Sam Altman teve reuniões de alto escalão com governos, empresas de EUA, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Japão e Alemanha em busca de ‘trilhões de dólares’ para chips e data centers de IA
Por O Globo/The New York Times — 26/09/2024
No fim do ano passado, Sam Altman, CEO da OpenAI, começou a apresentar um plano audacioso: ele quer criar o poder computacional necessário para sua empresa desenvolver uma inteligência artificial mais poderosa.
Em reuniões com investidores nos Emirados Árabes Unidos, fabricantes de chips de computador na Ásia e autoridades em Washington, ele propôs que todos se unissem em um esforço multitrilionário para construir novas fábricas de semicondutores e novos data centers ao redor do mundo, incluindo o Oriente Médio.
Embora alguns participantes e reguladores tenham hesitado em relação a partes do plano, as conversas continuaram e se expandiram para a Europa e o Canadá. O executivo, de 39 anos, esteve em reuniões de alto escalão com governos, empresários e investidores em diversas partes do mundo em busca dos trilhões e dólares que julgava necessário para a sua empreitada.
O plano da OpenAI para o futuro da tecnologia mundial, descrito ao The New York Times por nove pessoas próximas às discussões da empresa, criaria inúmeros centros de dados, fornecendo um reservatório global de poder computacional dedicado ao desenvolvimento da próxima geração de IA.
No início deste mês, Altman, e o CEO da Nvidia, Jensen Huang, estiveram com altos funcionários do governo e outros líderes do setor na Casa Branca para discutir como suprir as enormes necessidades de infraestrutura para projetos de inteligência artificial.
Por mais improvável que pudesse parecer, a campanha de Altman mostrou como, em apenas alguns anos, ele se tornou um dos executivos de tecnologia mais influentes do mundo, capaz, em poucas semanas, de conseguir uma audiência com investidores do Oriente Médio, gigantes industriais da Ásia e os principais reguladores dos Estados Unidos.
Comparações com a Revolução Industrial
Também foi uma demonstração da determinação da indústria de tecnologia em acelerar o desenvolvimento de uma tecnologia que, segundo seus defensores, pode ser tão transformadora quanto a Revolução Industrial.
Quando vazou a informação de que Altman, de 39 anos, estava em busca de trilhões de dólares, ele foi ridicularizado por tentar captar investimentos equivalentes a cerca de um quarto do PIB anual dos Estados Unidos.
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Autoridades em Washington também expressaram preocupações de que uma empresa americana estivesse tentando construir tecnologia vital no Oriente Médio. Para construir infraestrutura de IA em vários países, empresas dos EUA precisariam da aprovação de autoridades que supervisionam os controles de exportação.
Desde então, Altman reduziu sua ambição para centenas de bilhões de dólares, disseram as nove pessoas que o NYT entrevistou, e elaborou uma nova estratégia: conquistar as autoridades do governo dos EUA, ajudando primeiro a construir data centers nos Estados Unidos.
Ainda não está claro como tudo isso funcionaria. A OpenAI tentou montar uma federação informal de empresas, incluindo construtoras de data centers como a Microsoft, além de investidores e fabricantes de chips. Mas os detalhes de quem pagaria o investimento, quem o receberia e o que exatamente seria construído permanecem vagos.
Custos bem acima das receitas
Ao mesmo tempo, a OpenAI tem mantido conversas separadas para levantar US$ 6,5 bilhões para apoiar seu próprio negócio, um acordo que avaliaria a startup em US$ 150 bilhões. A firma de investimentos em tecnologia dos Emirados Árabes Unidos MGX está entre o grupo de potenciais investidores, que também inclui Microsoft, Nvidia, Apple e Tiger Global, segundo três pessoas familiarizadas com as conversas.
A OpenAI está buscando dinheiro porque seus custos superam em muito suas receitas, disseram as fontes. A empresa arrecada mais de US$ 3 bilhões em vendas anualmente, enquanto gasta cerca de US$ 7 bilhões.
Alguns dos planos da OpenAI já haviam sido relatados pela Bloomberg, The Wall Street Journal e Reuters. Mas os relatos obtidos pelo NYT com nove pessoas próximas às negociações, que pediram para manter o anonimato, oferecem uma visão mais ampla dos esforços e de como a estratégia evoluiu.
