Empresas se adaptam ao mundo corporativo, mas sem deixar de lado inovação e agilidade na tomada de decisões
Carolina Nalin – O Globo – 12/06/2021
RIO – A enxurrada de aquisições de start-ups por grandes varejistas já muda a rotina destas pequenas empresas de tecnologia inovadoras. Em um universo em expansão, que já reúne 13.813 startups no país, ao menos 26 foram alvo de aquisições de companhias como B2W, Magalu e Via (antiga Via Varejo, dona de Casas Bahia e Ponto Frio) desde o ano passado.
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Da noite para o dia, a dezena de funcionários passou a fazer parte de uma equipe de milhares. O que era decidido em minutos agora precisa ser comunicado a várias diretorias ou debatido em reuniões. Em compensação, a infraestrutura e a rede de contatos se multiplicaram.
Executivos de startups que se juntaram a grandes nomes do comércio afirmam que, passado o choque inicial de culturas, o caminho é mesmo manter o espírito de empresa de tecnologia. O boom do e-commerce na pandemia fez com que o consumidor deixasse de lado o hábito de flanar entre vitrines e decidisse em segundos a oferta certa para clicar e comprar.
A competição entre varejistas impôs um senso de urgência na busca por soluções inovadoras. O caminho foi aglutinar quem tinha respostas prontas e não para de correr atrás de novas formas de solucionar problemas.
Marco Zolet, CEO da plataforma SuperNow, uma start-up comprada recentemente pela B2W Digital, dona das marcas Americanas.com e Submarino Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Marco Zolet, CEO do SuperNow, plataforma de marketplace de supermercados, conta que o match com a cultura da B2W foi importante na decisão de vender a empresa em janeiro do ano passado. Integrar as atividades exigiu adequação a uma série de processos internos da varejista. A empresa passou para o escritório físico da companhia em São Paulo, embora o home office ainda seja adotado pela maior parte da equipe.
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— Éramos uma empresa pequena passando a fazer parte de um grande grupo. Tivemos um tempo para integrar os sistemas e entender a forma de pensar da companhia. Mas mantemos nossa velocidade e cultura de start-up, vendo oportunidades de crescimento dentro dos ativos da B2W — diz o fundador, que também é head da Americanas Mercado, voltada para compra e entrega de produtos do dia a dia.
Zolet diz que o negócio foi benéfico para as duas partes. A tecnologia e a expertise da startup possibilitaram a criação da Americanas Mercado, que integra o app da varejista. E a start-up ganhou capilaridade com a logística e o atendimento da B2W. Ela cresceu oito vezes desde a aquisição.
Rafael Mendes, CEO da ASAP Log Foto: Agência O Globo
Depois da venda, é preciso reconhecer a vocação e delimitar a atuação de cada parte envolvida no negócio. Foi assim com a ASAP Log, empresa de logística criada em 2014 por Rafael Mendes.
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A startup foi vendida para a Via em abril do ano passado. Cresceu o time de TI no escritório em Curitiba e manteve a oferta de serviços a outros 8 mil clientes além da Via. O crescimento foi de 36 vezes em oito meses.
— A Via é um transatlântico e a ASAP é uma lancha. E a gente tem que usufruir do benefício de ser uma lancha porque assim conseguimos ser mais rápidos— conta Mendes. — Nessa sinergia conseguimos otimizar e evoluir mais rápido na hora de criar e testar produtos. Quando vejo que está burocrático demais, mudamos a forma de fazer as coisas. Se eu estiver em reunião toda hora, que horas vou trabalhar?
Ganhar escala e simplificar processos continua sendo uma preocupação da SmartHint, plataforma de busca inteligente para e-commerce criada por Rodrigo Schiavini e Marlon Korzune em 2017. Ela foi comprada pelo Magalu em abril e, de lá pra cá, manteve o escritório em Curitiba e o serviço aos mais de 1,1 mil clientes em nove países.
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— No contrato, temos a liberdade de atuar no mercado e, inclusive, de poder vender a nossa tecnologia para concorrentes. Nada foi bloqueado. A concepção do Magalu não é uma estratégia destruidora, é uma estratégia agregadora — conta Schiavini.
Liberdade de atuação
Na avaliação de Alexandre Pierantoni, diretor da consultoria financeira Duff & Phelps no Brasil, os investidores devem ter a mentalidade de que comprar uma empresa inovadora está mais ligado a oferecer o suporte financeiro do que comandar a inovação:
— Grande parte do conhecimento, da inovação e da tecnologia está na mão de quem está criando (soluções). Mesmo na transação de grandes empresas de tecnologia, a parte da gestão das pessoas é muito importante.
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Na Estante Virtual, parte das atividades administrativas e burocráticas passou para o Magalu, que comprou a empresa em janeiro. O time de TI da empresa migrou para o LuizaLabs, laboratório de tecnologia e inovação da varejista. O próximo plano é dividir o escritório com o Magalu e Época Cosméticos quando o modelo presencial for retomado:
— Houve muita troca e integração de serviços. Somos a primeira marca do grupo a trazer produtos seminovos e usados ao ecossistema. Isso traz desafios na integração dos catálogos e na apresentação dos produtos — conta Erica Cardoso, gerente de comunicação e marketing da Estante Virtual.
Em 2020, segundo a consultoria PWC, foram feitas 1.038 fusões e aquisições, o maior patamar desde 2002. Só no primeiro trimestre deste ano foram 333.
— Os investidores buscam oportunidades nos segmento de tecnologia, saúde, logística e as de impacto nas chamadas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança)— diz Gualtiero Schlichting, CBO da Stark, plataforma que liga investidores a empresas.
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