O que é ‘vibe coding’, nova tendência no mundo da programação que é impulsionada por IA


Técnica que usa linguagem natural para gerar código cresce com ferramentas de IA e facilita na hora que criar sites e apps

Por Alice Labate – Estadão – 18/05/2025

Criar um site, um jogo ou até um aplicativo sem saber como escrever uma única linha de código já é possível. O movimento que permite isso se chama “vibe coding” e ganhou força em 2024 com impulso da inteligência artificial (IA) generativa — a ideia é que a programação é feita a partir da “vibe” do projeto, ou seja, a partir daquilo que o produto ou solução pede com comandos em linguagem natural. Por exemplo: “faça um app que controle minhas tarefas do dia” em códigos funcionais.

Com a popularização de ferramentas de IA como Lovable e Replit, voltadas para programação em linguagem natural, o vibe coding passou de curiosidade para método comum entre profissionais e amadores. Este ano, uma em cada quatro startups aceleradas pela Y Combinator afirmou que até 95% de seu código foi gerado por IA, em práticas alinhadas ao vibe coding, de acordo com a Ardor, empresa global de serviços analíticos.

“O vibe coding utiliza inteligência artificial para transformar descrições em linguagem natural, como português ou inglês, em código funcional”, explica Jhonata Emerick, CEO da Datarisk e doutor em inteligência artificial pela Universidade de São Paulo (USP). “O programador atua como um diretor criativo”.

A base do vibe coding está em modelos de linguagem como ChatGPT, Claude e outras IAs capazes de entender linguagem humana e convertê-la em código. Ao contrário da programação tradicional, em que o desenvolvedor dita a lógica linha por linha, o vibe coder descreve objetivos e a IA entrega sugestões de código, que podem ser testadas e ajustadas conforme necessário.

Fabrício Carraro, gerente de programas da Alura, escola online de tecnologia, explica que o termo “vibe coding” explodiu mesmo em fevereiro deste ano, por conta de um post de Andrej Karpathy, ex-diretor da Tesla e da OpenAI. “Ele descreveu essa nova maneira de programar, em que você meio que ‘vai codando na vibe‘, usando linguagem natural, até mesmo por voz, para que modelos como Gemini, ChatGPT, Claude etc. gerem o código, sem se prender tanto aos detalhes manuais da codificação. A ideia é que a IA se torne uma parceira tão eficiente que você esquece que o código em si existe, focando mais no resultado”.

O perfil de quem adota o método é variado. De um lado, desenvolvedores experientes usam as ferramentas para acelerar tarefas rotineiras. Do outro, profissionais de outras áreas veem no vibe coding uma forma rápida de testar ideias.

É o caso de Marcell Almeida, CEO da escola de cursos PM3. “Eu até sei um pouco de programação, mas não sou bom nisso. Com o vibe coding, consigo pedir o que quero em linguagem natural e a IA me entrega algo próximo”, diz. Desde 2024, ele usa a abordagem para criar protótipos e provas de conceito. “Antes, algo podia levar meses. Agora, em semanas, consigo testar com usuários. Não serve para escalar, mas é ótimo para validar ideias rapidamente”.

Leonardo Zeferino, diretor de IA e vibe coding da OneBrain, empresa desenvolvedora de softwares, também vê um avanço relevante na forma como produtos digitais são criados. “Sempre teve uma necessidade muito grande de ter desenvolvedores superespecialistas para fazer aplicações, produtos digitais. A partir de agora, a gente vê cada vez mais pessoas não técnicas desenvolvendo seus próprios aplicativos”, diz.

Segundo ele, o vibe coding não apenas democratiza o desenvolvimento, como também oferece um salto de produtividade. “Hoje, você pode simplesmente escrever um prompt, como no ChatGPT, dizendo que quer um app igual ao Instagram, e a IA cria tudo sem precisar escrever ou arrastar componentes”.

Vantagens e desvantagens do ‘vibe coding’

O principal atrativo do vibe coding é a baixa barreira de entrada. Sem exigir conhecimento prévio em linguagens como Python ou JavaScript, ele permite que pessoas com boas ideias mas pouca bagagem técnica desenvolvam soluções funcionais. “Ele reduz a barreira técnica inicial, eliminando a necessidade de dominar sintaxe ou conceitos complexos de imediato”, explica Emerick.

Outro ponto positivo é o foco na criatividade. Em vez de se concentrar em detalhes técnicos, o programador atua de forma mais conceitual, definindo objetivos e validando protótipos rapidamente. “Você pode simplesmente dizer ‘crie um site que mostre a previsão do tempo para São Paulo’ e a IA desenvolve todo o código necessário, enquanto você foca em refinar e melhorar o resultado”, diz o CEO da Datarisk.

Por outro lado, a falta de entendimento do código gerado pode trazer riscos. Bugs ocultos, problemas de segurança ou soluções que não funcionam são preocupações recorrentes entre profissionais. “Dependendo exclusivamente do vibe coding, o usuário pode deixar de aprender fundamentos importantes”, aponta Raul Ikeda, professor do Insper e cientista da computação.

Além disso, o excesso de confiança na IA pode levar à produção de projetos pouco sustentáveis ou difíceis de manter a longo prazo. “É preciso sempre revisar e entender, minimamente, o que está sendo entregue pela máquina”, diz Emerick. Segundo o especialista, a prática funciona melhor como complemento, não substituto, da formação técnica.