Em conversas privadas, Altman comparou os data centers do mundo com a eletricidade, de acordo com três pessoas próximas às discussões. À medida que a eletricidade se tornou mais acessível, as pessoas encontraram maneiras melhores de usá-la. Altman esperava fazer o mesmo: permitir que as ferramentas de inteligência artificial fluíssem como eletricidade.
Mais computação, mais conectividade, mais energia
Chatbots como o ChatGPT, da OpenAI, aprendem suas habilidades analisando enormes quantidades de dados digitais. No entanto, há uma escassez de chips e datas centers para impulsionar esse processo. Se essa oferta aumentar, a OpenAI acredita que poderá construir sistemas de IA mais poderosos.
Em dezenas de reuniões, executivos da OpenAI incentivaram empresas de tecnologia e investidores a expandir a capacidade de computação global, disseram as nove pessoas próximas às discussões da empresa.
— Sam está pensando em como a OpenAI pode permanecer relevante — disse Daniel Newman, CEO do Futurum Group, uma empresa de pesquisa de tecnologia. —Ela precisa de mais capacidade de computação, mais conectividade, mais energia.
O plano original de Altman previa que os Emirados Árabes Unidos financiassem a construção de várias fábricas de chips, que podem custar até US$ 43 bilhões cada. O plano reduziria os custos de fabricação de chips para empresas como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), a maior produtora de chips do mundo.
A TSMC fabrica semicondutores para a Nvidia, a principal desenvolvedora de chips de IA. O plano permitiria à Nvidia produzir mais chips, e a OpenAI e outras empresas usariam esses chips em mais data centers de IA.
Altman e seus colegas discutiram a construção dos data centers nos Emirados Árabes Unidos, uma nação com excesso de energia elétrica. Nos Estados Unidos, tem sido difícil para as empresas construírem novos centros de dados devido à falta de energia elétrica suficiente para operá-los.
A OpenAI discutiu o financiamento do plano de infraestrutura com a MGX, um veículo de investimento focado em IA criado pelos Emirados Árabes Unidos. A empresa também se reuniu com a TSMC, Nvidia e outra empresa de chips, a Samsung.
Omar Sultan Al Olama, ministro de Estado para IA dos Emirados Árabes Unidos, disse ao NYT, em uma entrevista em março, que “há um argumento de negócios” para perseguir um acordo tão gigantesco.
Procurada pelo NYT, a Nvidia se recusou a comentar. A MGX e a Samsung não responderam aos pedidos de comentário.
A OpenAI disse em um comunicado que estava focada na construção de infraestrutura nos Estados Unidos “com o objetivo de garantir que os EUA permaneçam líderes globais em inovação, impulsionando a reindustrialização em todo o país e garantindo que os benefícios da IA sejam amplamente acessíveis”.
US$ 7 trilhões para 36 fábricas de semicondutores e data centers
Will Moss, porta-voz da TSMC, disse que a empresa estava aberta a discussões sobre a expansão do desenvolvimento de semicondutores, mas estava concentrada em seus atuais projetos de expansão global e “não tinha novos planos de investimento a divulgar no momento.”
- Previsão otimista: Mercado de inteligência artificial vai atingir quase US$ 1 trilhão até 2027
Quando Altman visitou a sede da TSMC em Taiwan logo após iniciar seu esforço de captação de recursos, ele disse aos executivos que seriam necessários US$ 7 trilhões e muitos anos para construir 36 fábricas de semicondutores e centros de dados adicionais para realizar sua visão, segundo duas pessoas informadas sobre a conversa. Foi sua primeira visita a uma das fábricas multibilionárias.
Os executivos da TSMC acharam a ideia tão absurda que começaram a chamar Altman de “bro de podcast”, num alusão ao que seriam promessas vazias do CEO da OpenAI, disse uma dessas pessoas. Adicionar apenas algumas fábricas de chips, muito menos 36, era incrivelmente arriscado devido ao valor envolvido.
— Não estamos, nem nunca estivemos, considerando projetos de vários trilhões de dólares. Embora o investimento total necessário para que a infraestrutura global de IA seja totalmente construída por todos possa custar trilhões ao longo de várias décadas, o que a OpenAI está explorando especificamente é na escala de centenas de bilhões — disse Liz Bourgeois, porta-voz da OpenAI.
