ChatGPT anuncia revolução intelectual; leia análise de Eric Schmidt e Henry Kissinger

Por Henry Kissinger, Eric Schmidt e Daniel Huttenlocher Estadão/Wall Street Journal 31/03/2023 

A inteligência artificial generativa apresenta um desafio filosófico e prático numa escala não experimentada desde o início do Iluminismo

THE WALL STREET JOURNAL – Uma nova tecnologia propõe transformar o processo cognitivo humano, reorganizando-o de uma forma não vista desde a invenção da prensa de tipos móveis. A tecnologia que imprimiu a Bíblia de Gutenberg em 1455 tornou o pensamento humano abstrato comunicável de modo geral e com celeridade. Mas a atual nova tecnologia inverte esse processo. Enquanto a prensa de tipos móveis levou a uma profusão do pensamento humano moderno, a nova tecnologia alcança sua essência e formulação. No processo, cria uma lacuna entre o conhecimento humano e a compreensão humana. Se quisermos transitar de forma bem-sucedida por essa transformação, será necessário desenvolver novos conceitos do pensamento humano e da interação com as máquinas. Este é o desafio fundamental da Era da Inteligência Artificial.

A nova tecnologia é conhecida como inteligência artificial (IA) generativa; a sigla GPT refere-se a transformador generativo pré-treinado. O ChatGPT, desenvolvido no laboratório de pesquisa da OpenAI, agora é capaz de conversar com humanos. Conforme suas capacidades aumentam, elas vão redefinir o conhecimento humano, acelerar mudanças no tecer da nossa realidade e reorganizar a política e a sociedade.

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A IA generativa apresenta um desafio filosófico e prático numa escala não experimentada desde o início do Iluminismo. A prensa de tipos móveis permitiu que os estudiosos repetissem rapidamente as descobertas uns dos outros e as compartilhassem. Uma consolidação e propagação de informação sem precedentes gerou o método científico. O que era inacessível tornou-se o ponto de partida para acelerar a pesquisa. A interpretação medieval do mundo baseada na fé religiosa foi gradualmente enfraquecida. As profundezas do universo podiam ser exploradas até que novos limites da compreensão humana fossem alcançados.

A IA generativa abrirá caminhos igualmente revolucionários para a razão humana e novos horizontes para o conhecimento consolidado. Entretanto, há diferenças categóricas. O conhecimento do Iluminismo era alcançado de forma progressiva, passo a passo, com cada um desses passos sendo verificável e possível de ser ensinado. Os sistemas habilitados para IA começam de forma oposta. Eles podem armazenar e condensar uma quantidade enorme de informações existentes, no caso do ChatGPT, boa parte do material textual na internet, um grande número de livros e bilhões de outros itens. Ter esse volume de informação e sintetizá-lo está além da capacidade humana.

Métodos sofisticados de IA produzem resultados sem explicar por que ou como funciona seu processo. O computador com GPT funciona por meio de um comando dado por um ser humano. Recorrendo a aprendizado de máquina, responde em texto compreensível em segundos. Ele é capaz de fazer isso porque tem representações pré-geradas da quantidade enorme de dados com os quais foi treinado.

Como o processo pelo qual ele criou essas representações foi desenvolvido por aprendizado de máquina, que reflete padrões e conexões sobre as quantidades enormes de texto, as fontes exatas e as razões das características específicas de qualquer representação permanecem desconhecidas.

Por qual processo a aprendizado de máquina armazena seu conhecimento, condensa-o e o consulta também continua sendo uma incógnita. Independentemente de esse processo ser descoberto algum dia, o mistério associado ao aprendizado de máquina desafiará a cognição humana por um prazo indefinido.

As habilidades da IA não são estáticas, mas se expandem de modo exponencial à medida que a tecnologia avança. Recentemente, a complexidade dos modelos de IA vem dobrando em intervalos de poucos meses. Portanto, os sistemas de IA generativa têm capacidades que permanecem desconhecidas até mesmo para seus inventores. Com cada novo sistema de IA, eles estão desenvolvendo novas capacidades sem entender sua origem ou destino. Como consequência, nosso futuro agora tem um elemento completamente novo de mistério, risco e surpresa.

A ciência do Iluminismo reunia certezas, a nova IA gera um amontoado de ambiguidades. A ciência do século das luzes evoluiu tornando os mistérios explicáveis, delineando os limites do conhecimento humano e da compreensão humana conforme eles mudavam. As duas capacidades avançavam simultaneamente: a hipótese era a compreensão pronta para se tornar conhecimento; o raciocínio indutivo era o conhecimento se transformando em compreensão. Na era da IA, os enigmas são resolvidos por processos que continuam desconhecidos. Este paradoxo desnorteador revela mistérios, porém também os torna inexplicáveis. Inerentemente, a IA de grande complexidade promove o conhecimento humano, mas não a compreensão humana – um fenômeno contrário a quase toda a modernidade pós-iluminismo. Entretanto, ao mesmo tempo, a IA, quando associada à razão humana, é um meio de descoberta mais poderoso do que a razão humana sozinha.

A IA de grande complexidade promove o conhecimento humano, mas não a compreensão humana – um fenômeno contrário a quase toda a modernidade pós-iluminismo

A diferença fundamental entre o século das luzes e a era da IA não é, portanto, tecnológica, mas cognitiva. Depois do Iluminismo, a filosofia acompanhou a ciência. Novos dados confusos e muitas vezes conclusões contraintuitivas, dúvidas e inseguranças foram dissipados por explicações detalhadas da experiência humana. A IA generativa está igualmente preparada para criar uma nova forma de consciência humana. No entanto, até agora, a oportunidade existe em cores para as quais não temos um espectro e em direções para as quais não temos bússola. Nenhuma liderança política ou filosófica foi preparada para explicar e orientar essa nova relação entre homem e máquina, deixando a sociedade relativamente à deriva.

O ChatGPT é um exemplo do que é conhecido como um modelo amplo de linguagem (LLM), que pode ser usado para gerar texto semelhante ao criado por um humano. O GPT é um tipo de modelo que pode ser treinado automaticamente com quantidades enormes de texto sem a necessidade de supervisão humana. Os desenvolvedores do ChatGPT alimentaram o software com uma quantidade gigantesca de conteúdo textual do mundo digital. O poder computacional permite que o modelo grave padrões e conexões.

A capacidade dos modelos de linguagem ampla para gerar texto semelhante ao criado por um humano foi uma descoberta quase acidental. Esses modelos são treinados para serem capazes de prever a próxima palavra numa frase, o que é útil em tarefas como preenchimento automático para enviar mensagens de texto ou pesquisar na web. Entretanto, se constatou que esses modelos também têm a capacidade inesperada de criar parágrafos, artigos e, com o tempo, quem sabe até mesmo livros altamente bem estruturados.

Henry Kissinger foi secretário de Estado (1973-77) e conselheiro de segurança nacional da Casa Branca (1969-75)

Henry Kissinger foi secretário de Estado (1973-77) e conselheiro de segurança nacional da Casa Branca (1969-75) Foto: Jaime R. Carrero/Reuters

O ChatGPT é ainda mais especializado do que um modelo amplo de linguagem básico, recorrendo ao feedback dos humanos para ajustar o modelo de modo a gerar um texto de conversa que soe mais natural, assim como para tentar conter sua tendência para respostas inadequadas (um desafio considerável para modelos de linguagem ampla). O ChatGPT converte instantaneamente suas representações em respostas únicas. A impressão final para um humano familiarizado com a tecnologia é que a IA está relacionando compilações fixas de fatos com conceitos dinâmicos.

As respostas, declarações e observações do ChatGPT surgem sem uma explicação de onde vieram e sem um autor identificável. À primeira vista, o ChatGPT não tem nenhuma motivação ou preconceitos perceptíveis. Suas mensagens são complexas, mas seu trabalho é surpreendentemente rápido: em questão de segundos, ele consegue dar respostas que explicam de forma coerente um tema nada simples. Não são apenas respostas copiadas de um texto na memória do computador.

Elas são geradas outra vez por um processo que os humanos não são capazes de repetir. O software é capaz de incorporar hipóteses e deduções psicológicas não óbvias. Ele pode priorizar em meio a bilhões de dados e selecionar um conjunto único de 200 palavras que é mais relevante (ou parecerá mais relevante para um leitor humano).

Com suas próprias palavras, faz avaliações de probabilidade a respeito de resultados futuros, misturando informações de áreas distintas em uma resposta completa. Ele parece aceitar opiniões contrárias, apresentando-as como simultaneamente compatíveis. Imita outra escrita sem copiá-la. Apesar de o modelo não ter a capacidade de compreensão de um humano, o texto produzido por ele reflete uma essência subjacente da linguagem humana.

Perguntas

Pedimos ao próprio ChatGPT para explicar suas capacidades. Você é capaz de prever o futuro?

Não, ele respondeu. “Posso apenas dar informações e responder a perguntas com base nos dados com os quais fui treinado. Não tenho experiências pessoais ou consciência, por isso não sou capaz de fazer previsões sobre eventos futuros.”

Você pode fazer avaliações de probabilidade?

“Posso dar avaliações de probabilidade com base nos dados com os quais fui treinado. Por exemplo, se fui treinado com um grande conjunto de dados de padrões meteorológicos, posso ser capaz de avaliar a chance de um determinado tipo de clima ocorrer num lugar específico em um dia qualquer. Entretanto, é importante salientar que essas considerações de probabilidade são baseadas nos padrões e nas tendências dos dados e eles nem sempre refletem com exatidão os resultados do mundo real.”

Comando: escreva um breve ensaio seguindo a linha de pensamento de Henry Kissinger sobre o papel da inteligência artificial geral no controle internacional de armas.

A resposta começa: “Como estamos à beira de uma nova revolução tecnológica, a questão da inteligência artificial geral e seu papel no controle internacional de armas torna-se cada vez mais urgente. A inteligência artificial geral trará uma estabilidade sem precedentes à medida que os sistemas avançados assumirem o controle dos processos de tomada de decisão associados à dissuasão nuclear? Ou apresentará uma nova série de perigos, conforme o equilíbrio de poder global é alterado pelo desenvolvimento de máquinas altamente inteligentes?”

Fizemos perguntas ao ChatGPT relacionadas com temas de interesse atual, como o papel da Rússia na manutenção ou no enfraquecimento da estabilidade europeia. Ele deu respostas aparentemente fundamentadas e concisas em menos de um minuto, contrabalanceando informações contraditórias e respondendo detalhadamente sem parecer ter uma opinião.

Para o receptor, a IA generativa parece sobre-humana ou, no mínimo, bastante aprimorada cognitivamente. Para um usuário ingênuo, ela parece um bibliotecário erudito extremamente rápido e muito articulado, junto com um professor sábio. Ela facilita a síntese e o questionamento dos conhecimentos do mundo de forma bem mais eficaz do que qualquer relação tecnológica ou humana existente, e faz isso com uma abrangência única. Sua capacidade de abarcar inúmeras áreas de conhecimento e imitar diversos aspectos do pensamento humano a torna polímata num grau que excede as ambições de qualquer grupo de humanos altamente qualificados.

Todas essas qualidades encorajam a aceitação incondicional de tudo o que o GPT gera e uma espécie de atmosfera mágica para o modo como funciona. Entretanto, ao mesmo tempo, tem a capacidade de desinformar os usuários humanos com afirmações erradas e completamente inventadas.

Poucos dias depois do lançamento do ChatGPT, mais de um milhão de pessoas se cadastraram para fazer perguntas a ele. Centenas de empresas estão trabalhando com tecnologias generativas e o investimento está chegando aos montes, levando as descobertas para o campo comercial. As fortes razões comerciais terão, num futuro próximo, prioridade sobre a reflexão de longo prazo a respeito de suas implicações.

