecidas. Não havendo conflitos, o horizonte estratégico de três a cinco anos também precisa ser contemplado, pois requer os maiores investimentos.

2. Conviver com a “shadow IT”

A chamada “shadow IT” – conceito que pode ser entendido como processos de TI que acontecem fora do espaço e do controle do departamento de TI tradicional – ainda deixa muitos CIOs se sentindo incomodados. Eles veem essa shadow IT como concorrente a eliminar. No entanto, para Andriole, a shadow IT deve ser vista como uma consequência natural da governança da tecnologia centralizada no departamento de TI, que às vezes impede as áreas de inovarem por isso. A shadow IT não deve ser o novo modo de operar da empresa, diz Andreole, mas os CIOs têm de aprender a reconhecer quando devem de fato se opor a elas (porque prejudicarão todo o sistema), e quando elas são benéficas (no sentido de levarem ao aumento de receita), e aceitar o segundo caso.

3. Mudar a mentalidade de despesa para receita

A grande preocupação dos CIOs sempre foi a redução das despesas com tecnologia, mas esse novo momento da tecnologia pede aos CIOs que abracem uma nova missão financeira: focar na geração de receita em vez da redução de custos. Isso não é fácil de fazer, como diz Andreole. Os CIOs devem entender que se encontram numa posição privilegiada para entender as tendências de tecnologia no meio corporativo e desenvolver novos aplicativos e plataformas, inclusive acionando parcerias.

4. Saber fazer pitches além dos números

Na hora de aprovar investimentos em tecnologia com os líderes de negócios e/ou com o conselho de administração, os CIOs, em sua maioria, ainda se apoiam em business cases fortes. Eles se comunicam principalmente com evidências e isso não é ruim; as comunicações empíricas-quantitativas são eficazes na era do big data. Mas, segundo Andriole, esse tipo de linguagem não dá espaço para a imaginação. Na visão do especialista, novas iniciativas são aprovadas ou rejeitadas por motivos que têm mais a ver com a imaginação do que com dados. Faz sentido: se o novo ainda não aconteceu, não há dados sobre ele; as pessoas precisam imaginá-lo. Então, os CIOs devem incorporar a habilidade de storytelling.

6. Revisar como as habilidades são avaliadas

A maioria dos gestores costuma ter dificuldade de fazer avaliações objetivas das habilidades e competências de suas equipes e isso não é diferente com os CIOs. Avaliam com base variáveis subjetivas – relacionamentos, referências de amigos, reputações etc. o que faz com que algumas equipes de tecnologia se tornem “permanentes” mesmo com habilidades obsoletas – o que se agrava no cenário de escassez de profissionais de tecnologia. Stephen Jay Andriole insiste em que os líderes de TI se dediquem mais à avaliação de suas equipes, usando um conjunto objetivo de métricas de habilidades e competências, inclusive comportamentais.

7. Incluir na gestão de projetos o valor gerado

Gerenciar projetos é sempre uma prioridade para equipes de TI. Mas, na visão de Andriole, essas equipes continuam a medir sobretudo os marcos, custos e riscos do projeto (ou do software associado a ele). É mandatório que meçam também o valor que o projeto agrega ao negócio. Na prática, segundo o especialista, isso vai mudar até os filtros para aprovar e rejeitar projetos. Passarão a focar, por exemplo, atividades voltadas a suporte ou melhoria de produtos e serviços.

UM CASO

Um exemplo de CIO de varejo dos tempos atuais é Rodrigo Perenha, diretor de tecnologia do Mercado Pago. Quando se olha para suas participações na mídia ou em eventos, ele sempre fala em agilidade, não em tecnologia. E define sua cultura de agilidade (segundo ele, a cultura de todo o Mercado Livre) como uma “paixão por agilidade”. Perenha explica que os times da organização se distribuem em torno de produtos e são multidisciplinares, com profissionais de produtos, de negócios e de tecnologia, que cuidam da concepção aos testes e à execução e sustentação.

De acordo com Perenha, um ponto crucial da agilidade no Mercado Livre são as “capabilities” que podem ser usadas por todas as equipes de produtos – em vez de estas terem de ser desenvolvidas do zero para um determinado aplicativo. Um exemplo é o motor de recorrência. Os diferentes times vão usando capabilities e pedaços de outros APIs para fazer o que precisam fazer. É isso o que torna possível ter uma ideia na segunda-feira e uma entrega já na sexta.

Outro ponto importante crucial dessa figura do CIO é a importância dada à criação de valor nos projetos. Perenha não enxerga MVPs como MVPs (sigla em inglês de produtos mínimos viáveis), e sim como MLPs (produtos mínimos amáveis). Os produtos mínimos feitos pelos profissionais de tecnologia têm de ser amados e desejados pelos clientes. Isso é valor.

O Fórum: A era da hiperpersonalização é uma coprodução MIT Sloan Review Brasil e Capgemini.

https://mitsloanreview.com.br/post/o-cio-ganha-ainda-mais-relevancia-no-varejo-digital

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Tudo sobre o grafeno, material que está revolucionando a tecnologia

Jorge Marin via nexperts JANUARY 28, 2021

De repente, um material começou a ser citado em todas as mídias, sendo tão revolucionário quanto o plástico e o silício. O grafeno, material mais fino do mundo, promete revolucionar a indústria tecnológica graças às suas características, como resistência, leveza, transparência, flexibilidade, e condutividade elétrica.

O grafeno é formado a partir de uma camada bidimensional de átomos de carbono organizados em estruturas hexagonais da altura de um único átomo. O material pode ser obtido por meio da extração de camadas superficiais de grafite, um mineral maleável abundante na Terra.

