Metal ganhou grande importância com a transição energética, e Bolívia, Argentina e Chile, o “Triângulo do Lítio”, têm maior parte das reservas globais. No Brasil, produção pode crescer.
Por Fernando Dantas -Estadão – 27/04/2023
Os planos recentemente revelados por Gabriel Boric, presidente do Chile, de colocar o setor de lítio no país sob controle estatal sinalizam uma corrida global pela matéria-prima que pode vir a ser de alta importância para três vizinhos do Brasil: o próprio Chile, a Argentina e a Bolívia.
Com respectivamente 21 milhões, 19,3 milhões e 9,6 milhões de reservas de lítio, Bolívia, Argentina e Chile detêm as três primeiras posições no mundo. Em termos de produção, em 2022 a Austrália liderou, com 61 mil toneladas, seguida pelo Chile, com 39 mil. As informações são da Associated Press e constam de nota recente do Broadcast sobre os planos de nacionalização do lítio no Chile.
Em recente artigo, Scott MacDonald, economista-chefe da Smith’s Research & Gradings e especialista em América Latina, observa que o lítio é central para a adoção em massa de veículos elétricos, unidades de armazenamento de energia essenciais para redes elétricas e baterias para computadores e celulares.
Dessa forma, aponta MacDonald, China, Estados Unidos e outras economias avançadas colocaram o “Triângulo do Lítio” (Argentina, Bolívia e Chile) no seu foco geoeconômico e geopolítico. Os três países da América do Sul detêm a maior parte das reservas latino-americanas do metal, que representam cerca de 60% das reservas mundiais.
A China é totalmente dominante nas etapas mais avançadas dessa cadeia produtiva, com metade da capacidade global de refino do lítio e produzindo 79% (contra apenas 6,2% dos EUA, segundo colocado) das baterias de íon de lítio no mundo. Mas as reservas chinesas estão na sexta colocação, atrás dos países do “Triângulo”, dos Estados Unidos e da Austrália.
No Chile, as duas mineradoras de lítio em atividade – e as maiores do mundo no setor em capitalização de mercado – são a chilena SQN, da qual a chinesa Tianqi detém 28%, e a americana Albermale. É nelas que o governo chileno quer entrar. Já a chinesa Ganfeng, grande fornecedora de baterias para a Tesla, opera na Argentina.
Os Estados Unidos, que estão muito atrás da China tanto em mineração de lítio quanto em produção de baterias, estão recebendo o impulso de medidas protecionistas e de estímulo do governo de Joe Biden. Já a China vem fazendo um especial esforço de penetração na Bolívia.
O Brasil, embora não faça parte do “Triângulo do Lítio”, também pode ser beneficiado pelo aumento da demanda pelo metal no contexto da transição energética.
Em reportagem da Infomoney de julho do ano passado, Marcio Remédio, diretor de Geologia e Recursos Naturais do Serviço Geológico do Brasil (SGB), avaliou que a produção brasileira de lítio pode subir do nível atual de 1,5% da oferta global para 5% em dez anos. E esse aumento é maior do que aparenta, porque poderá acontecer enquanto a produção global também cresce.
No ano passado, um decreto flexibilizou a exportação de lítio a partir do Brasil, que necessitava de autorização pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, porque o metal é empregado em volume bem pequeno nos reatores.
Com o aumento da demanda global por metais ligados à transição energética, porém, essa restrição tornou-se anacrônica, segundo a co-CEO da canadense Sigma Lithium Resources Corporation, Ana Cabral-Gardner.
A Sigma Lithium, segundo o site Brasil Mineral, está em processo de iniciar a produção de 270 mil toneladas anuais de concentrado de lítio ‘grau bateria’ na Grota do Cirilo, no Vale do Jequitinhonha. Os investimentos são de R$ 3 bilhões e a meta é expandir a produção para 766 mil toneladas por ano.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fojdantas@gmail.com)
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 26/4/2023, quarta-feira.
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