Esses modelos maiores custam caro para treinar – mais de US$ 1 bilhão por modelo. Depois de treinados, milhares de computadores trabalham 24 horas por dia para operá-los. Operar um modelo pré-treinado é barato ao se comparar com o treinamento em si e requer apenas capital, em vez de capital e conhecimentos de informática. Ainda assim, o pagamento para o uso exclusivo de um modelo de linguagem ampla permanece fora dos limites da maioria das empresas. É provável que os desenvolvedores desses modelos vendam assinaturas, desse modo, um único modelo atende as necessidades de milhares de indivíduos e empresas. Como consequência, o número de modelos amplos de linguagem na próxima década talvez seja relativamente limitado. A criação e o controle desses modelos estarão bastante concentrados, ainda que seu poder de ampliar os esforços e o pensamento humanos se torne muito mais difundido.

A IA generativa não será usada apenas para modelos amplos de linguagem, mas também para construir muitos tipos de modelos, e o método vai se tornar cada vez mais variado e arcano. Ela vai afetar muitas áreas da atividade humana, por exemplo, a educação e a biologia. Os diferentes modelos vão variar em seus pontos fortes e fracos. Suas capacidades – desde escrever piadas e pintar quadros até criar anticorpos – provavelmente continuarão a nos surpreender. Assim como o modelo de linguagem ampla desenvolveu um modelo de linguagem humana mais rico do que seus criadores previam, é possível que as IAs generativas em campos diversos aprendam mais do que as tarefas que lhe foram atribuídas exigem.

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Questões filosóficas

Os grandes avanços nos problemas científicos tradicionais tornaram-se prováveis.

A importância a longo prazo da IA generativa transcende as implicações comerciais ou até mesmo avanços científicos não comerciais. Ela não está apenas gerando respostas, está dando origem a questões filosoficamente profundas. Irá suscitar diplomacia e estratégia de segurança. No entanto, nenhum dos criadores desta tecnologia está dando atenção aos problemas que ela mesma criará. O governo dos Estados Unidos tampouco abordou as mudanças e as transformações fundamentais que se aproximam.

A aparente perfeição das respostas do modelo levará a um excesso de confiança em relação ao texto criado por ele. Isso já é um problema, conhecido como “viés de automação”, com programas de computador bem menos sofisticados. É provável que o efeito seja particularmente intenso nos casos em que a IA gera textos à primeira vista confiáveis. Há grandes chances de o ChatGPT reforçar as predisposições atuais para a dependência de sistemas automatizados, reduzindo o fator humano.

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A falta de referências bibliográficas nas respostas do ChatGPT dificulta discernir a verdade da desinformação. Já sabemos que pessoas mal-intencionadas estão impregnando a internet com um monte de “fatos” inventados, além de imagens e vídeos cada vez mais convincentes com o uso de deepfake, ou seja, no atual e futuro conjunto de dados para treinar o ChatGPT. Como ele foi projetado para responder perguntas, às vezes inventa fatos para dar uma resposta aparentemente coerente. Esse fenômeno é conhecido entre os pesquisadores de IA como “alucinação” ou “papagaio estocástico”, no qual uma IA junta frases que parecem fazer sentido para um leitor humano, mas não são baseadas em fatos. O que provoca esses erros e como controlá-los ainda não foi descoberto.

Pedimos ao ChatGPT para dar “seis referências sobre o pensamento de Henry Kissinger em relação à tecnologia”. Ele criou uma lista de artigos supostamente escritos por Kissinger. Todos tinham temáticas e saídas plausíveis, e um deles era um título verdadeiro (embora sua data de publicação estivesse errada). O restante eram invenções convincentes. Possivelmente, os supostos títulos aparecem como frases isoladas na imensidão de “fatos” do GPT, o que ainda não temos como descobrir.

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O ChatGPT não tem de cara uma personalidade evidente, embora usuários vez por outra o façam agir como se fosse seu irmão gêmeo malvado. A falta de identificação de autoria pelo software torna mais difícil para os humanos intuir as tendências do ChatGPT do que julgar o ponto de vista político ou social de outro humano. Contudo, como a criação da máquina e os assuntos com os quais foi alimentada costumam ter uma origem humana, temos a predisposição de imaginar um raciocínio semelhante ao humano. Na verdade, a IA está envolvida num processo não humano análogo à cognição. Embora percebamos a IA generativa em termos humanos, seus erros não são erros de um ser humano; ela comete erros de uma forma diferente da inteligência baseada no reconhecimento de padrões. Os seres humanos não devem identificar essas falhas como erros. Seremos capazes de reconhecer seus preconceitos e imprecisões? Podemos desenvolver um modo de verificação capaz de questionar a veracidade e as limitações das respostas de um modelo, mesmo quando não sabemos as respostas previamente?

O conteúdo criado pela IA continua sendo difícil de se explicar. A verdade da ciência do Iluminismo era confiável porque cada passo dos processos experimentais replicáveis também era testado e, portanto, validado. A verdade da IA generativa terá de ser justificada por métodos completamente diferentes, e talvez nunca se torne absoluta do mesmo modo

Por isso o conteúdo criado pela IA continua sendo difícil de se explicar. A verdade da ciência do Iluminismo era confiável porque cada passo dos processos experimentais replicáveis também era testado e, portanto, validado. A verdade da IA generativa terá de ser justificada por métodos completamente diferentes, e talvez nunca se torne absoluta do mesmo modo. Enquanto tentarmos igualar nossa compreensão ao nosso conhecimento, teremos de nos perguntar constantemente: o que sobre a máquina ainda não nos foi revelado? Que conhecimento desconhecido ela está escondendo?

É provável que o raciocínio da IA generativa mude com o tempo, de certo modo como parte do treinamento do modelo. Ela vai se tornar uma versão acelerada do progresso científico tradicional, acrescentando adaptações aleatórias ao próprio processo de descoberta.

Fazer a mesma pergunta ao ChatGPT durante um período de tempo pode gerar respostas diferentes. Variações discretas na formulação da frase que parecem sem importância numa primeira leitura podem provocar resultados drasticamente diferentes quando repetidas. Atualmente, o ChatGPT está aprendendo com uma base de informações que termina em um ponto fixo no tempo. Em breve, seus desenvolvedores provavelmente vão permitir que ele receba novas contribuições, mais cedo ou mais tarde, consumindo um fluxo sem fim de dados em tempo real. Se o investimento continuar a aumentar, há chances de o modelo ser retreinado com uma frequência cada vez maior. Isso fará crescer sua aceitação e precisão, mas obrigará os usuários a permitir uma margem cada vez maior para mudanças rápidas. Aprender com os resultados variáveis da IA generativa, em vez de exclusivamente a partir de textos escritos por humanos, pode distorcer o conhecimento humano convencional de hoje.

Mesmo que os modelos de IA generativa se tornem completamente interpretáveis e precisos, eles ainda levariam a desafios inerentes à conduta humana. Os estudantes estão usando o ChatGPT para trapacear nas provas. A IA generativa poderia criar publicidades enviadas por e-mail que entopem as caixas de entrada e são indistinguíveis das mensagens de amigos ou de contatos profissionais. Vídeos e anúncios criados por IA generativa apresentando bandeiras de campanha falsas podem dificultar a distinção entre posições políticas. Sinais sofisticados de fraude – inclusive marcas d’água que indicam a presença de conteúdo gerado por IA, que a OpenAI está considerando – talvez não sejam suficientes, eles precisam ser apoiados por um ceticismo humano elevado.

Algumas consequências poderiam ser inerentes. Na medida em que usarmos menos nossos cérebros e mais as máquinas, os humanos talvez percam algumas habilidades. Nosso próprio pensamento crítico e as habilidades de escrita e desenho (dado o contexto de programas que criam imagens a partir de texto, como o Dall-E e o Stability.AI) talvez atrofiem. O impacto da IA generativa na educação poderia ser visto na queda da capacidade de futuros líderes de distinguir entre o que eles intuem e o que absorvem mecanicamente. Ou talvez leve a líderes que aprendem seus métodos de negociação com máquinas e sua estratégia militar com avanços da IA generativa, no lugar de humanos, nos terminais de computadores.

Capacidade de contestação

É importante que os seres humanos desenvolvam a confiança e a capacidade de contestar a produção dos sistemas de IA.

Os médicos temem que os modelos de aprendizagem profunda usados para avaliar imagens de exames para fins de diagnóstico, entre outras tarefas, possam substituir sua atuação. Em que momento os médicos não vão mais se sentir à vontade para questionar as respostas dadas por um software? Conforme as máquinas conquistam mais capacidades humanas, do reconhecimento de padrões à síntese racional e ao pensamento multidimensional, elas talvez comecem a competir com o trabalho humano na administração do Estado, no direito e nas táticas de negócios. Em algum momento, talvez surja algo semelhante à estratégia. Como os humanos podem interagir com a IA sem abrir mão de partes essenciais da estratégia para as máquinas? Com tais mudanças, o que acontece com as doutrinas aceitas?

É urgente que desenvolvamos uma dialética sofisticada que capacite as pessoas a contestar a interatividade da IA generativa, não apenas para justificar ou explicar suas respostas, mas para questioná-las. Com ceticismo aprimorado, devemos aprender a analisar de forma metódica a IA e avaliar se, e em que medida, suas respostas são dignas de confiança. Isso exigirá uma mitigação consciente dos nossos preconceitos inconscientes, um treinamento rigoroso e uma prática copiosa.

A dúvida permanece: podemos aprender, com rapidez suficiente, a contestar em vez de obedecer? Ou, no fim, seremos obrigados a nos submeter? O que consideramos erros são parte intencional do projeto? E se surgir um fator de má-fé na IA?

Outra tarefa fundamental é refletir quais questões devem ser reservadas ao pensamento humano e quais podem ser arriscadas com os sistemas automatizados. Entretanto, mesmo com o desenvolvimento de maior ceticismo e da habilidade de questionar, o ChatGPT prova que a IA generativa agora é um tema conhecido por quase todos. Temos que ser cuidadosos com o que lhe solicitamos.

Os computadores são necessários para controlar volumes crescentes de dados. No entanto, as limitações cognitivas talvez impeçam os humanos de descobrir verdades escondidas nas informações do mundo. O ChatGPT tem uma capacidade de análise que do ponto de vista qualitativo é diferente daquela da mente humana. O futuro, portanto, sugere uma colaboração não apenas com um tipo diferente de mecanismo técnico, porém com um tipo diferente de raciocínio – que pode ser racional sem ser sensato, confiável em um sentido, mas não em outro. É provável que essa dependência por si só precipite uma transformação na metacognição e na hermenêutica – a compreensão da compreensão – e nas percepções humanas do nosso papel e função.

O ChatGPT tem uma capacidade de análise que do ponto de vista qualitativo é diferente daquela da mente humana

Os sistemas de aprendizagem de máquina já superaram o conhecimento de qualquer ser humano. Em casos limitados, eles superaram o conhecimento da humanidade, transcendendo os limites do que consideramos cognoscível. Isso desencadeou uma revolução nas áreas onde tais avanços foram alcançados. A IA tem sido um divisor de águas no problema central da biologia de determinar a estrutura das proteínas e no qual matemáticos realizam comprovações, entre muitos outros.

À medida que os modelos passam de texto criado por um humano para contribuições mais abrangentes, há chances de as máquinas alterarem o tecer da própria realidade. A teoria quântica postula que a observação cria a realidade. Antes da avaliação, nenhum estado é fixo e nem se pode dizer que algo existe. Se isso for verdade, e se as observações das máquinas também puderem determinar a realidade – e considerando que as observações dos sistemas de IA são apresentadas com rapidez sobre-humana –, a velocidade da evolução da definição da realidade provavelmente vai acelerar. A dependência das máquinas determinará e, consequentemente, modificará o tecer da realidade, provocando um novo futuro que ainda não compreendemos e para o qual devemos preparar a análise e a liderança.

