Escuro, abafado e rende milhões: saiba como são os submarinos que levam drogas para a Europa


De Pablo Escobar a submarino fantasma, tática é utilizada há mais de 20 anos por narcotraficantes em todo o mundo

Por Letícia Messias – O Globo – 15/03/2023 

Quase duas toneladas de cocaína e três homens foram encontrados pelas autoridades dentro do submarino Quase duas toneladas de cocaína e três homens foram encontrados pelas autoridades dentro do submarino Divulgação/Exército da Guatemala

Uma mancha no mar foi o suficiente para chamar a atenção das embarcações que navegavam próximo a ilha de Arousa, na Espanha, nesta segunda-feira. A suspeita de que havia algo errado fez com que as autoridades espanholas encontrassem um narcossubmarino vazio no local. Somado ao submarino “fantasma” achado à deriva nas águas colombianas, a descoberta fez com que subisse para dois o número de navios utilizados para o tráfico de drogas apreendidos nesta semana.

Os episódios recentes chamam a atenção para uma tática pouco falada, mas utilizada há mais de 20 anos por narcotraficantes em todo o mundo, sendo o colombiano Pablo Escobar (1949-1993) o pioneiro. Entre os casos mais famosos, no entanto, está a saga do primeiro submarino do tráfico apreendido na Europa, em 2019, que saiu da fronteira do Brasil com a Colômbia.

No dia 25 de outubro daquele ano, Agustín Álvarez embarcou em um voo que o levaria de Madri ao Brasil — e que terminaria com a sua prisão. Na época aos 29 anos e com diversos títulos de navegação conquistados na Espanha, onde nasceu, ele se considerava apto para realizar uma missão quase impossível: atravessar da América à Europa em um submarino de 21 metros com 3 mil quilos de cocaína a bordo.

Ao lado de dois equatorianos, o percurso de 9 mil quilômetros foi feito com cerca de 20 mil litros de combustível. Como recompensa, os três tinham a promessa de receber U$ 100 mil (cerca de R$ 408 mil à época). Eles passaram 26 dias em uma embarcação que podia submergir até dois metros de profundidade, mas sofreram problemas técnicos ao longo do caminho. O primeiro veio no décimo dia: os dois tubos que saem da popa e servem para injetar ar no motor quebraram.

De acordo com relatos feitos pelos traficantes na prisão, o ar passou a ser “irrespirável”. Para contornar a falha, eles tiveram que abrir a escotilha durante algumas horas do dia para ter ventilação. Também perderam uma bolsa com alimentos e água que a embarcação levava e tiveram o depósito de óleo rompido, o que bastou para impregnar toda a área, inclusive os pacotes de cocaína.

— Foi quando eles decidiram abandonar e afundar o submarino, lá na Espanha. Em um primeiro momento eles pensaram que poderiam voltar para recuperar a droga, mas foram capturados — disse ao GLOBO o professor de engenharia naval da Universidade de São Paulo (USP) Gustavo Assi. — A sorte deles foi que o problema ocorreu quando estavam na costa. Se isso acontece no meio do Atlântico já era, não tem resgate.

‘É como entrar em uma bomba’

Quando Álvarez foi preso, as autoridades espanholas falavam em uma “operação histórica”. Isso porque a descoberta, feita em 24 de novembro daquele ano, representava um marco: era o primeiro narcossubmarino encontrado na Europa que vinha do outro lado do Oceano Atlântico — o que não significa, porém, que tenha sido o primeiro a tentar realizar o tráfico de drogas com um navio submerso.

Até onde se sabe, Pablo Escobar já contava com dois exemplares em sua frota marinha na década de 1990. Segundo Assi, a época também coincide com o aparecimento de submarinos semelhantes, quando criminosos passaram a usar os cascos de embarcações de alta velocidade e os tampavam com uma capa de fibra de vidro. Assim, faziam com que fosse possível afundar um pouco a embarcação na água.

— Mas obviamente o objetivo desses barcos é enviar a maior quantidade possível de droga, e não a segurança da tripulação — ressaltou.

Submarinos do tráfico

Submarino que atravessou o Atlântico foi encontrado abandonado na costa espanhola — Foto: Reprodução

O professor explicou que essas navegações duram algumas semanas e, por isso, a tripulação varia de duas a três pessoas, que alteram os turnos entre si. Elas dividem um espaço escuro, fechado, sem janela e ventilação. É, segundo ele, como uma cabine de carro, sem espaço para se levantar e circular. Durante os dias em que passam no submarino, é nesse ambiente que devem comer e fazer necessidades fisiológicas.

— A droga fica disposta de forma que haja um corredor central para que a pessoa possa se deitar — explicou. — Mas a cabine é minúscula e o calor é imenso, porque o motor, que geralmente é a diesel, é separado da tripulação por uma parede sem isolamento acústico ou térmico. Então, é como uma missão suicida porque o risco é altíssimo. A pessoa entra em uma bomba que corre o risco de explodir.

‘Evolução da engenharia’

As construções dos submarinos utilizados por traficantes são, em grande parte das vezes, feitas em “condições obscuras”, como em oficinas escondidas ou no meio da mata, segundo Assi. Na maior parte das vezes, os navios conseguem ficar submersos em até dois metros de profundidade, de modo que é possível garantir, ao menos por um tempo, a camuflagem.

— Mas depois é preciso subir até a superfície para trocar o ar da cabine. Esse é o momento vulnerável do submarino — disse. Agora, porém, eles estão ficando cada vez mais refinados. Alguns deles já são afilados, com camuflagem e um conhecimento avançado de como trabalhar o motor, além de serem silenciosos. Há uma evolução da engenharia de construção desses submarinos.

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/03/escuro-abafado-e-rende-milhoes-saiba-como-sao-os-submarinos-que-levam-drogas-para-a-europa.ghtml

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