Future Digital Health International Congress: acomodem-se em seus lugares, o Show vai começar


FDHIC 2025 – IAs invadem a Saúde.

Guilherme Hummel – Coordenador Científico da Hospitalar Hub – 12 de maio, 2025

“Até 2030, médicos serão os escribas-copistas da primeira metade do século XV ou os tipógrafos gutenberguianos da segunda metade; tudo dependerá da incorporação de IA à sua prática clínica. No mesmo ano, hospitais, laboratórios, clínicas, seguradoras, operadoras, biomanufatura e o próprio Estado, assim como toda e qualquer organização clínico-assistencial, pública ou privada, estarão utilizando modelos multimodais de interpretação de dados. Dado passa a ser tudo aquilo que deixa ‘rastro inteligível em silício’, não importando se é texto, imagem, vídeo, som, ou o sopro eletroquímico de um neurônio”.

O parágrafo acima poderia ter sido escrito por Johannes Gutenberg (1400–1468), se hoje vivo estivesse. Ele causou o maior giro clero-cêntrico da história da civilização. Seu ‘sistema mecânico de impressão por tipos móveis’ — considerado o invento mais importante do segundo milênio — produziu, entre outras disrupções, a maior reviravolta socioeducacional da humanidade. Seus ‘tipos móveis’ inauguraram a era da alfabetização. Não haveria Renascença, Reforma Protestante, Iluminismo ou Revolução Científica sem esse senhor. Talvez não houvesse nem Inteligência Artificial (IA) sem a sua invenção.

Seu primeiro livro impresso, a Bíblia de 42 Linhas (Gutenberg Bible), apareceu em 1455, com tiragem estimada em 180 exemplares. Gutenberg imprimiu cada página repetidamente (trocando os tipos) e assim construiu um monumento bíblico que chegou ao clero local, em Mainz, causando um misto de perplexidade, medo e júbilo. O que se seguiu foi a rápida expansão do ‘sistema de tipos móveis’ por toda a Europa. As tecnologias sempre transformam o mundo em maior ou menor velocidade. A “bússola magnética”, por exemplo, uma tecnologia inventada pelos chineses no século XI (que reinventou a navegação), demorou mais de 300 anos para se sedimentar globalmente. A tecnologia do “moinho de vento” (século XII), por sua vez, consumiu 200 anos até sua total disseminação continental. Sem falar nos “óculos”, que apareceram em 1286, demorando 150 anos para se tornar um elemento de uso comum. Segundo historiadores de alta reputação, em 1500 já havia cerca de mil prensas tipográficas na Europa Ocidental, produzindo mais de 20 milhões de livros. Ou seja, em menos de 45 anos as tipografias de Gutenberg já haviam invadido o Ocidente de forma inequívoca.

Tecnologias têm cada vez mais pressa, como as IAs Generativas, que alcançaram o consenso global em menos de 3 anos. A comparação fenomenológica entre os ‘tipos móveis’ e as ‘IAs’ é gritante. Quando os manuscritos seculares saíram das mãos dos copistas e escribas, engolidos pela tinta dos tipos móveis, o mundo nunca mais voltou a ser o que era. Quando as IAs escaparam dos laboratórios de pesquisa e das tabelas matemáticas, ganhando vida própria, rasgaram a bula do “tudo a seu tempo” e nada mais será igual. Assim, não estamos só falando de tecnologia, mas também de temporalidade. Parece que o ‘tempo mudou de velocidade’ com os LLMs, erguendo uma nova ideia de transitoriedade que nos vincula a uma nova cronologia do cotidiano. IAs possuem uma volatilidade temporal que não só nos conduz, mas impele.

Agostinho de Hipona (354–430), depois Santo Agostinho, foi o primeiro grande pensador a tratar o tempo como um mistério interior. E o fez com uma ambiguidade profundamente existencial: “O que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quero explicá-lo a quem me pergunta, já não sei”. Ele foi o primeiro a romper com a ideia do tempo como entidade objetiva ou algo mensurável: “o tempo não é uma substância, não tem corpo e não existe objetivamente como o espaço. Ele é algo que só existe na percepção da alma humana”. Em seu Livro XI das Confissões”, ele esboça uma tese nunca revogada: “eu me estendo no passado pela memória, no presente pela atenção e no futuro pela expectativa”.

A temporalidade, com a máquina de Gutenberg e as máquinas de IA, tornou-se efêmera, transitando por nossas vidas com velocidades assimétricas e abstratas. O tempo já não é mais o “senhor da razão”, mas o “senhor da racionalização” — uma função subalterna da razão que, por ser mais dócil e rápida, usurpou o protagonismo. Até dois anos atrás, os humanos pareciam raciocinar mais devagar — ou com menos esforço. Hoje, parecem instados a pegar “carona” na velocidade das IAs. Se isso é bom ou ruim, só os anos dirão. O que se percebe é que essa mesma ‘abstração temporal’ já ocorria no século XV, quando a ‘prensa de tipos móveis’ vergou o sentido do tempo (“deixou de ser um rio — contínuo e previsível — e passou a ser um relâmpago”).