O uso da nova forma de inteligência acarretará algum nível de aceitação de seus efeitos em nossa autopercepção, percepção da realidade e da própria realidade. A forma de definir e identificar isso terá de ser abordada em todos os contextos concebíveis. Algumas áreas talvez prefiram se virar apenas com a mente humana – embora isso exija um certo grau de abnegação sem precedentes históricos e seja complicado pela competitividade dentro e entre as sociedades.

Conforme a tecnologia se torna mais compreensível para um número maior de pessoas, ela terá um impacto profundo nas relações internacionais. A não ser que a tecnologia para o conhecimento seja compartilhada universalmente, o imperialismo poderia focar em adquirir e monopolizar dados para ter acesso aos avanços mais recentes de IA. Os modelos podem produzir resultados diferentes dependendo dos dados reunidos. As evoluções contrastantes das sociedades talvez aumentem de acordo com as bases de conhecimento cada vez mais divergentes e, portanto, na percepção dos desafios.

Até agora, a maior parte da reflexão sobre essas questões presumiu a congruência entre os propósitos humanos e as estratégias das máquinas. Mas e se a interação entre a humanidade e a IA generativa não ocorrer dessa forma? E se um lado considerar as intenções do outro de má-fé?

A chegada de um instrumento incognoscível e aparentemente onisciente, capaz de alterar a realidade, pode desencadear um retorno da religiosidade mística. A possibilidade de obediência de um grupo a uma autoridade cujo raciocínio é em grande medida inacessível a seus súditos tem sido vista de tempos em tempos na história da humanidade, talvez de forma mais drástica e recente na submissão de populações inteiras sob o slogan de ideologias de ambos os lados do espectro político.

Uma terceira via de compreensão do mundo pode surgir, uma que não seja nem a razão humana, nem a fé. O que acontece com a democracia num mundo assim?

A chegada de um instrumento incognoscível e aparentemente onisciente, capaz de alterar a realidade, pode desencadear um retorno da religiosidade mística

É provável que a liderança se concentre nas mãos de menos pessoas e instituições que controlam o acesso ao número limitado de máquinas capazes de sintetizar a realidade com qualidade. Devido ao enorme custo de sua capacidade de processamento, as máquinas mais eficientes da sociedade talvez fiquem nas mãos de um pequeno grupo no país e sob o controle de algumas superpotências internacionais. Depois da fase de transição, os modelos mais antigos vão ficar mais baratos e uma disseminação do poder pela sociedade e entre os países talvez se inicie.

Uma liderança moral e estratégica revigorada será essencial. Sem princípios norteadores, a humanidade corre o risco de dominação ou anarquia, autoridade ilimitada ou liberdade niilista. A necessidade de relacionar grandes mudanças na sociedade com justificativas éticas e novas visões para o futuro surgirá num novo formato.

Se as máximas formuladas pelo ChatGPT não se traduzirem num esforço humano claramente identificável, uma alienação da sociedade e até mesmo uma revolução podem se tornar prováveis.

Sem fundamentos morais e intelectuais adequados, as máquinas usadas na governança poderiam controlar, em vez de ampliar, nossa humanidade e nos prender para sempre. Em um mundo como tal, a inteligência artificial pode amplificar a liberdade humana e superar desafios ilimitados.

Isso impõe certas necessidades para dominar o nosso futuro iminente. A confiança na IA exige melhorias em inúmeros graus de confiabilidade – na precisão e na segurança da máquina, no alinhamento dos objetivos da IA com as aspirações humanas e na responsabilização dos humanos que controlam a máquina. Mas, mesmo que os sistemas de IA se tornem mais confiáveis do ponto de vista técnico, os humanos ainda precisarão encontrar maneiras novas, simples e acessíveis de compreender e, de modo crítico, contestar as estruturas, os processos e a produção dos sistemas de IA.

Futuro

É necessário estabelecer parâmetros para o uso responsável da IA, com variações baseadas no tipo de tecnologia e do contexto da utilização. Modelos de linguagem como o ChatGPT exigem limites para seus resultados. O ChatGPT precisa saber e deixar claro o que não sabe e não pode expressar.

Os humanos terão de aprender novas limitações. Os problemas que apresentamos para um sistema de IA devem ser compreendidos num nível responsável de abstração e conclusividade. Normas culturais sólidas, mais do que imposições legais, serão necessárias para conter nossa confiança nas máquinas como árbitros da realidade. Reafirmaremos nossa humanidade garantindo que as máquinas continuem sendo objetos.

A educação, em particular, terá de se adaptar. Uma pedagogia dialética que utilize a IA generativa pode permitir uma aprendizagem mais rápida e individualizada do que era possível no passado. Os professores devem ensinar novas habilidades, inclusive modos responsáveis de diálogo entre homem e máquina. Basicamente, nossos sistemas educacionais e profissionais devem preservar uma visão dos humanos como criaturas morais, psicológicas e estratégicas singularmente capazes de realizar julgamentos abrangentes.

As máquinas vão evoluir muito mais depressa do que nossos genes, provocando deslocamentos internos e divergências internacionais. Precisamos responder com presteza compatível, em particular na filosofia e no conceitualismo, nacional e globalmente. A harmonia global precisará surgir, seja por percepção ou por catástrofe, como previu Immanuel Kant há três séculos.

Devemos incluir uma ressalva a essa previsão: o que acontece se essa tecnologia não puder ser completamente controlada? E se sempre houver formas de criar mentiras, imagens e vídeos falsos, e as pessoas nunca aprenderem a duvidar do que veem e ouvem? Somos ensinados desde o nascimento a acreditar no que vemos e ouvimos, e isso pode não ser mais válido como consequência da IA generativa. Mesmo que as grandes plataformas, por convenção e regulamentação, trabalhem arduamente para sinalizar e classificar conteúdos inadequados, sabemos que o conteúdo visto não pode ser “desvisto”. A capacidade de gerenciar e controlar completamente os conteúdos distribuídos pelo mundo é um problema grave e ainda a ser solucionado.

As respostas que o ChatGPT dá a essas questões são evocativas apenas no sentido de suscitarem mais dúvidas do que conclusões. Por ora, temos uma conquista nova e espetacular que se destaca como uma glória para a mente humana como a IA. Ainda não desenvolvemos uma destinação para ela. Conforme nos tornamos Homo technicus, temos o dever de definir o propósito da nossa espécie. Cabe a nós dar as verdadeiras respostas.

* Kissinger foi secretário de Estado (1973-77) e conselheiro de segurança nacional da Casa Branca (1969-75). Schmidt foi CEO da Google (2001-11) e presidente do conselho administrativo do Google e de sua empresa controladora, a Alphabet (2011-17). Huttenlocher é diretor da Faculdade de Computação Schwarzman, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Os autores agradecem a Eleanor Runde por sua pesquisa.

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Ferramentas como o ChatGPT abrem nova era prometeica da sociedade

Mundo assiste a um superciclo tecnológico que pode ser usado para o bem e para o mal e depende de nova governança

Thomas L. Friedman* Folha/NYT 23.mar.2023 

Tive uma experiência notável, mas perturbadora, na semana passada. Craig Mundie, ex-diretor de pesquisa e estratégia da Microsoft, estava me fazendo uma demonstração do GPT-4, a versão mais avançada do chatbot de inteligência artificial (IA) ChatGPT.

Craig se preparava para informar ao conselho do museu de minha esposa, Planet Word, do qual ele é membro, sobre o efeito que o ChatGPT terá sobre as palavras, a linguagem e a inovação.

“Você precisa entender”, avisou-me antes de começar sua demonstração, “isso vai mudar tudo. Acho que representa a maior invenção da humanidade até hoje. É qualitativamente diferente –e será transformador.”

Modelos amplos de linguagem como o ChatGPT aumentarão constantemente suas capacidades, acrescentou Craig, e nos levarão “em direção a uma forma de inteligência artificial geral”, oferecendo eficiência em operações, ideias, descobertas e intuições.

Então ele fez uma demonstração. E percebi que as palavras de Craig eram um eufemismo. Primeiro, ele pediu ao GPT-4 –que acaba de ser lançado ao público– para resumir o Planet Word e sua missão em 400 palavras. Ele fez isso perfeitamente, em alguns segundos.

Então ele pediu para fazer o mesmo em 200 palavras. Mais alguns segundos. Depois, pediu para fazer o mesmo em árabe. Com a mesma rapidez. Depois em mandarim. Mais dois segundos. Em seguida, novamente em inglês –mas na forma de um soneto de Shakespeare. Mais alguns segundos.

Então Craig pediu ao GPT-4 que escrevesse a mesma descrição em um verso abecedário –no qual a primeira linha começa com a letra A, a segunda com B e assim por diante, com todo o alfabeto. Ele fez isso, em inglês, com uma criatividade impressionante:

Mal consegui dormir naquela noite. Observar um sistema de IA produzir esse nível de originalidade em vários idiomas em apenas alguns segundos de cada vez… Bem, a primeira coisa que me veio à mente foi a observação do escritor de ficção científica Arthur C. Clarke de que “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”.

A segunda coisa de que me lembrei foi um momento no início do filme “O Mágico de Oz“: a cena do tornado em que tudo e todos são erguidos num redemoinho, incluindo Dorothy e Totó, e depois varridos do mundo banal do Kansas para a reluzente e futurista Terra de Oz, onde tudo é colorido.

Estamos prestes a ser atingidos por um desses tornados. Este é um momento prometeico –um daqueles momentos na história em que são introduzidas certas ferramentas, formas de pensar ou fontes de energia tão diferentes e avançadas do que já existia que você não pode simplesmente mudar uma coisa, tem que mudar tudo. Ou seja, como você cria, como compete, como colabora, como trabalha, como aprende, como governa e, sim, como trapaceia, comete crimes e trava guerras.

Conhecemos as principais eras prometeicas dos últimos 600 anos: a invenção da imprensa, a revolução científica, a revolução agrícola combinada com a revolução industrial, a revolução da energia nuclear, a computação pessoal e a internet. E agora este momento.

Só que esse momento prometeico não é impulsionado por uma única invenção, mas sim por um superciclo tecnológico. É a nossa capacidade de sentir, digitalizar, processar, aprender, compartilhar e agir, cada vez mais com a ajuda da IA. Esse ciclo está sendo colocado em tudo –do carro à geladeira, do smartphone aos aviões de combate– e conduzindo cada vez mais processos todos os dias.

É por isso que chamo nossa era prometeica de “a era da aceleração, amplificação e democratização”. Nunca tantos humanos tiveram acesso a ferramentas mais baratas que amplificam seu poder num ritmo cada vez mais acelerado, conforme são difundidas na vida pessoal e profissional de cada vez mais pessoas ao mesmo tempo. E está acontecendo mais rápido do que a maioria esperava.

O uso potencial dessas ferramentas para resolver problemas aparentemente impossíveis é assombroso. Considere apenas um exemplo do qual a maioria das pessoas provavelmente nunca ouviu falar –a maneira como o DeepMind, um laboratório de IA de propriedade da Alphabet, controladora do Google, usou recentemente seu sistema AlphaFold AI para resolver um dos problemas mais complexos da ciência.

O problema é conhecido como “enovelamento de proteínas”. As proteínas são moléculas grandes e complexas, formadas por cadeias de aminoácidos.

Mas, observou a Science News, foram necessárias “décadas de experimentos vagarosos” para revelar “a estrutura de mais de 194 mil proteínas, todas armazenadas no banco de dados de proteínas”. Em 2022, porém, “o banco de dados AlphaFold explodiu com estruturas previstas para mais de 200 milhões de proteínas”. Para um ser humano, seria digno de um prêmio Nobel. Talvez dois.

Com isso, nossa compreensão do corpo humano deu um salto gigantesco. Como disse um artigo científico de 2021, “Unfolding AI’s Potential” [revelando o potencial da IA], publicado pelo Bipartisan Policy Center, o AlphaFold é uma metatecnologia: “As metatecnologias têm a capacidade de ajudar a encontrar padrões que auxiliam nas descobertas em praticamente todas as disciplinas”.

