A colunista Pilita Clark fala sobre experiências que favoreceram ou prejudicaram trabalhadores remotos
Por Pilita Clark – Financial Times/Valor – 26/07/2021
Trabalho remoto valoriza quem é mais ou menos empenhado? — Foto: Gaby Stein/Pixabay
Funcionários medíocres têm mais sucesso quando trabalham de casa ou quando estão no escritório? Esta é uma pergunta que eu nunca me fiz com frequência antes da pandemia, embora, poderia ter apostado que os funcionários de segunda categoria preferiam bater o ponto em casa.
Certamente é o que alguns executivos de primeiro escalão sugeriram, num momento em que o esforço para voltar a povoar escritórios esvaziados pela covid-19 ganhou força. Trabalhar de casa agrada aos “menos empenhados”, segundo o chefe do WeWork, Sandeep Mathrani. Não é boa coisa para pessoas interessadas em “malhar”, diz Jamie Dimon, do J.P.Morgan.
Mas, e se o contrário é que for verdadeiro? Max Thowless-Reeves, ex-dirigente de “private banking” do UBS, administra sua empresa de gestão de patrimônio em Stafford, Inglaterra, onde leciona na Faculdade de Negócios de Aston. Não muito tempo atrás, ele escreveu uma carta ao “FT” em que fazia uma afirmação espantosa. “A mediocridade se esconde nos escritórios”, disse, acrescentando ser mais fácil identificar qual é o membro da equipe que traz maior valor quando todos estão remotos.
Durante a pandemia, sua empresa começou a usar mais o Google Docs, o que significou que as pessoas trabalhavam no mesmo material ao mesmo tempo, a partir de suas respectivas casas. “Você pode ver todo mundo digitando”, acrescentando que podia ver quem respondia rápido a uma pergunta, fazia uma sugestão valiosa ou contribuía – e quem não.
“Ficou claro quem da equipe nos fazia avançar”, ele me disse. A empresa tem só 15 funcionários, mas vale levar a experiência em consideração. Só o fato de alguém estar no escritório, na sua frente, não significa que esteja fazendo algo tão útil quanto quem trabalha arduamente, mas está invisível, em casa.
Algumas semanas atrás, recebi um e-mail de um executivo aposentado que estava tentando finalizar três negócios imobiliários distintos. Seus pais tinham morrido, deixando dinheiro suficiente para cada um dos dois filhos dele comprarem a primeira casa em Londres. Estava tratando com avaliadores, bancos e advogados imobiliários, todos trabalhando bastante em casa e fornecendo o que ele considerou “um nível contínuo de serviço pouco profissional”: buscas realizadas no imóvel errado, preço de venda errado em um contrato fundamental, prazo errado em um pedido de crédito e nomes digitados errados em documentos. Para piorar, um advogado deixou de sacar a parcela dos recursos do crédito imobiliário a tempo de concluir a transação, o que fez com que um de seus filhos perdesse a entrada que tinha dado e ficasse sem casa para morar.
Diante disso, será que os trabalhadores eram medíocres ou outro fator foi responsável? “Acho que trabalhar de casa inclinou a balança na direção do caos”, disse, acrescentando que as pessoas poderiam estar sobrecarregadas e resolvendo tudo sozinhas. O trabalho de uma advogada que ele tinha usado por três vezes no passado sem qualquer problema – quando ela trabalhava em um escritório – “saiu cheio de erros” agora que ela estava em casa.
O caso dele, é claro, é isolado. Mas se alinha com descobertas de um estudo que examinou o desempenho de mais de 10 mil funcionários de uma grande empresa asiática antes e depois da covid-19. Pesquisadores detectaram que o total de horas trabalhadas cresceu cerca de 30%, mas a produtividade total caíra cerca de 20%. Isso não necessariamente dá razão aos que encaram com restrições o trabalho em casa. O estudo não mediu a qualidade. Tudo isso chama a atenção para a complexidade do grande experimento que foi o trabalho remoto instaurado pela covid-19 – e para o motivo pelo qual é cedo para tirar conclusões rígidas sobre ele agora.
Pilita Clark é colunista do Financial Times
https://valor.globo.com/carreira/coluna/profissionais-mediocres-nao-tem-como-se-esconder.ghtml
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