Para Tânia Cosentino, empresas que insistirem em modelos pouco flexíveis serão as primeiras a perderem funcionários
Por Barbara Bigarelli — Valor 11/04/2022
“Aquelas empresas que hoje falam: vocês ficaram dois anos em casa e agora acabou a ‘brincadeira’, a partir do mês que vem todo mundo volta ao escritório em tempo integral. Essas empresas serão as primeiras a perderem funcionários”. O aviso vem de Tânia Cosentino, CEO da Microsoft no Brasil. A executiva é a entrevistada do novo episódio do podcast CBN Professional, parceria do Valor com a rádio “CBN”.
Em um setor como o de tecnologia, a opção pelo presencial é ainda mais prejudicial, considerando a escassez de profissionais e uma competição global por talentos, com maior assédio de empresas estrangeiras, pagando em moeda forte e contratando em home office. “As empresas não podem se dar ao luxo de perdê-los por insistirem nesse modelo [pouco flexível]”, afirma a CEO.
A Microsoft optou por um modelo de trabalho híbrido após uma pesquisa com mais de 30 mil funcionários, em 30 países. O retorno tem sido lento e cauteloso, afirma. “Ouvimos que os funcionários não querem voltar para o trabalho presencial por considerarem que trabalharam tão bem de casa ao longo de dois anos e hoje podem trabalhar para uma empresa em Manaus ou na Austrália de sua casa.”
A pesquisa mostrou também, analisa a executiva, que existe uma “desconexão entre o que líderes querem e pensam e o que funcionários querem”. “Não existe modelo de trabalho perfeito, mas é preciso escutar as pessoas para construir processos e rituais que deem clareza sobre quando e por que o funcionário precisa ir ao escritório, e alinhar isto às expectativas deles.”
Para Tânia Cosentino, CEO da Microsoft, líderes precisam escutar funcionários — Foto: Julio Bittencourt/Valor
Além de um modelo flexível de trabalho e uma remuneração minimamente agressiva, Cosentino avalia que faz diferença na hora de atrair e reter profissionais de tecnologia a visibilidade de carreira que a empresa proporciona. Na prática, significa ter planos de crescimento e desenvolvimento, mas também uma liderança capaz de comunicá-lo com clareza.
Ela defende que esse crescimento não precisa necessariamente ser vertical e que líderes podem estimular movimentações laterais para que os funcionários ganhem novas experiências e habilidades. “Crescer não é só ocupar o lugar do chefe”. O mundo remoto pós-pandemia também ajudou que profissionais da Microsoft que antes não tinham mobilidade pudessem trabalhar além de sua fronteira geográfica – do home office no Brasil para a sede em Redmond (EUA), por exemplo.
Um ambiente que estimula o crescimento de talentos exige líderes mais desapegados, diz a CEO, que não se sintam ameaçados ao estarem cercados de pessoas boas e que saibam demonstrar vulnerabilidades. “Quando comecei a minha carreira, falar em vulnerabilidade causava olhar torto. Há cinco anos, esta ainda não era uma palavra bem-vinda no mundo dos negócios. Hoje, é preciso demonstrar vulnerabilidade para criar conexões”. Ela também vê uma mudança na forma de identificar talentos. “Antes, era muito mais relacionado ao técnico, ao fato de uma pessoa ser brilhante em determinada área. Hoje, o que a pessoa demonstra em termos de curiosidade, capacidade de aprender, colaborar e sair da zona do conforto conta muito.”
Formada em engenharia elétrica, Cosentino construiu parte de sua carreira na Siemens. Depois ingressou na Schneider Electric, onde chegou à presidência da operação do Brasil e à vice-presidência global de satisfação do cliente. Em 2019 foi recrutada pela Microsoft. “Eu lembro que durante a entrevista, um executivo da alta liderança me perguntou: qual é a sua vontade de aprender todo um negócio novo aos 53 anos?”. O episódio está disponível no site da CBN e principais plataformas de streaming como Spotify e Apple Podcasts.
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