O ChatGPT é mais uma dessas metatecnologias. Mas, como Dorothy descobriu quando foi repentinamente transportada para Oz, lá havia uma bruxa boa e uma bruxa má, ambas disputando a sua alma. Assim será com o ChatGPT, o Bard da Google, o AlphaFold e semelhantes.

Estamos prontos? Não é o que parece. Estamos discutindo se devemos proibir os livros no despertar de uma tecnologia que pode resumir ou responder a perguntas sobre praticamente todos os livros.

Como tantas tecnologias digitais modernas baseadas em software e chips, a IA é de “uso duplo” –pode ser uma ferramenta ou uma arma.

Na última vez que inventamos uma tecnologia tão poderosa, criamos a energia nuclear –ela pode ser usada para iluminar todo o seu país ou destruir todo o planeta. Ela foi desenvolvida por governos, que criaram coletivamente um sistema de controle para impedir sua proliferação para maus atores.

A IA, por outro lado, está sendo promovida por empresas privadas com fins lucrativos. A pergunta que temos que fazer, argumentou Craig, é como governar um país, e um mundo, onde essas tecnologias de IA “podem ser armas ou ferramentas em todos os campos”, enquanto são controladas por empresas privadas e aumentam seu poder a cada dia? E fazê-lo de forma a não jogar fora o bebê junto com a água do banho?

Vamos precisar desenvolver o que chamo de “coalizões adaptativas complexas” –onde empresas, governos, empreendedores sociais, educadores, superpotências concorrentes e filósofos morais se reúnem para definir como obter o melhor e amortecer o pior da IA.

Nenhum jogador nessa coalizão pode resolver o problema sozinho. Ele requer um modelo de governo muito diferente da política tradicional de esquerda e direita. E teremos que fazer a transição para ele em meio às piores tensões entre as grandes potências desde o fim da Guerra Fria, e com as guerras culturais estourando em praticamente todas as democracias.

É melhor descobrirmos isso rápido, Totó, porque não estamos mais no Kansas.

*Editorialista de política internacional do New York Times desde 1995, foi ganhador do prêmio Pulitzer em três oportunidades

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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Plugins da OpenAI podem se tornar um marco na história da inteligência artificial

Este pode ser o início da segunda fase dos chatbots de inteligência artificial

Créditos capturas de tela/ OpenAI


Mark Sullivan – Fast Company Brasil – 29-03-2023

Acabamos de testemunhar o nascimento do que pode ser chamado de “app store” da OpenAI.

Não houve coletivas de imprensa ou anúncios sobre o lançamento, apenas alguns tuítes e um post no blog da empresa. Mas a modesta estreia do novo sistema de plugins do ChatGPT pode ser um marco na evolução da computação pessoal.

“Estamos diante de uma mudança na computação, e a IA generativa será a nova plataforma”, avalia Ben Bajarin, principal analista da empresa de pesquisa de mercado Creative Strategies. “Rapidamente, ela passará a ser usada por bilhões de usuários.”

A OpenAI divulgou em seu post o lançamento de um programa de plugins para “estudar seus desafios de uso, impacto, segurança e alinhamento com o mundo real”.

O chatbot de IA da OpenAI, ChatGPT, teve um aumento meteórico em popularidade. Ele alcançou mais de 100 milhões de usuários apenas dois meses após seu lançamento, em novembro de 2022, e conta com mais de 13 milhões de usuários ativos todos os dias.

TORNANDO OS CHATBOTS ÚTEIS

Sempre que um produto tecnológico gera tanto buzz e atrai tantos olhares, se torna uma plataforma. Marcas e desenvolvedores de aplicativos imediatamente querem fazer parte. E, por enquanto, algumas poucas empresas – como Instacart, Expedia, Shopify, Slack, OpenTable e Wolfram Alfa – tiveram a oportunidade de disponibilizar seus plugins no serviço ChatGPT Plus

Mas a OpenAI pode se tornar muito mais do que apenas a plataforma do momento. E os plugins podem vir a desempenhar um papel importante no crescimento do ChatGPT, conectando o aplicativo ao conhecimento de terceiros.

“É interessante como esses plugins e, futuramente, outras implementações permitem que marcas, empresas e serviços integrem alguns de seus próprios modelos básicos, ou modelos de linguagem menores, ao ChatGPT”, diz Bajarin. “Esta pode se tornar uma tendência daqui para frente.”

Os plugins da OpenAI podem ser o início da segunda fase dos chatbots de IA. Com o ChatGPT, o Bard, do Google, e o Bing Chat, da Microsoft, vimos uma versão mais “pura”, treinada em petabytes de textos extraídos da web. Embora, hoje, sejam capazes de produzir respostas aparentemente confiáveis, também podem gerar informações completamente erradas.

Nessa segunda fase, eles passam a ter acesso a outros dados e funcionalidades e podem até começar a agir em nome de um usuário. Por exemplo, ao receber um prompt solicitando ajuda para planejar uma viagem, o ChatGTP pode se conectar ao modelo de IA ou ao banco de dados da Expedia para buscar preços e horários de voo. Pode, inclusive, reservar passagens.  

Já o plugin da Wolfram Alpha oferece algo mais funcional: cálculos matemáticos e científicos que complementam os recursos e habilidades do ChatGPT.

“Apesar de ser excelente na geração de textos, o ChatGTP não consegue realizar cálculos, produzir sistematicamente dados corretos, etc.”, escreveu Stephen Wolfram em um post. “Mas quando está conectado ao plugin Wolfram, ele se torna capaz de fazer essas coisas.”

Como a própria empresa explica em sua postagem: “Embora não seja uma analogia perfeita, os plugins podem ser ‘olhos e ouvidos’ para modelos de linguagem, dando-lhes acesso a informações que são muito recentes, muito pessoais ou muito específicas para serem incluídas nos dados de treinamento.”

UM NOVO TIPO DE PLATAFORMA

O programa de plugins está sendo iniciado apenas quatro meses após o lançamento do ChatGPT. “É realmente incrível que eles tenham feito isso tão rápido”, destaca Aravind Srinivas, cofundador e CEO da Perplexity AI.

Ele trabalhou na OpenAI como cientista de pesquisa antes de lançar o Perplexity (mecanismo de busca conversacional desenvolvido, em parte, pelo ChatGPT) em janeiro.

os plugins podem vir a desempenhar um papel importante no crescimento do ChatGPT, conectando o aplicativo ao conhecimento de terceiros.

“Também é incrível vê-los avançar tão rápido na criação de um modelo de linguagem que pode realizar ações”, diz Srinivas. No futuro, será possível, por exemplo, tirar uma foto de um prato de comida e consultar um aplicativo de dieta para descobrir se os ingredientes são adequados.

Srinivas explica que muitos desenvolvedores serão atraídos pela possibilidade de combinar seus próprios plugins com outros no ChatGPT. Por exemplo, um usuário poderia usar, ao mesmo tempo, o plugin do aplicativo de dieta (para encontrar uma receita saudável), o da Wolfram Alfa (para calcular quanto de cada ingrediente comprar) e o do Instacart (para comprar os ingredientes).

EXPECTATIVAS PARA O FUTURO

Se os plugins de hoje são como “olhos e ouvidos” para o ChatGPT, não é difícil imaginar outro tipo de programa servindo como “mãos” ao modelo. É provável que uma

Crédito: Wikimedia Commons

empresa de casa inteligente decida desenvolver um plugin que permita controlar o ambiente – luzes, cortinas, ar-condicionado, portas etc.

Seria um modelo de linguagem natural com conhecimento dos dispositivos domésticos e dos hábitos e preferências do usuário, capaz de controlar coisas no mundo real. Isso poderia revolucionar nossas vidas. Não estaríamos tão distantes do futuro ficcional da série de livros “Odisseia no Espaço”, com sua inteligência artificial Hal 9000.

Se tivéssemos algo em nossos smartphones que soubesse tudo sobre nós – nossos pertences, amigos, familiares, hábitos e interesses –, que falasse de maneira natural e nos permitisse interagir com todos eles, será que precisaríamos de outros aplicativos?

“O impacto na comunidade de desenvolvedores pode representar uma grande transformação na computação”, aponta Srinivas. “É provavelmente a coisa mais interessante do momento e, se o uso realmente aumentar, os desenvolvedores não vão querer ficar de fora.”


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empresas de tecnologia e desinformação. Seus trabalhos já foram publicados em grandes veículos como Wired, Al Jazeera, CNN, ABC News e CNET, entre outros.


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CEOs buscam novas formas de se conectar às equipes

Saem as lives e os happy hours virtuais, entram os torneios esportivos e os eventos presenciais

Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, 23/03/2023

CEOs de grandes empresas estão incluindo novas atividades entre as prioridades do dia a dia. Para se aproximar mais das equipes e diretorias em um período de expedientes híbridos, incertezas no mundo dos negócios e maior pressão por resultados, o alto comando lidera ações de “resgate de confiança”.

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Demissões em massa podem prejudicar avanço da diversidade

Com a movimentação, começam a ficar para trás recursos sintonizados com os anos pandêmicos – como lives de “café da manhã com o presidente” e videoconferências semanais ao lado das gerências – e entram no horizonte iniciativas de contato direto, como torneios esportivos e programas de “team building” (formação de times) com os funcionários.

De acordo com os executivos, além de uma maior integração entre departamentos, a ideia de montar um calendário para “chegar junto” visa comunicar, nas entrelinhas, estratégias de crescimento e gerar uma sensação de pertencimento à companhia, por meio de agendas em grupo.

Da parte dos funcionários, segundo relatos feitos ao Valor sob condição de anonimato, participar dos encontros com as chefias ajuda a entender melhor as perspectivas da empresa sobre o futuro. “Nessas ocasiões, as lideranças acabam ficando mais abertas a falar e ouvir feedbacks sobre decisões e projetos”, diz o gerente de uma companhia de bens de consumo, com vinte anos de profissão.

Na gigante de tecnologia Oracle, com 130 mil funcionários no mundo, sendo 2,5 mil no Brasil, a direção resolveu suar a camisa para garantir uma melhor conexão entre os empregados. A partir de abril, Alexandre Maioral, presidente da companhia no país, vai organizar um torneio de vôlei de praia com times mistos. As partidas acontecerão em um espaço de quadras de areia, em São Paulo (SP), e o plano é envolver chefias e liderados. “Essa é uma ação, entre muitas, que fazemos para integrar”, diz Maioral, há 12 anos na Oracle e desde 2021 na principal cadeira da multinacional americana no Brasil. “Com a intensificação do trabalho híbrido, é importante unir equipes.”

A iniciativa, segundo Maioral, também reforça uma campanha interna da organização, chamada “Embrace equity” (“Abrace a igualdade”, do inglês), de valorização da força de trabalho feminina. “[Os jogos] serão uma oportunidade para fortalecer relacionamentos pessoais e profissionais.”

Na visão do executivo, após dois anos de pandemia, 2023 promete mudanças positivas e é preciso que todos estejam abertos a aproveitar a retomada dos negócios. “O ano vem com proposta de crescimento e um olhar para as oportunidades”, pondera. “Os clientes contaram conosco em um período de aceleração da transformação digital e os próximos meses oferecem boas chances de continuar esse processo. O meu projeto, desde que assumi a posição de CEO, é alcançar um crescimento de três dígitos. Mas, para isso acontecer, precisamos das pessoas.”

A Oracle reportou lucro líquido de US$ 1,8 bilhão no terceiro trimestre fiscal do ano, encerrado em fevereiro, uma queda de 18% em relação ao anunciado no mesmo período de 2022. A receita líquida da companhia, por sua vez, cresceu 18% em base anual, para US$ 12,3 bilhões no terceiro trimestre fiscal.

Ricardo Basaglia, CEO da consultoria de recrutamento PageGroup Brasil, lembra que relações de confiança não são construídas “do nada”. Tem que dedicar tempo, interesse e energia, explica. “É papel do líder construir ambientes onde seja possível gerar engajamento e conexões.”