Na mesma época, Altman visitou a Coreia do Sul e manteve conversas com duas fabricantes de chips no país: Samsung e SK Hynix. No entanto, ele logo se deparou com preocupações de segurança nacional sobre o papel proeminente dos Emirados Árabes Unidos no desenvolvimento de uma tecnologia que muitos consideram crítica para a economia e a guerra.
Temor na Casa Branca com influência da China
Alguns funcionários da Casa Branca e líderes do Congresso temem que aprovar a construção da infraestrutura nos Emirados Árabes Unidos possa dar à China uma porta de entrada para tecnologias importantes.
Pesquisadores de segurança nacional encontraram evidências de que algumas universidades dos Emirados Árabes Unidos colaboraram com universidades chinesas com ligações com Pequim, disse Sihao Huang, especialista em tecnologia da RAND Corp.
As conversas com o Departamento de Comércio, os Emirados Árabes Unidos e as fabricantes de chips continuam. A OpenAI também expandiu suas discussões para outras partes do mundo, segundo quatro pessoas familiarizadas com essas negociações.
Nos últimos meses, executivos da empresa realizaram reuniões com autoridades japonesas em Tóquio. Eles apresentaram um plano para construir centros de dados alimentados por eletricidade de usinas nucleares desativadas após o desastre de Fukushima em 2011.
Durante uma reunião, um funcionário japonês riu quando a OpenAI disse que estava buscando cinco gigawatts de energia elétrica, cerca de mil vezes a energia que um centro de dados comum consome, disse uma pessoa familiarizada com a reunião.
‘Infraestrutura é Destino’
Mais tarde, em reuniões com autoridades na Alemanha, a OpenAI explorou a possibilidade de construir um centro de dados no Mar do Norte para aproveitar sete gigawatts de energia das turbinas eólicas offshore, disse a pessoa.
No entanto, pressões políticas forçaram a OpenAI a explorar opções nos Estados Unidos. Durante uma reunião na Casa Branca com outros líderes de tecnologia neste mês, Altman apresentou um estudo da OpenAI chamado “Infraestrutura é Destino”.
O estudo pedia novos centros de dados nos Estados Unidos, disseram duas pessoas familiarizadas com a reunião. Construídos a um custo de US$ 100 bilhões cada — cerca de 20 vezes o custo dos centros de dados mais poderosos da atualidade —, eles abrigariam dois milhões de chips de IA e consumiriam cinco gigawatts de eletricidade.
Promessa de 500 mil empregos
Enquanto falava, Altman sentou-se em frente a um retrato do presidente Franklin D. Roosevelt, que despejou dinheiro em projetos de infraestrutura maciços, como o Lincoln Tunnel de Nova York, disseram fontes. O chefe da OpenAI disse aos funcionários da Casa Branca — incluindo a secretária de Comércio, Gina Raimondo, e o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan — que os centros de dados de IA seriam um catalisador para a reindustrialização dos Estados Unidos, criando até 500 mil empregos.
Altman também alertou que os Estados Unidos corriam o risco de ficar atrás da China e que, se os EUA não colaborassem com os Emirados Árabes Unidos, a China o faria.
Nesta semana, o presidente Joe Biden e o xeque Mohammed bin Zayed, presidente dos Emirados Árabes Unidos, se encontraram na Casa Branca e instruíram seus altos funcionários a desenvolver um memorando detalhando a futura colaboração em IA.
Advogado de Clinton como vice-presidente de política global
Para reforçar seus esforços, a OpenAI contratou Chris Lehane, advogado da Casa Branca de Clinton, como vice-presidente de política global, junto com duas pessoas do Departamento de Comércio que trabalharam na Lei Chips, uma lei bipartidária destinada a aumentar a fabricação doméstica de chips. Um deles administrará futuros projetos de infraestrutura e política.
Falando na semana passada em um evento para investidores da T-Mobile, que é cliente da OpenAI, Altman adotou um tom mais modesto em relação às ambições da empresa.
— Estamos construindo sobre uma enorme quantidade de trabalho que veio antes de nós — disse ele. — Se você pensar em tudo o que teve que acontecer ao longo da história humana para descobrir semicondutores, construir chips, redes e esses enormes centros de dados, estamos apenas fazendo nossa pequena parte no topo disso.
O ambicioso plano da OpenAI para fazer a inteligência artificial fluir como energia (globo.com)
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