Presidente do maior banco do País defende que o combate às mudanças climáticas seja um dos pilares da retomada. E que as empresas repensem seu propósito. Saiba mais sobre ODS e ESG.
Por Rodrigo Caetano – Publicado em: 22/06/2020
Para Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco, essa é a hora para o governo aumentar os gastos, mas com responsabilidade. A pandemia do coronavírus impõe uma nova maneira de pensar a economia. Diante da severidade da crise, não basta fazer: é preciso pensar em como fazer. “Atuar de forma ética e com responsabilidade social e ambiental passou a ser fundamental”, diz Bracher. “Afinal, o Brasil é a nossa casa, e é natural que a gente faça a nossa parte para mantê-la em ordem”.
O maior risco está na próxima crise. Ocasionada pelas mudanças climáticas, ela não respeitará barreiras geográficas ou políticas, assim como a do coronavírus, mas será mais intensa e duradoura. Cabe à sociedade, incluindo as empresas, e também aos governos, trabalharem para evitá-la.
“Só no ano passado, os focos de queimadas cresceram 30%, segundo o INPE”, afirma Bracher. “Esse é um problema no qual o papel do governo é fundamental, pois cabe a ele coibir o avanço das queimadas ilegais na região”.
Para o Itaú, esse repensar da economia e do papel das empresas se materializou em um grande esforço filantrópico, superior a 1 bilhão de reais. Entretanto, não será dessa vez que a filantropia passará a ser encarada como um elemento estratégico para o desenvolvimento, e não uma forma de caridade. “Eu gostaria de acreditar que sim, mas, sendo bastante pragmático, acho que ainda não veremos isso acontecer de forma estruturada”, afirma.
Por e-mail, Bracher conversou com a Exame. Confira trechos da entrevista:
P – O setor financeiro e os governos devem incluir o combate às mudanças climáticas como um dos pilares para a retomada econômica pós-pandemia?
Não tenho dúvidas de que devem. Crises como a causada pela covid-19 e os impactos das mudanças climáticas não respeitam barreiras geográficas ou políticas e evidenciam desigualdades e vulnerabilidades sociais. Os danos causados pelas mudanças climáticas podem até ser mais lentos, mas certamente são mais duradouros do que os da pandemia que estamos vivendo. Paralelamente à pandemia, estamos assistindo ao crescimento dos incêndios na Amazônia. Só no ano passado, os focos de queimadas cresceram 30%, segundo o INPE. Esse é um problema no qual o papel do governo é fundamental, pois cabe a ele coibir o avanço das queimadas ilegais na região.
P – No setor financeiro, o tema que ganha cada vez mais relevância é o do ESG* (meio ambiente, social e governança). Quando começaremos a ver a sustentabilidade e as questões climáticas realmente afetarem a precificação de ativos?
Os preços dos ativos, como os preços de qualquer bem da economia, são determinados pela relação entre oferta e procura. Cabe aos investidores exercer essa avaliação da importância do ESG para um ativo, demandando mais aqueles que são aderentes ao ESG e menos aqueles que não são. É isso que fará a diferença. Para nós, a avaliação ESG já é realidade, especialmente nos negócios do banco de atacado e no mundo de investimentos.
Outras iniciativas nossas incluem o compromisso público de estimular setores de impacto positivo, como energia renovável, saúde e educação. Também temos oferecido ativos novos, como os green bonds, por meio dos quais as empresas captam recursos e garantem sua aplicação em projetos que tenham impacto positivo comprovado. No exterior, isso está mais avançado do que no Brasil.
P – Atualmente, o Brasil atinge apenas 1 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável* (ODS) da ONU. Como acelerar essa agenda? Falta engajamento do governo ou das empresas?
É importante uma tomada de consciência da sociedade em relação a isso para cobrar do governo e das empresas uma atuação mais efetiva. Nós, aqui no Itaú Unibanco, lançamos 8 compromissos de impacto positivo em 2019, que cobrem 10 ODS em que o banco tem maior potencial de impacto. Temos metas para cada um desses compromissos, que acompanhamos de perto.
Entrevista completa: https://exame.com/negocios/bracher-itau-crise-ambiental-severa-pandemia/
*Veja a seguir a lista dos 17 ODS(Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU e uma descrição do significado de ESG:
Objetivo 1: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
Objetivo 2: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável
Objetivo 3: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
Objetivo 4: Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
Objetivo 5: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
Objetivo 6: Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos.
Objetivo 7: Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
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Objetivo 8: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
Objetivo 9: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
Objetivo 10: Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos
Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade
Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis
Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável
*ESG
ESG é um termo cada vez mais usado no mundo dos investimentos para representar fatores ambientais, sociais e de governança (environmental, social and governance em inglês). Esses fatores estão sendo cada vez mais utilizados como critérios de análise que vão além de questões econômico-financeiras. Na prática, a análise de um investimento inclui, além de risco e retorno, a avaliação do impacto que ele causa na sociedade.
Os investimentos que levam em consideração fatores ESG se preocupam principalmente com os seguintes pontos:
Ambientais
- Mudança climática e emissão de carbono
- Uso de recursos naturais
- Poluição e resíduos
Sociais
- Saúde, segurança, diversidade e treinamento de colaboradores
- Responsabilidade com o consumidor
- Relação com a comunidade
- Atividades beneficentes
Governança
- Direitos dos acionistas
- Composição do Conselho de Administração (independência e diversidade)
- Política de remuneração da diretoria
- Fraudes
Ambiental, Social e Governança refere-se aos três fatores centrais na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em uma empresa ou negócio. Esses critérios ajudam a determinar melhor o desempenho financeiro futuro das empresas.
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