Por Reuters — Valor – 07/06/2025
Há mais de 15 anos, a China sinaliza a intenção de usar partes da cadeia mundial de suprimentos como armas, uma estratégia inspirada nos controles sobre as exportações que os Estados Unidos aplicam há tempos e que Pequim entende como forma de conter sua ascensão.
A corrida nas últimas semanas para garantir licenças de exportação de terras-raras, que culminou na ligação telefônica, na quinta-feira (5), entre os líderes Donald Trump e Xi Jinping, mostra que a China desenvolveu uma arma ainda melhor e de precisão mais cirúrgica para a guerra comercial.
Executivos do setor e analistas dizem que, embora a China venha dando sinais de aprovar mais exportações desses minerais cruciais, ela não vai desmantelar seu novo sistema.
Inspirado no esquema dos próprios EUA, o sistema de licenciamento de exportações de Pequim permite ao país controlar de uma forma sem precedentes os gargalos das empresas em inúmeras áreas, desde motores para veículos elétricos (VEs) até sistemas de controle de voo para mísseis guiados.
“A China se inspirou originalmente nos métodos de controle de exportação do abrangente esquema de sanções dos EUA”, disse Zhu Junwei, pesquisador do Grandview Institution, um centro de estudos de Pequim especializado em relações internacionais.
“A China vem tentando construir seu próprio sistema de controle de exportações desde então, para ser usado como último recurso.”
Após a ligação de quinta-feira, Trump disse que os dois líderes estavam “esclarecendo alguns pontos, em sua maioria relacionados a ímãs de terras raras e algumas outras coisas”.
Ele não disse se a China se comprometeu a acelerar a emissão de licenças para exportação de ímãs de terras raras, após Washington ter restringido as exportações de softwares de design de chips e turbinas de avião para Pequim, em resposta a uma acusação americana de demora deliberada nas licenças.
A China detém quase um monopólio sobre os ímãs de terras raras, um componente crucial nos motores de VEs.
Em abril, o país adicionou algumas exigências mais elaboradas à lista de controle de exportações em sua guerra comercial com os EUA, obrigando todos os exportadores a solicitarem licenças a Pequim.
As novas medidas colocaram um departamento pouco conhecido do Ministério do Comércio da China, com cerca de 60 funcionários, no controle de um gargalo crucial da indústria mundial.
O ministério chinês não respondeu de imediato às perguntas enviadas por fax pela “Reuters”.
Nesta semana, vários fornecedores europeus de autopeças paralisaram linhas de produção após ficarem sem suprimentos. Embora as restrições de abril coincidam com um pacote mais amplo de retaliações às tarifas dos EUA, as medidas têm aplicação mundial.
“A China tem um certo grau de negação plausível, ninguém pode provar que ela está fazendo isso de propósito”, disse Noah Barkin, assessor sênior do Rhodium Group, um centro de estudos americano especializado em China.
“Mas o ritmo das aprovações é um sinal bastante claro de que a China está enviando um recado, exercendo pressão para impedir que as negociações comerciais com os EUA levem a mais controles sobre a tecnologia.”
A China minera cerca de 70% das terras raras do mundo, mas detém um monopólio quase completo sobre o refino e o processamento.
Mesmo que o ritmo das aprovações de exportação aumente, como sinalizou Trump, o novo sistema permite que Pequim tenha uma visão sem precedentes sobre como as empresas na cadeia de suprimentos usam as terras raras processadas pela China, alertam executivos europeus e americanos.
Outros governos não têm acesso a essas informações, em razão da complexidade das cadeias de suprimento.
Por exemplo, acredita-se que centenas de fornecedores japoneses precisarão que a China aprove licenças de exportação de ímãs de terras raras nas próximas semanas para evitar interrupções na produção, segundo uma fonte que fez lobby junto a Pequim em nome deles.
“É como se a China estivesse afiando um bisturi [tal a precisão de suas ações]”, disse um executivo com sede nos EUA, de uma empresa que tenta montar uma cadeia alternativa de suprimentos e não quis ter o nome divulgado.
“Não é uma forma de supervisionar a exportação de ímãs, mas de ganhar influência e vantagem sobre os EUA.”
Décadas em gestação
Os temores de que a China pudesse transformar sua força na cadeia de suprimentos internacional em arma surgiram pela primeira vez após ter proibido as exportações de terras raras ao Japão de forma temporária, em 2010, por uma disputa territorial.
Já em 1992, o ex-líder chinês Deng Xiaoping era citado dizendo “o Oriente Médio tem petróleo, a China tem terras raras”.
A decisiva Lei de Controle das Exportações da China, de 2020, ampliou as restrições, que passaram a cobrir qualquer item considerado capaz de afetar a segurança nacional, desde bens e materiais críticos até tecnologia e dados.
Desde então, a China construiu sua própria capacidade de impor sanções, enquanto investe o equivalente a bilhões de dólares no desenvolvimento de alternativas em resposta às políticas dos EUA.
Em 2022, os EUA impuseram amplas restrições à venda de chips semicondutores avançados e ferramentas para a China, por receios de que a tecnologia impulsionasse o poderio militar de Pequim.
A medida, contudo, não impediu o desenvolvimento chinês de chips avançados e da inteligência artificial (IA), segundo analistas.
A China revidou um ano depois, adotando o sistema de licenças de exportação para o gálio, germânio e alguns produtos de grafite. As exportações desses produtos para os EUA foram proibidas em dezembro.
Em fevereiro, a China restringiu a exportação de mais cinco metais fundamentais para as indústrias de defesa e de energias limpas.
Os analistas têm sofrido para conseguir rastrear o ritmo das aprovações chinesas após a ligação entre Trump e Xi.
“É virtualmente impossível saber qual percentual dos pedidos para fins não militares é aprovado, porque os dados não são públicos e as empresas não querem confirmar publicamente, seja uma coisa ou outra”, disse Cory Combs, analista de minerais críticos da firma de consultoria Trivium, especializada em política chinesa.
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