Inteligência artificial: por que é necessário defender diretrizes e regulamentações


Dora Kaufman traz informações de ponta do cenário digital no mundo e no Brasil

Por Sheila Kaplan — Para o Valor, 31/07/2022 

Dora Kaufman privilegia o conhecimento científico sobre o tema em seu livro — Foto: Ilana Bessler/Divulgação

A inteligência artificial (IA) está disseminada hoje nas mais variadas áreas da sociedade e da economia, quase onipresente. São inegáveis os benefícios desta que se configura como a mais importante transformação científica e tecnológica do século XXI.

A IA vem sendo aplicada em diagnósticos médicos, sistemas de vigilância, prevenção a fraudes, análises de crédito, na indústria 4.0, na gestão de investimento, na oferta de melhores produtos e serviços, em pesquisas, tradução de idiomas, carros autônomos, no comércio físico e virtual, nas perfurações de petróleo, na previsão de epidemias – enfim, numa infinidade de setores e com efeitos palpáveis no cotidiano.

Contudo, não são poucos os riscos apresentados pela tecnologia. Mesmo que não embarquemos em figurações frequentes na ficção científica, em que as máquinas comandam humanos, as ameaças não são fictícias. A perda de privacidade dos cidadãos, o viés (discriminação contra indivíduos ou grupos com base no uso inadequado de certos traços), a potencial eliminação de um contingente expressivo de postos no mercado de trabalho em razão da automação e o uso de armas letais autônomas são alguns deles.

Daí que o assunto costuma despertar opiniões polarizadas. De um lado, os tecnoutópicos, saudando com otimismo acrítico o emprego da inteligência artificial. De outro, os catastrofistas, tecnófobos que temem o controle total dos humanos pelos algoritmos. Nem apocalíptica, nem integrada – para usar a categorização empregada pelo semiólogo Umberto Eco, na década de 1960, em referência à cultura de massas -, Dora Kaufman, autora de “Desmistificando a inteligência artificial”, privilegia o conhecimento científico sobre o tema, aquilatando os benefícios e alertando sobre os riscos reais que a tecnologia apresenta e como aplacá-los.

Economista, professora do programa Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC de São Paulo, Dora Kaufman reuniu os artigos que publica em sua coluna, na revista “Época Negócios”. Os textos,produzidos entre junho de 2019 e abril de 2022, foram agrupados em 12 blocos temáticos: fundamentos e lógica; mercado de trabalho; justiça e ética; o problema do viés; a economia de dados e o poder das big techs; iniciativas regulatórias; saúde, combate à covid-19; clima; cultura; interação humano-máquina e cenários futuros.

Ao examinar os impactos da IA em todos esses campos, a autora traz informações de ponta do cenário digital no mundo e no Brasil. Com abordagem multidisciplinar, ela estabelece as necessárias pontes entre as ciências exatas e as humanas, trazendo à tona as contradições implicadas nos avanços da IA.

Por exemplo, no campo do trabalho, onde se dá um dos seus efeitos mais perversos, a adoção das novas tecnologias gera, simultaneamente, desemprego e oferta de vagas em aberto por falta de candidatos qualificados; maior produtividade e desequilíbrio salarial, com salários crescentes para funções qualificadas e decrescentes para as de menor qualificação.

Contradições igualmente presentes no uso da IA para o enfrentamento das mudanças climáticas. Se, por um lado, a inteligência artificial tem papel importante no monitoramento do aquecimento global, na modelagem dos seus possíveis impactos, no desenvolvimento de novos materiais com uso reduzido de carbono, de outro lado, a emissão de carbono desses mesmos sistemas inteligentes está longe de ser desprezível.

Segundo Rob Toews, colunista da revista “Forbes”, a quantidade de energia consumida para rodar os modelos de IA aumentou 300 mil vezes entre 2012 e 2018, em função do aumento da quantidade de dados utilizada.

Foi a partir de 2010 que a IA teve um avanço significativo, com o desenvolvimento da técnica de aprendizado de máquina denominada de “redes neurais de aprendizado profundo” (deep learning), inspirada no funcionamento do cérebro biológico.

Os modelos de redes neurais, que permeiam a maior parte das aplicações atuais, possuem várias camadas de processamento compostas de neurônios artificiais, que permitem que as máquinas “aprendam” continuamente com os dados, no lugar de executar tarefas a partir de equações predefinidas, como na programação tradicional.

A despeito do desenvolvimento acelerado, ainda estamos nos primórdios dessa tecnologia, que, como qualquer outra, depende de como os seres humanos a percebem e usam. Por isso, trazendo à tona as questões éticas e filosóficas envolvidas, Kaufman defende a formulação de diretrizes e regulamentações, ainda frágeis, e, sobretudo, a conscientização da sociedade sobre a lógica, as aplicações e a responsabilidade sobre essas tecnologias. É o que ela faz, com clareza e precisão, levando-nos a refletir criticamente sobre as mudanças que hoje moldam nossas vidas.

Desmistificando a inteligência artificial Dora Kaufman Autêntica 336 págs. R$ 67,90

https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2022/07/31/inteligencia-artificial-por-que-e-necessario-defender-diretrizes-e-regulamentacoes.ghtml

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