Estudo aponta cenário de produção de até US$ 15,6 bi ao ano, com impacto em vários Estados
Por Giordanna Neves — Valor – 17/12/2025
Os minerais críticos têm potencial para se tornar o novo pré-sal do Brasil. Mesmo em cenários conservadores e com apenas 27% das reservas conhecidas já prospectadas, o valor bruto de produção dessas cadeias – que consiste no valor total da produção a preços de mercado, calculado antes de descontar custos e insumos – pode alcançar US$ 15,6 bilhões anuais até 2030. O volume representa alta de 187% em relação a 2024, impulsionada pela transição energética global. A escala dessa oportunidade remete ao impacto do pré-sal. A exploração de petróleo em águas profundas revelou mais de 50 bilhões de barris equivalentes e gerou mais de US$ 40 bilhões por ano em produção bruta, além de estruturar uma cadeia nacional sofisticada de engenharia, equipamentos e serviços.
Os cálculos integram estudo elaborado a pedido do Valor pelo professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Arbache e pelo pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Rafael Leão. Com base nesses resultados, os autores afirmam que o Brasil passa a deter poder de barganha relevante ao concentrar reservas estratégicas disputadas por Estados Unidos, Europa e China, o que abre espaço para negociar agregação de valor no país.
O Brasil ocupa hoje uma posição paradoxal no contexto geopolítico dos minerais críticos da transição energética: é grande detentor de reservas, mas pequeno produtor, o que resulta no desperdício de um enorme potencial econômico em termos de renda, industrialização e tecnologia. Essa lacuna – típica de países que não convertem vantagem comparativa em vantagem competitiva – é justamente onde reside o principal potencial econômico mensurável para as próximas décadas.
Segundo os pesquisadores, o país já mostrou ser capaz de romper esse tipo de armadilha. O pré-sal é a referência histórica mais clara de como a exploração de recursos naturais pode impulsionar diversificação produtiva, sofisticação industrial e ganhos econômicos de escala. Na visão dos autores, os minerais críticos têm potencial para desempenhar papel semelhante, em um contexto em que a transição energética acelera a demanda global por esses insumos. Veículos elétricos, por exemplo, consomem cerca de cinco vezes mais minerais do que os modelos a combustão, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA).
“Se o Brasil repetir o que o pré-sal fez para o petróleo, porém, agora com maior distribuição territorial e maior sofisticação tecnológica, o país poderá: multiplicar exportações; criar novos clusters industriais (Minas Gerais-Goiás-Bahia, Piauí-Ceará, Pará-Amapá); elevar produtividade; atrair pesquisa e desenvolvimento internacionais; gerar receitas públicas perenes pelo pagamento de royalties; e criar uma indústria verde integrada ao comércio global. Mesmo em cenários conservadores, o valor econômico é significativo”, enfatizam.
Brasil tem potencial de estabilizar o fornecimento global de matérias-primas nos próximos anos
Para mensurar o potencial econômico dos minerais críticos, os autores construíram três cenários conservadores, a partir de dados do Anuário Mineral Brasileiro da Agência Nacional de Mineração (ANM), parâmetros médios de preços internacionais e domésticos e padrões globais de processamento e agregação de valor.
As estimativas consideram o valor bruto da produção mineral, e não o valor adicionado, e levam em conta o tamanho das reservas já mapeadas, o subaproveitamento atual – evidenciado pela lacuna entre reservas e produção efetiva -, o impacto da expansão da produção e comparações históricas com o pré-sal. Hoje, apenas cerca de 27% do território brasileiro foi adequadamente prospectado. Esse é um dado que sugerem, por exemplo, amplo espaço para novas descobertas e explica o porquê os cenários traçados são considerados conservadores.
