Antifrágil – coisas que se beneficiam com o caos


por Evandro Milet

No seu livro anterior “A Lógica do Cisne Negro”, Nassim Taleb apresentou o problema do Cisne Negro(animal que se considerava inexistente até ser visto, pela primeira vez, inesperadamente, na Austrália, no século XVII) , como ele denominou a impossibilidade de calcular os riscos de importantes e raros acontecimentos e prever sua ocorrência. Um Cisne Negro é um evento com três características altamente improváveis: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e, após sua ocorrência, inventamos um meio de torná-lo menos aleatório e mais explicável. 

Taleb sustenta que a maior parte da história tem origem em acontecimentos do tipo Cisne Negro. Esses eventos nos fazem sentir como se pudéssemos tê-los previstos, pois são retrospectivamente explicáveis. Não percebemos sua importância por causa dessa ilusão de previsibilidade, e a nossa mente está ocupada em transformar a história em algo suave e linear, o que nos faz subestimar a aleatoriedade. 

São cisnes negros a derrubada das torres gêmeas, a crise financeira de 2008/9, um tsunami, o acidente nuclear de Fukushima, a pandemia do coronavírus, assim como no nosso caso, a morte de Tancredo Neves ou o desastre da Samarco em Mariana. Também acontecem cisnes negros para empresas, famílias ou instituições como um acidente de avião que mata a cúpula de uma empresa, uma mudança disruptiva de tecnologia, um concorrente inesperado ou um incêndio na sede.

Em função dessa imprevisibilidade, na sua publicação posterior ‘Antifrágil”, Taleb propõe que nossas abordagens atuais para predições, prognósticos e gerenciamento de riscos sejam mantidas apenas em nossa mente e procuremos eliminar a fragilidade das coisas para que os cisnes negros sejam absorvidos. Quando tentamos prever riscos, imaginamos o pior cenário já ocorrido, sem atentar para para que o pior cenário, quando ocorreu, superou o pior cenário anterior. 

Mas não existe uma palavra para designar exatamente o oposto de frágil. Taleb propõe chamá-lo de antifrágil. A antifragilidade não se resume à resiliência ou à robustez. O resiliente resiste a impactos e permanece o mesmo; o antifrágil fica melhor. Algumas coisas se beneficiam dos impactos; elas prosperam e crescem quando são expostas à volatilidade, ao acaso, à desordem e aos agentes estressores, e apreciam a aventura, o risco e a incerteza.

A antifragilidade é uma propriedade de todos aqueles sistemas naturais e complexos que sobreviveram, como a própria natureza. Privar esses sistemas de volatilidade, aleatoriedade e agentes estressores os prejudicará. Eles enfraquecerão, morrerão ou serão destruídos. Ele mostra que viemos fragilizando a economia, nossa saúde, a vida política, a educação e quase tudo, ao suprimir a aleatoriedade e a volatilidade. 

O conceito vale para pais superprotetores, para tomar remédios desnecessários, para valorizar ditaduras no lugar de democracias ou para o processo de inovação que depende mais da assunção agressiva de riscos e de tentativa e erro do que da educação formal, defende Taleb. Exalta os empreendedores que se arriscam e, mesmo fracassados, deveriam ser tratados como os soldados(não existe soldado fracassado). Critica a neomania, nossa ilusão de tentar prever o futuro, considerando os cisnes negros e o número de interações no sistema complexo em que vivemos, tendendo ao infinito e desmentindo sistematicamente nossas previsões.

Temos a ilusão que o mundo funciona graças ao planejamento, às pesquisas universitárias e ao financiamento burocrático, mas há provas convincentes, segundo ele, de que tudo isso é uma ilusão. 

A tecnologia é o resultado da antifragilidade, explorada por aqueles que assumem riscos e apreciam os erros, fazendo-os numerosos e pequenos, como preconizado no mundo das startups. Também na economia, é importante que cada empresa seja frágil para que a economia seja antifrágil, outra maneira de expressar a destruição criativa disseminada por Schumpeter. Não há estabilidade sem volatilidade, conclui Taleb.

Em paralelo ele introduz o conceito do fragilista, que confunde o desconhecido com o inexistente, que pensa que o que não vê não existe, ou o que não entende não existe. Fora da física e geralmente em domínios complexos, as razões por trás das coisas tendem a se tornar menos óbvias para nós, e ainda menos óbvias para o fragilista. 

Em suma, o fragilista é aquele que faz você envolver-se em políticas e ações, todas artificiais, nas quais os benefícios são pequenos e visíveis, e os efeitos colaterais são potencialmente graves e invisíveis. A essa atitude, ele contrapõe a opcionalidade, da sua experiência do mundo financeiro, onde pequenos riscos podem trazer grandes oportunidades, como forma de tornar-se antifrágil.

Dessa forma, ao longo do livro, Taleb procura mostrar como alcançar a antifragilidade com exemplos na medicina, na economia, nas famílias, no planejamento, nas finanças e na política.

Em um estilo muitas vezes demolidor e com tiradas divertidas, não alivia críticas à figuras conhecidas de todas as áreas. Leitura imperdível.

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