Tecnologias digitais sustentaram mudanças comportamentais
Por Anu Madgavkar e Jaana Remes Valor Econômico 12/07/2021
Quando a covid-19 chegou, empresas, trabalhadores e consumidores tiveram de se adaptar rapidamente para continuar a operar sob as restrições que a pandemia impôs. À medida que as vacinas permitem a retomada de atividades mais “normais”, pelo menos em alguns países, uma das questões mais urgentes é até que ponto essas mudanças persistirão.
Nossa pesquisa constata que a persistência das mudanças comportamentais induzidas pela pandemia dependerá de uma combinação de decisões empresariais e de políticas governamentais que determinarão as escolhas de consumidores e funcionários. Por exemplo, pesquisas indicam que entre 30% e 50% dos consumidores pretendem comprar produtos sustentáveis. Mas esses produtos respondem por menos de 5% do total das vendas, em parte porque as empresas cobram mais por eles.
Os formuladores de políticas podem ajudar o mundo ao melhorar a infraestrutura digital e ao garantir que todos tenham acesso a ela. Se os benefícios forem generalizados, os ganhos de produtividade podem levar a uma recuperação robusta e equitativa
Em contraposição, a turbulência mundial desencadeada pela covid-19 criou um cenário poderoso em que certas alterações no comportamento do consumidor foram acompanhadas por mudanças nas operações comerciais e nas regulamentações governamentais. Na verdade, muitos desses comportamentos aceleraram práticas que eram promissoras antes da pandemia, mas não tinham conseguido ganhar força por causa de preocupações com custos ou de um ceticismo generalizado. O vírus, ao criar uma oportunidade de testá-las, tornou seu valor muito mais aparente.
Além disso, os avanços nas tecnologias digitais ajudaram a criar um amplo ecossistema para sustentar essas mudanças comportamentais. Algumas empresas combinaram as videoconferências com tecnologias de realidade aumentada pela primeira vez, para permitir que os técnicos em um local reparassem máquinas em outro. Já outras empresas intensificaram o investimento em processamento robótico e, assim, transformaram a gestão do trabalho administrativo rotineiro. A redução de custos e a conveniência resultantes do uso de tais ferramentas provavelmente reforçarão a continuidade do trabalho remoto e reduzirão as viagens de negócios, entre outras práticas que sofreram mudanças.
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Para determinar se essas mudanças motivadas pela pandemia persistirão, examinamos uma ampla gama de comportamentos. Aplicamos um “teste de permanência” a cada um, que leva em consideração as preferências dos consumidores e dos trabalhadores, assim como as ações das empresas – entre elas a inovação revelada pelas ferramentas digitais – e as políticas governamentais.
Consideremos o comércio varejista na internet. Muitos consumidores que fizeram compras de mantimentos online por necessidade durante a pandemia acharam essa prática conveniente. Ao mesmo tempo, os varejistas ampliaram os investimentos nos meios eletrônicos e criaram mais opções de produtos e de entrega para os consumidores, o que inclui as do tipo compre online e retire na loja para aqueles que são avessos a pagar frete. Até agora, o aumento do número de usuários tem se mantido na maior parte dos casos. As mudanças nas políticas regulatórias também sustentaram o consumo pela internet. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, relaxou as restrições sobre onde as pessoas que recebem pagamentos para assistência alimentar podem usá-los.
Outros comportamentos novos podem não “pegar” se as ferramentas digitais e as práticas de mercado não se adaptarem o suficiente para fornecer uma experiência de usuário melhor. A educação online, por exemplo, especialmente para estudantes mais jovens, tende a declinar. A experiência frequentemente insatisfatória de alunos, professores e pais com o ensino a distância, em especial de famílias que não tinham ferramentas digitais ou conectividade adequadas, sugere que a educação remota só continuará de forma seletiva, e sobretudo no ensino superior e na capacitação profissional.
A permanência desses hábitos de consumo alterados é reforçada pelos investimentos iniciais das pessoas em novos padrões de consumo. Os consumidores que se engajaram em “reformas domésticas” durante a pandemia, por exemplo, fizeram investimentos em móveis, bens duráveis e equipamentos para jogos e ginástica. É provável que eles continuem a gastar mais tempo com atividades como cozinhar e assistir aos programas de sucesso mais recentes nas TVs de tela grande que compraram enquanto estavam confinados.
Um padrão de permanência semelhante se aplica a trabalhadores. Para alguns, trabalhar em casa durante a pandemia satisfez um desejo antigo de maior flexibilidade e de se livrar da necessidade de deslocamento físico, entre outros benefícios. Em uma pesquisa recente da McKinsey, realizada com mais de 5 mil funcionários que trabalham em tempo integral em nove países, 52% disseram que gostariam de um plano híbrido presencial e remoto no futuro, um aumento de 22 pontos percentuais em comparação com antes da pandemia, e 11% que preferiam um esquema de trabalho totalmente remoto. Nossa análise de 2 mil atividades distribuídas por mais de 800 ocupações sugere que até um quarto dos trabalhadores em economias avançadas poderia trabalhar remotamente de 3 a 5 dias por semana sem perda de produtividade.
Se essas mudanças nos padrões de trabalho e consumo persistirem, elas podem ter efeitos indiretos em outros comportamentos. Por exemplo, temos a expectativa de que a demanda por viagens aéreas de lazer volte às taxas de crescimento anteriores à pandemia. Os preços das passagens aéreas e dos quartos de hotel já começaram a subir, à medida que vários locais relaxaram as restrições relativas à covid-19 e os consumidores têm aumentado suas pesquisas na internet por locais de férias.
Mas o impacto de longo prazo da covid-19 no setor de viagens é menos claro. Antes, as tarifas aéreas mais altas para viagens de negócios subsidiavam os preços mais em conta para as pessoas que faziam viagens de lazer. Mas se o aumento do trabalho remoto e do uso de ferramentas de colaboração digital reduzir a demanda por viagens de negócios, o setor de lazer poderá se beneficiar menos.
As mudanças comportamentais que persistirem depois que a pandemia abrandar oferecerão novas oportunidades de negócios para empresas que avaliarem cuidadosamente as preferências do consumidor, as mudanças nas práticas do setor relativas a isso, as ações dos concorrentes e as políticas e regulamentações governamentais. Nossa análise sugere que o crescimento médio anual da produtividade pode aumentar em cerca de um ponto percentual até 2024 se as tendências de permanência de mudanças que identificamos persistirem.
Os formuladores de políticas podem ajudar o mundo a aproveitar esta oportunidade ao ampliar e melhorar a infraestrutura digital e ao garantir que todos os consumidores, trabalhadores e empresas tenham acesso a ela. Se os benefícios forem generalizados, os ganhos potenciais de produtividade podem levar a uma recuperação robusta e equitativa. (Tradução de Lilian Carmona).
Anu Madgavkar é associada do McKinsey Global Institute e está baseada em Mumbai
Jaana Remes é associada do McKinsey Global Institute e fica em San Francisco. Copyright: Project Syndicate, 2021.
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https://valor.globo.com/opiniao/coluna/o-comportamento-economico-na-pandemia.ghtml
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