Semicondutores chineses se tornam peça-chave na indústria do Brasil


Componentes eletroeletrônicos lideram a pauta de importados e são vitais para competitividade das empresas

Por Carlos Vasconcelos, Para o Valor — 29/11/2024

A estratégia chinesa para ocupar terreno no comércio global foi extremamente bem executada, ao longo das últimas décadas. Os chineses se tornaram parte fundamental da cadeia de suprimentos de tecnologia no mundo – e no Brasil. Nos quatro primeiros meses deste ano, foram importados US$ 18,8 bilhões da China. No topo da lista de compras estão válvulas e tubos termiônicos – peças seladas a vácuo e com componentes eletrônicos variados em seu interior, usadas em diversos segmentos da indústria –, que somaram US$ 1,7 bilhão. Em segundo lugar, outro item de alta tecnologia: equipamentos de telecomunicações, que somaram US$ 1,04 bilhão de janeiro a abril. Os dois itens líderes corresponderam a 14% do total.

O exemplo mostra que os brasileiros não gostam de comprar apenas roupas baratinhas da China. O país supria 19,2% das importações de bens duráveis do Brasil no primeiro semestre de 2022. Essa parcela disparou para 51% no primeiro semestre deste ano, segundo análise do FGV/Ibre.

Negociar com a China tem algumas complexidades a mais, em comparação com compras no Ocidente. Por isso, as empresas importadoras tratam como tema estratégico a forte presença do país asiático na cadeia de suprimentos. Bruno Machado Teixeira, gerente de relações com investidores da Intelbras, mantém-se atento à presença crescente da China nas linhas de negócio da empresa. “Uma parcela relevante do nosso custo vem da importação de componentes eletrônicos de diversos países, e a China representa cerca de 60% desse total”, afirma.

Teixeira destaca a importância da integração na cadeia de suprimentos na China, para manter a competitividade da Intelbras. A empresa mantém um escritório em Shenzhen desde 2005, para estreitar o relacionamento com parceiros estratégicos chineses.

Segundo Teixeira, a companhia desenvolveu com o tempo um processo minucioso para selecionar fornecedores. “Para começar, fazemos auditorias e homologações de qualidade. Ao longo do processo de fornecimento, realizamos inspeções em cada lote preparado, além de auditorias adicionais para monitorar continuamente os processos dos fornecedores”, diz.

A presença chinesa no mercado brasileiro também é forte no segmento de infraestrutura para redes de telecomunicação. “As principais operadoras de telefonia usam equipamento da Huawei. Hoje, nossos equipamentos servem a 95% da população brasileira”, diz Atilio Rulli, vice-presidente de relações públicas da Huawei América Latina e Caribe.

Rulli observa que o 5G já alcança 538 municípios brasileiros, com 25 milhões de acessos – e enxerga o potencial para expansão. “Apesar de esse número ser muito positivo, cerca de cinco mil municípios precisam de infraestrutura 5G”, diz. Ou seja, mais negócios para a Huawei.

Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, associação que reúne empresas de telecomunicações e conectividade no Brasil, mostra-se impressionado com a competência chinesa ao longo dos anos para conquistar espaço num mercado extremamente competitivo e sofisticado. “É um mercado muito consolidado, que dificulta a chegada de novos players ou a substituição das importações”, diz. Mas a concorrência agressiva dos players é positiva para os compradores. “O preço da conexão por Gigabyte caiu 80% em menos de dez anos e isso tem um forte impacto na competitividade da economia.”

Bruno Russo, sócio-fundador da plataforma de trading Timbro, vê grande potencial de crescimento das importações da China também no segmento de bens de capital. “Há um movimento de modernização do parque industrial brasileiro e a China já responde por 60% dessas vendas”, diz.

As importações da China também são decisivas para as empresas da Zona Franca de Manaus, explica Augusto Cesar Rocha, coordenador da Comissão de Logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas. A demanda gerada pelas indústrias instaladas no polo torna o Amazonas a terceira principal porta de entrada das importações chinesas no país, atrás apenas de São Paulo e Santa Catarina. Em 2023, o Estado recebeu US$ 3,5 bilhões em produtos chineses, especialmente eletroeletrônicos.

Como não há tensão geopolítica entre Brasil e China, as empresas brasileiras podem se concentrar em questões de gestão, como qualidade, preços, prazos e bom relacionamento com os fornecedores. Nos Estados Unidos e na Europa, grandes empresas de tecnologia da informação se empenharam, nos últimos anos, em depender menos da China, deslocando suas cadeias de suprimentos para países como Índia e Vietnã. Conseguiram esse feito, em parte, mas com custo. A empresa americana de análise financeira S&P Global alertou em setembro que haverá dificuldades crescentes, com perda de eficiência e de capital, para as companhias que insistirem em se afastar da China.

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