Inovadores não surgem apenas em startups


O colunista Claudio Garcia escreve sobre a diferença entre intraempreendedores e empreendedores, e indica que os primeiros são responsáveis por mais de 70% das inovações

Por Claudio Garcia – Valor – 25/05/2023 

Existem pequenas invenções que têm um efeito desproporcional para o mundo apesar de sua simplicidade.

O cinto de segurança de três pontos, por exemplo, reduziu em 45% o risco de mortes em acidentes de trânsito, ou seja, centenas de milhares de vidas salvas desde sua adoção apenas no Brasil. Interessante é que poucos sabem quem foi o criador dessa simples ideia, assim como não sabem quem foi o inventor do GPS, do stent (usado na medicina principalmente para desbloquear artérias), ou ainda do teste de DNA e da fibra-ótica. E mais interessantes ainda é que essas inovações, que mudaram de forma significativa uma parte da nossa realidade, aconteceram dentro de organizações. Não por meio de empreendedores.

Aliás, mais de 70% das mais relevantes inovações que mudaram nossas vidas vêm de organizações, criadas por heróis ocultos, pessoas que não pertencem ao nosso imaginário como empreendedores como Bill Gates, Elon Musk, Steve Jobs e Jeff Bezos, entre muitos outros similares a quem creditamos todas as mais interessantes invenções e negócios.

Nada contra empreendedores. Ao contrário, eles são uma parte essencial de uma nação próspera.Mas, 10 anos de excesso de liquidez de capital privilegiaram uma explosão de startups – e muita manipulação -, e ampliaram o mito da garagem, que diz que inovação acontece somente por meio de empreendedores-heróis, que sacrificaram escola, batalharam, foram contra tudo e todos para colocar inovações e negócios revolucionários de pé.

Organizações,, influenciadas por essas imagens, se estruturaram para isso. Misturaram a figura do empreendedor com a de quem inova, e de que organizações não são o espaço adequado para que essas pessoas prosperem. Visão curta e baseada em estereótipos sobre talentos que não se sustenta. Ignoram que mesmo o iPhone, que representa mais de 50% de toda a receita da mais valiosa organização do mundo, foi várias vezes bloqueado por um cético Steve Jobs. Receoso de que as grandes empresas de telecomunicações limitassem seu avanço, não acreditava que smartphones teriam um mercado grande.

Mas um grupo de intraempreendedores, engenheiros, programadores e outros profissionais talentosos, trabalhando para a Apple, iniciou o projeto do iPhone sem o conhecimento de Jobs, e sutilmente insistiram até que a ideia virasse um projeto oficial.

O perfil do intraempreendedor é bem diferente do empreendedor. Ele se situa bem em corporações. Gosta de ser parte de um time diverso e não se intimida em ter que passar por reuniões e mais reuniões para convencer pessoas, acordar compromissos, buscar e coordenar esforços de múltiplas áreas. O que para muitos é interpretado como política, para ele significa muito mais.

Intraempreendedores são motivados por levar organizações para um novo patamar – dinheiro é algo importante, mas desafios técnicos ou mercadológicos, ou ainda deixar um legado, são ainda muito mais.

Esse perfil de profissional compreende e sabe explorar o fato de que organizações são usualmente repletas de talentos, recursos, clientes e acesso a mercados, e que custam caro para empresas pequenas e empreendedores, como muitas pesquisas recentes mostram. São também beneficiados por modelos de gestão e estruturas organizacionais que os ampliam, em vez de estereotipá-los.

Para honrar muitos desses heróis ocultos: o inventor o cinto de segurança de três pontos foi um engenheiro da Volvo chamado Nils Bohlin. Apesar de patenteada, a organização decidiu tornar a invenção disponível para qualquer fabricante de veículos – aliás estava claro que esse não poderia ser um benefício só para clientes da Volvo. Exemplo de como, sem nunca sabermos, intraempreendedores afetam milhões de vidas.

Claudio Garcia é professor adjunto de gestão global na Universidade de Nova York. 

Cláudio Garcia vive em Nova York onde atua como empreendedor, conselheiro de empresas e pesquisador sobre pessoas e organizações

https://valor.globo.com/carreira/coluna/inovadores-nao-surgem-apenas-em-startups.ghtml

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