No cenário “padrão-mundo” estimado no estudo, os pesquisadores consideram que a produção brasileira se equipara à velocidade média global observada entre 2017 e 2023, mas o país permanece concentrado na extração, sem capacidade relevante de refino e processamento, mantendo um perfil essencialmente exportador de commodities minerais. Nesse cenário, o valor da produção mineral beneficiada de cobre, grafita, manganês, níquel, terras raras e lítio cresce 4,6% ao ano, até 2030, alcançando US$ 7,1 bilhões, ante US$ 5,4 bilhões em 2024, o que representa alta de 31% (a um câmbio médio de R$ 5,5 por dólar).
O cenário “padrão-transição energética” incorpora projeções mais aceleradas de crescimento da demanda global por esses minerais no período de 2024 a 2030, conforme aponta a IEA. Ou seja, esse cenário pressupõe um fluxo mais intenso de investimentos em expansão da capacidade extrativa, mas sem avanço relevante no refino. Neste caso, mesmo restrito ao elo minerador, o valor da produção beneficiada de cobre, grafita, manganês, níquel, terras raras e lítio cresce 9,2% ao ano, até 2030, alcançando US$ 9,2 bilhões, aumento de 69% em relação ao patamar de 2024.
Já o cenário “padrão-industrialização das vantagens comparativas” combina forte expansão da capacidade extrativa com a internalização de etapas básicas de refino e processamento mineral. Nessa simulação, o Brasil é capaz de processar metade da produção beneficiada, produzindo matérias-primas metalúrgicas e químicas, como cátodos de cobre e níquel, manganês eletrolítico, hidróxido de lítio grau bateria e óxidos de terras raras. Nesse caso, o valor da produção combinada dos minerais concentrados e dos minerais processados e refinados cresceria 19,2% ao ano até 2030, alcançando US$ 15,6 bilhões em 2030, salto de 187% comparado ao valor da produção mineral beneficiada de 2024.

Além do impacto na produção mineral, a consolidação das cadeias de minerais críticos teria efeitos macroeconômicos relevantes, elevando o Produto Interno Bruto (PIB) potencial, gerando exportações adicionais e ampliando de forma significativa as receitas públicas federais, estaduais e municipais, mesmo em cenários conservadores.
Diferentemente do pré-sal, concentrado geograficamente, as províncias de minerais críticos estão espalhadas por diversos Estados. Isso tende a gerar um choque de desenvolvimento descentralizado, com ganhos para municípios do interior por meio de royalties e investimentos em infraestrutura, saúde e educação. A expansão do setor pode ainda viabilizar cadeias metalúrgicas e químicas, além da produção de componentes avançados para energia eólica, solar, armazenamento e baterias, reduzindo a dependência da exportação de minérios brutos e elevando a produtividade e a capacidade de inovação do país.
Segundo os autores, projeções de mercado indicam que a oferta global desses minerais deve se tornar insuficiente já em meados da próxima década. Isso abre espaço para que o Brasil, com mais investimentos, ajude a estabilizar o fornecimento global de matérias-primas, componentes e, eventualmente, produtos finais essenciais para a transição energética.
Para o físico e ambientalista Délcio Rodrigues, diretor-executivo do Instituto ClimaInfo, é essencial que o país aproveite suas reservas de minérios críticos para reduzir a desigualdade. “Como a extração de petróleo, a mineração é concentradora de renda e, em suas operações no Brasil, as condições de trabalho e a remuneração dos trabalhadores são muito precárias, salvo raras exceções. Não será com um boom nas exportações de minérios que reverteremos esta situação. Para isso, precisaremos de políticas públicas, investimento em pesquisa e desenvolvimento, direcionamento político e salvaguardas socioambientais”, diz.
Segundo ele, o combate à desigualdade e o cuidado com o meio ambiente têm que determinar o rumo do mercado de minerais críticos. “Sem isso, quem ganhará, mais uma vez, será um punhado de investidores, e quem perderá serão as populações atingidas pelos impactos da mineração, as nossas águas e a nossa biodiversidade”, acrescentou.
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