O que é felicidade corporativa e como as empresas estão abordando o tema


Ambiente seguro, bons relacionamentos e momentos de recarga são vitais para ter pessoas mais felizes

Por Bárbara Nór, Para o Valor 02/07/2022 

Da operação até a alta liderança, as pessoas ficaram mais tristes com o isolamento provocado pela pandemia. Essa é a avaliação de Vinicius Kitahara, fundador da consultoria de felicidade Vinning. Desde 2015, ele trabalha com o tema da felicidade corporativa, mas foram os últimos dois anos, diz ele, o grande divisor de águas – nunca tantas empresas procuraram saber sobre o assunto e de forma tão urgente.

Segundo ele, questões que estavam latentes nas empresas, como altos níveis de ansiedade, o burnout e a busca por um propósito no trabalho, acabaram emergindo com mais força ainda depois da pandemia. Uma pesquisa encomendada pela Pfizer e feita em parceria com o Ipec, em 2021, com 2 mil brasileiros, mostrou que a tristeza era o sentimento mais relatado, com 42% das respostas, seguida de irritação e insônia empatadas com 38%.

Para Kitahara, a resposta para esse quadro pode estar em uma disciplina: a ciência da felicidade. Ela combina conhecimentos da psicologia positiva e da neurociência, promete fornecer ferramentas e estratégias para tornar as pessoas felizes e satisfeitas – e, por consequência, mais produtivas e engajadas, diminuindo o turnover nas empresas. E ela tem ganhado adeptos de peso. Nos últimos anos, gigantes como Amazon e Google criaram o cargo de Chief Happiness Officer, dedicado a garantir condições para que as pessoas sejam felizes no trabalho, algo que se tornou mais urgente em meio às demissões em massa com o “GreatResignation” ou a “Grande Renúncia”.

Leonardo Grimaldi, da Suzano: permitir que haja confiança em todos os níveis — Foto: Anna Carolina Negri/Valor

“As pessoas começaram a questionar o que é importante para elas, e o que faz mal para elas começa a perder o sentido”, diz Kitahara. “Mas elas ainda associam felicidade a algo que só vem depois do expediente.” O trabalho, longe de causar felicidade, é visto ainda como vilão do bem-estar das pessoas, algo que poderia explicar, em parte, o desencanto das pessoas com o mundo corporativo.

Não há receita de bolo para a felicidade. O segredo estaria justamente em conseguir criar um ambiente psicologicamente seguro, bons relacionamentos e momentos de “recarga” no dia a dia. Mas, para garantir tudo isso, é preciso conhecer as necessidades de cada um na organização, algo que impacta diretamente no perfil esperado da liderança.

“Com a pandemia, os líderes tiveram que conhecer ainda mais as particularidades dos liderados”, diz Ana Paula Tarcia, diretora executiva de pessoas e cultura no banco BV. Desde março de 2021, a empresa passou a oferecer oficinas de felicidade para a liderança e funcionários. Nelas, temas como relacionamentos, autoconhecimento e descobertas das pesquisas sobre felicidade são compartilhados, além de um espaço para dividir dilemas e questões do cotidiano.

Um dos maiores estudos sobre felicidade, liderado pelo psiquiatra americano e professor de Harvard Robert Waldinger, mostrou que o fator que mais contribui para a felicidade no longo prazo são os bons relacionamentos, de qualidade e confiança – algo que, na avaliação de Tarcia, costuma faltar nas empresas.

Falar sobre felicidade foi uma forma de abrir o canal de comunicação para que as pessoas pudessem dividir questões pessoais, como a perda de um familiar, o nascimento de um filho ou um divórcio, que tinham impacto direto sobre o bem-estar e desempenho no trabalho. “Esse tema gera muita conexão com as pessoas”, diz Tarcia. “É através das relações que você tem mais estímulos para gerar essa tal felicidade – sozinho, é muito mais difícil”, diz.

A partir de um grupo multidisciplinar foram criadas algumas ações, como a licença-paternidade estendida para homens – com 30 dias obrigatórios e mais 60 opcionais, extensiva para casais homoafetivos, e a criação do programa “Lugar de mãe é no BV”, que abre vagas específicas para mães que tinham saído do mundo corporativo para se dedicar à maternidade.

Para Kitahara, uma das maiores dificuldades para trazer o tema da felicidade ao mundo corporativo é a pressa de parte da liderança. “Muitos estão viciados em buscar as resoluções de curtíssimo prazo”, diz. Por ser um tema tão amplo, falar de felicidade envolve uma transformação cultural de médio e longo prazo, afirma.