Qual é a diferença entre ‘vibe coding’ e ‘no-code’?

A ideia de vibe coding após outro movimento que prometia baixa exigência técnica em programação ganhar terreno, especialmente na pandemia: o no-code (ou low code). Apesar de terem pontos em comum, no entanto, são duas abordagens diferentes. O no-code se baseia em interfaces visuais, com blocos e elementos arrastáveis, permitindo a criação de sistemas simples sem codificação. Já o vibe coding exige interações em linguagem natural e gera código real, editável, personalizável e com maior complexidade.

“O no code utiliza interfaces visuais para criar aplicativos, limitando-se a templates e funcionalidades pré-definidas. Já o vibe coding permite gerar código completo, como Python ou JavaScript, a partir de comandos em linguagem natural”, resume Emerick.

Leonardo Zeferino, que começou com no-code em 2016 e criou um app chamado Coffeely usando essa técnica, vê o vibe coding como uma evolução. “O no-code é como arrastar componentes e definir ações sem escrever código. Já o vibe coding é você escrever um prompt e a IA cria tudo automaticamente”, explica, “É muito mais fácil e abre uma grande porta cheia de oportunidades”.

Raul Ikeda reforça: “No vibe coding, a pessoa descreve o que quer e a IA interpreta. Pode ser alguém sem noção de programação dizendo ‘quero um aplicativo que me ajude no meu negócio’, e a IA entrega algo funcional, com explicações sobre como implantar o produto”.

De forma prática, isso significa que o vibe coding permite maior controle. Um site feito com vibe coding pode incluir scripts personalizados, integração com APIs externas (ou seja, conexões com serviços de fora do site, como mapas, sistemas de pagamento ou previsão do tempo) e comportamentos específicos, o que seria inviável com plataformas no-code tradicionais.

Futuro do ‘vibe coding’

Nos próximos anos, o vibe coding deve se tornar mais comum e estável. Isso significa que a prática de programar com ajuda de IA, descrevendo o que se quer em linguagem natural, em vez de escrever cada linha de código, tende a se firmar como uma forma legítima e produtiva de desenvolvimento de software.

Com o avanço da tecnologia, especialistas explicam que modelos de IA, como o ChatGPT ou Claude, ficarão ainda mais sofisticados, gerando códigos melhores, mais seguros e com menos erros. Ao mesmo tempo, será cada vez mais necessário que as empresas adotem práticas de auditoria e validação, ou seja, rotinas para checar se os códigos gerados pela IA realmente funcionam bem, são seguros e atendem às necessidades. Isso será essencial principalmente quando a IA for usada para criar sistemas mais complexos.

“Esperamos ver ferramentas de IA mais inteligentes, adaptação aos estilos dos usuários e até integração em plataformas educacionais como Codecademy ou Coursera”, diz Emerick. Ele também prevê o surgimento de profissões inéditas: “engenheiros de prompt” e auditores de IA estarão entre os novos papéis desse ecossistema.

A tendência é que o vibe coding se torne parte natural do processo de desenvolvimento de software, especialmente em projetos de menor risco, como páginas institucionais, ferramentas de automação simples ou protótipos.

Para Marcell Almeida o vibe coding deve se tornar um conhecimento essencial no mercado. “A linguagem natural é só mais uma forma de programar, do jeito que a gente está acostumado a falar como ser humano. E eu vejo isso de duas formas”, afirma, “A primeira é que existe muito ruído, principalmente nas redes sociais. Muita gente dizendo que isso vai substituir empregos, mas eu não enxergo assim. Na verdade, quem não souber usar essas ferramentas é que pode ficar para trás. Vai virar o novo básico, como buscar no Google. Hoje, você espera que todo mundo saiba fazer uma busca, e com o vibe coding será igual”.

A segunda ótica, segundo Marcell, é que o método amplia a capacidade de criação. “Agora, conseguimos desenvolver mais coisas, mais rápido, e tocar vários projetos em paralelo. Claro, ainda existe a limitação da escala, não dá para escalar uma solução feita com vibe coding com a mesma facilidade. Mas, para prototipar, validar uma ideia ou criar uma prova de conceito, é excelente”.

“Se antes um conceito levava um ou dois meses para ser testado com usuários, agora é possível fazer isso em algumas semanas. Isso traz muita eficiência para as empresas”, conclui. Para ele, o vibe coding veio para ficar.

O que é ‘vibe coding’, nova tendência no mundo da programação que é impulsionada por IA – Estadão

Se você tiver interesse e ainda não estiver inscrito para receber diariamente as postagens de O Novo Normal, basta clicar no link: ttps://chat.whatsapp.com/GBBZ1SCBDTkC2uPqSe6kP7 para WhatsApp e https://t.me/joinchat/SS-ZohzFUUv10nopMVTs-w  para Telegram. Este é um grupo restrito para postagens diárias de Evandro Milet. Além dos artigos neste blog, outros artigos de Evandro Milet com outras temáticas, publicados nos fins de semana no Portal ES360, encontram-se em http://evandromilet.com.br/

Acesse o link abaixo para entrar no meu grupo do WhatsApp onde publico meus artigos semanais e entrevistas que faço no rádio e TV, sempre na temática inovação e negócios: https://chat.whatsapp.com/HqlJjC80rJ0Bu9lmsZgw5B

Sugestão: Se estiver procurando alguém para implementar uma solução de IA com agentes veja a Aumo | Transformamos dados em soluções de IA avançadas

Deixe um comentário