MBC quer levar de 12% para 40% profissionalização no ensino médio até 2030 para melhorar competitividade
Por Rafael Vazquez — Valor 02/08/2022
Rogério Caiuby: empresas terão que abrir mais espaço para que parte da educação técnica ocorra dentro delas — Foto: Tiago Mendes/Divulgação
A digitalização da economia exige novos aprendizados que não estão sendo transmitidos com a agilidade adequada no Brasil, o que gera um custo de mais de R$ 123 bilhões ao ano para o setor produtivo devido à falta de capacitação técnica da mão de obra, segundo pesquisa do Ministério da Economia em parceria com o Movimento Brasil Competitivo (MBC). Diante do cenário, um manifesto que será lançado nos próximos dias pede maior incentivo e respaldo para a ampliação da educação profissional no ensino médio.
Simultaneamente, a organização promete ajudar a mudar a cultura empresarial para que profissionais com formação técnica sejam tão valorizados quanto os de formação acadêmica.
Segundo o conselheiro-executivo do MBC, Rogério Caiuby, o movimento propõe a meta de triplicar a participação da educação profissionalizante entre os estudantes de ensino médio do país. A ideia é elevar, até 2030, a participação do ensino técnico de perto de 12% para 40% do total de matrículas, o que colocaria o país na média dos membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Contudo, para que isso seja possível, Caiuby reconhece que há um grande desafio a ser superado, que é mudar a maneira como os estudantes veem o ensino técnico e também a visão das empresas sobre os profissionais que fazem a carreira a partir de uma formação técnica em vez de acadêmica.
“Pouco vai adiantar fomentar essa demanda se não houver um reposicionamento da importância do ensino técnico dentro do setor privado. Muitas vezes os próprios alunos optam por não fazer o ensino técnico porque entendem que, se focarem nisso, estarão fadados a empregos ou cargos com uma limitação salarial desigualmente colocada”, observa Caiuby.
Para ele, é fundamental promover o que chamou de “ressignificação” do ensino técnico no Brasil. “Existe todo um reposicionamento da importância, relevância e contribuição que o ensino técnico pode ter para o setor produtivo.”
Para buscar esse objetivo, o MCB pretende realizar um trabalho conjunto com a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) com o objetivo de promover uma transformação cultural. Além disso, o movimento se propõe a mapear as necessidades de cada região para ajudar Estados e empresas a pensarem quais cursos fazem sentido para as diferentes vocações econômicas regionais do país.
“É fundamental que se tenha uma aproximação entre oferta e demanda. Não adianta nada o aluno fazer o ensino técnico e ter que sair de Manaus para ir a São Paulo praticar o que aprendeu. A ideia é fazer com que o ensino técnico seja uma forma de potencializar as vocações”, diz Caiuby.
Professor de cursos de Design Gráfico em uma unidade da Escola Técnica Estadual (Etec) em São Paulo, Raphael Depoian corrobora a função vocacional que o ensino técnico exerce para os jovens. “Um aluno que faz o ensino técnico junto com o médio já pode começar a pensar na carreira antes e testar o que realmente gosta sem perder o senso crítico da escola, sem a mecanização que às vezes o curso técnico sofre como crítica”, afirma.
Nesse ponto, Depoian destaca que a economia mudou e muitas profissões novas surgiram nos últimos 30 anos, o que torna o ensino técnico uma opção eficaz tanto para o mercado quanto para os estudantes. “Lá atrás, era muito pequena a oferta de cursos de ensino técnico. Isso foi ampliado de forma muito grande. Tem muito curso técnico bem específico que foi criado de acordo com a realidade das profissões que apareceram.”
Segundo Caiuby, isso é resultado da digitalização da economia e das empresas, o que tende a exigir cada vez mais formação técnica dos jovens desde cedo. A falta dessa educação impacta negativamente a capacidade do Brasil competir no mundo. “Essa transformação que a gente está passando agora para uma economia de conhecimento fomentada pelo digital faz com que essa mudança do ensino já esteja acontecendo na prática. Temos de 300 a 500 mil vagas no entorno digital que não conseguem ser preenchidas no país”.
Há um ponto de discussão, porém, entre educadores e estudantes que se queixam de que as empresas costumam exigir pré-requisitos demais para jovens egressos dos cursos técnicos. “Muitas vezes as empresas pedem muito mais do que um curso técnico consegue oferecer para um aluno em pouco tempo. Isso acaba desmotivando alguns estudantes, uma minoria, pela dificuldade em se inserir no mercado de trabalho”, conta Depoian.
No manifesto, o MBC promete trabalhar nessa questão e propõe, inclusive, um maior dinamismo na oferta de cursos técnicos de períodos mais curtos, de seis meses, por exemplo, mas reconhece que precisa haver uma boa vontade das empresas para absorverem esses trabalhadores com o conhecimento adquirido, mesmo que exijam um processo de aprendizado contínuo. “Todo ensino técnico precisa ter um ‘que’ de prática. As empresas também terão que abrir mais espaço para que parte dessa educação aconteça dentro do seu espaço”, diz Caiuby.
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