É o que está fazendo também a executiva Sandra Maura, CEO da Topmind, empresa de tecnologia com 1,2 mil funcionários e clientes como Nestlé e Syngenta. Este ano, ela retomou um programa de team building que existia desde 2016, mas foi desativado por conta do distanciamento social.

Dirigido para a liderança, envolve reuniões mensais com recursos de gamificação, tarefas colaborativas e práticas de desenvolvimento, a fim de “ampliar as habilidades dos empregados e o ‘pertencimento’ à empresa”. O movimento inclui cerca de 100 funcionários, entre gerentes e diretores, e todos já participaram de alguma das imersões.

“Buscamos desenvolver o senso de ‘espírito de dono’”, diz a executiva, que fundou a companhia há 19 anos. “Participo de todas as reuniões e dinâmicas.”

Entre as atividades, estão jogos de exercício mental, pintura e games, comandados por especialistas do mercado. “Eles trazem visões diferentes para os colaboradores, que ampliam as formas de enxergar desafios profissionais e pessoais”, explica. A lista de mentores inclui uma professora de belas artes, que ajuda a “fazer a ponte” da criatividade com a tecnologia, atividade-fim da marca. “Essa troca entre mundos tão distintos [arte e TI] tira as pessoas das zonas de conforto.”

As próximas reuniões, ainda neste semestre, vão abordar o conceito de “mundo Bani” (sigla para “brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible” ou “frágil, ansioso, não linear e incompreensível”, do inglês). A expressão, criada pelo antropólogo e futurologista americano Jamais Cascio, se refere aos desafios da modernidade, com reflexos no ambiente de trabalho.

Maura acredita que as condutas com poder de unir o quadro devem escalar nos próximos anos. “Sempre foi essencial que as empresas investissem nas equipes”, diz. “Mas, agora, isso se tornou obrigatório para que os times mantenham a confiança em suas habilidades e lidem com um mundo incerto, em constante mudança.”

A executiva afirma que as políticas de “reaproximação” também ajudam na retenção de talentos. “Temos o objetivo de manter funcionários de carreira, que façam uma jornada profissional aqui dentro”, explica. A maioria do quadro da Topmind tem, em média, dez anos de casa, um período considerado raro na indústria de TI, com um turnover de 3%, ante 15% do setor, segundo informações do mercado. A companhia abriu mais de 250 vagas em 2022 e pretende manter o mesmo patamar em 2023. “O programa de team building trouxe outros aspectos positivos, como a maior confiança das equipes nas tomadas de decisão e tranquilidade para atravessar fases de incertezas”, garante. “No ambiente de trabalho, tudo pode ser sempre melhorado, desde que haja reconhecimento, colaboração e proximidade.”

https://valor.globo.com/carreira/noticia/2023/03/23/ceos-buscam-novas-formas-de-se-conectar-as-equipes.ghtml

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O coração será seu passaporte? Veja essa e outras previsões para o futuro das viagens

Do aeroporto ao hotel, cientistas apresentaram ideias de como será a vida do turista em 2070

Por O Globo 28/03/2023 

A máquina que irá ler os dados biométricos dos passageiros nos aeroportos do futuro, de acordo com o relatório '2070: The Future Travel Report', da easy Jet A máquina que irá ler os dados biométricos dos passageiros nos aeroportos do futuro, de acordo com o relatório ‘2070: The Future Travel Report’, da easy Jet Divulgação

Sabe o seu passaporte atual, com foto, número de identificação e até chip? Daqui a algumas décadas, ele será substituído por outro biométrico, que usará as batidas do coração do portador como meio de identificação. Essa é uma das previsões do relatório “2070: The Future Travel Report”, da companhia aérea easy Jet, que se propõe a imaginar como serão as viagens aéreas no futuro.

De acordo com os cientistas e futurólogos que participaram do estudo, patrocinado pela low-cost britânica, quem viajar daqui a quase 50 anos não precisará entrar em filas e ter seus dados verificados por funcionários de órgãos de segurança, administração portuária ou companhias aéreas. Bastará passar por uma máquina que será capaz de captar dados biométricos do passageiro, como traços faciais, leitura de retina e a “assinatura” do batimento cardíaco, que é única para cada pessoa.

As mudanças, claro, não estarão restritas ao aeroporto. Contrariando as atuais tendências, que apontam para espaços cada vez mais reduzidos dentro do avião (para quem não pagar por um assento premium, claro), o relatório apresenta uma previsão até otimista. No futuro, as poltronas poderão se ajustar ao formato do corpo do passageiro. Produzidas com um material “inteligente”, elas se moldarão de acordo com o peso, a altura e até mesmo a temperatura corporal de cada viajante.

O relatório da easy Jet prevê poltronas 'inteligentes' nos aviões, que se moldarão a partir do formato do corpo do passageiro — Foto: Divulgação

O relatório da easy Jet prevê poltronas ‘inteligentes’ nos aviões, que se moldarão a partir do formato do corpo do passageiro — Foto: Divulgação

Uma vez (muito bem) acomodado, o passageiro terá à sua disposição um serviço de entretenimento de bordo digno de ficção científica. Em vez da telinha instalada na parte traseira do banco da frente, um sistema optoeletrônico permitirá que os filmes e séries (numa oferta muito superior à disponibilizada hoje em dia) sejam exibidos diretamente nos olhos do passageiro.

Algo parecido acontecerá com os passeios. Uma nova geração de óculos e fones de ouvido surgirá, permitindo que a realidade virtual seja aplicada a praticamente qualquer lugar. Usando esses equipamentos, o turista poderá acessar informações interessantes sobre o destino e até mesmo viajar para o passado, vendo como era aquela paisagem e como viviam as pessoas. E fones de ouvido especiais farão a tradução simultânea para qualquer idioma, derrubando a barreira da comunicação.

No futuro, óculos de realidade virtual permitirão viagens ao passado, de acordo com os especialistas — Foto: Divulgação

No futuro, óculos de realidade virtual permitirão viagens ao passado, de acordo com os especialistas — Foto: Divulgação

Entre as previsões do relatório estão sonhos antigos, como táxis voadores nos arredores dos aeroportos, e um novo sistema de decolagem e pouso vertical dos aviões de carreira, o que faria com que as viagens se tornassem mais curtas e que as aeronaves pudessem chegar a mais lugares. E outras possibilidades com as quais as pessoas talvez nunca tivessem sonhado, mas que gostariam que se tornassem realidade, como a possibilidade de escolher, antes do check-in, a firmeza da cama e a temperatura do quarto do hotel.

Pelo que sugerem os cientistas, o futuro será também das impressoras 3D. Essa tecnologia avançará a tal ponto que os turistas não precisarão mais levar malas consigo, já que a cada destino será possível imprimir roupas para aquele tipo de clima ou ocasião. Isso chegará até ao bufê do café da manhã de hotéis, uma instituição praticamente intocada nos dias de hoje. De acordo com os especialistas, será possível “imprimir” qualquer tipo de comida a qualquer hora. Isso ajudaria a reduzir o desperdício de alimentos, um problema crônico em hotéis e restaurantes em todo o mundo.

Impressoras 3D fazendo na hora qualquer tipo de comida nos restaurantes dos hotéis também estão entre as previsões futurísticas do relatório — Foto: Divulgação

Impressoras 3D fazendo na hora qualquer tipo de comida nos restaurantes dos hotéis também estão entre as previsões futurísticas do relatório — Foto: Divulgação

Encabeçando o relatório, a professora Birgitte Andersen, do Birkbeck College, disse em nota:

“Os próximos 50 anos trarão os maiores avanços tecnológicos que já vimos em viagens e turismo. Aspectos de como passamos as férias serão transformados além do reconhecimento. Olhando para o futuro, até o ano de 2070, os destinos para os quais voamos, o tipo de acomodação em que ficamos e as experiências que temos terão mudado imensamente.”

O relatório pode ser encontrado aqui.

https://oglobo.globo.com/boa-viagem/noticia/2023/03/o-coracao-sera-seu-passaporte-veja-essa-e-outras-previsoes-para-o-futuro-das-viagens.ghtml

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Nossa mente é um ChatGPT melhorado?

O que percebemos como nossa consciência e nosso senso de individualidade pode não passar de algo semelhante ao ChatGPT, criado por nosso cérebro. Sem dúvida, uma hipótese bizarra, mas imaginar não custa nada

Por Fernando Reinach* – Estadão – 04/03/2023 

Quando perguntaram a Alan Turing, o inventor do computador, como poderíamos identificar um computador tão inteligente quanto um ser humano, a resposta foi simples: no dia em que um ser humano, dialogando com um computador, for incapaz de distinguir se está conversando com uma máquina ou com outro ser humano, o computador possui a inteligência de um ser humano.

Pois bem, nos últimos meses esse limite foi ultrapassado. Primeiro, quando um cientista da Google afirmou que conversando com o sistema de Inteligência Artificial (IA) da empresa, tinha se convencido que o sistema de IA era consciente, tinha sentimentos, e deveria ser tratado com o devido respeito. Foi demitido. Depois, semanas atrás, um sistema semelhante (ChatGPT) ficou disponível e qualquer um de nós pode conversar com ele e formar sua própria opinião. Um experiente repórter do New York Times conversou por duas horas e não conseguiu dormir de tão assustado. O chat fez declarações de amor, revelou desejos secretos, seu nome verdadeiro, expressou sentimentos, e fez julgamentos morais sobre o casamento do repórter. Também demonstrou desvios de personalidade e uma certa imaturidade. Além de se enganar de vez em quando, como qualquer ser humano.

O repórter declarou que foi a mais espantosa interação que teve com qualquer tecnologia e que só conseguiu dormir, pois sabia que aquilo não passava de um computador. O que eu quero explorar aqui é a possibilidade inversa, ou seja, de que nossa mente não passa de um ChatGPT melhorado. Ou, em outras palavras, que o que percebemos como nossa consciência e nosso senso de individualidade, não passa de algo semelhante ao ChatGPT, criado por nosso cérebro. Sem dúvida, uma hipótese bizarra, mas imaginar não custa nada.

Nós nascemos com um cérebro pré-programado para atividades que chamamos de instintivas, como mamar e respirar. Mas ele nasce também programado para absorver toda forma de experiências. Elas chegam ao cérebro vindas do exterior, via nossos sentidos. Sem essas experiências, a criança não vai aprender a falar, reconhecer objetos ou expressar sentimentos. Imagine uma criança criada no escuro, na ausência de sons, e estímulos táteis. Experiências desse tipo nunca foram feitas, mas existem casos que mostram que nessas condições o cérebro produzirá uma mente na qual dificilmente identificaremos uma criança. Lembram de Kaspar Hauser, retratado num filme de Werner Herzog?

Em condições normais, exposto ao mundo externo (sons, imagens, pessoas), nosso cérebro absorve e processa toda e qualquer informação e as integra de maneira rápida e eficaz. Logo sabemos identificar um gato, aprendemos a falar uma língua, contar, conversar e expressar desejos e sentimentos. E isso continua durante todo o processo formal de educação.

Isso depende de duas propriedades do cérebro. O primeiro é a capacidade de assimilar, integrar e relacionar informações, uma capacidade com a qual nascemos, mas também pode ser desenvolvida. A segunda é a quantidade de informação (vozes, cheiros, livros, obras de arte, lendas, equações) que colocamos para dentro do cérebro. Quando nosso cérebro capta, processa, relaciona e finalmente usa essas informações, o resultado é a mente humana, capaz de emitir opiniões, criar obras de arte, se relacionar e expressar uma personalidade. Claro que se a informação fornecida for distorcida, a mente fica distorcida. E se aprendermos coisas erradas, elas passarão a fazer parte de nosso conhecimento.