Imagem de: Tudo sobre o grafeno, material que está revolucionando a tecnologia

As aplicações do grafeno são imensas, podendo ser usado em novos modelos de comunicações ópticas, circuitos e dispositivos transparentes que podem ser dobrados e torcidos (como celulares, por exemplo), implantes neurais, adesivos rastreadores de saúde e sensores impressos para qualquer tipo de aplicativo da Internet das Coisas.

A descoberta do grafeno

Geim e Novoselov, ganhadores do Nobel de Física 2010 (Fonte: SlidePlayer/Reprodução)

O grafeno já era teorizado desde 1947 pelo canadense Philip Russel Wallace, mas foi somente em 2004 que os físicos Kostya Novoselov e Andre Geim conseguiram provar a sua existência autônoma, sem estar ligado quimicamente a outros elementos. Também foram esses dois cientistas os primeiros a experimentar algumas das propriedades excepcionais do material.

O métodos utilizado para isolar o grafeno foi extremamente simples: os russos Novoselov e Geim foram colando e descolando uma fita adesiva grudada em uma lâmina de grafite, o mesmo usado em lápis, até que restou uma camada única de átomos de carbono. Seis anos depois disso, essa “colagem” rendeu a ambos o Prêmio Nobel de Física.

Surpreendentemente, aquela finíssima camada de grafeno, usada pelos físicos no desenvolvimento de um transistor, manteve a sua estrutura e a sua condutividade inalteradas. A partir desse transistor de grafeno, os testes com a substância prosseguiram e, até 2010, pelo menos 3 mil estudos haviam sido publicados comprovando recursos do novo componente.

Afinal, o que é o grafeno?

Fonte: E&T Engineering and Technology/Reprodução

Quimicamente falando, o grafeno é um dos mais simples alótropos do carbono, ou seja, uma das muitas formas desse elemento químico que incluem o diamante e o grafite. Atualmente, considera-se que o grafeno seja o material mais resistente já conhecido, cerca de 200 vezes mais forte do que o aço.

Essa resistência se deve às fortes ligações químicas formadas entre os átomos de carbono do grafeno. Apesar disso, o material é tão fino, que 3 milhões de camadas de grafeno empilhadas umas sobre as outras têm a altura de 1 milímetro. Sem contar que ele é transparente, elástico e pode ser mergulhado em líquidos sem enferrujar, além de conduzir eletricidade e calor melhor do que qualquer outro componente.

Finalmente, o que torna o grafeno mais atraente são os seus baixos custos de produção. O Brasil, que detém as maiores reservas de grafeno do mundo, já se encontra na corrida tecnológica, pesquisando métodos mais baratos e eficientes para produzir o material.

Viabilidade econômica e preço

Fábrica de grafeno em Belo Horizonte, MG (Fonte: MGgrafeno/Divulgação)

Com todas as inúmeras propriedades do grafeno, era de se esperar que a pesquisa do material estivesse bem avançada. Porém, as empresas que estão apostando na tecnologia têm o desafio de tornar a produção do material comercialmente viável e em larga escala, pois hoje a maioria dos testes é feita apenas em laboratórios.

Porém, os pesquisadores estão otimistas e lembram que, quando o silício foi descoberto como grande solução tecnológica em transistores, demorou 7 anos para ser implantado. E, no caso dos primeiros circuitos integrados, o silício só foi utilizado cerca de 20 anos depois.

Por enquanto, o preço do grafeno ainda é elevado: atualmente uma folha do material de 5,08 centímetros por 2,54 centímetros (12,9 cm²) custa até US$ 275, cerca de R$ 1,5 mil. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) fez um relatório em 2012, no qual estimou que o mercado do grafeno tem potencial para atingir até 1 trilhão de dólares em 10 anos.

https://www.tecmundo.com.br/produto/210846-tudo-grafeno-material-revolucionando-tecnologia.htm

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Não há evidência de que machos são melhores líderes entre humanos ou animais, diz primatólogo

Primatólogo Frans de Waal pergunta-se se o ser humano tem a cabeça aberta para admitir que outras espécies têm vida mental

Por Cristina Aby-Azar — Para o Valor – 05/02/2022 

Neste ano de eleições no Brasil, vão abundar aquelas imagens de políticos pegando bebês no colo, beijando e brincando com eles. O que esses candidatos a cargos públicos podem não saber é que estão adotando um comportamento semelhante ao de grandes primatas como chimpanzés, gorilas e orangotangos quando estão em busca do apoio para tornarem-se líderes de seus bandos.

Normalmente, os chimpanzés machos demonstram pouco interesse pelos filhotes, mas, quando estão de olho no poder e rivalizam com outros machos, desenvolvem um interesse repentino por bebês para impressionar as fêmeas e, assim, conquistar o respaldo delas.

Seres humanos e animais têm em comum muitas características psicológicas e morais, e a evolução da informação nas últimas décadas desmoronou pouco a pouco teorias sobre a singularidade do homem.

A pergunta que o primatólogo holandês-americano Frans de Waal, 73 anos, faz é se o ser humano tem a cabeça aberta o suficiente para presumir que outras espécies têm vida mental. “Não existe algo exclusivamente humano”, diz o acadêmico, que é professor no departamento de psicologia da Universidade Emory e diretor do Living Links, um centro para o estudo avançado da evolução humana e dos primatas grandes, em Atlanta, nos Estados Unidos.

Segundo De Waal, a chave para o reconhecimento da inteligência dos animais está no conceito Umwelt, criado pelo biólogo alemão Jakob von Uexküll, e que significa “ambiente” ou “arredores”. “Cada organismo percebe o ambiente de maneira própria”, disse Uexküll, num mundo coerente de experiência sensorial que pode ou não se sobrepor ao dos seres humanos.

