Análise: Petróleo navega no escuro rumo aos US$ 150


Com os embargos dos EUA e da UE ao petróleo russo, operações semiclandestinas com a commodity são realizadas no mar por traders que se arriscam nessas transações, podendo levar o preço às alturas

Por Nelson Niero, Valor — São Paulo 02/06/2022

“Going dark”, termo militar que significa um corte abrupto de comunicação para evitar o rastreamento, está muito em voga entre os navios que transportam petróleo russo. Para viajar com mais privacidade pelos oceanos, a tripulação desliga o GPS.

Navega-se no escuro com mais frequência desde do início da invasão da Ucrânia e os embargos contra a Rússia, como mostram Anna Hirtenstein e Joe Wallace, correspondentes do “Wall Street Journal” em Londres, na reportagem “Produtores russos ficam um passo à frente das sanções”.

Leia mais: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/06/02/tendncia-de-alta-nos-preos-do-petrleo-mesmo-com-deciso-da-opep-de-elevar-produo.ghtml

Outra prática também em alta é a transferência de carga entre navios no mar, uma conhecida artimanha para negociar petróleo embargado iraniano e venezuelano — o que remete ao óleo que apareceu nas praias brasileiras em 2019, que segundo a Polícia Federal veio de um petroleiro de bandeira grega. Uma das hipóteses da investigação era falha na transferência de petróleo entre embarcações.

O “ship to ship”, para usar a expressão do setor, acontece no Mediterrâneo, ao largo da costa da África Ocidental e do Mar Negro, de onde o petróleo segue para China, Índia e Europa Ocidental, segundo disseram as companhias de navegação ao “WSJ”. Refinado, o produto vai depois para grandes consumidores como os Estados Unidos.

Essas operações semiclandestinas são muito lucrativas para os traders que se arriscam na empreitada: uma viagem, dependendo do tamanho da carga, pode render US$ 20 milhões, comparado a cerca de US$ 600 mil antes da guerra.

E, ao que parece, o troca-troca oceânico a céu aberto, mas “no escuro”, só tende a aumentar. Nesta semana, líderes da União Europeia decidiram banir 90% das importações por mar do petróleo russo até o fim deste ano. Com essa decisão, pode estar se formando o furacão previsto pelo presidente do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, que falou no barril em US$ 150 — um desastre para a economia mundial.

O presidente americano, Joe Biden, passou o pires e conseguiu, nesta quinta-feira (2), um aumento das cotas de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), mas isso não fez diferença nos preços. O governo americano critica há tempos a lentidão dos países do cartel em aumentar a oferta, uma situação que já era problemática por causa da pandemia e tornou-se dramática com a guerra.

Mas todos sabem que há um problema estrutural a ser resolvido. O petróleo era, até pouco tempo — e ainda é em alguns círculos —, um palavrão, só um pouco menos cabeludo que carvão. Toda a pressão exercida por governos e organizações ambientais deu resultado. As grandes empresas de petróleo reduziram os investimentos em produção e exploração para cumprir metas ambientais rígidas.

O próprio governo Biden tomou várias medidas nesse sentido, e, recentemente, teve que reverter, sob críticas, uma decisão de não permitir exploração em terras do governo. No entanto, mesmo que comece a sair mais óleo bruto dos poços, a capacidade de refino é limitada.

Com os combustíveis em patamares recordes, inflação em disparada e eleições próximas nos Estados Unidos — e no Brasil —, as opções vão ficando cada vez mais limitadas. E não há milagre. Entre o investimento e a gasolina na bomba há um longo e demorado percurso.

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