Especialistas da MIT Sloan School of Management apontam os principais traços que os trabalhadores devem desenvolver para ter sucesso na carreira nas próximas décadas, e como as empresas devem se adaptar a essa realidade
Por Fernanda Gonçalves, Para o Valor 21/06/2022
Após a pandemia, profissionais das mais diferentes áreas foram desafiados a lidar com um cenário completamente novo: mais digitalizado, robotizado, diverso e disperso do que nunca. Então, o que os gestores e funcionários devem saber para estabelecer um rumo para suas carreiras nas próximas décadas?
Especialistas da MIT Sloan School of Management destacam as cinco principais características do “profissional do futuro” – e o que as empresas devem oferecer para atrair trabalhadores com esses traços:
Eles são alfabetizados em dados.
Pesquisas mostram que companhias orientadas por dados desfrutam de aumento de receitas, melhor atendimento ao cliente, eficiência operacional, e maior lucratividade. “Em um mundo onde há cada vez mais dados, as organizações com pessoas alfabetizadas nessa competência são as que irão vencer”, disse Miro Kazakoff, professor da MIT Sloan e especialista em comunicação e persuasão por meio de dados, em nota para o site da escola. “Isso requer a democratização dos dados – a ideia de que eles devem estar ao alcance de cada funcionário”, completa.
Os profissionais, portanto, devem se sentir confortáveis trabalhando com inteligência artificial, machine learning e robôs. Segundo o artigo da escola de negócios, especialistas concordam que o futuro da inteligência artificial é o futuro do trabalho. Porém, não há garantias de que esse crescimento seja totalmente positivo. O economista do MIT Daron Acemoglu descobriu que para cada robô adquirido para mil trabalhadores nos EUA, as remunerações caem cerca de 0,42%, e a relação emprego/população diminui 0,2 pontos percentuais.
De acordo com Julie Shah, outra professora do MIT, em indústrias, robôs colaborativivos – ou “cobôs” – estão prontos para auxiliar o trabalho humano. “Com a ajuda dessa tecnologia, as pessoas podem delegar tarefas mais simples para os robôs e focar em trabalhos mais ambíguos e desafiadores, aumentando sua produtividade e o bem-estar”, afirma.
Em todos os casos, os empregadores devem implementar tecnologias inteligentes com cuidado, tendo em mente que pode haver atritos entre funcionários juniores com conhecimento na área e pessoas de nível sênior, perturbando hierarquias de poder tradicionais. “Uma forma de lidar com esse desafio é criar um programa de treinamento entre pares que alterne tanto o funcionário sênior quanto o júnior no papel de treinador”, sugere a professora de estudos do trabalho e organização da MIT Sloan Kate Kellogg.
A colaboração com desenvolvedores é igualmente importante: desenvolvedores de machine learning devem conversar com os usuários finais da tecnologia para manter o processo de interação vivo. “Eles precisam estabelecer um processo de troca com os usuários para construir, validar, e refinar as ferramentas para que elas sejam usáveis na prática”, afirma Kellogg.
Eles são empoderados.
Tomas Kochan, diretor do Instituto do Trabalho e Emprego do MIT, disse que funcionários relatam ter uma “falta de voz” considerável nos trabalho – isto é, uma lacuna entre o quanto de opinião ou influência eles sentem que deveriam ter e o quanto realmente têm – em tópicos como remuneração, condições de trabalho e tratamento justo.
Mas isso não deve durar: “nos EUA, trabalhadores com baixos salários estão encontrando suas vozes e descobrindo propósitos, e empregadores que os ignoram o fazem por sua conta e risco”, comentou Paul Osterman, professor de recursos humanos e gerenciamento do MIT. Kochan sugere que empregadores e empregados devam firmar um novo contrato social que ofereça altas taxas de retorno para os investidores, ao mesmo tempo em que apoie carreiras de qualidade. Itens desse contrato incluem:
- Seleção criteriosa de funcionários com fortes habilidades técnicas e comportamentais;
- Investimento contínuo em treinamento e desenvolvimento de equipes;
- Respeito por direitos trabalhistas;
- Oportunidades para que os funcionários se adaptem a novas tecnologias e requerimentos de trabalho;
- Sistemas de compensação justos e transparentes que assegurem o aumento da remuneração do trabalhador de acordo com o desempenho empresarial e econômico global;
- Uma voz para os funcionários nas decisões críticas do negócio que moldarão seu futuro.
Empregadores devem, portanto, fazer mais do que oferecer treinamento ou salários mais altos para trabalhos de baixa remuneração. Segundo Osterman, é importante, também, que as empresas aumentem a qualidade dos trabalhos que oferecem. E se isso não acontecer? “Poucos investimentos em pessoas levam a problemas operacionais e de experiência do cliente, que provocam baixas nas vendas, que por sua vez, causam encolhimentos nos orçamentos”, pontua Zeynep Ton, professora de gestão de operações na MIT Sloan.
Eles estão comprometidos com avanços em equidade e o meio ambiente.
De acordo com a comissão de oportunidades igualitárias de emprego dos EUA, 83% dos executivos de tecnologia são brancos. Na Apple, 6% dos funcionários no último ano eram negros. Já no Google, menos de um quarto dos estagiários eram negros ou latinos, e 5,5% dos novos contratados eram negros.
De acordo com Malia Lazu, professora no MIT sobre inclusão na economia de inovação, para fechar essa lacuna na tecnologia é essencial que a diversidade seja cultivada entre os funcionários. As ações incluem expor todas as crianças ao modelo de educação STEM (que foca em ciência, tecnologia, engenharia e matemática) desde cedo; tornar a educação de ensino superior mais acessível e igualitária; contratar com base nos conjuntos de habilidades em vez de diplomas; e avaliar e diversificar as redes profissionais.
Para funcionários jovens, em particular, a ideia de equidade se estende a governança e as questões ambientais. O estudo Cone Communications Millennial Employee mostrou que 64% dos millennials não aceitariam um emprego em uma empresa que não tenha uma política forte de responsabilidade social corporativa, e 83% seriam mais leais a uma companhia que os ajude a contribuir em questões sociais e ambientais.
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