O Século de Schumpeter


Como mostra Thomas K. McCraw em O Profeta da Inovação, Schumpeter foi um dos primeiros economistas a compreender que o dinamismo do capitalismo nasce de dentro

Por Evandro Milet – Portal ES360 –  26/10/2025

Joseph Schumpeter. Foto: Reprodução

O Prêmio Nobel de Economia concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt reconhece oficialmente aquilo que Joseph Schumpeter anteviu há quase um século: o capitalismo sobrevive não pela estabilidade, mas pela mudança constante. As teorias premiadas sobre o crescimento econômico sustentado pela inovação e pela “destruição criativa” são, em essência, o prolongamento contemporâneo do pensamento schumpeteriano.

Como mostra Thomas K. McCraw em O Profeta da Inovação, Schumpeter foi um dos primeiros economistas a compreender que o dinamismo do capitalismo nasce de dentro, e não de forças externas. O sistema, dizia ele, vive de “perturbação”. Seu verdadeiro equilíbrio é o desequilíbrio permanente. Cada nova invenção, cada avanço tecnológico, substitui empresas, setores e hábitos antigos — um processo doloroso, mas essencial ao progresso.

Essa visão contrasta radicalmente com o pessimismo marxista. Marx via no capitalismo um mecanismo de exploração e crescente miséria; Schumpeter enxergava nele o motor da prosperidade. Admitia a desigualdade de resultados, mas acreditava que a inovação elevava, “em virtude do seu próprio mecanismo”, o padrão de vida das massas. Para ele, o empreendedor — e não o capitalista passivo — era o verdadeiro protagonista da história econômica.

Em Marx, a sociedade capitalista contém apenas duas classes: os capitalistas que detêm e controlam os meios de produção, e os proletários, que não podem fazê-lo. Muitos proletários abriram negócios e também tornaram-se capitalistas. Marx não foi capaz de “distinguir o empreendedor do capitalista”. Essa distorção persiste até hoje: ou é patrão ou trabalhador.

Na visão de Schumpeter, Marx viu com mais clareza que qualquer outro o dinamismo da máquina capitalista. Se não estivesse tão obcecado com a luta de classes e a exploração das massas, sua influência em outros analistas teria sido muito maior.

Schumpeter defendia a igualdade de oportunidades, mas também sustentava que o resultado da desigualdade de esforço eram merecidos. Considerava a disparidade de rendas não só inevitável na sociedade capitalista como eficaz no estímulo à inovação.

Escreveria o próprio Schumpeter em 1946, no início de seu longo artigo sobre o capitalismo para a Enciclopédia Britânica: ”Uma sociedade pode ser considerada capitalista quando confia seu processo econômico à orientação dos homens de negócio. Pode-se considerar que isso implica em primeiro lugar, a propriedade privada dos meios de produção[…] em segundo, a produção para o lucro privado, ou seja, a produção pela iniciativa privada em proveito privado”. Ele acrescentava que um terceiro elemento é “tão essencial para o funcionamento do sistema capitalista” que não pode deixar de ser adicionado aos outros dois. Esse elemento é a criação do crédito. Derivado da palavra latina credo – “Eu creio” – , o crédito representa uma aposta num futuro melhor.

É essa crença que sustenta a coragem de quem arrisca em nome da novidade. Como McCraw destaca, Schumpeter via o empreendedor como um “revolucionário econômico”, movido não por ganância, mas por ambição criadora e desejo de deixar marca no mundo.

Ao situar a inovação como força vital do capitalismo, Schumpeter também redefiniu a própria ideia de concorrência. Ela não se dá apenas pelos preços, mas pela introdução de “novas mercadorias, novas tecnologias e novas formas de organização”. Esse conceito, que parece óbvio à luz da economia digital do século XXI, era revolucionário nos anos 1940.

É por isso que o Nobel deste ano soa como um tributo tardio. Mokyr, Aghion e Howitt deram forma matemática a uma intuição que Schumpeter desenvolveu com genialidade literária e histórica. A “teoria do crescimento endógeno” é, em muitos sentidos, a confirmação empírica da “destruição criativa” — um ciclo de nascimento e morte empresarial que mantém viva a engrenagem capitalista.

No mundo atual, em que a inovação tecnológica redefine indústrias inteiras em poucos anos, Schumpeter é mais atual do que nunca. Como escreve McCraw, “as ideias modernas sobre o capitalismo são, em grande medida, dele”. Sua influência atravessa a economia, a política e até a cultura de negócios, que passou a falar em “estratégia empresarial”, “estratégia corporativa” e “espírito empreendedor” nos termos que ele ajudou a criar ao estabelecer um paralelo entre as iniciativas corporativas e o comportamento militar. Foi uma das mais significativas ideias surgidas no pensamento econômico desde a década de 1940.

Hoje, no século XXI, muitos economistas acrescentam o empreendedorismo aos três fatores tradicionalmente contemplados na produção: terra, trabalho e capital. Esse acréscimo deve muito à obra de Schumpeter.

Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, já afirmou que “o século XXI será o século de Schumpeter”. O Nobel de 2025 parece confirmar essa previsão. A economia global, impulsionada por ciclos incessantes de inovação e destruição, continua a seguir o roteiro que o economista austríaco escreveu antes de todos: um sistema vibrante, criativo — e em permanente estado de desequilíbrio.

O Século de Schumpeter – ES360

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