“Parece muito injusto e parcial perguntar se um esquilo sabe contar até dez”, diz De Waal, uma vez que a habilidade de contar não tem nada a ver com a vida desse animal. No entanto, acrescenta, o esquilo é muito bom em achar nozes escondidas.

Frans de Waal: “Animais, como humanos, precisam de emoções para viver” — Foto: Catherine Marin/Divulgação

Em seu livro “Somos inteligentes o bastante para saber quão inteligentes são os animais?”, que acaba de ser lançado em português no Brasil pela editora Zahar, De Waal descreve de modo cativante experimentos que evidenciam a inteligência dos animais e demonstram a habilidade deles de confeccionar e usar ferramentas, cooperar uns com os outros, demonstrar empatia, planejar o futuro, reconhecer pessoas e outros animais e fazer as pazes após conflitos. Assim como o homem, os primatas bocejam quando outro boceja, retornam favores, ficam descontentes se consideram uma distribuição de bens injusta e até mimam filhotes em busca daquela posição de poder.

Para o acadêmico, que em 2007 foi escolhido pela revista americana “Time” como umas das 100 pessoas mais influentes do mundo, os animais têm todas as emoções que os humanos têm. Talvez, ele argumenta, os homens tenham emoções mais complexas como culpa e vergonha, mas também é possível notar sinais de culpa e de vergonha, o que está perto de subordinação, em outras espécies.

“Eu vejo as emoções um pouco como os órgãos”, diz. “No meu corpo, todos os órgãos são iguais aos de um cachorro. Todos os mamíferos têm esses mesmos órgãos – cérebro, fígado, coração, rins e assim por diante. Até um sapo tem esses órgãos. Você precisa deles para viver, e eu acredito que o mesmo acontece com as emoções. Os humanos precisam de emoções como apego, medo e raiva para viver, e os animais também”, diz o acadêmico de sua residência em Atlanta, onde passa a maior parte do ano.

Um dos exemplos que De Waal usa em seu livro para descrever evidências da inteligência dos seres não humanos é o da chimpanzé Franje. Numa manhã de novembro no zoológico Burgers, na cidade holandesa de Arnhem, onde as temperaturas começavam a cair algumas semanas antes do início do inverno, o primatólogo notou que a chimpanzé juntava toda a palha de sua jaula, que era aquecida, e a levava debaixo do braço para uma ilha na parte externa do recinto onde vivia, algo que nunca tinha feito antes. Por ter passado frio na véspera, Franje estava se preparando para mais um dia de temperaturas baixas. Queria ficar aquecida quando estivesse ao ar livre com seu filhote Fons num ninho de palha recém-construído.

“Sempre me pergunto em que nível mental os animais operam, mesmo sabendo, sem sombra de dúvida, que uma única história não basta para tirarmos conclusões. Mas essas histórias inspiram observações e experimentos que nos ajudam a distinguir o que está acontecendo”, escreveu De Waal.

Outro relato é o da gorila Leah. Depois de elefantes terem cavado um buraco grande para armazenar água em uma floresta da República do Congo – feito que mostra que os paquidermes também têm a capacidade de olhar para o futuro -, a gorila foi observada tentando atravessá-lo. Ela parou quando estava com a água pela cintura, já que primatas grandes detestam nadar. Leah voltou então para a margem para pegar um galho comprido que usou para medir a profundidade da água. Tateando com a vara, ela caminhou sobre os dois pés até bem longe dentro da lagoa antes de voltar para a margem, onde seu filhote chorava.

Mas, segundo De Waal, a versatilidade no uso de ferramentas não é exclusiva dos seres humanos e primatas grandes. Ele conta como uma equipe internacional de cientistas notou que pequenos macacos-prego, cujos cérebros são bem grandes proporcionalmente a seus corpos, usavam rochas para quebrar nozes no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo.

Esses macaquinhos, que hoje até são treinados para ajudar pessoas tetraplégicas em tarefas diárias como abrir correspondências ou acender a luz, comem a polpa de uma fruta e deixam as sementes caírem no solo para retornarem alguns dias mais tarde, quando elas já estão infestadas de larvas, uma de suas refeições favoritas. De Waal não fez parte desse estudo em particular, mas estuda esses macacos há anos e já esteve no Brasil os observando em regiões ao norte do Rio de Janeiro.

O primatólogo afirma que houve um tempo em que cientistas acreditavam que o comportamento humano era derivado do aprendizado e o animal da biologia, e que havia pouca coisa entre os dois. Uma crença que se provou falsa, já que em toda espécie o comportamento é um produto de ambos.

Depois, diz, foi necessário acrescentar a cognição, que se refere à informação que um organismo reúne e ao modo como a processa e aplica. Por exemplo, o pássaro quebra-nozes-de-Clark lembra onde guardou milhares de nozes e as vespas lobos-das-abelhas fazem voo de orientação antes de deixar sua toca. Sem qualquer recompensa ou punição, animais de diversas espécies acumulam conhecimento que lhes será útil no futuro.

Muitos animais têm realizações cognitivas em comum. Quanto mais os cientistas descobrem com suas pesquisas e experimentos, mais se confirma que habilidades supostamente exclusivas aos humanos – ou ao menos aos hominídeos (grupo que reúne humanos e primatas grandes) – estão disseminadas entre outras espécies. Ou seja, segundo De Waal, as aptidões cognitivas se estenderam de grandes primatas para macacos, golfinhos, elefantes e cães, e então para aves, répteis, peixes e até invertebrados, como o polvo.

