Mina da Sigma Lithium, no notre de Minas Gerais, está prevista para iniciar operação ao longo do primeiro trimestre de 2023
Por Ivo Ribeiro — Valor – 20/12/2022
Projeto da Sigma, em Araçuaí/Itinga, terá capacidade de produzir 104 mil toneladas de carbonato de lítio ao ano em 2024 — Foto: Divulgação
Entre as maiores do mundo, a indústria brasileira de mineração e metais estreia em 2023 na produção de um dos minerais mais importantes desta década, o lítio, que ganhou projeção global ao se tornar primordial para a onda de eletromobilidade.
O projeto, em fase final de implantação em Minas Gerais pela Sigma Lithium, deve se consolidar em escala global, posicionando a empresa entre as quatro maiores fabricantes mundiais.
A demanda por lítio cresce em ritmo frenético para uso na fabricação de baterias elétricas de automóveis e outros veículos. Estima-se que a montagem de veículos elétricos passe de 6,5 milhões de unidades do ano passado para 10,5 milhões neste ano e chegue a 51 milhões de carros em 2030.
Valor médio da tonelada de carbonato de lítio saiu de US$ 13,89 mil em 2021 e bateu em US$ 84 mil a tonelada neste ano
Diversas companhias de mineração de vários países – China, Austrália, EUA -, desenvolveram projetos que já se encontram em produção. Outras, como a Sigma, vão entrar em operação a partir de 2023, visando garantir pedidos de montadoras e fabricantes de baterias.
Até mineradoras tradicionais, caso da australiana Rio Tinto (segunda player global de minério de ferro), já estão se posicionando na produção dos chamados metais críticos, vistos como estratégicos. São todos puxados pelos mercados surgidos com a eletrificação, transição energética e o conceito de produtos “verdes”.
Com a demanda em alta e oferta apertada, os preços do lítio no mercado global – na forma de concentrado, carbonato ou de hidróxido – foram às alturas. O valor médio do carbonato de lítio saiu de US$ 13.890 a tonelada em 2021 e bateu em US$ 84,071 neste ano – seis vezes mais. O valor médio previsto para 2022 é de US$ 71.245 por tonelada.
O mineral é o elemento básico na fabricação de todos os tipos baterias com íon de lítio para carros elétricos, compondo com diversos outros metais e minerais: cobalto, níquel, manganês, fosfato e ferro. Correm por fora o nióbio, grafeno e outros.
O Brasil está bem posicionado para ocupar espaço nessa nova onda de consumo, com reservas de relevância mundial. Por exemplo, o nióbio, que tem a maior do mundo. Há ainda níquel, manganês, ferro, grafita e outras.
No momento, as maiores produtoras de lítio no mundo são a americana Albemarle, a chilena SQM e as australianas e Allkem e Pilbara Minerals. No todo, entre companhias já em operação e novatas debutando no mercado, destacam-se cerca de 20.
A produção mundial de lítio contido em concentrado prevista para este ano é de 540 mil toneladas. Estima-se que vai duplicar – 1 milhão de toneladas em 2025 – e alcançar 2,2 milhões de toneladas no final da década.
No mundo, a maior parte da produção de lítio vai para fabricação de baterias elétricas – em torno de três quartos do total. Cerca de 14% vão para cerâmica e vidro e 3% para graxas e lubrificantes. Fundição, produção de alimentos e outros – 7%.
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), órgão estatal de pesquisas, as reservas no país desse mineral, que se tornou estratégico para a transição energética global, estão localizadas no Ceará, no eixo Rio Grande do Norte/Paraíba, no sul de Tocantins com o nordeste de Goiás, na Bahia e em Minas Gerais – no chamado médio Jequitinhonha, na região leste e São João del Rei.
Segundo as informações, o Brasil detém uma importante reserva de minério de lítio, espalhada nessas regiões, principalmente no Norte de Minas. As grandes reservas estão localizadas no Chile, Austrália, Argentina e China, seguidos por outros países.
As reservas de lítio do tipo salmoura são encontradas na Bolívia, Chile e Argentina, além de China e EUA. Já depósitos de lítio em pegmatitos (rochas, como os da Sigma) estão localizados na Austrália, Áustria, Brasil, Canadá, China, Congo, República Tcheca, Finlândia, Alemanha, Mali, Namíbia, Peru, Portugal, Sérvia, Espanha, EUA e Zimbábue.
Até agora, apenas duas empresas produzem lítio no Brasil: a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e a AMG Brasil. Mas trata-se de lítio para outras aplicações, como graxas e lubrificantes.
Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), os requerimentos para autorização de pesquisa do mineral de lítio passou de 35, em 2017, para 417 neste ano (até novembro), estimulados pela corrida global para atender a demanda por lítio voltado à eletrificação de veículos.
No plano de negócios da Sigma, de origem canadense, com sede em Vancouver e negociada nas bolsas de Toronto e Nova York (Nasdaq), a produção começa com 270 mil toneladas de concentrado de lítio (tipo espodumênio, “grau bateria”), e saltará, com expansões, a 768,2 mil toneladas ao final de 2024.
O volume de carbonato de lítio contido no concentrado foi ajustado para 104 mil toneladas ao final de 2024. A mineradora começa com capacidade de 36,7 mil toneladas no próximo ano.
Ao todo, são cerca de R$ 2 bilhões de investimentos nas três fases de produção – a segunda e a terceiras estão sendo aceleradas pela empresa em 2023 e 2024. Foram adicionados quase R$ 800 milhões de aportes para a terceira fase, que foi antecipada.
Com esse projeto, cuja vida útil das operações no atual escopo é de 13 anos, a empresa prevê receita líquida de R$ 1,55 bilhão no primeiro ano (2023), US$ 3,52 bilhões do segundo ao oitavo ano (quando terá as três fases de produção), e de US$ 1 bilhão nos cinco anos restantes. Será 100% voltado ao mercado externo.
A Sigma diz que seu produto, de grau bateria, tem pureza acima de 99% e já conta com contratos de fornecimento fechados com a fabricante de baterias sul-coreana LG Energy Solution, além da trading japonesa Mitsui.
O principal site mineral do projeto da Sigma está na propriedade Grota do Cirilo (adjacente ao rio Jequitinhonha), apontado como o maior depósito de rocha dura (hard rock) de lítio das Américas. O empreendimento começou a ser explorado em escala piloto em 2018. As reservas totais de minério atuais – medidas e provadas -, foram reavaliadas para 77 milhões de toneladas.
As 28 áreas de concessão da empresa estão localizadas nos municípios de Araçuaí e Itinga, no chamado Vale do Jequitinhonha – rio que corta a região, uma das mais pobres do país.
A operação em escala industrial deve ter início ao longo do primeiro trimestre e as entregas dos primeiros lotes comerciais do concentrado estão previstas para o mês de abril. As instalações de beneficiamento do minério estão em fase final de montagem.
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