Tom Wheeler, pesquisador da Harvard Kennedy School e autor da obra “From Gutenberg to Google and On to AI” (2024), explica: “Gutenberg produziu o que hoje chamaríamos de tecnologia de código aberto — ou seja, um design replicável e aprimorável por outros. Graças à sua capacidade de replicação, meio século após a primeira prensa, todas as grandes cidades europeias já tinham suas próprias gráficas. Resultado: mais livros foram impressos naquele período do que a soma da produção de escribas nos mil anos anteriores”.

No ecossistema de Saúde, o tempo não apenas passou a “voar”, mas vai arrastar consigo uma colossal fúria transformadora. Isso se evidencia no Future Digital Health International Congress (FDHIC 2025), a mais importante vitrine latino-americana de “Aplicações de IA para Saúde”. Mais de 21 empresas de 11 países (EUA, Espanha, Holanda, Dinamarca, Coreia do Sul, Índia, China, Israel, Suécia, Canadá e Argentina) apresentarão suas ‘Health AI Apps’ em uma das maiores mostras mundiais de IA na Saúde. O FDHIC ocorre simultaneamente à Feira HOSPITALAR (São Paulo Expo) dos dias 21 a 23 de maio, com 30 sessões voltadas a mostrar soluções internacionais de“AI Health App” (algumas apresentações virtuais). 

Além disso, seus 9 debates, com 31 lideranças nacionais, abordam temas provocativos sobre a inserção das Inteligências Artificiais nas Cadeias de Saúde. Ao todo, mais de 60 keynotes, conferencistas e debatedores apresentarão 25 horas corridas de conteúdo prático, revelador e exclusivo — sem qualquer transmissão ou reprodução digital, seja durante ou após o congresso.

O tema do FDHIC 2025, “Showtime: Revelando 21 IAs Globais para Saúde 5.0”, realça a importância deste momento no bioma saúde, quando os sistemas de saúde do Ocidente tropeçam em insuficiências estruturais, alta de custeio, filas crescentes nos processos terapêuticos e cirúrgicos, atrasos na predição de doenças crônicas, oncológicas e mentais — sem falar nos surtos epidêmicos que acossam todos os países.

Mudar o mundo da Saúde em menos de cinco anos exige envergadura e destreza. Poucos conseguiram promover uma transformação digital efetiva, alguns se atrasaram e a grande maioria não tem a menor ideia do que fazer. “Showtime” significa: vejam como o mundo está usando as IAs na Saúde — antes que seja tarde demais. Significa também que o tempo para perguntar “o que é?” foi curto — e já passou. A pergunta agora é: “como utilizo?”. Como minha organização pode tirar proveito desse espantoso salto de produtividade sem comprometer a bioética e as regras de privacidade? O FDHIC 2025 se esforça nessa direção: avaliar como o resto do mundo está usando as IAs na Saúde (todas as marcas presentes no evento já somam mais de 100 milhões de usuários).

É importante, para quem estiver na audiência, deixar as ideologias tecnológicas em casa e assistir a um desfile de máquinas cognitivas artificiais que estão mudando a prática médica. Se sua empresa, instituição ou órgão público ainda acha que os LLMs são só um hype, nem chegue perto do FDHIC 2025. O que vai acontecer lá dentro é impróprio para refratários do futuro ou evangelistas da procrastinação.

Nem a prensa de tipos móveis de Gutenberg, tampouco as inteligências artificiais notáveis escapam à resistência. No século XV, das pessoas mais comuns às mais ilustradas, temia-se o abalo que a edição gráfica prenunciava. Os críticos bradavam que a publicação maciça de livros desafiava o controle dos manuscritos das autoridades religiosas e seculares. Refratários reuniam-se em assembleias ruidosas, vociferando que monges e escribas poderiam desaparecer, além de ameaçar o monopólio cultural da elite letrada.

“Precisamos erradicar a impressão, ou a impressão nos erradicará”, alertou o famoso Vigário de Croydon. Não estava só: em 1515, o papa Leão X, incapaz de conter a tecnologia já disseminada, concentrou-se no fluxo das ideias e proibiu a publicação de qualquer livro sem aval eclesiástico. Antes, em 1476, escribas enfurecidos em Paris destruíram várias prensas — inclusive as do teólogo Johann Heynlin, introdutor da tipografia na França. Heréticos do ofício temiam que a nova tecnologia colocasse em risco seu sustento e status; mesmo a fidalguia mais instruída receava que os gutenberguianos minassem o seu papel de guardiã do conhecimento e da cultura. Não será diferente, neste século, com as IAs.

Gutenberg estará presente em espírito no FDHIC 2025, impelindo e encorajando os participantes do evento a mudarem o mundo, como ele fez. Lembrá-lo aqui, 575 anos após o lançamento de seu invento e às vésperas do maior evento de IA do setor nacional de Saúde, é uma poderosa forma de recordar que transformação — do latim (trans + formare = “além da forma”) — não se resume à mera realocação de projetos ou ideias; trata-se, acima de tudo, de impulsão contínua. Gutenberg impulsionou; nós continuamos.

Guilherme S. Hummel
Scientific Coordinator Hospitalar Hub
Head Mentor – EMI (eHealth Mentor Institute)
Curador FDHIC

Future Digital Health International Congress: acomodem-se em seus lugares, o Show vai começar – Saúde Business

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