Nos mares da Indonésia, por exemplo, o polvo-do-coco foi observado recolhendo cascas de coco que transporta desajeitadamente pelo fundo do oceano até uma toca segura onde as usa para se ocultar de predadores. Um feito impressionante para um molusco. “Isso parece ser simples, mas demonstra quão longe chegamos desde o tempo em que se pensava que a tecnologia era uma característica que definia a nossa espécie”, escreveu De Waal.

Autor de uma série de outros best-sellers, como “A era da empatia”, “O último abraço da matriarca” e “A política dos chimpanzés”, De Waal está agora voltando sua atenção para o tema do gênero. Seu novo livro, “Diferente – gênero pelos olhos de um primatólogo”, que será publicado nos EUA em abril e ainda sem data de lançamento no Brasil, trata das diferenças e similaridades entre os gêneros de humanos e primatas.

“Há muitas semelhanças nas questões de gênero dos homens e dos animais. Certamente os machos são mais violentos do que as fêmeas tanto entre humanos como entre primatas. Mas não encontrei nenhuma evidência, por exemplo, que confirme a impressão de que os machos são naturalmente melhores líderes tanto entre os humanos como entre os animais”, diz De Waal.

https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2022/02/05/nao-ha-evidencia-de-que-machos-sao-melhores-lideres-entre-humanos-ou-animais-diz-primatologo.ghtml

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Como a inteligência artificial revelou os segredos dos Beatles

No documentário ‘Get Back’, algoritmos de ‘desmixagem’ foram fundamentais para revelar conversas privadas que ficaram escondidas por 50 anos; teste a tecnologia usada para desmembrar músicas 

Texto: Bruno Romani  Estadão 04 de fevereiro de 2022 

Em 1968, John Lennon cantava no disco branco dos Beatles que todos tinham algo a esconder, exceto ele e o seu macaco.  É quase uma verdade: assim como os seus três companheiros de banda, o vocalista também tinha coisas a esconder – principalmente dos fãs. Mas, agora, segredos que permaneceram guardados por 50 anos foram expostos por sofisticados algoritmos de inteligência artificial (IA).

No documentário Get Back, disponível no Disney+, o diretor Peter Jackson restaurou o material captado em 1969 por Michael Lindsay-Hogg para o documentário Let It Be. As melhorias nas imagens trazem aos olhos cores vibrantes e causam impacto imediato. Mas é no novo áudio que partes das personalidades dos integrantes dos Beatles se descortinam, o que ajuda a construir a narrativa do filme.

O desafio era grande: quando Lindsay-Hogg registrou os ensaios dos Beatles nos estúdios Twickenham, ele espalhou alguns microfones pelo espaço, que captavam em uma única massa sonora tudo o que acontecia: conversas, ruídos e sons de instrumentos – era como uma gravação de show feita pelo celular nos dias atuais. Assim, era impossível controlar todas essas fontes para trazer o que havia de melhor e mais interessante. O formato é a antítese da gravação de um disco, em que cada elemento é gravado separadamente e é possível ter domínio sobre aquilo que se planeja mostrar.

Fizemos grandes avanços em áudio no documentário. Desenvolvemos um sistema de aprendizado de máquina para o qual ensinamos o som de uma guitarra, o som de um baixo e o som da voz

Peter Jackson, diretor de Get Back à revista ‘Variety’

Era hora de recorrer à tecnologia. “Fizemos grandes avanços em áudio no documentário. Desenvolvemos um sistema de aprendizado de máquina (uma técnica de inteligência artificial) para o qual ensinamos o som de uma guitarra, o som de um baixo e o som da voz. Assim, pudemos pegar a faixa em mono (com todos os sons gravados) e separar todos os instrumentos”, contou Jackson à revista Variety.

Ensaio dos Beatles registrado no documentário Get Back

Ensaio dos Beatles registrado no documentário Get BackDISNEY+/DIVULGAÇÃO

A técnica se chama “unmixing”, algo como “desmixagem”. Ao contrário da “mixagem”, que tenta acomodar da melhor forma os vários elementos sonoros de uma gravação em uma única faixa, a desmixagem tenta desmembrar os vários componentes de uma gravação. “É como se fosse possível pegar uma vitamina de frutas e isolar a banana, a maçã e o mamão”, explica Geraldo Ramos, fundador da startup Moises, especializada em algoritmos do tipo.

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O esforço para isolar instrumentos não é assunto novo para produtores e engenheiros de som. No passado, os profissionais usavam equalizadores para tentar eliminar as frequências de determinados instrumentos – as tentativas eram feitas principalmente para apagar os vocais e, como resultado, ter versões instrumentais de músicas. Dificilmente funcionava. Foi só a partir da metade da década de 2000, quando a onda de digitalização se consolidou e transformou estúdios em todo o mundo, que os experimentos com desmixagem aumentaram.

Empresas de software, como a AudioSourceRE e a Audionamix, estão entre as primeiras a lançarem programas de computador dedicados à desmixagem. Um dos principais nomes da área, porém, está indiretamente ligado também aos Beatles.

Na desmixagem, é como se fosse possível pegar uma vitamina de frutas e isolar a banana, a maçã e o mamão”

Geraldo Ramos, fundador da startup Moises

A partir dos anos 2010, James Clarke, principal engenheiro de software de Abbey Road, o estúdio onde a banda gravou vários dos seus discos, começou a experimentar com programas de controle de frequências, o que permitiu que ele remasterizasse o disco “Live at the Hollywood Bowl”, único disco ao vivo dos Beatles lançado oficialmente – a versão retrabalhada saiu em 2016. Nele, Clarke tratou o ruído da plateia, captado por diversos microfones, como um único instrumento e foi capaz de reduzi-lo, dando destaque à banda. Ainda havia limites, mas uma revolução estava a caminho.