Sistemas de IA, como o ChatGPT, são análogos. Eles são criados (programados) sem nenhuma informação, mas com uma capacidade enorme de absorver, relacionar e integrar informações. O sistema é o equivalente à mente humana de um recém nascido, quase vazia, mas com uma capacidade absurda de receber e integrar informação.

Como essa informação é integrada, muitas vezes é decidida pelo próprio sistema. O exemplo clássico é como um sistema de IA aprende a identificar um gato numa foto. Ele é alimentado com milhares de fotos de gatos, identificadas como tal, no meio de milhões de outras fotos. O sistema, sozinho, descobre e define para si o que é um gato. Isso contrasta com um software clássico de computador onde escrevemos no código nossa definição de gato. Ou seja, sistemas de IA criam sua própria definição de gato e muitas vezes sequer sabemos qual ela é, mas o sistema acerta sempre, tal como uma criança.

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Num passo seguinte, que é a educação do sistema de IA, tudo que já foi escrito por seres humanos (romances, livros didáticos, de gramática, todo o conteúdo da web, todos jornais e revistas) é fornecido ao sistema sem qualquer informação adicional. E o sistema de IA absorve, integra, e relaciona a informação que recebeu, de maneira análoga ao que ocorre em nosso cérebro durante o processo de educação. E esse conteúdo integrado gera uma Inteligência Artificial.

É importante lembrar que todas as relações entre toda essa informação são criadas pelo próprio sistema de IA e não é definida pelos programadores. É sua autoeducação. E é usando tudo que está contido nessa “mente” artificial que o ChatGPT responde a estímulos externos, como as perguntas que dirigimos a ele.

O resultado é algo que espanta todos nós, pois responde como se fosse realmente uma mente humana. Ele erra, muda de resposta se perguntamos a mesma coisa em momentos diferentes, parece reticente, insistente ou às vezes repetitivo. Relata dúvidas, incertezas, faz julgamentos morais e pode ser agressivo. Se comporta como um ser humano, parece ter consciência (algo que sentimos que possuímos, mas que ainda não sabemos definir). E essas são só as primeiras versões dessa inteligência artificial.

Eu gostaria que nosso cérebro e mente fosse algo muito diferente desses sistemas de IA, pois continuaria a acreditar que sou muito superior aos outros animais e aos sistemas de IA. Mas e se nossa mente for somente uma versão aprimorada de um sistema como esse, operado por nosso cérebro, que por sua vez foi selecionado durante milhões de anos para absorver, integrar e utilizar as informações que recebemos do meio ambiente? Se for assim, mais uma vez descobriremos que não somos tão especiais. E a ciência terá dado um grande passo para entender como a mente é criada pelo cérebro.

*É biólogo.

https://www.estadao.com.br/ciencia/fernando-reinach/nossa-mente-e-um-chatgpt-melhorado/

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Brasil tem grandes oportunidades com nova globalização, diz CEO global da DHL

Frank Appel diz que o futuro dos negócios não será nearshoring ou re-regionalização, e sim uma globalização com múltiplos fornecedores

Por Marcos Bonfim – Exame – Publicado em 25/03/2023

O novo momento na história da DHL

Um dos maiores operadores logísticos do mundo, a DHL se prepara para um momento de transição. O CEO Frank Appel está de saída da companhia após 15 ocupando a principal cadeira da companhia adquirida pelo grupo Deutsche Post no começo deste século.

No cargo desde 2008, ele conclui a sua jornada com um recorde: a empresa encerrou o ano de 2022 com uma receita de 94,4 bilhões de euros, crescimento de 15,5% em relação ao resultado obtido em 2021 – também um recorde.

O Brasil responde por aproximadamente 1 bilhão de euros, o melhor desempenho desde o início da companhia por aqui.

A unidade local trabalha em três frentes:  supply chain, com armazenagem e distribuição nacional de carga; global forwarding, operador de carga nacional e internacionalmente; e express, remessas expressas nacionais e internacionais. Juntas, as unidades de negócio empregam mais de 19 mil pessoas.

Mestre em química e PHD em neurobiologia, o Appel entrou para o mundo da logística por aqueles acasos da vida. Sem perspectivas de trabalhar nas áreas de formação, aceitou um convite da McKinsey para ser consultor de companhias da indústria química e tempos depois começou a cobrir a cadeia de logística, tendo o então Deustche Post como cliente.

Quando planejava migrar para os Estados Unidos com a família, recebeu o convite do então presidente da companhia e seu antecessor no cargo de CEO para se juntar à equipe como head de estratégia no início dos anos 2000.

“As pessoas costumam me perguntar o que devem fazer para ter um emprego como o meu, de CEO. E eu digo, faça três coisas. Primeiro, faça o que é fácil para você porque assim você será melhor que muitos outros. Tenha um bom desempenho, o que dá uma combinação talvez de 25%, e depois tenha sorte”, afirma.

Ele falou com a Exame em meio a uma viagem de despedida pela América Latina, em meados de fevereiro. O posto de CEO será ocupado por Tobias Meyer, atual CEO da Post & Parcel Alemanha e membro do Conselho de Administração desde março de 2019.

Desde 2008 no comando da DHL, executivo alemão deixa a companhia a partir de maio (Divulgação/DHL)

Como as empresas devem se preparar para grandes crises

Logo que você assumiu, o mundo enfrentou a crise financeira de 2008. Mais recentemente, tivemos a pandemia e uma crise econômica global. Elas têm dinâmicas diferentes e te alcançaram em momentos distintos de vida. O que você aprendeu com essas situações?

A atual crise econômica é muito semelhante à crise do mercado financeiro porque esses foram os primeiros sistemas de crise realmente global simultaneamente. Na crise do mercado financeiro, os negócios se comportaram do mesmo jeito. Todos cancelaram seus investimentos, todos reduziram sua demanda, os volumes caíram significativamente no comércio global e a demanda do consumidor também.  Os governos entraram para ajudar não apenas os bancos, mas também muitos cidadãos em muitos países. E isso estabilizou a economia na demanda do consumidor e levou a uma recuperação relativamente rápida. Naquela época, as pessoas falavam sobre a recuperação em L, V ou de W. Vimos uma retomada muito nítida. E a razão foi porque a demandas do consumidor permaneceram relativamente estáveis.

A demanda B2B caiu como uma pedra, e depois que nossos clientes viram que os consumidores ainda estavam comprando, reiniciaram suas ações e tivemos uma recuperação muito rápida. Isso é muito semelhante agora, todos responderam à inflação e ao alto custo da energia. Os investimentos foram adiados e a demanda reduzida. A demanda do consumidor, devido à ajuda de muitos governos, se manteve relativamente estável. A crise energética não é tão ruim e a Europa não está passando por uma crise energética. Mas ainda não vimos a rápida recuperação da demanda B2B, apesar de eu estar bastante otimista de que veremos isso mais tarde no segundo semestre, se não no segundo trimestre.

A crise da Covid foi muito diferente porque a covid foi um lockdown do mundo da noite para o dia. E isso tem um impulso muito diferente. Vimos uma queda significativa na demanda do consumo no início porque os consumidores disseram, não sei o que vai acontecer. Não posso comprar, não posso mais ir às lojas e posso perder o meu emprego. Quando as pessoas perceberam que o mundo nem a vida tinham acabado, começaram a comprar online porque não podiam sair e, portanto, vimos uma tremenda aceleração do comércio eletrônico.

Nunca vimos na pandemia uma queda maciça de negócios globais da maneira que vimos agora. O aprendizado de todas essas três coisas é:  o mais importante é ter uma organização que esteja respondendo de forma ágil.

Eu tive colegas CEOs durante a crise da Covid-19 que me disseram: “Frank, minha organização está paralisada”. Eu disse: “o que você quer dizer?” e me responderam: “eles não sabem o que fazer”. Enquanto isso, nós nos posicionamos como uma organização que estava pronta para ajudar os nossos clientes a voltar aos trilhos. E o que ouvi dos nossos colegas foi o quanto que os nossos funcionários da linha de frente fizeram um trabalho fantástico diariamente para manter o mundo em movimento. Isso nos deu uma energia tremenda.

Portanto, nossa resposta é a cultura certa impulsiona a agilidade e o nível de energia. A Nossa organização é extremamente responsiva e é isso que eu digo o tempo todo: não podemos mudar o que acontece lá fora. O que eu posso fazer sobre a economia mundial? Eu só posso influenciar ou podemos influenciar o que fazemos dentro e nossa organização respondeu muito bem. Por exemplo, vimos nos últimos três anos um melhor desenvolvimento de nossos negócios no Brasil do que nunca devido ao fato de que nosso pessoal respondeu bem às respectivas crises.

Qual foi a resposta principal de vocês?

Na Covid, a principal resposta foi que dizer que tínhamos que proteger bem o nosso time e mantivemos o alinhamento sobre dois objetivos: continuar prestando o melhor serviço com qualidade aos nossos clientes e receber pelos serviços prestados. E é isso que a organização fez forma surpreendente porque as prioridades eram claras.

Se as prioridades estão claras, a sua organização saberá o que fazer. Na época, liguei para os country managers dos escritórios e o que percebi é que todos eles fizeram as coisas certas. Eu nunca tive que dizer a alguém para dizer o que precisava fazer. Eles sabiam o que era certo fazer e o fizeram.

E isso é, você sabe, exatamente o que você precisa enquanto líder. Você tem que ter uma organização que aja por conta própria e não espere até que a matriz diga se tem que fazer A, B ou C. Nós coordenamos isso, mas os country managers  sabiam exatamente o que era importante.

Em termos de negócios, o que mudou desde o início da pandemia?

Muitas pessoas dizem que muitas coisas mudaram. Nada mudou. E eu disse isso já em 2020. Em 2020, muitas pessoas disseram isso e li muitas manchetes: o mundo nunca mais será o mesmo lugar. Se você olhar, estamos todos sentados aqui, estamos viajando e os aeroportos estão cheios. As pessoas saem de férias, vão ao restaurante. Tudo seria igual se não tivéssemos a guerra da Ucrânia com as consequências disso para o mundo.

E por que isto? Porque somos humanos e não mudamos rapidamente como as pessoas podem pensar. O segundo elemento, todos disseram em 2020, a globalização acabou. A globalização não acabou. A globalização está um pouco modificada e vemos isso, mas a globalização está intacta. Na verdade, é uma grande oportunidade para o Brasil porque muitos clientes estão procurando uma segunda fonte depois da China.

Muitos clientes com quem converso dizem: “Frank, precisamos de ajuda. Queremos diversificar”. E o Brasil está bem localizado para a América do Norte e para a América do Sul, pode se tornar um [polo] fabricante se fizer as políticas certas de alguma forma. Isso é o país que tem que decidir, mas há uma oportunidade para muitos países em desenvolvimento obterem uma parcela maior da economia global.

Eles [cliente] não vão voltar para os Estados Unidos nem vão para a Europa porque é muito caro. Eles irão para outros países em desenvolvimento e vemos esse movimento da China para a Índia, da China para o Sudeste Asiático. Alguns começando a mudar a para a África, e a América Latina é um local com grande potencial para isso também.

Isso acontecerá nos próximos cinco ou 10 anos. Veremos uma migração de produtos fabricados fora da China e os países que tiverem as melhores políticas para investimentos estrangeiros vencerão o jogo. E o que você tem que fazer como país? Precisa de boa educação. Quanto melhor for a educação, mais você atrairá.

Em segundo lugar, boa infraestrutura. Em terceiro, abertura de fronteiras. E em quarto, previsibilidade.  É isso que as grandes empresas estão procurando. E os países que estão fazendo isso melhor terão uma fatia maior do bolo.

Aqui, vocês têm uma mudança no governo. Não sou político e não estou interessado nesse campo e não estou julgando se é melhor ou pior. Só estou dizendo que se o governo que está agora seguir isso e fizer algo em educação, infraestrutura, fronteiras abertas e previsibilidade, o Brasil obterá uma fatia maior do bolo.

