Para setor de transporte marítimo o próximo ano ainda será caótico. CEO da Ocean Network Express (ONE), que transporta mais de 6% de todo o frete mundial acondicionado em contêineres, pede ação dos governos para superar a crise
Por Harry Depsey — Financial Times/Valor 26/10/2021
A crise da cadeia de suprimentos que ameaça a economia mundial corre o risco de durar pelo menos mais um ano, a não ser que os governos interfiram para ajudar a atenuar o desabastecimento, alertou uma das maiores empresas mundiais de transporte marítimo.
Jeremy Nixon, CEO da Ocean Network Express (ONE), que transporta mais de 6% de todo o frete mundial acondicionado em contêineres, conclamou os governos a impulsionar os investimentos na capacidade dos portos, ferrovias, armazéns e sistemas rodoviários.
“É necessário que haja algum respaldo dos governos nessa esfera para talvez transferir pessoas de algumas partes da economia em que a demanda não é tão forte para partes mais decisivas da economia em que a demanda é muito forte e importante para as cadeias de suprimentos globais”, disse ele.
Embora o presidente dos EUA, Joe Biden, venha pressionando as empresas de frete ferroviário, grupos de transporte rodoviário e portos a aumentar sua própria capacidade e produtividade a fim de atender à demanda crescente, Nixon disse que os EUA são uma área de preocupação especial.
Negociações marcadas para maio do ano que vem entre operadoras dos terminais dos portos de navios porta-contêineres da Costa Oeste dos EUA, a porta de entrada para produtos despachados da Ásia, e trabalhadores tende a se revelar fonte de novos transtornos dos serviços, disse Nixon.
“Não vejo qualquer melhoria imediata no momento”, disse Nixon. “Se tivermos um congestionamento grave em julho, agosto e setembro de 2022 na América do Norte, ele poderá, talvez, durar até o fim de 2022 e começo de 2023.”
As drásticas mudanças na demanda do consumidor durante a pandemia, desestabilização do transporte marítimo global e um setor aéreo combalido criaram a crise mais grave de vários anos das cadeias de suprimentos mundiais.
Junto com a volatilidade da demanda do consumidor, o setor de transporte marítimo enfrentou as ausências de portuários devido à covid e a falta de caminhoneiros, que levam os produtos a seus destinos finais no interior dos países e devolvem os contêineres vazios, no Reino Unido, Europa e EUA.
Embora o alerta de Nixon de que os problemas da cadeia de suprimentos poderão extravasar para 2023 seja um dos mais pessimistas, muitos executivos do setor de transporte marítimo preveem que o ano que vem será caótico.
A quebra de cadeias de suprimentos está entre as principais preocupações das empresas, bancos centrais e investidores, por causarem escassez de produtos e aumentos de preços de artigos que vão desde alimentos para animais de estimação até brinquedos.
No que se refere a outros grupos de transporte marítimo, o distúrbio contribuiu para aumentar os lucros da ONE, uma vez que as taxas que a empresa cobra para movimentar bens dispararam. Formada em 2017 para integrar os serviços das japonesas Kawasaki Kisen Kaisha, Mitsui OSK Lines e Nippon Yusen Kaisha, a ONE teve US$ 2,6 bilhões em lucros no segundo trimestre, mais de 15 vezes o resultado em igual período de 2020.
A ONE, que tem uma frota de 220 navios, terá “mais cuidado com os volumes contratados com os clientes”, disse Nixon, uma vez que o grupo encontra dificuldades para transportar o volume de carga que gostaria.
Falta de contêineres agrava logística global, diz OMC
Empresas de transporte marítimo enfrentam dificuldade para acompanhar recuperação no comércio
Por David Pilling — Financial Times/Valor 20/10/2021
Os problemas nas cadeias de suprimentos globais poderão se estender por “vários meses”, uma vez que empresas de transporte marítimo enfrentam dificuldades para contornar “um descompasso entre oferta e demanda” e fazer frente à persistente escassez de contêineres, disse a diretora da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Trilhões de dólares de incentivos relacionados à pandemia alimentaram a escalada da demanda de consumo, disse Ngozi Okonjo-Iweala, levando as empresas a acumular estoques agressivamente.
“Quando falo com alguns empresários, há um certo pânico neste ano de que a cadeia de suprimento deles seja impactada”, disse a diretora-geral da OMC em entrevista no Africa Summit do “FT”.
Empresas de transporte marítimo não tinham previsto a força da recuperação, acrescentou ela. “Elas reduzem a disponibilidade de contêineres, que foram deixados nos lugares errados, portanto agora há escassez de contêineres.”
Com a aproximação da temporada de festas em muitas partes do mundo, essas dificuldades tendem a persistir, segundo ela.
A diferença entre as taxas de vacinação estão agravando os problemas, disse Okonjo-Iweala, criando duas classes de recuperação mundial, uma vez que alguns países voltaram com toda a força à vida, enquanto outros foram deixados em dificuldades.
Os países ricos que “vacinaram mais de 50% da população e implementaram estímulos fiscais muito fortes, de bilhões de dólares, estão em um caminho de recuperação melhor do que os países mais pobres, que não têm espaço fiscal e que também têm muito pouco acesso a vacinas”, disse ela.
“O fato de 60% ou mais das pessoas de países ricos terem sido vacinadas, contra menos de 2% nos países pobres, simplesmente dá ideia do grau de divergência.”
Ela acrescentou que houve uma falha da liderança mundial em garantir que as vacinas fossem distribuídas de maneira mais equitativa no mundo inteiro.
“Temos a tecnologia para salvar vidas, mas não conseguimos fazer com que ela chegue onde se precisa”, disse ela. Os países ricos tinham prometido centenas de milhões de doses aos mais pobres, mas “eles simplesmente não estão traduzindo isso em distribuição” para onde elas são necessárias.
No entanto, Okonjo-Iweala desqualificou preocupações de que uma guerra comercial entre China e os EUA possa levar a um descolamento do comércio mundial que prejudicaria o crescimento. “Quando ouvimos a retórica de ambos os países, podemos ter esse descolamento, mas as evidências que vemos na prática com relação ao comércio internacional não sustentam essa teoria do descolamento”, acrescentou.
O comércio entre a UE e a China é forte, disse ela. “Os dados estatísticos sobre comércio de bens entre as grandes potências são muito robustos.” Mesmo se quisessem, os países não conseguiriam se descolar tanto quanto gostariam. “Não é tão fácil desfazer cadeias de suprimentos, elas são muito complicadas para muitos produtos.”
Okonjo-Iweala disse que a Área de Livre Comércio da África Continental, que abrange 54 países e entrou em funcionamento neste ano, tem o poder de transformar o potencial comercial e industrial do continente. A África responde por apenas cerca de 4% do comércio mundial, e a maioria de suas exportações sai do continente sem passar por processamento.
Embora a área de livre comércio precise de melhorias significativas nos marcos regulatórios, bem como em infraestrutura física, entre países, a criação de um mercado único de 1,3 bilhão de pessoas tem enorme potencial para reverter décadas de desindustrialização.
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