Na mesma época do lançamento da versão retrabalhada de “Live at the Hollywood Bowl”, acontecia o alvorecer da nova era da inteligência artificial (IA). Era natural que empresas de software, engenheiros de som e produtores buscassem nos algoritmos formas de aprimorar a desmixagem.

A IA costuma ser boa para detectar padrões, o que, de certa forma, é parte do processo de desmixagem. Em tese, um engenheiro de som com “ouvido absoluto”, olhos superatentos para espectrogramas (as representações visuais de frequências), altíssima habilidade para lidar com equalizadores e programas de computadores tradicionais seria um bom candidato para identificar o comportamento de frequências e timbres de instrumentos e fazer as manipulações necessárias para fazer a separação. Seria um tipo raríssimo de profissional, quase um robô – e mesmo assim, ele estaria atrás da IA.

Para que uma máquina faça a desmixagem, ela precisa treinar com muitos exemplos dos sons que ela deve procurar dentro de uma gravação. Por isso, os algoritmos são expostos aos instrumentos isoladamente. No caso de análise focada em um artista específico, como dos Beatles, o ideal é que a máquina seja exposta aos mesmos modelos de amplificadores, guitarras, contrabaixos e peças de bateria usados pela banda.

Mesmo no caso da banda inglesa, que teoricamente tem fartos registros de instrumentos tocando separadamente nas gravações dos álbuns, o volume de informações pode ser insuficiente para treinar a IA. Nesses casos, é possível fazer algo chamado de data augmentation (aumento de dados, em português), que significa fazer pequenas alterações no pacote de dados original para retreinar o sistema. “Você pode pegar os mesmos instrumentos e alterar artificialmente em 10 semitons para cima e para baixo”, explica Ramos.

Outra saída para engordar o pacote de dados da IA é fazer gravações atuais com instrumentos da época – pode parecer uma saída cara, afinal, poucos lugares têm vastos acervos de equipamentos antigos, sempre os mais caros do mercado. Isso, porém, pode ser contornado digitalmente por meio de plugins (programas de computador) que emulam os timbres de instrumentos e amplificadores.

Apesar do cuidado com timbres e equipamentos, no princípio, o som era imagem. Os primeiros algoritmos usados na análise do aúdio eram redes neurais convolucionais (CNN, na sigla em inglês). “As CNNs são muito boas para analisar imagens”, explica Anderson Soares, coordenador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Isso significa que os sistemas analisavam o comportamento dos sons por meio de espectrogramas, representações visuais do que acontece nas frequências quando um som é emitido. A análise sonora de verdade só passou a ser feita mais recentemente por meio de outros tipos de algoritmos como LSTM (long short-term memory) e Transformers – essa última considerada a técnica mais avançada de IA. Atualmente, os algoritmos mais sofisticados de desmixagem combinam análise visual e sonora.

Após entender isoladamente o comportamento de cada fonte sonora, a máquina é capaz de identificar com alto grau de precisão esses padrões mesmo que estejam todos misturados em uma grande massa sonora. E, parte quase impossível para um humano fazer, é capaz de extrair com precisão cada uma dessas fontes.

A explosão da desmixagem aconteceu a partir de novembro de 2019, quando o serviço de streaming Deezer publicou o Spleeter, um algoritmo de código aberto para a separação de áudio. Com a publicação, startups especializadas na tarefa surgiram, como a Lalal.ai e a Moises – com o gás inicial do projeto da Deezer, cada startup passou a desenvolver os próprios algoritmos e, mais importante, a trabalhar com as próprias bases de dados.

Além da Deezer, algumas das principais pesquisas em desmixagem são feitas por gigantes da tecnologia: Spotify, Facebook e ByteDance (dona do TikTok). Faz sentido: o ramo de atuação dessas companhias é analisar áudio para recomendação. Não é possível saber como a desmixagem é usada dentro das plataformas dessas empresas, mas Deezer e Spotify já experimentaram com o recurso de karaokê, no qual algoritmos eliminavam os vocais para os usuários cantarem – a possibilidade de enroscos jurídicos relacionados a direitos autorais frearam os projetos.

Eu já desmixei uma música dos anos 1960 para um comercial. A ideia era trabalhar nas pistas separadas e fazer uma mixagem atualizada”

Felipe Vassão, produtor musical

O produtor Felipe Vassão, que tem trabalhos com o rapper Emicida, conta que a desmixagem virou uma ferramenta importante para DJs e beat makers, pois a técnica permite aprofundar a maneira como elementos musicais são sampleados e usados em novas canções. “Funciona muito para publicidade também. Eu já desmixei uma música dos anos 1960 para um comercial. A ideia era trabalhar nas pistas separadas e fazer uma mixagem atualizada”, diz ele, sem revelar o nome da canção.

Já Ramos, da Moises, conta que o principal filão da tecnologia é a prática musical: pessoas que querem aprender partes instrumentais e cantar e tocar junto com seus artistas favoritos – muitas dessas performances acabam virando vídeos no YouTube. “Por causa disso, estamos fazendo parcerias com escolas musicais e igrejas”, conta o pernambucano de 36 anos radicado nos EUA. A Moises, que começou 2021 com 240 mil usuários, tem atualmente 10 milhões de pessoas cadastradas no serviço.

