‘A China não está recuando em transição energética. Pelo contrário, está acelerando’, afirma presidente da Vale


Para Gustavo Pimenta, com o país asiático mantendo foco em redução de emissões, apesar da pressão dos EUA na direção contrária, cresce oportunidade à produção da Vale e aos minerais raros do Brasil na descarbonização global

Por Marcelo Ninio – O Globo – 24/03/2025 

Gustavo Pimenta assumiu o cargo de CEO da Vale em outubro e, no mês seguinte, já estava visitando a China, responsável por 60% das receitas da mineradora. “É um mercado que a gente acompanha de perto”, diz Pimenta ao GLOBO, em Pequim. Em sua segunda visita ao país, ele sente uma mudança positiva na economia, com avanços em infraestrutura e manufatura.

No atual cenário de guerra comercial e pressão vinda dos EUA para que esforços em descarbonização sejam deixados de lado, ele afirma que governo e empresas chinesas mantêm o foco em reduzir emissões, o que gera oportunidade para o Brasil usar sua oferta de minerais raros para ser protagonista na transição energética global.

Como enxerga o estado atual da economia chinesa?

Quando estive aqui em novembro, saí com uma sensação de que havia coisas a fazer e que a economia ainda estava com uma série de desafios. Desta vez, o tom mudou bastante. Estou aqui há uma semana, estive com clientes e ministros em Xangai e Pequim, falei com muita gente. O tom mudou nesses seis meses. A sensação é que as ações do governo estão sendo muito mais concretas, os clientes comentam que têm percebido demanda sólida.

Demorou um certo tempo, mas a gente percebe que o tom mudou e a atividade econômica tem reagido. Muito estímulo ao consumo. A China passa por uma grande mudança em seu modelo, entre o que foi no passado, baseado num mercado de propriedades, e agora, mais focado em consumo e manufatura. No geral, a gente percebe um momento econômico bem mais positivo.

Na demanda de minério de ferro na China, a crise do setor imobiliário é compensada pelo investimento em infraestrutura?

A grande medida é a produção anual de aço. Houve redução da dependência do mercado imobiliário, que era 40% do mercado do minério de ferro. Caiu para 30%. A parte de infraestrutura continuou forte e a manufatura acelerou bastante, com linha branca, veículos e a nova economia, descarbonização, painel solar, energia eólica. Tudo isso também chama muito minério. A gente percebe uma mudança no mix, mas a produção de aço se manteve acima de um bilhão de toneladas.

A gente continuou tendo um mercado sólido, aqui. Foi uma mudança impressionante, porque eles conseguiram fazer esse ajuste de forma relativamente rápida, mas continuam sendo setores que demandam minério no longo prazo, porque precisam de aço. A gente ainda é muito construtivo no médio e longo prazos.

Essa tese de descarbonização é intensiva. Uma casa na China, construída nos últimos anos, tem uma penetração de aço de 1%. Nas economias desenvolvidas é de 6%. Se você pensar, a oportunidade, a penetração de aço oferece demanda adicional. No curto prazo, a manufatura segurou a produção de aço, o que acabou mantendo a demanda pelos nossos produtos.

A mudança para a manufatura foi sobretudo para exportação?

Teve muita exportação, e aí entra uma questão geopolítica, que tem um recorte na equação: carros elétricos no Brasil, muita linha branca para o Sudeste asiático. Tem uma agenda muito acelerada de descarbonização. Essa é uma questão que eu vi, toda essa discussão sobre recuo na descarbonização que tem sido mundial, aqui continua focado nisso. E é focado em aço e minério de ferro.

Como políticas de Donald Trump afetam os negócios da Vale?

Guerras tarifárias nunca são boas porque acabam gerando um potencial arrefecimento do PIB mundial, e isso é ruim para a demanda por minério de ferro. Haverá uma acomodação nesses debates porque vai impactar a atividade econômica e vai haver reação de acomodação entre as nações.

Uma variável relevante é entender como a China estava reagindo a algumas questões macro, como a descarbonização. Porque isso tem efeito importante na cadeia do aço, em posicionamento de produtos de baixo carbono. Essa cadeia contribui com as emissões numa escala relevante, 8%. Estou saindo com uma visão muito confortável de que a China não está recuando em nada nessa agenda de transição energética, descarbonização. Pelo contrário, estão acelerando. Meus clientes falam disso como prioridade deles e do governo.

Para a Vale é favorável porque nossa tese é descarbonização e nossos produtos se beneficiam disso. Estamos focando muito em minerais críticos. O aço vai continuar sendo produzido e precisamos encontrar rotas que não utilizam o carvão. Nas rotas mais limpas é preciso minério de mais alto teor. E a Vale é o ofertante de maior qualidade do mundo. Estamos investindo em níquel, já somos os maiores produtores do mundo ocidental.

Na China, o foco do governo é em inovação, até na indústria extrativista. O que a Vale tem a oferecer nessa área?

Quando se olha as nossas operações e a mineração do futuro, que vai ser 100% automatizada, a inovação vai ser fundamental. A tecnologia hoje está incorporada ao negócio da companhia. Circularidade é uma grande temática. Estamos caminhando para que 10% de nossa produção em 2030 sejam de minérios que temos em barragens.

A outra ponta é a inovação em produtos, como criar um minério de ferro que, quando usado na produção de aço, reduz a pegada de carbono, é muito estratégico. Depois de décadas de estudo, lançamos um produto chamado briquete verde, que potencialmente é uma revolução na indústria, substitui a pelota. Quando colocado no forno, ele reduz a geração de CO2. Temos 172 navios fazendo Brasil-mundo, China, Europa. E uma tecnologia chamada rotor sail, que aproveita a força dos ventos e reduz em 7% as emissões.

Não é nada que vai mudar o negócio da noite para o dia, mas são incrementos em tecnologia que vão melhorando a operação, reduzindo o risco, as emissões. Há muitas oportunidades, inclusive parcerias com empresas chinesas.

Como aproveitar o bom momento das relações Brasil-China para obter ganhos em transferência de tecnologia?

A questão dos minerais críticos se tornou relevante na discussão geopolítica mundial. E o Brasil talvez seja a maior potência em minerais críticos do mundo. Minério de ferro, cobre, terras raras. O petróleo do próximo século vão ser os minerais raros. Há aqui uma enorme pauta porque a China é grande demandante de minerais críticos para suas indústrias. Ao mesmo tempo, tem uma série de tecnologias que a gente pode aplicar até para trazer esses minerais ao mercado de forma mais rápida.

Como estão as relações da Vale com o governo chinês?

A relação é ótima. Nas reuniões que tive, com os ministérios do Comércio e da Inovação, a mensagem foi muito positiva, com esse alinhamento do Sul Global, do Brics. Existe um alinhamento estratégico de países buscando acelerar seu desenvolvimento econômico, uma relação de amizade, de parceria, tentando se ajudar e se complementar.

E com o governo brasileiro?

A relação está boa, nós somos um dos maiores investidores do Brasil e vamos continuar sendo. Acho que o que a gente quer fazer como companhia está muito alinhado com o que o governo brasileiro quer, investir, gerar emprego, renda, royalties.

‘A China não está recuando em transição energética. Pelo contrário, está acelerando’, afirma presidente da Vale

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