Matemática: a poderosa linguagem invisível


Disciplina sustenta decisões, sistemas e o progresso. Quando falhamos em ensiná-la, condenamos gerações à vulnerabilidade

Por Ana Maria Diniz – Valor – 31/03/2025

Fundadora do Instituto Península, que atua na formação de professores, é empresária e conselheira do Todos pela Educação e Parceiros pela Educação

O Brasil está em uma encruzilhada educacional, e a matemática está no epicentro desse dilema. Em um mundo movido por tecnologia, dados e inovação, nossa incapacidade de ensinar essa disciplina de forma eficaz não é apenas uma questão pedagógica, mas de sobrevivência nacional. Dados alarmantes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que apenas 15% dos alunos do 9º ano atingem o nível adequado de aprendizagem em matemática, enquanto o Pisa revela que 70% dos estudantes de 15 anos não dominam nem mesmo o básico. No último Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (TIMSS), de 2023, o Brasil ficou nas últimas posições em desempenho matemático entre 72 países do 8º ano. Esses números não são apenas estatísticas, são um grito de alerta sobre o futuro do país.

Na era dos algoritmos e das inteligências artificiais que avançam de forma acelerada e admirável em que vivemos, quem não tem raciocínio lógico e não sabe matemática vai ficar completamente fora do jogo. A matemática já determina grande parte do que acontece ao nosso redor e, muito em breve, impactará absolutamente tudo. Inevitavelmente, o mundo para o qual caminhamos, seja ele qual for, terá matemática em toda a parte. Matemática já é poder – e será cada vez mais. O raciocínio lógico promovido pela matemática determina não só quem tem acesso ao ensino superior de maior qualidade, melhores carreiras e salários. No plano coletivo, ela é decisiva para o futuro de uma sociedade e de um país. Como diversos estudos revelaram, o desenvolvimento de uma nação está diretamente ligado à participação que a matemática tem em sua economia.

Felizmente, há sinais de mudança. Em 17 de março de 2025, o Ministério da Educação (MEC) abriu uma consulta pública a professores do ensino fundamental e médio para mapear boas práticas no ensino de matemática. A iniciativa faz parte do Compromisso Nacional Toda Matemática, lançado no ano passado para tentar reverter o desempenho pífio dos nossos estudantes na matéria, um dos piores do mundo. O programa, nos mesmos moldes do Compromisso Nacional pela Alfabetização, de 2023, aposta em metas claras, disseminação de metodologias e valorização de resultados. Entre as ações já realizadas pelo MEC estão o lançamento de um guia de boas práticas para o ensino da matemática e a criação do Clube de Letramento Matemático, que incentiva ações interdisciplinares para tornar a disciplina mais acessível e envolvente.

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Exemplos inspiradores começam a surgir. Em parceria com o Itaú Social, um edital de outubro de 2024 premiou 18 projetos inovadores de professores de matemática do fundamental 2. Entre os vencedores, anunciados em janeiro, estão Marcia Viana, de Petrópolis, no Rio de Janeiro, que ensina geometria por meio da dança, e Antônio de Souza Silva, de Bacabal, no Maranhão, que usa robótica com materiais reciclados para conectar matemática e sustentabilidade. Cada projeto recebeu até R$ 80 mil para ser ampliado, provando que criatividade e vontade podem transformar a sala de aula. Além disso, uma rede com 1.400 professores será criada para trocar experiências. São passos na direção certa, mas ainda incipientes na resolução de um problema tão complexo.

Mas para complicar ainda mais as coisas, há um agravante: a ansiedade matemática. Segundo o Pisa 2023, 79,5% dos estudantes brasileiros de 15 e 16 anos sentem medo de suas notas na disciplina e 62,3% se sentem desamparados ao enfrentar problemas matemáticos. Todo esse pavor é cultivado por um sistema de ensino que trata a matemática como um “bicho de sete cabeças” e a um suposto “dom” ou “talento natural” para lidar com números. Isso é apenas um grande tabu, porque qualquer pessoa pode aprender matemática. Professores mal preparados, além de métodos e currículos desatualizados, são o cerne da questão.

Essa cultura de exclusão educacional nos mantém como meros espectadores da revolução global. O Compromisso Nacional Toda Matemática é um começo, mas, precisa ir além. A começar pela formação de professores. Segundo estimativas, há uma lacuna de 120 mil professores de matemática com formação adequada no Brasil.

A matemática é a linguagem invisível que sustenta decisões, sistemas e o progresso. Quando falhamos em ensiná-la, condenamos gerações à vulnerabilidade.

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