Por fim, a desmixagem é usada na recuperação e na preservação de áudio. Ramos conta que seu sistema de IA ajudou o produtor Kassin a isolar a voz de Beth Carvalho na música Visual. Lançada em 1978, as pistas separadas da gravação original foram perdidas e o produtor precisou recorrer a IA para criar uma versão da música lançada em 2020 na qual Luana Carvalho, filha da cantora, divide os vocais com a mãe, falecida em 2019.

Em Get Back, a equipe de Peter Jackson foi além de recuperar os instrumentos. “Percebemos que o John e o George ficavam bastante conscientes de que suas conversas privadas estavam sendo filmadas o tempo todo”, disse o diretor ao site Guitar.com.

“Quando eles estavam conversando, eles aumentavam bastante os amplificadores e ficavam fazendo barulho. Eles não estavam tocando, nem afinando. Então os microfones do Michael Lindsay-Hogg captavam só barulho de guitarra, mas você via os Beatles tendo conversas privadas”, diz ele. Jackson, então, disse que sua equipe treinou algoritmos não apenas para identificar instrumentos – ele capacitou a máquina para reconhecer as vozes dos quatro integrantes da banda, o que permitiu manipulação total do que foi exibido.

Nos estúdios Twickenham, os Beatles tentavam esconder conversas atrás de barulho e microfoniaNos estúdios Twickenham, os Beatles tentavam esconder conversas atrás de barulho e microfoniaDISNEY+/DIVULGAÇÃO

O avanço é exemplo de um novo momento para a IA, não apenas para os fãs dos Beatles. “A IA sempre foi boa para consumir dados, mas agora ela está gerando dados. Teremos muitas informações entre 1930 e 1980, que é um período de registros fracos. Será uma era de realidade mista, na qual as informações não são virtuais, mas também não são reais”, afirma Soares, da UFG.

É o que reafirmou Jackson à Guitar.com: “Algumas partes chave do filme trazem conversas privadas que eles tentaram esconder, mas conseguimos remover as guitarras”.

Ramos lembra que os algoritmos de desmixagem estão apenas no início de uma curva evolutiva e que o céu é o limite para a tecnologia. Não é algo para se duvidar: se a máquina transformou lendas em humanos, o que mais ela poderá fazer?

https://www.estadao.com.br/infograficos/link,como-a-inteligencia-artificial-revelou-os-segredos-dos-beatles,1224102

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Países desenvolvidos investem cada vez mais em ciência, engenharia e matemática

Trabalhadores dessas áreas foram pouco impactados durante a pandemia

Cecilia Machado –  Economista-chefe do Banco BOCOM BBM e professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV

Folha 31.jan.2022 

Trabalhadores nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática –CTEM em português, STEM em inglês– contribuem para a criação e difusão de novas ideias e processos produtivos.

Mesmo quando não participam diretamente na geração de pesquisas ou no desenvolvimento de produtos, estão envolvidos na adoção de inovação tecnológica em seus ambientes de trabalho, ampliando as perspectivas de crescimento de longo prazo da economia.

Nos países desenvolvidos, políticas de subsídios educacionais e imigratórias estão sendo direcionadas para este importante setor, que vem se tornando cada vez mais estratégico, a exemplo do que se vê nos Estados Unidos.

Equipes de engenharia do centro de operação do Telescópio Espacial James Webb Space Telescope, da NASA, monitoram progresso, em Baltimore, Maryland – Bill Ingalls – 8.jan.2022/AFP

Na economia americana, são cerca de 10 milhões empregos STEM em 2019, ou seja, quase 7% da força de trabalho desempenha funções nesta área (US Census Bureau). O número preciso de trabalhadores STEM está sujeito a alguma arbitrariedade de classificação, podendo alcançar até 30 milhões de empregos, quando se considera definição mais ampla que inclui funções correlatas ou mesmo atividades realizadas por trabalhadores sem diploma universitário.

Independente da métrica, o aumento da relevância do trabalho STEM é inequívoco. Para a próxima década, a projeção de crescimento para empregos no setor STEM é 40% maior em comparação ao setor não STEM (Bureau of Labor Statistics, BLS).

Espera-se um crescimento maior em computação, nas funções de analistas de segurança da informação, de desenvolvedores de softwares, e de pesquisadores em computação e informação. O crescimento da economia digital, acelerado pela Internet das Coisas, coloca cada vez mais valor no uso e na análise da enorme quantidade de dados que vem se tornando disponíveis, assim como na segurança e proteção destas informações. Fica claro que por trás do aumento observado no emprego STEM está a maior demanda por este tipo de trabalho, e o salário de trabalhadores STEM é mais do que o dobro das demais ocupações (BLS).

E no Brasil, o que se pode dizer do setor STEM? Em estudo que realizei em parceria com Rachter, Schanaider e Stussi estabelecemos uma classificação das ocupações STEM em diferentes bases de dados considerando códigos das ocupações brasileira. Empregando-a nos dados da PNADC, calculamos que 1,5 milhão de trabalhadores estão ocupados no setor STEM em 2019. Comparado aos Estados Unidos, o tamanho do setor é menor não apenas em números absolutos como em proporção da população ocupada: 2% dos empregos são STEM.

Ainda que pareça haver espaço para o crescimento do setor em perspectiva comparada, a composição das atividades, e como estes trabalhadores serão absorvidos na economia, irão ditar o quão relevante o setor STEM se tornará no Brasil. A alta remuneração destes trabalhadores no Brasil —com salários quase 2,5 vezes maiores que os demais trabalhadores— é indicativo de que aqui também há demanda para estes profissionais.

