A inteligência artificial parece ser mais útil quando o texto é simples e segue uma fórmula
FRANCESCO AGNELLINI – Fast Company Brasil – 27-12-2025
Com o avanço da inteligência artificial generativa, ficou cada vez mais difícil saber se um texto foi escrito por um humano ou por uma máquina. E, de acordo com um estudo divulgado pela empresa de marketing digital Graphite, mais da metade dos artigos publicados na internet hoje já é produzida por IA.
Se é mais provável encontrar textos gerados por modelos de inteligência artificial do que por pessoas, seria só uma questão de tempo até que a escrita humana se torne obsoleta? Ou estaríamos apenas diante de um avanço tecnológico ao qual acabaremos nos adaptando?
Pensar sobre essas questões me fez lembrar de “Apocalípticos e Integrados”, de Umberto Eco, uma coletânea de ensaios escritos no início dos anos 1960.
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Neles, Eco descreve duas posturas diante das mídias de massa. De um lado, os “apocalípticos”, que temem a decadência cultural e o colapso moral. Do outro, os “integrados”, que celebram novas tecnologias como um avanço democrático para a cultura. Na época, Eco falava sobre rádio e TV.
Mas hoje, podemos ver esses mesmos comportamentos em relação à IA. Eco argumentava que nenhum desses extremos ajuda a avançar o debate. Não faz sentido encarar uma nova mídia como uma ameaça total ou solução milagrosa. Em vez disso, sugeria observar como as pessoas e comunidades realmente utilizam essas ferramentas, quais riscos e oportunidades surgem e como essas tecnologias moldam – e às vezes reforçam – as estruturas de poder.
“O QUE ACONTECERÁ COM O TRABALHO CRIATIVO – TANTO COMO PROFISSÃO QUANTO COMO FONTE DE SIGNIFICADO?”
É claro que os temores que a IA desperta entre os defensores da democracia não são os mesmos que afligem escritores e artistas. Para esses profissionais, a questão central é a autoria: como competir com sistemas treinados com base em milhões de textos e capazes de escrever em altíssima velocidade? E, caso isso se torne a norma, o que acontecerá com o trabalho criativo – tanto como profissão quanto como fonte de significado?
Antes de tudo, é importante esclarecer o que o estudo da Graphite chama de “conteúdo online”. Eles analisaram mais de 65 mil artigos aleatórios com pelo menos 100 palavras – um universo que inclui desde pesquisas científicas até textos promocionais sobre suplementos “milagrosos”.
Um olhar mais atento revela que a maior parte do conteúdo gerado está em textos voltados ao grande público: notícias, tutoriais, posts de lifestyle, resenhas e explicações sobre produtos.
Do ponto de vista econômico, esse tipo de conteúdo existe para informar ou persuadir, não para ser original ou criativo. Em outras palavras, a IA parece ser mais útil quando o texto é de baixo risco e segue uma fórmula – como uma carta de apresentação ou um texto de divulgação.
E é justamente desse tipo de demanda que vive toda uma indústria de escritores freelance – inclusive muitos tradutores – que produzem posts para blogs, textos instrutivos, materiais para SEO e conteúdos para redes sociais. A chegada dos grandes modelos de linguagem já eliminou boa parte desses trabalhos.
A IA PARECE SER MAIS ÚTIL QUANDO O TEXTO SEGUE UMA FÓRMULA – COMO UMA CARTA DE APRESENTAÇÃO OU UM TEXTO DE DIVULGAÇÃO.
VOZES HUMANAS IMPORTAM AINDA MAIS
Mas o que acontece quando as pessoas passam a depender da inteligência artificial para escrever? Pesquisas mostram que a IA pode até ajudar a superar o bloqueio criativo, mas, ao mesmo tempo, tende a reduzir a diversidade de pensamentos.
Isso aparece no estilo de escrita: os sistemas acabam empurrando os usuários para formas parecidas de escrever, apagando nuances que normalmente tornam a voz de cada pessoa única.
A IA está mesmo nos deixando mais burros? Depende de como ela é usada
Pesquisadores também observam uma tendência a padrões de escrita ocidentais – especialmente do inglês – entre pessoas de outras culturas, o que levanta preocupações sobre um novo tipo de colonialismo alimentado pela IA.
SE CONSIDERARMOS QUE A IA DEVE CONTINUAR EVOLUINDO, É PROVÁVEL QUE TEXTOS HUMANOS REFLEXIVOS E ORIGINAIS SE TORNEM MAIS VALORIZADOS
Nesse cenário, textos que expressam personalidade, intenção e originalidade tendem a ganhar ainda mais valor no ecossistema de mídia – e podem desempenhar um papel fundamental no treinamento das próximas gerações de modelos de linguagem.
Se deixarmos de lado os cenários mais catastróficos e considerarmos que a IA deve continuar evoluindo – talvez em ritmo menor do que o dos últimos anos –, é bem provável que textos humanos reflexivos e originais se tornem ainda mais valorizados.
Em outras palavras: o trabalho de escritores, jornalistas e pensadores não vai perder relevância só porque boa parte do conteúdo online já não é mais escrita por humanos.
Este artigo foi republicado do “The Conversation” sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.
SOBRE O AUTOR
Francesco Agnellini é professor de estudos digitais e de dados na Universidade de Binghamton, Universidade Estadual de Nova York.
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