Estima-se que 10% a 15% dos funcionários de empresas de tecnologia estejam entre os 360 mil reservistas convocados para o conflito, o que representa uma desestabilização no mercado de uma hora para outra
Por Ivan Levingston, Financial Times/Valor — 13/10/2023
O CEO da startup de softwares Venn, Or Bokobza, mal conseguiu falar com os colegas de trabalho na última semana.
Como reservista de uma unidade de combate de elite das Forças Armadas israelenses, ele está na frente de batalha praticamente desde que o grupo terrorista Hamas lançou um ataque surpresa contra Israel no sábado.
“Estou fora, concentrado no que agora é o mais importante, que é a segurança de nosso país”, disse ao “Financial Times” em rápida ligação. “[Os colegas] ficam me dizendo: ‘Não se preocupe [com a empresa]”.
Bokobza, ao lado de cerca de 10 dos 90 funcionários da empresa, está entre os milhares de trabalhadores do setor de alta tecnologia israelense convocados na mobilização em massa do país para a guerra.
Fundadores e investidores de tecnologia israelenses estimam que entre 10% e 15% de suas equipes estão entre os 360 mil reservistas convocados, o que, para empresas relativamente pequenas, representa uma grande desestabilização de uma hora para outra.
Enquanto Israel se prepara para uma possível ofensiva terrestre em Gaza, a autodenominada “nação das Startups” se depara com o que será um teste sem precedentes.
Uma guerra muito longa pode afetar o próspero setor de tecnologia do país, um dos principais propulsores de sua economia, fonte de cerca de 15% de todos os empregos, de acordo com a agência de inovação de Israel. Essa força de trabalho está distribuída em centenas de startups e em importantes filiais de multinacionais como Intel e Microsoft.
Israel também atrai um alto volume de investimento em tecnologia do exterior. Em 2023, o país levantou um total de US$ 5,5 bilhões em capital de risco, em 320 contratos de investimento, mesmo com o setor no mundo como um todo estando em desaceleração, de acordo com a empresa de análises de mercado IVC. Investidores que queiram estabilidade podem achar difícil continuar apostando no país em meio a um conflito prolongado.
“Eu presumo que se isso continuar por alguns meses, pode haver certo impacto na produtividade, basicamente por causa das regras da física; você tem menos pessoas”, disse o CEO da empresa de cibersegurança Pentera, Amitai Ratzon.
Dovi Frances, sócio-fundador da empresa de capital de risco Group 11, disse que vários dos principais executivos de empresas que fazem parte de sua carteira de investimentos estão atualmente entre os reservistas convocados. As empresas do setor já estão se adaptando, já que a perspectiva de guerra há muito tempo faz parte da vida em Israel, segundo Frances e outros executivos do setor.
O CEO da startup de cibersegurança Armis, Yevgeny Dibrov, está precisando lidar com a saída de 20 membros da equipe.
A empresa, que tem oito anos de vida e 660 funcionários, logo entrou em modo de crise. Transferiu algumas operações e colocou a equipe restante em Israel em trabalho remoto, e está oferecendo apoio psicológico aos funcionários após o ataque do Hamas.
“Somos capazes de nos ajustar a isso, essa é basicamente a realidade”, disse Dibrov.
Os funcionários “podem trabalhar na segurança de suas casas e ficar perto de abrigos e salas seguras, então sob esse ponto de vista, acredito que a covid realmente nos ajudou a nos preparar”, disse Gili Raanan, fundador empresa de capital de risco Cyberstarts.
Alguns executivos ressaltaram que muitas startups israelenses têm altos executivos e grupos de marketing e vendas trabalhando nos Estados Unidos. “As empresas sabem como dar continuidade aos negócios e sabem como trabalhar nessas situações. Essa é uma das forças”, disse Shmuel Chafets, presidente da empresa de capital de risco Target Global.
Em outros casos, as startups vêm direcionando sua competência tecnológica para o esforço de guerra, uma vez que o setor israelense de cibersegurança, entre os melhores do mundo, emergiu das Forças Armadas e do setor de inteligência de Israel.
Nadav Zafrir, ex-comandante da unidade de elite israelense “8200”, da chamada inteligência de sinais, e hoje sócio-gerente da empresa de investimento Team8, disse que sua companhia está trabalhando no uso de várias tecnologias, como ciência de dados, para apoiar o governo nos esforços para localizar reféns israelenses.
“Nosso ciclo de inovação não parou, estamos pesquisando diferentes áreas”, disse Zafrir. “Todas elas são incrivelmente relevantes para este momento.”
Empresas maiores de tecnologia também observam a situação com atenção. A Intel, uma das maiores multinacionais em Israel, com 13 mil funcionários, informou estar “monitorando de perto a situação em Israel e tomando medidas para proteger e apoiar” sua equipe.
Até quinta-feira, mais de 300 empresas de capital de risco haviam assinado uma declaração de apoio a Israel, destacando que o país “tem sido um parceiro constante para o ecossistema global de inovação, fomentando avanços tecnológicos pioneiros e a inovação das startups”. A declaração foi assinada por alguns dos maiores nomes americanos do setor, como Bessemer Venture Partners, GGV Capital e Insight Partners, muitos dos quais têm investido em empresas israelenses ao longo dos anos. Outras empresas, como Sequoia Capital e General Catalyst, também anunciaram doações.
Executivos das startups enfatizam que, independentemente do impacto em suas empresas, o esforço de guerra de Israel está em primeiro lugar. Frances, do Group 11, disse que sua empresa vem organizando doações de dinheiro, comida e equipamentos, voos para reservistas no exterior voltarem a Israel e até um envio de 50 mil sacas de café para a linha de frente.
Bokobza, da Venn, disse que tem acesso apenas esporádico a seu telefone, e que quando o verificou recentemente, tinha mais de 100 mensagens de apoio. “Minha única esperança é que nossos clientes, parceiros e clientes em todo o mundo saibam que estamos aqui para ficar”, disse. (Colaboraram Richard Waters, George Hammond e Camilla Hodgson, de San Francisco). (Tradução de Sabino Ahumada)
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/10/13/ft-nao-das-startups-vai-guerra.ghtml
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