Além disso, a formação em STEM está associada à enorme resiliência de emprego em períodos de recessão, um atrativo adicional para estas ocupações. Durante a pandemia, trabalhadores STEM foram pouco impactados, e, no último ano, o emprego nestes setores cresceu de forma expressiva tanto no Brasil e quanto nos Estados Unidos. Dados da PNADC mostram que enquanto o emprego em setores não STEM ainda não se recuperou, o emprego em setores STEM cresceu 18% no mesmo período.

A análise dos dados americanos indica que a resiliência de empregos STEM não está associada a características particulares da recessão pandêmica, como a que favorece o trabalho remoto. Ao contrário, os resultados refletem a importância de um conjunto de conhecimentos, habilidades e aprendizagem na formação em STEM, que torna estes trabalhadores adaptáveis às mudanças no mercado de trabalho.

Em uma economia fadada a enfrentar ciclos e recessões econômicas, como a brasileira, o investimento em STEM não parece má ideia. Resta ver como a oferta de cursos em ciências e tecnologia será capaz de se adaptar ao dinamismo da economia digital, atraindo e preparando nossos jovens para as profissões do futuro.

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Marcas inovam com o uso da voz e com uma pitada de inteligência artificial

A mais antiga forma de comunicação ganha um novo status com a inteligência artificial. E marcas como Domino´s e a cantora Anitta mostram como é possível inovar nessa área

Rapha Avelar – Neofeed – 02/02/2022

O impacto que a tecnologia traz para a sociedade e as empresas ajuda a solucionar e a acelerar nossos processos. Com isso, temos uma rotina muito mais eficiente e prática. Como sabemos, a inteligência artificial (IA) tem grande responsabilidade nisso e vem quebrando diversas barreiras, não só no nosso dia a dia, mas também para o futuro das marcas. É através da tecnologia que podemos elevar nossos resultados — seja qual for a sua área de atuação — a níveis inimagináveis.

Um reflexo disso é o resultado de uma pesquisa realizada pela Aberdeen University Artificial Intelligence (AUAI), que mostra que as marcas que utilizaram a IA para compreender e atender as necessidades do seu público tiveram um aumento anual da receita em 21%. Sendo assim, é nítido que todo investimento em inteligência artificial tem grande impacto no crescimento das empresas, além de maior entrega de serviço com qualidade aos seus clientes.

Consigo afirmar isso na prática pois, além de inserir a IA na minha rotina como empreendedor dentro da Adventures e do ecossistema que temos construído, acompanho também como consumidor.

São vários exemplos, que incluem desde as marcas que fazem o uso dos dados coletados por meio de softwares de qualidade, através das navegações nos sites, até aquelas que fazem indicações de produtos e serviços que são do interesse e das preferências do cliente, construindo uma relação empresa e cliente.

A inteligência artificial pode ser também aplicada em qualquer área e segmento, como as máquinas inteligentes na indústria; no setor automobilístico com o Waze; em carros autônomos, a exemplo dos veículos Tesla; em aplicativos de saúde que hoje são super práticos; e até mesmo em atendimentos onlines como os chatbots (que inclusive têm se aprimorado muito). Enfim, há uma gama de possibilidades.

Agora, você já pensou em como isso pode ser usado setor de marketing, na publicidade e na área de comunicação? E principalmente como você pode inserir isso na rotina da sua marca?

Hoje existem diversas formas de se comunicar com sua comunidade de forma muito dinâmica e, principalmente, interativa, criando uma relação humanizada e divertida através da tecnologia. Afinal, essa é a ideia que a IA quer trazer: assimilar a inteligência humana e se tornar nossa aliada em todo trabalho.

Dentre as diversas maneiras de se aplicar a IA, existe um item fortíssimo que têm ganhado o mercado e também os consumidores: o uso da tecnologia por comando de voz. Uma das maiores criações do mundo atual são ferramentas de comando por voz desenvolvidas por grandes empresas. Um exemplo é Echo Dot, da Amazon, com sua assistente virtual conhecida como Alexa.

Através da Alexa é possível saber o tempo, as notícias do dia e até mesmo realizar alguma pesquisa ou compra. Isso mesmo, uma compra. Esse foi um dos cases produzidos na Adventures, em que era possível fazer o pedido de uma pizza na Domino’s através do seu dispositivo de voz.

O processo de atendimento era realizado pela cantora e apresentadora Jojo Todynho, criando assim uma troca através da tecnologia, mas de maneira prática e intuitiva. Afinal, as pessoas buscam cada vez mais otimizar e valorizar o seu tempo. E podemos encontrar a resposta desse objetivo na IA.

Outro case, que é impossível não lembrarmos quando falamos sobre revolucionar o mercado, foi a ação de Anitta junto com a Alexa. A cantora tem sido referência não só na música, mas também no mercado devido às suas diversas estratégias e ações, inclusive incluindo a inteligência artificial.

A artista não perdeu tempo e decidiu também ficar por dentro dos benefícios da IA. Como de costume, muitas pessoas que possuem a Echo Dot gostam de se antenar logo pela manhã dizendo “Alexa, bom dia”, ouvindo as principais informações do dia.

Em 2020, o usuário, ao se comunicar dessa forma com o dispositivo, ouvia a voz da própria Anitta, que o respondia, falando sobre a grande novidade do seu novo single, chegando assim a milhões de pessoas ao mesmo tempo de uma maneira muito inteligente. É ou não é um pensamento super inovador e tecnológico no mundo do marketing e da cultura?

Exemplos como esses deixam ainda mais claro a importância de as marcas enxergarem todas as oportunidades que a IA nos oferece e como ela pode fazer o nome da sua empresa crescer a níveis exponenciais.

