Como a IA pode criar o primeiro unicórnio de uma pessoa só


Tecnologia está permitindo que empreendedores iniciem e desenvolvam negócios sozinhos

Folha/The Economist – 14.ago.2025 

Sarah Gwilliam não é engenheira de software nem, confessa ela, “fala a língua da IA”. Mas após a morte de seu pai ela teve a ideia de criar uma startup de inteligência artificial generativa que ajudaria outras pessoas como ela a lidar com o luto e organizar as pendências de seus entes queridos falecidos. Algo como um planejamento de casamento, mas para funerais.

Sua empresa, Solace, ainda é mais uma startup em estágio inicial do que um negócio estabelecido. Mas além dela mesma, quase nenhum ser humano está ajudando a construí-la.

Ela se juntou a uma incubadora movida por IA, a Audos, que considerou sua ideia promissora. Os bots da incubadora ajudaram a estabelecê-la na internet e no Instagram.

Se sua ideia der certo, a incubadora não apenas fornecerá capital; seus agentes de IA apoiarão Gwilliam no desenvolvimento de produtos, vendas, marketing e trabalho administrativo, tudo em troca de royalties. Ela não precisa de funcionários. Na prática, a IA ajudou a cofundar a empresa. “Não consigo expressar o quão empoderador isso foi”, diz ela.

Como é de costume, o Vale do Silício já adotou um neologismo que descreve fundadores solitários como Gwilliam: são “solopreneurs” (empreendedores solo).

Nos círculos de tecnologia, há apostas sobre qual deles provavelmente criará o primeiro unicórnio de uma pessoa só —uma empresa não listada em Bolsa avaliada em mais de US$ 1 bilhão.

Alguns esperam que a IA generativa torne o início de um negócio tão barato e descomplicado que qualquer pessoa poderá se tornar empreendedora, assim como qualquer um pode se tornar um YouTuber —uma lufada de ar fresco no concentrado cenário empresarial americano. Se pessoas como Gwilliam conseguirão escapar do sufocante controle dos gigantes da tecnologia, no entanto, é outra questão.

Revoluções tecnológicas têm o hábito de sacudir a maneira como as empresas fazem negócios. A crescente importância das máquinas combinada com a expansão das redes de transporte no final do século 19 levou ao surgimento de corporações gigantes

Ronald Coase, um economista britânico, argumentou em seu artigo de 1937 “A Natureza da Firma” que a existência dessas corporações era um testemunho da eficiência de consolidar e gerenciar o trabalho dentro dos limites de um negócio, em vez de terceirizar atividades para o mercado.

Isso, no entanto, começou a mudar com o surgimento das comunicações digitais. As empresas não só podiam terceirizar mais facilmente a fabricação e os trabalhos administrativos para países de baixo custo, como também podiam contar com plataformas de internet como o Google para marketing e Amazon Web Services para computação.

O avanço da IA pode acelerar essa tendência, à medida que agentes semiautônomos fornecidos pelo Vale do Silício permitem que empresas realizem a mesma quantidade de trabalho com menos funcionários.

Henrik Werdelin, cofundador da Audos, diz que o surgimento da computação em nuvem o ajudou a iniciar vários novos negócios nos últimos 20 anos com pouco mais do que um cartão de crédito para começar. Ele descreve a IA como a próxima onda nessa “democratização”.

“Você não precisa programar, não precisa saber usar o Photoshop, porque pode obter ajuda da IA para isso.” Isso, ele espera, dará origem a uma enxurrada de startups construídas por pessoas como Gwilliam, sem experiência em tecnologia, mas que identificaram problemas reais para resolver.

Outro evangelista é Karim Lakhani da Harvard Business School. A escola agora oferece um curso de liderança para executivos no qual eles usam IA generativa para construir uma empresa de snacks em 90 minutos, usando a tecnologia para realizar pesquisas de clientes, gerar receitas, encontrar fornecedores e projetar embalagens.

