O aplicativo vermelhinho é líder de mercado com 80% dos restaurantes que trabalham com esse modelo de entrega, segundo levantamento de setembro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
Valor Econômico 07/01/2021
A notícia sobre o fim do serviço de entrega de refeições do Uber Eats no Brasil dá a dimensão do poder (e do tamanho) do iFood no país. O aplicativo vermelhinho é líder de mercado com 80% dos restaurantes que trabalham com esse modelo, segundo levantamento de setembro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Já o Uber Eats aparece em segundo lugar nesse ranking, com 24%, e o Rappi em terceiro, com 18%. A soma supera 100%, pois há restaurantes que trabalham com mais de um aplicativo de entregas.
Entre os motivos para o avanço do iFood, estão os contratos de exclusividade que a companhia fechou com restaurantes ao longo dos anos. Esse fator fez com que o Rappi entrasse com pedido de investigação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em setembro de 2020. Em março do ano passado, a Superintendência-Geral proibiu o iFood de fazer novos contratos nesse estilo, enquanto a investigação é concluída.
Em outro questionamento ao Cade, a Abrasel pede que nenhuma plataforma possa firmar contratos de exclusividade com restaurantes. A crítica é que esse modelo cria uma barreira para novos concorrentes.
Entregador do iFood na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul — Foto: Vinícius Soares Pereira/Wikimedia Commons
Procurado na quinta-feira, o iFood afirmou que não comenta decisões de negócio de outras empresas. Sobre o mercado de entrega de refeições, disse que o setor segue em constante evolução “com a entrada frequente de novos competidores”. “A plataforma reforça que as suas políticas comerciais estão em estrita conformidade com a legislação concorrencial.”
Mas o que explica o tamanho do iFood? É bom lembrar que não foi da noite para o dia que a plataforma se transformou em um unicórnio (empresa com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão). A empresa investiu muito em tecnologia e, ao longo dos anos, comprou 13 companhias do setor.
Além disso, faz parte de um ecossistema de inovação, a Movile, que conta com nove marcas debaixo de seu guarda-chuva, o que garante sinergia de receita e disrupção em projetos de tecnologia e gestão. Ao todo, a Movile — que é dona da MovilePay e da Sympla, por exemplo — conta com 5 mil funcionários, em seis países, e atende mensalmente 200 milhões de clientes.
Operação durante a pandemia
O iFood cresceu durante a pandemia de covid-19, com mais pessoas fazendo pedidos de refeições em casa. Para se ter ideia, entre março de 2020 e junho de 2021, a média mensal de pedidos duplicou, indo de 30 milhões para 60 milhões – eram 21,5 milhões de solicitações em setembro de 2019.
Além disso, a companhia lançou o iFood Benefícios, cartão corporativo de vale-refeição e alimentação; começou a aceitar pagamentos via Pix e estendeu a facilidade iFood Mercado, de compras em supermercados, a 15 Estados.
Mas houve percalços também. Durante a pandemia, entregadores realizaram protestos exigindo o fim de bloqueios nos aplicativos, melhores taxas e outras demandas. Em dezembro do ano passado, a plataforma se reuniu pela primeira vez com a categoria para debater condições de entrega.
Além das paralisações, muitos entregadores entraram na Justiça do Trabalho para exigir vínculo empregatício. Não à toa, o volume de novas ações judiciais bateu recorde em 2021, segundo ano da pandemia da covid-19. Foram 4,4 mil casos propostos – quase o dobro do total registrado nos cinco anos anteriores -, considerando cinco empresas: Uber, 99, Rappi, iFood e Loggi.
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