A formidável participação da cultura no PIB


A cultura, tratada por muitos como secundária, tem peso na economia equivalente ao do setor automotivo; por isso, merece políticas públicas sérias, não ideológicas

Editorial Estadão – 30/04/2023 

A área cultural, uma das grandes expressões da identidade nacional e fonte de imenso orgulho para os brasileiros, foi severamente desprezada pelo governo passado. Mas esse desprezo não significou apenas uma afronta ao sentimento da população por sua arte, sua música e sua literatura. Ele revelou também incompreensão a respeito do papel do setor na economia do País.

Lançada recentemente pelo Observatório Itaú Cultural, a plataforma de mensuração do PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic) no Brasil constatou participação significativa do setor na economia nacional. Respeitando as especificidades da área, o cálculo leva em conta os salários dos profissionais, os lucros das empresas, os rendimentos diversos de empresas e indivíduos, o que inclui trabalhadores sem carteira assinada, e a renda gerada por meio da Lei Rouanet.

Em 2020, ano mais recente com dados disponíveis, os setores de produção artística, patrimônio e economia criativa movimentaram R$ 230,14 bilhões, representando 3,11% do PIB (de R$ 7,4 trilhões). Naquele ano, a participação foi maior, por exemplo, do que a do setor automotivo (2,06%). Em 2020, os setores criativos empregaram cerca de 7,4 milhões de trabalhadores.

No período entre 2012 e 2020, o PIB da Ecic apresentou certa volatilidade, com uma média de participação de 2,63% na economia nacional. Os números indicam que o setor segue uma tendência cíclica, acompanhando, entre outros fatores, o patamar de investimento público e a própria dinâmica do PIB nacional. De toda forma, “o setor parece apresentar certa estabilidade em termos de contribuição para a economia do País”, afirmou o Observatório Itaú Cultural, destacando o crescimento nos últimos anos, com média de aumento de participação no PIB brasileiro de 0,26% por ano. Segundo as evidências disponíveis, o fortalecimento do setor vincula-se à tendência de valorização do conhecimento, à maior demanda por criatividade e a alterações no padrão de consumo das famílias.

O levantamento detectou também diferenças na contribuição da Ecic para o PIB por Estado, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina.

Na comparação internacional, feita a partir de dados da Unesco, a Ecic do Brasil oferece uma contribuição maior para a economia nacional do que a verificada em países de nível similar de desenvolvimento. No México, o setor contribui com 2,9% do PIB. Na África do Sul, com 2,97%.

A medição e o acompanhamento de PIB setoriais são importantes instrumentos para a formulação de políticas públicas, possibilitando, entre outros aspectos, identificar áreas em crescimento que se mostram aptas a gerar dinamismo sobre toda a economia de um país. Como lembra o Observatório Itaú Cultural, políticas públicas bem desenhadas podem estimular a atividade econômica total por meio desses setores, ao prover, por exemplo, condições para mais investimentos em infraestrutura.

Além dos possíveis impactos positivos sobre toda a atividade econômica, o estudo do setor da cultura e criatividade sob a perspectiva econômica é oportunidade para compreender novos padrões de consumo e paradigmas tecnológicos; por exemplo, a tendência observada em muitos países de uma crescente valorização do consumo de bens e serviços intangíveis (de valor subjetivo) em relação ao consumo de produtos.

De forma cada vez mais intensa, a área da cultura e criatividade é alternativa potente e sustentável para a geração de renda, emprego e riqueza. Seria um imenso erro o poder público olhar o setor com lentes político-ideológicas, sejam quais forem suas cores. A cultura tem evidente caráter estratégico para o País, merecendo políticas públicas sérias, baseadas em evidências, e não em preconceitos. Naturalmente, não é questão de promover bandeiras ideológicas nem muito menos guerras culturais – ações que fogem aos limites e às finalidades de um Estado Democrático de Direito. É oportunidade de cuidar, de forma concreta, do interesse público no curto, médio e longo prazos.

https://www.estadao.com.br/opiniao/a-formidavel-participacao-da-cultura-no-pib/

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