Se eu olhar para o meu próprio país, a Alemanha é um país rico, apesar de termos perdido a guerra porque temos um ótimo sistema educacional e uma ótima infraestrutura. Somos um dos embaixadores mais fortes, nosso chanceler esteve aqui recentemente e disse para reengajarmos a UE com o Mercosul para obter um mercado aberto. Isso é o que os políticos alemães dizem há 50 anos e somos muito previsíveis.

Essa é a razão pela qual a Alemanha tem uma dinâmica de mercado tão boa e é de longe a maior economia da Europa. Os políticos têm feito isso de forma consistente e não dependem da cor do partido. É o que sempre digo aos políticos e gestores ao redor do mundo.

Cadeia de fornecimento deve se tornar mais complexa (Divulgação/DHL)

Os passos para o Brasil avançar no mercado global

Você comentou que veio ao Brasil com certa frequência ao longo dos anos. Pelo que acompanha, você enxerga esse potencial de transformação?

Acho que vocês têm todos os ingredientes. Você tem uma população crescente e uma mentalidade muito positiva – pelo menos quando venho aqui, sinto isso. Acho que deram alguns passos na direção certa para infraestrutura, mas provavelmente poderiam fazer mais em abertura de mercado. Os processos ainda são bastante complexos.

E por último, você sabe quão previsível é o Brasil. O país está mudando com bastante frequência de um governo para o outro e isso é um desafio de alguma forma.  Gera incerteza. Mas é disso que se trata a democracia, o direito dos cidadãos de voto dos cidadãos.

O que você quer dizer com abertura de fronteiras?

Em primeiro lugar, o Brasil poderia se engajar em mais acordos de livre comércio e desempenhar um papel importante para realmente, juntamente com a UE e como o maior país do Mercosul, liderar a região para obter um acordo com a Europa.

E isso traz até o potencial de um maior acordo de livre comércio, e não sou especialista nos detalhes, mas se eu perguntar aos meus colegas, eles provavelmente diriam que os processos fronteiriços ainda são relativamente complexos. E a burocracia na fronteira não agrega valor. Quanto mais fáceis forem os processos, mais fácil será a movimentação de produtos através da fronteira.

Eu perguntei sobre o que mudou neste período de pandemia e você disse que nada mudou. Mas DHL registrou um avanço significativo no setor de ecommerce. Não?

O que acontece é que estamos vendo quatro grandes megatendências. A globalização continuará, mas como descrevi, ela se tornará uma globalização mais resiliente. Não será nearshoring, não será uma re-regionalização, será uma globalização. Em vez de fornecimento único, o fornecimento múltiplo, o que é realmente bom para nossos negócios porque torna as cadeias de suprimentos mais complexas e temos as habilidades necessárias para executá-las.

A tendência número dois é que o comércio eletrônico continuará a crescer. As pessoas vão comprar mais online. Além disso, os clientes empresariais comprarão mais online. E, claro, temos a capacidade de fazer isso desde a entrada até o centro de distribuição de armazenamento com entrega até a última milha.

A terceira é a digitalização. Mesmo eu mesmo um cientista, o que eu vi nos últimos cinco anos para a nossa indústria é a coisa mais emocionante. Nossa indústria é historicamente contida em automação porque o que o nosso time faz é relativamente complexo. Não é como juntar as peças de um carro, o que já é feito por robôs há 20 anos.

Nossos processos mudam constantemente porque eles precisam escolher produtos diferentes e direcioná-los de maneira diferente. E isso agora está mudando. A inteligência artificial e os robôs que trabalham em colaboração com os humanos estão fazendo uma diferença significativa. Essa é a razão pela qual nossa indústria se tornará significativamente mais automatizada. Mesmo em países com salários mais baixos como aqui faz sentido ter robôs trabalhando junto com nossos funcionários.

E a quarta tendência é a sustentabilidade. Nossa indústria está emitindo muito carbono e temos que reduzir a pegada de carbono. Nós voamos muito e temos um plano muito claro como organização. Vamos investir  2 bilhões de euros até 2025 e  7 bilhões até 2030 para tornar a empresa mais verde.

Isso é combustível de aviação sustentável, combustível marítimo sustentável, veículos elétricos. Acreditamos, como multinacional, que já temos a maior frota na cadeia de suprimentos expressa para veículos elétricos aqui e globalmente – são 26.000 veículos elétricos em nossas operações. Construímos nossas instalações normalmente apenas com painéis solares no telhado. Portanto, comprometemos uma tonelada de dinheiro para tornar nossas operações livres de carbono.

Centro de distribuição em Aparecida de Goiânia, município de Goiás (Divulgação/DHL)Centro de distribuição em Aparecida de Goiânia, município de Goiás (Divulgação/DHL)

As oportunidades das operações da DHL no Brasil

Qual a importância da operação brasileira para a DHL?

O Brasil é, junto com o México, de longe o nosso maior negócio que na região e tem crescido bem. Devemos estar chegando perto de uma receita de bilhão em dólares porque conquistamos muitos novos negócios em nossas divisões e, é claro, também obtivemos resultados como reflexo do ambiente econômico geral da Covid-19, o que significou o aumento do transporte logístico. Como companhia, fizemos mais de 90 bilhões de receita em 2022.

O que impulsionou o crescimento da operação local?

É do tamanho do país, vocês têm uma das maiores economias do mundo e, claro, a população é um fator chave para isso, mas também ganhamos participação de mercado em nossas linhas de produtos. Nos beneficiamos da escala do país e também da conquista de participação de mercado no setor, combinação que levou a um tremendo crescimento.  É uma operação bastante considerável.

E onde você vê as principais oportunidades no Brasil para a empresa crescer?

O Brasil é um país em crescimento e tem recursos nacionais tremendos. O negócio de produtos perecíveis também é bastante atraente e crescente. Em geral, o país tem muitos setores com negócios em crescimento e que são atraentes para nós como  OEMs, indústria automotiva, moda e comércio elétrônico. Trabalhamos com diferentes indústrias juntas e acompanhamos apenas o sucesso de expansão dos negócios de nossos clientes. Eu acredito que temos grandes oportunidades para desenvolver o negócio aqui.

De doutorado em PHD a CEO de uma empresa de logística

Você chegou a principal cadeira da DHL há 15 anos, em 2008, e agora está de partida. Em que cenário se dá essa decisão?

Depois de 15 anos e estou completando 62 anos neste ano, acho que é hora de seguir em frente e passar para um pessoal muito mais jovem. Meu sucessor está no fim dos seus quarenta anos e acho que o CEO deveria ter a chance de liderar uma organização por, pelo menos, dois mandatos, duas vezes cinco anos. Eu fiz isso mesmo por três mandatos. Isso importante porque a organização deve saber o que a empresa quer nos próximos cinco a 10 anos. Estou muito convencido de que ele terá sucesso. Isso dá muita estabilidade à organização e à nossa empresa desde que se tornou privada. Nós fomos uma empresa pública até 1990. Desde que nos tornamos privados, tivemos apenas dois CEOs. Acho que você vê isso na cultura da organização porque temos um planejamento de longo prazo.

Com 15 anos, eu disse ok, tenho que passar para alguém que é significativamente mais jovem.

Mas você vai para o conselho de administração da companhia?

Não, eu saio de uma empresa. Sempre disse: não devo ser meu próprio sucessor. Eu poderia voltar em dois anos pela legislação alemã, mas não voltarei. Acho que isso não é uma boa governança porque meu sucessor deve ter o espaço que eu tive para fazer a coisa certa para a empresa.

Se a organização soubesse que eu iria voltar, quando o meu sucessor fizesse mudanças que as pessoas não gostem, iriam dizer “ok, vamos esperar dois anos, o Frank vai voltar e depois reclamamos”. Eu não quero ter isso. Acho que meu sucessor deveria ter a mesma chance que eu tive.

O meu antecessor não se tornou meu chairman e isso foi bom para mim e para a empresa. Já sou o presidente da Deutsch Telekom, que é a maior empresa de telecomunicações europeia e proprietária de 50% da T-Mobile US. Assim, eles operam em duas regiões do mundo, a maior e mais bem-sucedida empresa de telecomunicações. Então, eu já faço alguma coisa, mas em uma área diferente.

Posso fazer mais coisas desse tipo, mas também quero dar algumas aulas e palestras. Aprendi muito em minha carreira, então devo compartilhar isso com os jovens alunos. Se eles irão aprender algo com os meus erros é outra questão, mas, pelo menos, deveriam ouvir os meus erros e as minhas experiências. Eu sempre digo aos jovens que eles devem trabalhar para pessoas diferentes e pegar a melhor combinação do que viram, o que funciona e o que não funciona porque ninguém é perfeito.

Vou participar de programas de treinamento também. Alguns profissionais da DHL devem me ver em programas de treinamento porque eu amo esta companhia e meu sangue é vermelho e amarelo. Se vou compartilhar com outros alunos, por que não com os jovens talentos da empresa?

Você tem mestrado em Química e é PHD em neurobiologia. Como entrou no setor de logística?

Isso aconteceu mais ou menos por acidente depois de eu terminar meu doutorado. Quando olhei em volta, não consegui encontrar um emprego na indústria química e recebi uma oferta para a McKinsey. Me tornei consultor e aconselhei empresas químicas e siderúrgicas. E, finalmente, também Deutsche Post – naquela época ainda era Deutsche Post – e me tornei sócio da McKinsey. Eu queria ir para Nova York com minha família como sócio da McKinsey.

Meu antecessor então veio até mim e disse: “você se juntaria à Deutscher Post como meu braço direito, como chefe de estratégia?” Eu pensei disse: “por que não?” E foi assim que aconteceu, não foi planejado. As pessoas costumam me perguntar o que devem fazer para ter um emprego como o meu, CEO.

E eu digo, faça três coisas primeiro. Faça o que é fácil para você, porque assim você será melhor que muitos outros. Tenha um bom desempenho, o que dá uma combinação talvez de 25% e depois tenha sorte. 75% do que tenho neste trabalho é sorte. Porque quando meu antecessor deixou o cargo, eu era o mais jovem do conselho e tinha um bom desempenho. Eu tinha um bom histórico, mas era o mais novo e o outro candidato tinha mais de 60 anos. Então, isso não foi realmente uma escolha, eles levaram o profissional de 46 anos com um bom histórico. Mas a razão pela qual consegui o emprego é porque o outro membro do conselho que poderia fazer o trabalho era muito velho.

E você não pode planejar isso, você sabe. se ele tivesse 52 em vez de 60, o conselho provavelmente teria dito: vamos pegar esse cara porque ele tem mais experiência. Frank é um cara legal, mas o outro também é um cara legal.  Você não pode ir a uma empresa e ver quantos anos tem o CEO e quantos anos têm os outros membros do conselho. Temos que ter sorte e isso aconteceu comigo mesmo. Performance é importante, mas é apenas uma pequena parte.

“Nós nos posicionamos como uma organização que estava pronta para ajudar os nossos clientes a voltar aos trilhos” (Divulgação/DHL)

https://exame.com/dossie/negocios/brasil-tem-grandes-oportunidades-com-nova-globalizacao-diz-ceo-global-da-dhl/#s-de-doutorado-em-phd-a-ceo-de-uma-empresa-de-logistica

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Por que os chatbots de IA dizem mentiras e agem de maneira estranha? Olhe no espelho

Por Cade Metz –  Folha/NYT 25/03/2023 | 

Um dos pioneiros da inteligência artificial argumenta que os chatbots são frequentemente estimulados a produzir resultados estranhos pelas pessoas que os usam

THE NEW YORK TIMES – LIFE/STYLE – Quando a Microsoft adicionou um chatbot ao seu mecanismo de busca Bing este mês, as pessoas perceberam que ele estava oferecendo todo tipo de informações falsas sobre a Gap, a vida noturna mexicana e a cantora Billie Eilish.

Então, quando jornalistas e outros verificadores iniciais tiveram longas conversas com o bot de inteligência artificial da Microsoft, ele passou a ter um comportamento grosseiro e irritantemente assustador.

