Poder de Elon Musk virou um problema para a diplomacia dos Estados Unidos


Bilionário ignora quaisquer interesses geopolíticos de Washington

Por Pedro Doria – Estadão – 24/08/2023 

Elon Musk atingiu um nível de poder, nos últimos anos, que exigiu do governo americano uma mudança de postura em relação a ele. Não se lida mais com Musk como se fosse um empresário, ou mesmo um homem muito poderoso — a relação passou a incluir diplomacia, quase como se fosse um chefe de Estado. Inclui também política e as necessárias cautelas das negociações delicadas. Musk tem um tipo de poder que jamais um bilionário do Vale do Silício teve.

As fontes do poder são três, segundo um novo perfil do fundador da Tesla assinado pelo jornalista Ronan Farrow na última edição da revista The New Yorker.

A primeira é que a Nasa depende da SpaceX para todas suas missões. A segunda é que parte essencial do plano do presidente Joe Biden para eletrificar a frota automotiva do país depende dos postos de carregamento da Tesla. A empresa está tão avançada na infraestrutura que impôs seu padrão proprietário de tomadas para carros. E a terceira razão é a Starlink, que oferece melhor do que ninguém internet via satélite portátil, ou seja, a possibilidade de alcançar locais remotos do mundo e se conectar à rede. Hoje, o exército ucraniano depende dessa conexão. E, mais de uma vez, em operações delicadas, Musk cortou o acesso.

Musk é declaradamente um libertário — Estado o menor possível, indivíduos com liberdade a maior possível para fazer o que desejarem. Embora libertário, ele se derrama em incoerências. Os negócios que lhe garantem o posto de homem mais rico do mundo foram erguidos na base de subsídios públicos e contratos gordos, ora, com o Estado. Sem incentivos californianos, a Tesla não seria o que é. Sem o dinheiro adiantado da Nasa, não seria hoje proprietário da melhor tecnologia de foguetes que há, e tampouco teria a rede privada de acesso à internet por satélites que tem.

O maior problema de Musk, para Washington, é a personalidade. Errático, impulsivo e megalomaníaco. Muda de ideia com frequência e de repente. Foi dele, por exemplo, a iniciativa de conectar a Ucrânia à internet pouco após a invasão. Seis meses depois, queria negociar um acordo de paz ele próprio e, assim, atravessou a diplomacia americana, passou a fazer interrupções de acesso dos ucranianos a pedido russo, e se pôs como mediador de uma proposta que beneficiava Putin. Ele ignora quaisquer interesses geopolíticos dos EUA.

Já houve empresários muito poderosos que, por motivos diferentes, entraram em confronto com o governo americano. John Rockefeller, em princípios do século 20, tinha o poder de ditar o preço do combustível em todo o país pelo poder de monopólio da Standard Oil. A empresa foi dividida numa ação antitruste. Nos anos 1930, Henry Ford esteve entre os financiadores de um movimento fascista. Mas entrou na linha de presto quando a Segunda Guerra começou.

Ainda não há fórmula clara sobre como lidar com Musk.

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