Com carro elétrico, oficinas mecânicas estão com os dias contados?


Estudo da McKinsey & Company focado em tendências para a próxima década mostra uma aceleração no processo de digitalização desse mercado

Por Marli Olmos, Valor — 23/07/2023

Com a chegada do carro elétrico, aquele mecânico experiente, que encontra o defeito do carro só de encostar o ouvido no motor, está com os dias contados? Por um lado, sim, porque os elétricos têm muito menos peças que um carro a combustão. Por outro, o envelhecimento da enorme frota a combustão num país grande e complexo como o Brasil não pode dispensar a tradicional oficina do bairro. Ao mesmo tempo, a sofisticação dos veículos e a digitalização impõem a transformação do mercado de manutenção.

Estudo da McKinsey & Company focado em tendências para a próxima década mostra uma aceleração no processo de digitalização desse mercado. No caso do consumidor, comprar uma peça de carro pela internet não é tão simples como comprar um livro. Os marketplaces tendem a se tornar cada vez mais os canais de comercialização de acessórios ou itens de baixa complexidade técnica, como um engate, segundo Felipe Fava, sócio da McKinsey. Distribuidores e oficinas também tendem a usar, cada vez mais, os canais digitais.

Sofisticação dos novos automóveis é desafio

A sofisticação dos novos automóveis torna-se, porém, um desafio para as oficinas. “Hoje, até uma lâmpada tem eletrônica, o que, muitas vezes, exige a intervenção da montadora para o reparo”, destaca Fava. Segundo ele, existe, ao mesmo tempo, um avanço da profissionalização das novas gerações que trabalham no mercado de reposição para conseguir acompanhar, sobretudo, a diversificação dos produtos. Há hoje, no Brasil, diz, 30 marcas que oferecem 400 modelos de veículos.

Outra tendência apontada pelo estudo que ouviu executivos de montadoras, distribuidores e oficinas, é o avanço da combinação de carro com serviço. Essa é uma consequência da expansão dos serviços de compartilhamento de veículos e de carro por assinatura, por meio dos quais, o consumidor compra o uso, mas não é o proprietário do veículo. Nesse caso, o dono daquela frota compartilhada ou usada no canal por assinatura conta com uma manutenção mais estruturada, segundo Roberto Fantoni, sócio sênior da McKinsey.

Isso tende a levar à predominância de grandes grupos de comércio de peças e de serviços de manutenção, aproximando o mercado brasileiro do americano. Mas a diferença ainda é grande. Nos Estados Unidos, onde a frota de carros soma 269 milhões, existem 148 mil oficinas. No Brasil, são 116 mil oficinas para uma frota de 40 milhões, segundo o estudo da consultoria.

A eletrificação revoluciona esse mercado. O carro elétrico 100%, carregado na tomada, é bem mais simples que os veículos a combustão. Já os híbridos, além do elétrico, têm o motor a combustão.

Segundo fabricantes, a quantidade de peças num carro varia muito. Depende de como se faz a conta – por peças unitárias ou conjuntos de componentes. Seja como for, isso pode chegar entre cinco a sete vezes mais do que um elétrico. Quando a comparação é feita somente no conjunto que move o carro, a diferença é enorme. Enquanto o motor a combustão precisa de velas, válvulas, correias, pistões, virabrequim e bombas de injeção, entre outros, no 100% elétrico, o conjunto se concentra nas baterias e uma central eletrônica.

Segundo o estudo da McKinsey, o gasto com o elétrico será menor. Mas a complexidade e o tempo de serviço tendem a ser maiores. Ou seja, a oficina terá menos serviço, mas ganhará mais dinheiro em cada atendimento. “Uma coisa é trocar o filtro do óleo; outra é ter de lidar com eletrônica embarcada”, destaca Fantoni.

Se com o elétrico a transformação do mercado de reparo será gigante, o que dizer do futuro, quando os carros vão se movimentar sem a necessidade de motorista?

Futuro dos “martelinhos de ouro”

O carro autônomo vai passar por vários estágios. Cada etapa aumenta a segurança do veículo. Quanto maior índice de automação menos riscos de colisão. E quando o motorista sair de cena completamente haverá menos acidentes, pois os carros se afastarão, uns dos outros, por meio de sensores. O que será das funilarias e dos “martelinhos de ouro”?

A boa notícia, para as oficinas, é que isso tudo faz parte de um futuro muito distante. Mesmo no caso da eletrificação, o processo está acelerado na Europa, mas vai demorar no Brasil. “Estudos mostram que, em 2040, a maior parte da frota no Brasil ainda será a combustão”, destaca Fantoni.

Com a estagnação do mercado, os veículos que circulam no país estão cada vez mais velhos. Entre 2013 e 2022, a idade média dos automóveis passou de oito anos e seis meses para dez anos e nove meses, segundo o mais recente estudo do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes (Sindipeças). É a frota mais velha no país desde 2010.

Apenas 22,7% dos automóveis que rodam por ruas e estradas brasileiras têm até cinco anos, Os 77,3% restantes têm acima dessa idade, sendo que 21,1% têm 16 anos ou mais. O quadro evidencia o quanto essa frota antiga ainda vai precisar do mecânico encostando o ouvido no motor.

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