por Evandro Milet
O conceito de economia compartilhada original sofreu transformações, pelas distorções que o mercado foi criando, por plataformas que mudaram a ideia original de aproveitamento de capacidade excedente. Ideias iniciais de compartilhamento de caronas ou assentos vagos em automóveis viraram grandes negócios concorrentes de táxis, com algumas ótimas vantagens como serviço avaliado pelo cliente e consequentemente com melhor qualidade, facilidade de pagamento e disponibilidade rápida por aplicativo.
Mas foram além. Vários concorrentes surgiram e a novidade criou até novos hábitos, com muita gente desistindo de comprar carros para andar de aplicativo, inclusive pelas penalidades da nova lei seca. Até especulações urbanísticas surgiram com a possibilidade de redução do número de veículos circulando e vagas de estacionamento e o sonho de ampliação de ciclovias.
Da mesma maneira, as plataformas de aproveitamento de quartos, casas e apartamentos ociosos viraram um negócio que compete com hotéis com enorme sucesso. Para isso se transformaram em facilidade mundial de aluguel por temporada, com inúmeras opções e imagens dos ambientes, confiabilidade, avaliação dos usuários e a possibilidade de realizar o sonho de todo turista de desfrutar o novo ambiente como um habitante local.
Mas também foram além. Imobiliárias e pessoas físicas enxergaram nova forma de investimento, adquirindo imóveis e colocando na plataforma para renda. O Airbnb tem 7 milhões de imóveis no mundo, mais do que as dez maiores cadeias de hotel combinadas, que têm 5,48 milhões de apartamentos.
De repente, a pandemia mudou as tendências até segunda ordem. As pessoas sumiram das ruas e não usam nem automóveis próprios e nem aplicativos. Os turistas a passeio ou a negócio também sumiram de hotéis e de plataformas. E unicórnios como Uber e AirbnB perderam a maior parte do valor. Proprietários de imóveis correm para o aluguel tradicional por períodos longos, fugindo da temporada. Agora que muitos países começam a se liberar de lockdowns rigorosos como fica o negócio dessas plataformas?
Surge um novo problema: a desconfiança com a higienização de ambientes. Você não sabe quem usou aquele automóvel ou aquele imóvel antes de você. Não sabe se a limpeza foi feita com o rigoroso cuidado devido. O medo de contágio está fazendo voltar os velhos hábitos de querer o seu carro próprio até para fugir de transportes públicos, para praticar a nova tendência do turismo em locais próximos que dispensem aviões ou mesmo para se mudar para regiões com menor aglomeração e vida mais saudável, medida facilitada pela explosão do home office. Também o uso generalizado de plataformas de reuniões remotas está criando o hábito de prescindir de muitas viagens de trabalho.
Pesquisa realizada pelo instituto Capgemini com 11.000 pessoas em 11 países constatou que 35% dos entrevistados consideram comprar um veículo ainda neste ano. Na China, onde o novo coronavírus surgiu, o índice é ainda maior: 61%. Na Índia, 57% pretendem adquirir um automóvel e na Itália, 43%. O instituto constatou que 75% dos que pretendem comprar carro este ano tomaram a decisão para ter melhor controle sobre a higiene.
Entre os dados da pesquisa que mais chamam a atenção está o alto interesse dos jovens pelo carro próprio, o que é uma reversão histórica. Dos entrevistados com idade entre 18 e 24 anos que manifestaram intenção em comprar um automóvel, 85% pretendem comprar um carro pela primeira vez. Estranhamente, as pessoas que não queriam ter, mas apenas acessar bens, voltam a querer ter as suas coisas, com medo de compartilhar.
Como os aplicativos citados, também outros modelos de negócio que usam algum compartilhamento físico sofrem com a desconfiança da higienização ou com o home office, como os coworkings, aluguéis de escritórios compartilhados, as estações de bikes, restaurantes self-service e até varejo de roupas com seus provadores.
Ninguém sabe ainda o que acontecerá com isso tudo depois que uma vacina eficaz finalmente tranquilizar as pessoas. Voltará tudo ao que era? Certamente que não.
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