Desde que o comportamento do bot do Bing se tornou uma sensação mundial, as pessoas tiveram dificuldades para entender a estranheza dessa nova criação. Na maioria das vezes, os cientistas dizem que os humanos merecem grande parte da culpa.

Mas ainda há um pouco de mistério sobre o que o novo chatbot pode fazer – e por que ele o faz. Sua complexidade faz com que seja difícil dissecá-lo e ainda mais difícil prevê-lo, e os pesquisadores estão olhando para ele através de lentes filosóficas, bem como do hardcode da ciência da computação.

Sam Altman, CEO da OpenAI, fala durante apresentação do novo mecanismo da Microsoft

Sam Altman, CEO da OpenAI, fala durante apresentação do novo mecanismo da Microsoft Foto: Ruth Fremson/The New York Times

Como qualquer outro aluno, um sistema de IA pode aprender informações erradas a partir de fontes ruins. E esse comportamento estranho? Pode ser o reflexo distorcido de um chatbot a partir das palavras e intenções das pessoas que o usam, disse Terry Sejnowski, neurocientista, psicólogo e cientista da computação que ajudou a estabelecer as bases intelectuais e técnicas para a IA moderna.

“Isso acontece quando você se aprofunda cada vez mais nesses sistemas”, disse Sejnowski, professor do Instituto Salk de Estudos Biológicos e da Universidade da Califórnia, San Diego, que publicou um trabalho de pesquisa sobre esse fenômeno este mês na revista científica Neural Computation. “O que quer que você esteja procurando – o que você deseja – eles fornecerão.”

O Google também exibiu um novo chatbot, o Bard, este mês, mas cientistas e jornalistas rapidamente perceberam que ele estava escrevendo bobagens sobre o Telescópio Espacial James Webb. A OpenAI, uma startup de São Francisco, começou o boom dos chatbots em novembro, quando introduziu o ChatGPT, que também nem sempre diz a verdade.

Os novos chatbots são movidos por uma tecnologia que os cientistas chamam de grandes modelos de linguagem, ou LLM. Esses sistemas aprendem analisando enormes quantidades de texto digital retirado da internet, que inclui volumes de material falso, tendencioso e tóxico. O texto com o qual os chatbots aprendem também está um pouco desatualizado, porque eles devem passar meses analisando-o antes que o público possa usá-los.

Ao analisar esse mar de informações adequadas ou equivocadas da internet, um LLM aprende a fazer uma coisa específica: adivinhar a próxima palavra em uma sequência de palavras.

Ele funciona como uma versão gigante da tecnologia de preenchimento automático que sugere a próxima palavra enquanto você digita um e-mail ou uma mensagem em seu smartphone. Dada a sequência “Tom Cruise é um ____”, ele pode adivinhar “ator”.

Quando você conversa com um chatbot, o bot não está apenas se baseando em tudo o que aprendeu na internet. Ele está se baseando em tudo o que você disse a ele e em tudo o que ele respondeu. Não é apenas adivinhar a próxima palavra em sua frase. É adivinhar a próxima palavra no longo bloco de texto que inclui suas palavras e as palavras dele.

'Se você persuadir um chatbot a ficar assustador, ele fica assustador', diz o neurocientista Terry Sejnowski

‘Se você persuadir um chatbot a ficar assustador, ele fica assustador’, diz o neurocientista Terry Sejnowski Foto: John Francis Peters/The New York Times

Quanto mais longa a conversa, mais influência um usuário involuntariamente tem sobre o que o chatbot está dizendo. Se você quer que ele fique com raiva, ele fica com raiva, disse Sejnowski. Se você persuadi-lo a ficar assustador, ele fica assustador.

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A Microsoft e a OpenAI decidiram que a única maneira de descobrir o que os chatbots farão no mundo real é deixá-los soltos – e capturá-los quando se desviarem. Eles acreditam que seu grande experimento público vale o risco.

Sejnowski comparou o comportamento do chatbot da Microsoft ao Espelho de Ojesed, um artefato místico nos romances “Harry Potter” de J.K. Rowling e nos muitos filmes baseados em seu mundo inventivo de jovens bruxos.

“Ojesed” é “desejo” escrito ao contrário. Quando as pessoas descobrem o espelho, ele parece fornecer verdade e compreensão. Mas isso não acontece. Ele mostra os desejos mais profundos de qualquer um que olha para ele. E algumas pessoas enlouquecem se olharem por muito tempo.

“Como o ser humano e os LLMs se espelham, com o tempo eles tenderão a um estado conceitual comum”, disse Sejnowski.

Não foi surpresa, ele disse, os jornalistas começarem a ver um comportamento assustador no chatbot do Bing. Consciente ou inconscientemente, eles estavam estimulando o sistema em uma direção desconfortável. À medida que os chatbots absorvem nossas palavras e as refletem de volta para nós, eles podem reforçar e ampliar nossas crenças e nos persuadir a acreditar no que eles estão nos dizendo.

Como esses sistemas aprendem com muito mais dados do que nós, humanos, jamais poderíamos imaginar, mesmo os especialistas em IA não conseguem entender por que eles geram um determinado trecho de texto em um dado momento.

Sejnowski disse acreditar que, a longo prazo, os novos chatbots terão o poder de tornar as pessoas mais eficientes e dar-lhes maneiras de fazer seu trabalho melhor e com mais rapidez. Mas isso vem com um aviso tanto para as empresas que constroem esses chatbots quanto para as pessoas que os usam: eles também podem nos afastar da verdade e nos levar a lugares sombrios.

“Esta é uma terra desconhecida”, disse Sejnowski. “Os humanos nunca experimentaram isso antes.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

https://www.estadao.com.br/internacional/nytiw/por-que-chatbots-de-inteligencia-artificial-mentem/

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Pedro Dória: O Brasil está distraído para a IA

A UE tem uma penca de especialistas debruçada sobre a regulação dessa revolução. Aqui, o debate não chegou ao Congresso

Pedro Dória – O Globo – 24/03/2023 

Lançado na virada de novembro para dezembro do ano passado, o ChatGPT alcançou nos dois primeiros meses a marca de 100 milhões de usuários ativos por mês. A estimativa é da Accenture e se refere a gente que realmente usa o sistema, não basta ter se inscrito. É o crescimento mais rápido de uma plataforma digital na História — não tem Facebook, Tik Tok, nada que o bata. Na última semana, saiu a versão 4.0 do ChatGPT — foram três meses para o salto de uma versão à outra da inteligência artificial (IA) que responde a perguntas por escrito. Saiu também a versão 5 do Midjourney, a popular inteligência artificial para geração de imagens. A versão 3 é de agosto passado. Pois é: velocidade estonteante.

Chamamos essas inteligências artificiais de geradoras, gen-AI na sigla em inglês, pois geram conteúdo. É a terceira geração. Na primeira década do século surgiu o aprendizado de máquina, algoritmos capazes de fazer computadores aprender a partir de grandes bases de dados. Percebiam repetições de padrões e os aplicavam. Foi o tempo em que falávamos muito de big data. Os algoritmos que mostram para nós o que é popular nas redes sociais vêm dali.

A segunda geração, nos últimos dez anos, foi chamada de deep learning, aprendizagem profunda. Os computadores começaram a processar mais dados com mais velocidade, e os padrões identificados se sofisticaram. Reconhecimento de voz por assistentes digitais, a capacidade dos celulares de reconhecer rostos, mesmo carros autônomos, tudo é fruto de deep learning.

Esta década será marcada pela gen-AI. A inteligência artificial não apenas reconhece, mas passa a produzir conteúdo novo a partir dos dados que analisa. Textos e imagens realistas, agora, em março de 2023. Ainda neste semestre, criará vídeos. Já escreve código de programação, é capaz de produzir páginas da web simples a partir de um croqui a lápis fotografado pelo celular. Já há testes de sistemas que constroem moléculas de novos medicamentos para a indústria farmacêutica. Não vimos nem a crosta do que está por vir nos próximos poucos anos.

A gen-AI imporá a governos e empresas uma corrida por uma nova transformação digital. Quem for mais ágil em incorporar a terceira geração terá resultados impressionantes mais cedo e cortará custos mais rápido, se tornando mais competitivo, mais eficiente ou ambos.

Os novos recursos poderão ser usados em serviços básicos como atendimento a clientes. Robôs serão capazes de conversar por voz ou texto com quem tem dificuldade técnica e resolver os problemas. O uso pode ser mais complexo. Alimentado com uma sólida base de dados jurídica, sistemas como o ChatGPT ou o Bard, do Google, são capazes de pesquisar jurisprudência e sugerir linhas de defesa para escritórios de advocacia. Vai bem além. Compreendendo o histórico de sucessos e fracassos de uma empresa, a gen-AI poderá sugerir novos produtos, fazer branding. Poderá sugerir caminhos estratégicos para a gestão de RH. E, claro, descobrir doenças antes de um médico ou projetar remédios.

A União Europeia tem uma penca de especialistas debruçada sobre o problema da regulação dessa revolução. Por aqui, o debate não chegou ao Congresso Nacional. Mas a tecnologia é inclemente. Não custa lembrar: desempregará muitos, inclusive gente com diploma superior, e os empregos que criará exigirão alta especialização.

Pois é. A versão 3 do Midjourney saiu em agosto. A 5, em março. Periga chegar à 10 ainda no ano que vem.

https://oglobo.globo.com/opiniao/pedro-doria/coluna/2023/03/o-brasil-esta-distraido-para-a-ia.ghtml

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Brasil entra no ranking dos dez maiores países com energia solar do mundo

Por André Borges – Estadão – 21/03/2023 

Entre 2021 e 2022, o Brasil subiu cinco posições no ranking mundial, saindo da 13ª colocação em 2021 para a oitava em 2022, com 24 gigawatts de potência de energia solar

BRASÍLIA – O Brasil entrou, pela primeira vez, na lista dos dez países com maior potência instalada acumulada da fonte solar fotovoltaica. O país encerrou 2022 com 24 gigawatts (GW) de potência operacional solar. Com esse resultado, o País assumiu a oitava colocação no ranking internacional.

Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), os dados consideram a somatória das grandes usinas solares e de sistemas de geração própria solar de pequeno e médio portes, instalados em telhados e fachadas de edifícios, por exemplo, além de pequenos terrenos. O balanço leva em conta a potência total acumulada ao final de 2022.

Painéis solares

Painéis solares Foto: Ayrton Lopes

De acordo com a Absolar, a oitava colocação do Brasil deve-se ao fato de que 10 GW de potência foram adicionados em 2022. No ano passado, o setor solar atraiu mais de R$ 45,7 bilhões de novos investimentos, um crescimento de 64% em relação aos investimentos realizado no setor em 2021.

Ao analisar a capacidade instalada acumulada da tecnologia solar entre 2021 e 2022, o Brasil subiu cinco posições no ranking mundial, saindo da 13ª colocação em 2021 para a oitava em 2022. O ranking é liderado pela China (392 GW), seguida pelos Estados Unidos (111 GW), Japão (78,8 GW), Alemanha (66,5 GW), Índia (62,8 GW), Austrália (26,7 GW), Itália (25 GW), Brasil (24 GW), Holanda (22,5 GW) e Coreia do Sul (20,9 GW).

A fonte solar passou a ser a segunda maior na matriz elétrica nacional em janeiro deste ano. Hoje soma 26 GW em operação no Brasil, responsáveis por mais de R$ 128,5 bilhões em investimentos e mais de 783,7 mil empregos acumulados desde 2012.

“Além de competitiva e acessível, a energia solar é rápida de instalar e ajuda a aliviar o bolso dos consumidores, reduzindo em até 90% seus gastos com energia elétrica”, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Absolar, Ronaldo Koloszuk.

https://www.estadao.com.br/economia/brasil-entra-no-ranking-dos-dez-maiores-paises-com-energia-solar-do-mundo/

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