Em um artigo recente, Lakhani e seus coautores apresentaram um experimento de campo no qual 776 profissionais da Procter & Gamble, uma empresa de bens de consumo, foram solicitados a atender a uma necessidade real de negócios, individualmente ou em equipes de duas pessoas, com e sem o uso de ferramentas de IA generativa.

Descobriu-se que a IA aumentou significativamente o desempenho, ajudando indivíduos com IA a igualar o desempenho de equipes sem ela. A IA provou ser mais um “colega de equipe” do que uma ferramenta.

Com o fim da era do dinheiro fácil, os fundadores estão ansiosos para encontrar maneiras de reduzir custos. Peter Walker, da Carta, que ajuda startups a gerenciar a propriedade de ações, diz que os fundadores costumavam se gabar de quantos funcionários tinham. “Agora é motivo de orgulho dizer: ‘poucas pessoas trabalham para mim’.”

De acordo com os dados da Carta, o período médio que os fundadores levam para contratar seu primeiro funcionário após a incorporação de sua startup aumentou de menos de seis meses em 2022 para mais de nove meses em 2024.

A Base44, uma startup de programação nativa de IA, ganhou manchetes recentemente quando foi vendida para a Wix, uma plataforma de desenvolvimento web, por US$ 80 milhões. Tinha apenas oito funcionários.

Estamos, é claro, apenas no início. Por um lado, os agentes de IA estão longe de serem infalíveis. Em junho, a Anthropic, um laboratório de IA, revelou os resultados de um experimento no qual seu modelo Claude Sonnet operava uma máquina de venda automática na sede da empresa. O objetivo do bot era evitar a falência.

Ele era bom em identificar fornecedores e se adaptar às solicitações dos usuários (incluindo a busca por um cubo de tungstênio solicitado por um funcionário travesso). Mas ignorou oportunidades lucrativas, teve alucinações, ofereceu muitos descontos e, por fim, não conseguiu ganhar dinheiro.

Outras forças também podem atrapalhar um aumento impulsionado pela IA no empreendedorismo. Apesar do crescimento da internet, das redes sociais, do software como serviço e da computação em nuvem nas últimas três décadas, a formação de empresas nos Estados Unidos foi fraca até a pandemia —resultado, em parte, de uma população envelhecida. Essa pressão demográfica só se intensificará.

Apesar de toda a promessa da IA generativa, ela também apresenta problemas para os empreendedores. Annabelle Gawer, da Universidade de Surrey, observa que, embora a tecnologia reduza as barreiras de entrada para novos negócios, também facilita a rápida cópia de ideias. A menos que um fundador tenha expertise única em seu domínio, isso pode dificultar a sustentação de uma vantagem competitiva.

Além disso, o fornecimento de ferramentas de IA é dominado por gigantes da tecnologia e pelos laboratórios em que investem, como a OpenAI, apoiada pela Microsoft, e a Anthropic, apoiada pela Amazon e Google. Gawer faz uma analogia com o surgimento da computação em nuvem na década de 2010, área dominada pelos três gigantes da tecnologia.

Embora essa infraestrutura tenha facilitado a vida das startups, também as deixou dependentes do triunvirato da nuvem, que conseguiu capturar uma boa parte do valor que essas empresas geraram. No ano passado, os lucros líquidos do trio equivaliam a 7% do total dos Estados Unidos, acima dos 2% de uma década antes.

Outra possibilidade irritante é que os gigantes da tecnologia possam roubar as melhores ideias das empresas menores. Por enquanto, Gwilliam, da Solace, está tranquila. O que ela chama de “desvantagem de ser pioneira” poderia ser “um aborrecimento”, mas também poderia validar sua ideia.

“Talvez eles venham até mim e digam: ‘Queremos a Solace’. E então eu direi: ‘Ótimo, vendido!'” Como uma empreendedora tradicional, afinal.

IA pode criar o primeiro unicórnio de uma pessoa só – 14/08/2025 – Mercado – Folha

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