E isso não está distante. É algo que está nas nossas mãos e pode ser explorado de diversas formas, tendo a tecnologia como principal máquina, já que é ela que está mudando o mundo e tende a mudar ainda mais nos próximos anos.

Um fato que nos mostra essa tendência é uma pesquisa da McKinsey Global Institute, comprovando que, até 2030, as empresas que aplicarem a IA em suas operações tendem a dobrar o seu fluxo de caixa e crescer cada vez mais. Quanto mais rápido você se adaptar a essas tendências tecnológicas, melhor será o retorno na sua companhia e nos seus projetos.

Há alguns anos se alguém dissesse que poderíamos desbloquear o celular com o reconhecimento facial, fazer um pedido apenas falando com um dispositivo, e até mesmo ter nossos desejos compreendidos por empresas, você provavelmente diria que era loucura, ou até mesmo impossível.

Isso agora é a nossa realidade. Mais do que isso: é o nosso futuro. Loucura seria não embarcar nessa jornada.

Rapha Avellar é fundador da Adventures

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Apetite por startups cresce, e mais de 90% das empresas querem investir

Pesquisa da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) mostra o cenário do investimento corporativo em startups no país

Por Maria Clara Dias – Exame – 02/02/2022 

Com a pandemia deixando as empresas de cabelo em pé na busca por soluções para atender o público e, ao mesmo tempo, manter a eficiência, a inovação que vem das startups tem sido mais do que bem-vinda. Nesse cenário, o investimento feito por empresas em startups, o chamado corporate venture capital (ou CVC), tem crescido a um ritmo considerável e 61% das empresas brasileiras já têm algum tipo de iniciativa. Entre as que não têm, 92% já estão de olho nisso. Os dados são da pesquisa “Corporate Venture Capital no Brasil”, elaborada pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) e seu recém-lançado comitê dedicado ao assunto.

Em 2015, o número de iniciativas de investimento corporativo ainda era incipiente, mas a reviravolta causada pela pandemia e a digitalização acelerada dos negócios reverteu esse cenário. O relatório mostra que mais da metade (55%) das iniciativas empresariais de investimento em startups surgiu nos últimos dois anos. Para chegar ao resultado, a ABVCAP analisou as respostas de mais de 30 empresas associadas.

Na esteira da digitalização dos negócios, o modelo Corporate Venture Capital é cada vez mais procurado por empresas que querem acelerar empreendedores e, em contrapartida, criar conexões com ideias e soluções que beneficiem o negócio. Muitas companhias criam novas verticais estratégicas e ambientes de testes a partir do investimento em startups. Essa decisão é o que leva 75% das empresas a declarar que possuem objetivos mistos (financeiros e estratégicos) ao criarem braços de CVC.

“Foi realmente uma surpresa”, diz Sandro Valeri, coordenador do Comitê de CVC da ABVCAP. “Imaginávamos que empresas ainda consideravam apenas o resultado financeiro como benefício do CVC, mas a situação é diferente, e já há uma visão de longo prazo”.

De acordo com Valeri, a maturidade do ecossistema de inovação brasileiro também contribui para o bom momento do CVC no país. Em 2021, o mercado de investimento de risco em startups movimentou volume recorde e o Brasil teve 11 novos unicórnios — a conjuntura inspira empresas a copiar a bem-sucedida ideia de fomentar pequenas companhias de base tecnológica.

 (Richard Drury/Getty Images)

A pesquisa mostra que os valores comprometidos pelas empresas em iniciativas de Corporate Venture Capital ainda são tímidos. Cerca de metade dos CVCs têm menos de R$ 100 milhões investidos, enquanto apenas 30% afirmam possuir mais de R$ 100 milhões alocados em fundos e iniciativas para esse fim.

A justificativa, mais uma vez, está no fato dos CVCs brasileiros ainda serem recentes. A mesma lógica se aplica ao analisar a quantidade de exits concluídos (última etapa do investimento): 80% das empresas ainda não realizaram nenhuma saída. “É comum, afinal, essas empresas ainda não concluíram o ciclo de investimento”, diz Valeri. De acordo com a ABVCAP, o ciclo médio de investimento de empresas em startups dura de cinco a dez anos.

O futuro do CVC

Daqui para a frente, a tendência é que a indústria de CVC abandone o status de “nascente” para “pujante”. A expectativa é de que o número de iniciativas de Corporate Venture Capital cresça na casa “das dezenas” em 2022, segundo Rosario Cannata, coordenador do Comitê de CVC da ABVCAP. “Isso acontecerá porque as iniciativas de CVC irão equilibrar o desejo de grandes empresas por resultados imediatos e estratégias de longo prazo”.

Segundo os especialistas da ABVCAP, as quantias comprometidas para iniciativas de CVC também devem crescer, na medida em que o ritmo de expansão das startups continua acelerado e as próprias iniciativas corporativas ganham mais solidez da porta para dentro. “Hoje vemos que esse valor é pouco, mas as quantias baixas estão associadas ao risco, porque empresas não podem comprometer muito capital em iniciativas recentes”, diz Cannata. “No futuro, essa quantia será bem maior”.

Ao que tudo indica, a aversão ao risco também deixará de ser uma realidade. Hoje, a maioria das startups investidas por braços de CVC estão em estágios iniciais de desenvolvimento, em rodadas Pré-Seed, Seed, e série A e B, com valores que chegam aos R$ 10 milhões. O cenário, segundo a ABVCAP, deve mudar. “A convivência com esse modelo, o grande número de projetos e os bons resultados vão motivar a chegada do CVC a rodadas série C em diante”.

https://exame.com/pme/apetite-startups-cresce-90-das-empresas-querem-investir/

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