Na Deloitte, vencer o preconceito de parte dos líderes também foi um dos desafios percebidos por Dani Plesnik, diretora de talentos e Chief Happiness Officer da consultoria. “Felicidade causa estranhamento, o pessoal acha que é algo ‘fofo’, mas não é”, ela diz. “Há uma visão ligada à positividade tóxica, como uso da felicidade só para ser mais uma ferramenta de produtividade.”

O resultado disso seria uma rejeição ao tema e a sensação de que não é lugar da empresa falar sobre felicidade. Abrir a discussão sobre felicidade envolve a liberdade de falar quando não se está bem e conseguir ter vulnerabilidade, elementos que ela queria fortalecer também na cultura da Deloitte.

Plesnik conta que, antes de instituir o programa de felicidade para toda a empresa em 2021, os líderes foram convidados a participar de grupos onde pudessem se sentir confortáveis para falar sobre suas dificuldades e conhecerem melhor o tema. Outros assuntos, como comunicação não violenta e inteligência emocional, também fizeram parte do pacote.

Depois de passar pela alta liderança, o programa foi aberto para toda a empresa e organizado em ciclos de três meses. No final, grupos de trabalho foram formados para pensar como multiplicar o tema da felicidade na empresa, com dinâmicas e exercícios. Em um ano de programa, foram 354 horas no tema e mais de 10,9 mil participações. “Vivemos uma crisse de talento, simplesmente pagar salários maiores não é mais suficiente. É preciso entender o que motiva as pessoas para ficarem no trabalho nos menores detalhes”, afirma Plesnik. Para ela, a felicidade é só mais um dos itens em um “cardápio” que as empresas precisam oferecer, sem exigir que todos façam parte do programa. “A felicidade é subjetiva e não cabe a mim dizer o que elas devem fazer”, diz. “Mas a felicidade ajuda as pessoas a identificarem coisas que fazem sentido para elas dentro da empresa.”

Um engano comum em relação à felicidade seria associá-la a grandes conquistas e ao sucesso profissional ou financeiro. “É preciso inverter a equação, a felicidade é a base de tudo e não o resultado final”, afirma Leonardo Grimaldi, diretor comercial de celulose e gente e gestão da Suzano. “É o engajamento que leva ao sucesso. Quando temos um público feliz de estar trabalhando conosco é que conseguimos mais criatividade, inovação, retenção e produtividade.”

Não é uma tarefa simples em uma empresa com 16 mil funcionários – sem contar os cerca de 30 mil profissionais terceiros ou em funções indiretas. Ainda mais com as diferenças entre regiões e áreas de atuação. No início da pandemia, essas disparidades ficaram ainda mais marcadas, relata Grimaldi. Se da noite para o dia cerca de 5 mil pessoas começaram a trabalhar de casa, outras milhares tiveram que continuar nas plantas da empresa, mas em uma rotina completamente isolada do resto.

“Começamos a entender que os desafios das pessoas em casa e as pessoas em unidades industriais, portos, centros de distribuição eram muito diferentes”, diz Grimaldi. Mas, em comum, o tema do equilíbrio virava prioridade em todos os grupos, assim como a preocupação de como fazer gestão de pessoas remotamente ou isoladas nas fábricas. “Começamos a estudar o que podia ser feito para que as pessoas se sentissem melhor e mais engajadas.” Foi aí que a empresa começou a se aprofundar na felicidade corporativa – a ponto de também criar a gerência de felicidade neste ano.

Assim como o BV e a Deloitte, as oficinas de felicidade foram o início para começar a trabalhar o tema. “A gente dividia com as lideranças as técnicas de felicidade e elas compartilhavam depois isso com as equipes”, diz Grimaldi. As pessoas mais engajadas com a causa também foram identificadas para serem multiplicadoras na organização. 

Conquistar o máximo de apoio possível era a meta da área de pessoas. “Se um líder tem uma prática distinta, ele pode colocar por água abaixo tudo que trabalhamos.”

Ao mesmo tempo, a área de bem-estar da empresa foi fortalecida para fazer um trabalho “fábrica a fábrica” e identificar áreas que podem ser transformadas para trazer mais felicidade. Daí vieram iniciativas como as novas áreas de convivência e lazer nas plantas e recuperação de ambientes para que se tornassem mais colaborativos e mais próximos ao que se vê nos escritórios da Faria Lima. Além disso, as famílias dos funcionários têm sido cada vez mais chamadas a participar de eventos e celebrações.

A mudança na forma como líderes e equipes se relacionam também ganhou importância na Suzano – a chamada “permissão para ser humano”, como diz Grimaldi. “A gente tem que permitir para líder e liderado um ambiente de confiança para que possam falar de problemas e dificuldades, porque isso é normal e tem na vida de todo mundo”, diz.

https://valor.globo.com/carreira/noticia/2022/07/02/o-que-e-felicidade-corporativa-e-como-as-empresas-estao-abordando-o-tema.ghtml

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