Pedro Dória: O Brasil está distraído para a IA


A UE tem uma penca de especialistas debruçada sobre a regulação dessa revolução. Aqui, o debate não chegou ao Congresso

Pedro Dória – O Globo – 24/03/2023 

Lançado na virada de novembro para dezembro do ano passado, o ChatGPT alcançou nos dois primeiros meses a marca de 100 milhões de usuários ativos por mês. A estimativa é da Accenture e se refere a gente que realmente usa o sistema, não basta ter se inscrito. É o crescimento mais rápido de uma plataforma digital na História — não tem Facebook, Tik Tok, nada que o bata. Na última semana, saiu a versão 4.0 do ChatGPT — foram três meses para o salto de uma versão à outra da inteligência artificial (IA) que responde a perguntas por escrito. Saiu também a versão 5 do Midjourney, a popular inteligência artificial para geração de imagens. A versão 3 é de agosto passado. Pois é: velocidade estonteante.

Chamamos essas inteligências artificiais de geradoras, gen-AI na sigla em inglês, pois geram conteúdo. É a terceira geração. Na primeira década do século surgiu o aprendizado de máquina, algoritmos capazes de fazer computadores aprender a partir de grandes bases de dados. Percebiam repetições de padrões e os aplicavam. Foi o tempo em que falávamos muito de big data. Os algoritmos que mostram para nós o que é popular nas redes sociais vêm dali.

A segunda geração, nos últimos dez anos, foi chamada de deep learning, aprendizagem profunda. Os computadores começaram a processar mais dados com mais velocidade, e os padrões identificados se sofisticaram. Reconhecimento de voz por assistentes digitais, a capacidade dos celulares de reconhecer rostos, mesmo carros autônomos, tudo é fruto de deep learning.

Esta década será marcada pela gen-AI. A inteligência artificial não apenas reconhece, mas passa a produzir conteúdo novo a partir dos dados que analisa. Textos e imagens realistas, agora, em março de 2023. Ainda neste semestre, criará vídeos. Já escreve código de programação, é capaz de produzir páginas da web simples a partir de um croqui a lápis fotografado pelo celular. Já há testes de sistemas que constroem moléculas de novos medicamentos para a indústria farmacêutica. Não vimos nem a crosta do que está por vir nos próximos poucos anos.

A gen-AI imporá a governos e empresas uma corrida por uma nova transformação digital. Quem for mais ágil em incorporar a terceira geração terá resultados impressionantes mais cedo e cortará custos mais rápido, se tornando mais competitivo, mais eficiente ou ambos.

Os novos recursos poderão ser usados em serviços básicos como atendimento a clientes. Robôs serão capazes de conversar por voz ou texto com quem tem dificuldade técnica e resolver os problemas. O uso pode ser mais complexo. Alimentado com uma sólida base de dados jurídica, sistemas como o ChatGPT ou o Bard, do Google, são capazes de pesquisar jurisprudência e sugerir linhas de defesa para escritórios de advocacia. Vai bem além. Compreendendo o histórico de sucessos e fracassos de uma empresa, a gen-AI poderá sugerir novos produtos, fazer branding. Poderá sugerir caminhos estratégicos para a gestão de RH. E, claro, descobrir doenças antes de um médico ou projetar remédios.

A União Europeia tem uma penca de especialistas debruçada sobre o problema da regulação dessa revolução. Por aqui, o debate não chegou ao Congresso Nacional. Mas a tecnologia é inclemente. Não custa lembrar: desempregará muitos, inclusive gente com diploma superior, e os empregos que criará exigirão alta especialização.

Pois é. A versão 3 do Midjourney saiu em agosto. A 5, em março. Periga chegar à 10 ainda no ano que vem.

https://oglobo.globo.com/opiniao/pedro-doria/coluna/2023/03/o-brasil-esta-distraido-para-a-ia.ghtml

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